terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Guiné 61/74 - P18079: (In)citações (113): Mário Leitão aos microfones da Rádio Ondas do Lima: Ninguém fica para trás!... Seis heróis limianos ainda continuam sepultados em terras de África: 1 no cemitério de Bissau, e os restantes em cemitérios de Moçambique (Mueda, Vila Cabral, Nova Freixo)


Capa do livro "História do Dia do Combatente Limiano", 
da autoria de Mário Leitão, edição de 2017.



Ponte de Lima > Singelo mas comovente monumento de Homenagem aos combatentes limianos. inaugurado em 24 de agosto de 2013

Fotos (e legendas: © Mário Leitão (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem de [António] Mário Leitão [ex- Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda, Delegação n.º 11 do Laboratório Militar de Produtos Químicos e Farmacêuticos (LMPQF), 1971 a 1973; membro da nossa Tabanca Grande; autor do livro "História do Dia do Combatente Limiano"

Data - 9/12/2017
Assunto - Soldados limianos sepultados em África

Caro Luís Graça, querido amigo e camarada! Um grande abraço!
Acabei há poucos minutos de ler este pequeno texto na Rádio Ondas do Lima, numa rubrica semanal chamada ALMA LIMIANA.

Ele também se refere ao Soldado José Peeira Durães, sepultado em Bissau em campa bem referenciada.

Julgo que a sua divulgação no nosso blogue será da maior importância.
Obrigado pelo excepcional trabalho da tua equipa!
Outro abraço!
Mário Leitão
(Grão-Tabanqueiro 741, infiltrado)


PS - As referências numéricas referem-se aos meus aquivos, conforme serão publicadas no próximo livro HERÓIS LIMIANOS DA GUERRA COLONIAL. Até já, Professor!


2. Mário Leitão aos microfones da Rádio Ondas do Lima: Ninguém fica para trás!

As televisões e os jornais noticiaram anteontem o regresso dos restos mortais de um militar português que morreu em combate em Angola, em 19 de Setembro de 1962, e que por lá ficou sepultado durante 54 anos. Trata-se do Soldado Paraquedista António Silva, natural de Lobão da Beira, no concelho de Tondela, que pertencia ao Regimento de Caçadores Paraquedistas de Tancos e que morreu em Úcua, tendo sido enterrado em Luanda.

Com o regresso deste soldado, os Paraquedistas portugueses cumpriram finalmente o seu lema NINGUÉM FICA PARA TRÁS, tão apregoado pelas Forças Armadas Portuguesas, mas atraiçoado sucessivamente ao longo de mais de meio-século pelos altos comandos militares e pelos sucessivos governos de Portugal. De facto, agora já não há nenhum paraquedista fora do território nacional, porque este foi o último corpo a ser resgatado. No entanto, jazem em África, ao que se diz, mais de dois mil corpos de soldados de Portugal! São mais de dois mil lutos por fazer! São mais de dois mil gritos de dor permanente que esmagam dia a dia as suas famílias!

Trago aqui hoje esta questão, porque o tema encaixa perfeitamente no alcance desta crónica chamada ALMA LIMIANA, como facilmente poderia explicar. Mas também porque ele faz parte de uma das maiores preocupações da minha vida actual: o registo histórico da participação limiana na Guerra Colonial,

Naturalmente, os caros ouvintes não sabem que há 6 rapazes de Ponte de Lima que ficaram sepultados em África. Vou REPETIR: Naturalmente, os nossos ouvintes desconhecem que existem 6 corpos de soldados limianos que ficaram abandonados em África!

São 6 Heróis Limianos que deram a vida ao serviço de Portugal, mas que ficaram abandonados por aqueles que gritavam a torto e a direito que NINGUÉM FICAVA PARA TRÁS! Este assunto deveria estar na ordem de trabalhos dos nossos políticos eleitos, quer a nível autárquico quer a nível nacional, mas infelizmente não faz parte das suas preocupações.

Grande parte dos políticos portugueses tem uma deficiente carga cultural, quer sob o ponto de vista da qualidade quer no que respeita à quantidade. Temos provas disso todos os dias, a começar por presidentes de junta e a terminar em ministros, e por isso não lhes passa pela cabeça que é um dever da Pátria resgatar os corpos dos seus filhos que por ela morreram. Mas os chefes militares também têm culpa, porque têm poder suficiente para exigir aos governantes que corrijam essa injustiça.

O Professor Dr. Luís Graça, da Escola Nacional de Saúde Pública, já em Abril/2008, a seguir a uma Grande Reportagem da SIC/Visão intitulada NINGUÉM FICA PARA TRÁS, dava notícia dos esforços desenvolvidos pela Liga dos Combatentes para resgatar os restos mortais de muitos soldados mortos na Guerra do Ultramar. Através do seu blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, o País vai sendo sensibilizado pouco a pouco para essa colossal tarefa de resgate, que deveria ser um ponto de honra para qualquer governo.

Ora, a este propósito , lanço novamente o meu apelo através da Rádio Ondas do Lima para que o nosso Concelho se mobilize para resgatar os restos mortais dos seus soldados que jazem em solo africano, cujos nomes são os seguintes (conforme constam no livro publicado em 10 de Junho deste ano, intitulado História do Dia do Combatente Limiano):


José de Araújo Sendão, 
natural de Santa Cruz,
 morto em Combate aos 23 anos, 
sepultado em Vila Cabral, Moçambique;


Manuel Fiúza Parente das Bouças, 

natural de Moreira, 
falecido em combate aos 22 anos de idade, 
sepultado em Vila Cabral, Moçambique;


José Narciso Vieira Rodrigues, 
natural de Anais, 
morto em combate com 22 anos, 
sepultado em Mueda, Moçambique;


Domingos da Sila Araújo, 
da Vacariça, Refoios, 
morto em combate em Nova Freixo, norte de Moçambique, 
onde está sepultado;


José Pereira Cerqueira, 
do lugar do Paço, Vitorino das Donas, 
morto em combate com 23 anos, 
sepultado em Vila Cabral, Moçambique;


José Pereira Durães, 
natural de Abelheiras, 
Vitorino de Piães, 
falecido com 22 anos em Mansoa, Guiné, 
e sepultado no cemitério de Bissau.

Portanto, faço daqui um apelo aos presidentes das Juntas das Freguesias de Santa Cruz, Moreira, Anais, Refoios, Vitorino das Donas e Vitorino dos Piães para que honrem o cargo para que foram eleitos e iniciem rapidamente o processo para resgatarem estes seus conterrâneos do esquecimento. 

Esses Heróis têm o direto de regressar à terra natal, de modo a permitirem a conclusão do luto que foi adiado durante tantos anos! E essas freguesias têm o direito de se sentirem honradas e confortadas com o regresso dos seus filhos martirizados pela Guerra do Ultramar. O bem-estar social não é apenas o saneamento básico, os caminhos alcatroados e a cozinha farta! A felicidade das populações alicerça-se, sobretudo, no conforto do dever cumprido! Cumpramos, pois, o nosso dever!

Pela minha parte, podem contar com todo o meu apoio e com a ajuda de muitas instituições e de gente que vive angustiada com este problema.

Não deixemos estes Heróis Limianos abandonados em África!

Obrigado e muito bom dia para todos os ouvintes.
_______________

Nota do editor:

Último postes da série > 24 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18011: (In)citações (112): A Tabanca Grande, a Guerra “de libertação”, que tarda em acabar para os bissau-guineenses e a marca dela nos ex-combatentes do continente (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil Cav da CCAV 703)

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Pois é, Mário, "todos iguais, mas uns mais iguais do que outros"!... Louvável, patriótica, admirável a iniciativa das associações de paraquedistas...Regressa de Angola o último paraquedista morto na guerra de África e sepultado fora do "solo sagrado" da Pátria!... Mas este dossiê naõ encerra aqui... Só Ponte de Lima tem seis filhos que ficaram para trás... e de quem já ninguém de lembra, exceto os seus familiares e alguns valorosos camaradas limianos como tu...

Admiro a tua persistência e a dedicação a esta nobre causa... Sei que vais conseguir: mais tarde ou mais cedo, os nossos camaradas limianos cujos restos mortais estão espalhados por cemitérios africanos (Guiné-Bissau e Moçambique), voltarão definitivamente a casa, completando-se assim, como muito bem disseste na tua crónica, o processo de luto (até agora patológico).

Tabanca Grande Luís Graça disse...


É uma história com "final feliz", também graças à importância que assumem, para o bom e o para o mau, as redes sociais...

Veja-se a notícia do DN - Diário de Notícias / Lusa, de 12 do corrente:


https://www.dn.pt/sociedade/interior/paraquedista-morto-em-combate-em-angola-regressa-a-portugal-54-anos-depois-8964927.html

(...) A filha de um dos militares da Guerra Colonial descobriu "como morreu e onde foi enterrado" o pai através de um "álbum" de fotografias no Facebook de um sargento paraquedista

Um soldado paraquedista morto em combate em Angola em 1963 foi trasladado na semana passada para Portugal e vai ter uma homenagem e cerimónias fúnebres na quarta-feira, no culminar da "batalha de uma vida" travada pela sua filha.

Ernestina Silva chegou na segunda-feira dos Estados Unidos para poder assistir às cerimónias que se vão iniciar às 09:30 de quarta-feira na capela da Força Aérea, em Lisboa, e vão culminar no cemitério de Lobão da Beira, no concelho de Tondela (distrito de Viseu), de onde António da Conceição Lopes da Silva era natural.

O cortejo terá uma paragem na base de Tancos (Vila Nova da Barquinha, distrito de Santarém), para uma homenagem promovida pela União Portuguesa de Paraquedistas, em colaboração com a Força Aérea Portuguesa e o Regimento de Paraquedistas da Brigada de Reação Rápida. (...)

Palmas para a União Portuguesa de Paraquedistas!...e sobretudo para a filha do nosso camarada António da Conceição Lopes da Silva, que nos dá um exemplo comovente de amor de amor filial!

Anónimo disse...

Começo por enviar um abraço ao autor do livro que pretende não deixar esquecer os seus conterrâneos mortos e enterrados em terras distantes.
Costumo dizer que me identifico mais com quem preza os vivos, mas não posso ficar indiferente ou deixar de apoiar este tipo de iniciativas, todos aqueles que derramaram o seu sangue por Portugal merecem ser tratados com dignidade.
Exigir aos políticos que se batem pelos lugares que ocupam, é justo pedir-lhes, o que nem deveria ser necessário, para tudo fazerem e honrarem os lugares que ocupam.
Estou inteiramente solidário com o pedido de resgate dos nossos mortos nas províncias ultramarinas, agora países independentes.
BS

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O que é lamentável é que o "resgaste" das "ossadas" dos nossos camaradas que ficaram pelas mais desvairadas terras de África, seja um projeto, meramente voluntarista, caso a caso, mobilizando recursos e competências desta ou daquela "associação", como se os antigos combatentes portugueses pertencessem a diferentes "confrarias"...

Enfim, um projeto "privado" e não "nacional"... Eiu sei que tudo isto custa dinheiro aos contribuintes (,portanto a mim e a todos nós)...É uma operação técnica, logística, diplomática e legalmete complexa...

Mas, bolas, há valores que não têm preço... E estamos a dar um exemplo para o futuro, para os nossos filhos e netos...Há também aqui, subkacente, a recusa de toda uma geração de ir parar à dupla Vala comum: a da sepultura e a do esquecimento!...