Criação…
Queria estar presente quando se deu a criação.
À frente o nada absoluto. Sem cor nem tempo.
Só a luz do Criador. Em majestade.
De repente, um raio. Resplandescente.
Iluminou o universo. Imenso e cravejado de galáxias em evolução.
Em silêncio total.
Miríades de anjos em cortejo, de amplas vestes coloridas, surgiram lá no alto.
Um cortejo sumptuoso, como nunca alguém viu.
Entoando hinos. Divina melodia.
Um esplendor. Tanta alegria.
E Deus chorou…
Mirou a Terra, azul.
A girar vazia.
Só serra e mar.
Azul e verdel.
Sentiu pena.
Como uma ave,
Poisou no local mais belo.
Chamou-o Éden.
Pegou em barro.
Fez um vulto, com corpo de homem.
Desenhou-lhe um rosto,
Formoso e belo.
Soprou-lhe a alma e abraçou-o…
Chamou-lhe Adão.
Depois, partiu.
Olhou para trás. Viu-o chorando.
- Não. Não vai ficar sózinho!...
Foi ter com ele.
Emocionado, criou a mulher.
Um misto de anjo.
Tão formosa, chamou-a de Eva.
Adão sorriu para ela.
Agradeceu a Deus...
Berlim, 7 de Dezembro de 2017
8h56m
Jlmg
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Deus passou pelo Alentejo…
Deus, nas suas andanças, passou pelo Alentejo.
Uma planura imensa.
Exposta ao sol.
Gostou tanto que resolveu ficar.
Encheu-o de igrejas e campanários.
Santuários.
Abriu-lhe caminhos.
Rasgou-lhe rios.
Alguns lagos.
Depois de pensar,
Sobreiros e pinheiros mansos,
Aqui ficariam bem.
Encheu-o deles.
Chamou cegonhas.
Ensinou-lhes os ninhos.
Deu-lhes um segredo.
Depois partiu.
As cegonhas puseram-se a voar.
Não vendo gente,
Foram a Espanha,
Foram ao norte.
Além do Tejo.
Tarefa ingente.
Ao cabo de anos,
Se ergueram montados,
Tantas pessoas.
Bem sorridentes.
Encheram de festas todas as ermidas.
Igrejas cheias.
Mais linda terra,
Onde a vida é bela,
Para cá do Tejo,
Ninguém mais viu…
Berlim, 7 de Dezembro de 2017
9h39m
Jlmg
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Asas negras…
Tinham asas negras as cartas que iam da guerra.
Carregadas de saudades. Angústias. Depressões.
Duas pagelas com linhas estreitas.
Eram leves. Um sobrescrito, debruados com as cores, verde e rubra.
Não precisavam de selo. Só carimbo.
Quem as levava e as trazia era uma avioneta. Tão franzina.
Se ouvia ao longe. Sobre as bolanhas. As palmeiras.
Rentinha ao chão.
Era amarela. Depois, o jeep. Zarpava lesto. Rumo ao campo. Aberto à enxada.
Levava sacos. Trazia sacos
Era a troca.
Depois, a festa na parada.
A chamada, nome a nome.
Pelo alferes.
Ansiedade. Será que vem?
Era a incógnita.
E uma nuvem de silêncio.
Baixava abrupta.
Era o deserto.
O recolhimento, para aquele encontro, na camarata.
Doce bálsamo.
Só quem lá esteve e passou por elas,
O sabe quanto…
Berlim, 8 de Dezembro de 2017
20h33m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 8 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18062: Blogpoesia (542): "À Virgem", poema de Domingos Gonçalves, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1546
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