segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26043: Humor de caserna (77): O "cubano" que afinal era... "russo" (Carlos Fortunato, ex-fur mil, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71)



2001 > O ex-furriel Teodoro, 
da CCAÇ 13 (Bissorá, 
1969/71)


Humor de caserna > O "cubano" que afinal era... "russo"



Um dos aquartelamentos perto de nós anuncia pelo rádio a captura de um grupo do PAIGC incluindo um cubano... 

Na verdade,  era o nosso camarada furriel Teodoro, mais conhecido por "Russo", que tinha saído com quatro soldados balantas para comprar vacas.

Ele bem dizia que não era cubano e mostrava que não trazia nenhuma Kalashnikov, mas apenas uma G3, mas com aquela barba à Fidel de Castro, aquela cor bronzeada, de calções, com um ar de turista, ninguém acreditava que não fosse cubano.

Sempre bem disposto, este nosso camarada algarvio, desta vez ficou mesmo "marafado" com os "periquitos", pois tinha ido ao seu encontro amigavelmente e estes tinham-no prendido.

Na verdade foram várias as vezes que estas confusões aconteceram, chegámos mesmo até a disparar uns contra os outros, entre nós,

Foi assim: ao reabrirmos a estrada para Nhamate, enviamos um pelotão pelo lado esquerdo da mesma e outro pelo direito, a estrada era o ponto de referência, só que a determinada altura a vegetação comeu a estrada, e os dois grupos começaram a aproximar-se um do outro, pensando que se tinham desviado da estrada.

Quando se encontraram, o mato não permitiu o reconhecimento imediato e ambos abriram fogo, contudo ao perceberam que só ouviam o som das G3 logo concluíram que estavam frente 
a frente. Um contacto pela rádio esclareceu tudo.

A vegetação no mato é tão densa que podemos passar a um metro de distância do inimigo e não o vermos, assim às vezes é só um vislumbre, e as reacções têm que ser rápidas.

(Seleção,  revisão / fixação de texto, título: LG)
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Fonte:  Guiné - Os Leões Negros > CCAÇ 13 > Binar > 1970 > O Cubano capturado (página que foi descontinuada, por estar alojada no "Sapo", tendo sido "salva" pelo Arquivo.pt; era administrada pelo nosso camarada Carlos Fortunato, ex-fur mil, CCAÇ 2591 / CCAÇ 13 (Bissorã, 1969/71).  Texto publicado originalmente em 24/02/2003, e revisto em 21/07/2006. 

Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2003). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:

Últiumo poste da série > 6 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26014: Humor de caserna (76): O Piteira , alentejano de Bencatel, "voando sobre um ninho de cucos, na prova de "slide" em Lamego (José Ferreira, "Memórias Boas da Minha Guerra", vol. I, Lisboa, Chiado Editora, 2016, pp.43-49)

8 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Uma faceta menos conhecida do Carlos Fortunato, afinal um bom contador de histórias... Um abraço para ele, não tenho tido notícias dele. Mas gosto de tempos de tempos de revisitar a sua antiga página... Fomos para a Guiné no mesmo navio, o T/T Niassa, em 24 de maio de 1969... Ele pertencia à CCAÇ 2591 e eu à CCAÇ 2590...Éramos tempos (mais de 1700 homens) que não para nos conhecermos na altura...E le ficou em Bolama, a dar instrução aos seus balantas, a futura CCAÇ 13, eu fui para Contubuoel, onde formámos a CCAÇ 12, de fulas... O Spínola sabia como "dividir para reinar"...

Valdemar Silva disse...

Estória engraçada, com um "cubano" que afinal era "russo" e falava português com uma barba à Fidel.
Valdemar Queiroz

Tabanca Grande Luís Graça disse...

"Periquitos" e "velhinhos" ? Não falavam a mesma língua, vinham de continentes diferentes...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Confesso que com 6 meses de Guiné já ninguém sabia de que terra era...Nunca houve nenhum filho da mãe que tivesse perecebido isso, já não não digo em Lisboa, mas pelo menos em Bissau!!!...

Mas quem estava em Bissau, no "bem bom" (relativo, q. b.,) não sabia o que era a Guiné... E os gajos que estiveram na Guiné nunca gritaram suficientemente alto para os gajos que estavam em Bissau ouvirem... Já não digo Lisboa, porque era demasiado longe...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

E os gajos que estavam em Lisboa, Bissau, Luanda e Lourenço Marques estavam-se literalmente cagando para o o sofrimento dos gafos que combatiam na Guiné, no Norte de Moçambique e no Norte e no Leste da Guiné....

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Salazar e o Marcelo Caeteno nunca puseram os pés nos matos e bolanhas da Guiné... Não faziam a mínima ideia do que era voar sob uma mina anti-carro, apanhar com um rouquetada, ouvir as "costureirinhas" a ceifar o capim, ouvir o silvar o morteiro 82, aguentar com as ondas de choque do morteiro 120, apanhar as sezões e os esquentamentos..., a sede, a fome, a desidratação, os mosquitos, a flor do Congo... Ficar "apanhado do clima"!...

E ainda há c... saudosos do Império!... E nostálgicos da guerra do ultramar e dos seus heróis!...

Infelizmente, há uma retórica desgraçada para justificar o sacrifício dos que "morrreram pela Pàtria"... Os que morrreram pela Pátria do Salazar e do Marcello Caetano, que era não era a minha!...(Confesso que não era a minha.)

Eduardo Estrela disse...

Luís!!
O teu comentário das 16,54 é como se também fosse meu. Subscrevo-o por inteiro.
O Zé Teodoro, bom homem e bom amigo, era natural do Algoz, concelho de Silves.
Infelizmente já partiu. Morava na zona de Almada e chegou a vir de comboio a Faro para confraternizar com a malta que na Guiné defendeu o império da CUF.
Também estive várias vezes com ele em almoços na zona de Almada.
Vivia com uma senhora moçambicana chamada Olinda.
Abraço
Eduardo Estrela

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Eduardo, o Teodoro foi no T/T Niassa connosco, contigo, comigo, com o Fortunato... É triste sabewr da sua morte-. Vês e sabes algo mais sobre ele... Que descanse em paz!