Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1973 > O Fur Mil Op Especiais Carvalho, da CCAV 8350 (Guileje, Outubro de 1972/Maio de 1973), montado num dos dois obuses 10,5 existentes em Gadamael.
Guiné > Região de Tombali > Gadamael > O Fur Mil Op Especiais Carvalho, junto à uma das peças de artilharia 11.4, ali existentes em Gadamael. Em Guileje também existiram peças destas, até 16 de Maio de 1973 (altura em que foram substituídas por 2 obuses de 14 cm que entretanto foram capturados pelo PAIGC, na sequência do abandono das NT em 22 de Maio de 1973)... A 18 de Maio, como se sabe, começou a batalha de Guileje (Op Amílcar Cabral, para o PAIGC)...
Fotos: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem Cor Art, na reforma, Nuno Rubim , enviado em 27 de Janeiro de 2008:
Caro Luís Graça
Um abraço
Agradeço-te que publiques no blogue o seguinte:
No blogue de hoje, 27 de Janeiro, deparei-me com uma intervenção do Sr. Prof. Doutor Manuel Rebocho que me causou uma grande perplexidade (2).
Sendo que o blogue teve como ideia original (tua) o vir a constituir um lugar onde todo e qualquer camarada, combatente ou não, que prestou serviço na Guiné durante a guerra colonial, possa transmitir as suas memórias e lembranças desses tempos, o que constituirá um testemunho ímpar para as gerações futuras, tenho vindo a assistir, e cada vez mais, a determinado tipo de intervenções que nitídamente visam "fazer história", o que julgo que se afasta dos propósitos originais, determinando, entre outros graves inconvenientes, o de poder desencadear polémicas que, por o serem, não levam, na maioria dos casos, a qualquer tipo de conclusões objectivas, podendo mesmo induzir os leitores em erros de desinformação.
Mas o que me parece mais grave é que são feitas, muitas vezes, afirmações destituídas de qualquer realidade histórica, i.e., não são apoiadas em documentação oficial que, não sendo de per si inquestionável, ainda é a única base científica susceptível de apoiar o que se escreve ou se diz, como julgo que o Sr. Prof. bem sabe.
Ora no caso vertente o Sr. Prof. Doutor Manuel Rebocho estabelece várias considerandos, um que liminarmente desde já rebato, outro que gostaria que viesse a ser documentalmente apoiada, para assim ser devidamente autenticada.
Afirma o Sr. Prof.:
1- As peças que estavam em Guiledje eram de calibre 10.6, e mais nenhum outro.
Desloquei-me ao Porto, onde vive o Capitão miliciano (claro) que comandava a companhia que fugiu de Guiledje. Ele próprio da arma de Artilharia, conhecedor do assunto, com quem troco frequentes telefonemas e e-mails, e que não me deixa enganar no calibre das peças. Está-me frequentemente a corrigir.
Realmente fico pasmado! O calibre das peças era 11,4 cm, sendo que foram substituídas por obuses de 14 cm dois dias antes do ataque do PAIGC, por já não existirem munições. Foram recebidas em Guileje sem tábuas de tiro e com apenas um aparelho de pontaria ! (Doc 1).
Por outro lado nunca houve material com o calibre 10,6. Existiram, sim, obuses de 10,5 cm de origem alemã Rheinmetall e Krupp), adquiridos durante a 2ª Guerra Mundial.
Doc 1 > Relatório da Acção Bubaque, realizada em 18 de Maio de 1973, na região de Guilege (sic)
(...) "As forças envolvidas foram apoiadas com cerca de 55 granadas de obus 14 cm. No entanto verificou-se que o tiro estava extremamente pouco preciso, facto que está relacionado com certeza com a chegada dos dois obuses, na coluna de antevéspera, em substituição do materail 11,4 cm que seguiu na mesma coluna para Gadamael. De notar que vieram apenas 2 obuses, sem tabelas de tiro e, um deles, sem aparelho de pontaria"
Fonte: Arquivo Histórico-Militar / Nuno Rubim (2008)
2 - O Major Coutinho e Lima, no momento em que ordenou o abandono de Guiledje, já não era comandante do COP 5, pois havia sido substituído no dia anterior. O Comandante era agora o Coronel Pára-Quedista (hoje Major-General) Rafael Ferreira Durão, o mais prestigiado Oficial Pára-Quedista de todos os tempos, por quem tenho elevada consideração e amizade. Coutinho e Lima era, no dia 22 de Maio de 1973, segundo comandante do COP 5, razão pela qual não tinha competência orgânica para dar a ordem que deu.
Não tendo qualquer procuração do Coronel Coutinho e Lima, passo a responder a esta afirmação que, pelos vistos, foi feita sem qualquer fundamento, e que se encontra claramente exposta, pelo menos e cronologicamente, nos Doc. 2, 3 e 4, hoje arquivados no Arquivo Histórico-Militar (atenção aos grupos data /hora ).
Finalmente as suas considerações acerca do Coronel Rafael Durão são perfeitamente
legítimas, mas de nenhuma forma as subscrevo.
Nuno Rubim (2)
-CPM 130, Moçambique 1961-1963
-Ex-Comdt das CART 644, CCmds, CCAÇ 726 e CCAÇ 1424, Guiné 1964-66
-Centro de Instrução de Comandos, Angola 1967-69
-SRT, Guiné 1972-74
Doc 2 > "Em 21 [de Maio de 1973] às 16h00, o Comandante do COP 5 com uma força constituída por 1 Gr Comb / CCAÇ 4743, 1 Gr Comb / CCAÇ 3520 e 1 Sec Pel Mil 235, deslocou-se apeado de Gadamael para Guileje onde chegiu em 21, às 18h30. "Dia 22 de Maio de 1973: Em 22, às 5h30, Guileje foi evacuada.
"O Chefe da Repartição de Operações, Mário Martins Pinto de Almeida, Ten Cor do CEM"
Fonte: Arquivo Histórico-Militar / Nuno Rubim (2008).
Doc 3 > Mensagem do Com Chef Oper para a CCAÇ 4743, com data de 22 de Maio de 1973, às 18h00: " 1652/C. Ref Mensagem Relâmpago de 22 de Maio de 1973, às 12H15, s/ número, solicito informe Cmdt CAOP 3, Cor Pára Ferreira Durão, que Sexa General Comandante-Chefe determinou seja retirado imediatamente do comando COP 5 Maj Art Alexandre da Costa Coutinho e Lima e mandado apresentar QG/CCFAG para efeito auto corpo delito".
Fonte: Arquivo Histórico-Militar / Nuno Rubim (2008)
Doc 4 > Mensagem (relâmpago) do Com Chefe Oper para CAOP 3, com data de 24 de Maio de 1973, às 21h20: "1700C. Sexa General determina retirado comando Major Coutinho Lima desde data m/msg 1652/C [vd. Doc 3] ,devendo seguir via Cacine em Sintex. Tarde de 25 de Maio não deve já estar em Gadamael".
Fonte: Arquivo Histórico-Ultramarino / Nuno Rubim (2008).
Revisão e fixação de texto: LG
2. Comentário do editor L.G.:
Duas das regras de ouro da nossa tertúlia são - passo a citar - a "verdade dos factos" e a "manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a violência verbal)"...
Ou seja: estamos aqui todos (ex-combatentes, de um lado e de outro, antigos soldados, sargentos e oficiais milicianos e até sargentos e oficiais do quadro permanente, dos três ramos das forças armadas portuguesas), não para dividir, nem para reinar, mas sim porque temos a Guiné... marcada, para sempre, no coração, na memória, no corpo e na alma.
Também é desejável (embora não obrigatório...) que nos tratemos por tu, como camaradas de armas que fomos, no TO da Guiné... Na comunicação entre nós, no blogue, nos e-mails, nos encontros tertulianos, os títulos académicos ou os cargos ou funções actuais bem com as patentes militares (de ontem ou de hoje) não devem ser um obstáculo à construção deste belíssimo projecto que é a partilha, entre nós (e entre nós e os outros), da vivência e da experiência, de cada um, da guerra do ultramar / guerra colonial / luta de libertação...
Dito isto, aqui ficam os esclarecimentos dados pelo nosso querido amigo e camarada Nuno Rubim, que eu espero sejam recebidos pelo Manuel Rebocho (que foi um valoroso combatente pára-quedista, de um batalhão excepcional, o BCP 12, que terá ajudado a salvar muitas vidas de camaradas nossos no sul e norte da Guiné, no final da guerra, entre 1972 e 74...) , e que é também meu confrade nas lides académicas, não sei se actualmente é professor universitário, mas pelo menos é doutorado em sociologia por uma universidade portuguesa, a de Évora), espero, dizia eu, que o Rebocho receba com serenidade, sabedoria, reconhecimento e flair play estes esclaracimentos do Nuno Rubim que pretendem apenas repor a verdade dos factos em relação a dois pontos:
(i) o calibre dos obuses de Guileje;
(ii) quem comandava o COP5 no dia e na hora da retirada de Guileje (o termo fuga é demasiado forte e implica um juízo de valor que pode ser doloroso e até injusto para muitos camaradas nossos que nos lêem)...
Naturalmente que o oficial superior visado, o então Major de Artilharia (e actual Cor Art, na reforma) Coutinho e Lima (que eu conheci pessoalmente no dia da estreia do filme de Diana Andringa e Flora Gomes As Duas Faces da Guerra e que me disse estar a escrever um livro sobre Guileje), tem também o direito de defender o seu bom nome, se for caso disso, nas páginas deste blogue, muito embora ele não faça parte da nossa tertúlia ou Tabanca Grande...
Prezamos muito a liberdade de expressão neste blogue, mas também o bom nome e a dignidade das pessoas... Sabemos que nem sempre é fácil conciliar uma coisa e outra. Isto também quer dizer que não procuramos (nem alimentamos) polémicas, muito menos para fazer subir a blogometria...
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Notas de L.G.:
(1) Sobre o José Casimiro Carvalho (que vive na Maia), vd. entre outros os seguintes postes :
18 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1856: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (5): Gadamael, Junho de 1973: 'Now we have peace'
24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1784: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (4): Queridos pais, é difícil de acreditar, mas Guileje foi abandonada !!!
14 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1759: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (3): Miniférias em Cacine e tanques russos na fronteira
13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1727: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (2): Abril de 1973: Sinais de isolamento
25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1699: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (1): Abatido o primeiro Fiat G91
25 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1625: José Casimiro Carvalho, dos Piratas de Guileje (CCAV 8350) aos Lacraus de Paunca (CCAÇ 11)
(2) Vd. poste de 27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2484: Guileje, 22 de Maio de 1973 (1): Pontos (polémicos) por esclarecer (Amaro Samúdio / Nuno Rubim / Manuel Rebocho)