domingo, 24 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5699: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (2): Deslocação de Ingoré para Quebo


1. O nosso Camarada Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto
Rodas, CCAÇ 2381, Ingoré, Aldeia Formosa, Buba e Empada, 1968/70, enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 22 de Janeiro de 2010:

Amigos e Camaradas,

Continuando a ir às minhas anotações e rebuscando pela memória, lá vão mais alguns apontamentos de “estórias”, com várias referências, que não caíram no esquecimento.

DESLOCAÇÃO DE INGORÉ PARA ALDEIA FORMOSA (QUEBO)

Das minhas anotações e memórias da Guiné, “estórias” que vivi, presenciei e tive conhecimento, no período de 18/06/68 a 23/07/68:

A C.Caç. 2381, estava de saída de Ingoré e com partida do Cais de São Vicente, na Lancha LDG 101 ”Alfange”, fazia escala com permanência temporária de espera em Buba - Região de Quinara -, com o fim de marchar para Aldeia Formosa (Quebo) - Região de Tombali -, e o baptismo de fogo.

A deslocação da Lancha LDG 101 “Alfange”, do Norte para o Sul da Guiné: Na Região do Cacheu – Ingoré, em 18/06/68, depois de almoçados dirigimo-nos para o cais de São Vicente, localizado na margem direita do rio Cacheu (foto 1), com o fim de embarcarmos na LDG 101 “Alfange”.

Conforme a Imprensa e Imagens Audiovisuais, actualmente neste local as margens são servidas por uma grande ponte, tecnicamente chamada como obra de arte, que veio beneficiar aquela região no seu desenvolvimento e nas suas acessibilidades.

Foto 1 – Guiné - Bissau > Região do Cacheu > Ingoré > Rio Cacheu > Cais de São Vicente. Fonte: Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, I Série - Poste DXCVI - (sendo solicitado o uso com a devida vénia ao camarada Francisco Allen).

Assim, fora dado o inicio à navegação pelo rio abaixo e, conquanto isso, foram dadas instruções pelo Comandante da LDG 101, para que nos acomodássemos no convés e ninguém se movimentasse na amurada. No entanto entre estas duas posições haviam as interligações junto à torre, servidas por lanços de rampas/escadas, que me serviram para ir assentado e mirando a paisagem marginal da densa e badalada Mata do Canchungo. Dizia-se de aí surgir o perigo de ataque de surpresa pelo IN (foto 2).

Ao avistarmos a vila de Cacheu, ficamos menos tensos e a podermos circular pela amurada de forma moderada. A foz do rio era já ali e o mar recebeu-nos com a natural calmaria do Golfe da Guiné.

Foto 2 – Guiné – Bissau > Região do Cacheu > Rio Cacheu > LDG 101 “Alfange”, em manobra habitual na chegada e regresso de unidades militares. Fonte: Arquivo e Museu da Marinha - sitio Reservanaval.Blogspot.com (sendo solicitado e com a cortesia do camarada Manuel Lema Santos - MLS).

O rio Cacheu é aquele que na Guiné se situa mais ao Norte, por isso a LDG 101 rumou a Sul e navegando com bombordo pela esquerda, depois passava entre a parte insular, que lhe fica adjacente, o Arquipélago dos Bijagós.

Quando a noite ia alta, foi feita uma paragem e amarração, no Canal e foz do Rio Grande de Buba. Disseram-nos que era com a finalidade de aguardar o nascer do Sol e, também, de conjugar com a enchente de maré, de forma a que, no seu todo, o rio fosse navegável.

Com a noite, o ambiente tornou-se pesado e de silêncio, o IN podia detectar-nos, mas não vislumbrávamos algo de suspeito. Depois do nascer da aurora foi levantada a âncora e foi reiniciada a navegação, dando continuação à nossa rota para Buba.

A viagem foi feita em velocidade de cruzeiro. Quando se fez dia foi-nos proporcionado observar a planura marginal e costeira, com as entranças dos rios e os recortes rendilhados dos palmares, dos tarrafos, dos mangais e outros, em que a paisagem era única e deslumbrante.

Aqui e além, viam-se grupos de macacos, gazelas, porcos do mato, bandos de garças, de rolas, de periquitos, de galinhas e de pardais da guiné, entre outras espécies.

A Lancha, seria facilmente detectável por sentinelas IN, pela rota e pelo som dos motores, no entanto as “hostes” aparentavam estar calmas e tudo foi decorrendo sem qualquer arrepio ou sobressalto. De quando em quando, havia sempre alguém para descomprimir, dizendo umas larachas e a dar um ar da sua graça.

À surdina dizia-se que, o COMCHEF, António de Spínola, aquando da visita que efectuara ao Quartel de Ingoré, nesse passado mês de Maio e a protesto de algo sem relevância, aqui entre nós que ninguém nos "ouve”, perguntara qual era o rancho para o almoço e não obteve a resposta de imediato, decidira verbalmente castigar a Companhia e despachar-nos “encaixotados” para o Sul.

A região para onde íamos, era uma incógnita para nós. Não tínhamos a noção dos perigos e das dificuldades que se nos iriam deparar.

Buba era local de passagem, com permanência temporária de espera e baptismo de fogo. Chegados a Buba, em 19/06/68, eram horas de almoço, fora feita a amarração ao cais e concluída a viagem.

Conjugando com a tradicional recepção aos periquitos, houve carnaval por esta banda, com estandartes, buzinas, cornetas roufenhas, bater de latas, tambores, guitarras rústicas e não sei que mais.

Depois recebemos ordens para acantonar em caserna por equipar (foto 3) e, permissão para ir a banhos que eram muito necessários naquela altura. De seguida foi a refeição que constava de bianda com ciclistas, conserva de peixe, pão e vinho, após o que foram dados diversos conselhos sobre o teatro de guerra.

A seguir, com alguns camaradas, fui dar uma volta pelo Quartel e pela Tabanca, porque pretendia tanto quanto possível localizar as trincheiras/valas e os abrigos, e bem como a forma de acesso aos mesmos.

Recordo que a grande maioria dos Praças da Companhia, desde que saíram do RI 2 em Abrantes, ainda não tinham obtido um só dia cama digno desse nome. No NTT Niassa, as instalações eram péssimas e desumanas (sem mais comentários).

Em Ingoré os "colchões" eram o chão de cimento, e, em Buba, para não desvirtuar “idem e... meias raspas”.

Foto 3 – Guiné-Bissau> Região de Quinara> Buba> Aquartelamento. Eu, em ar de passeio para a fotografia, tendo por fundo uma caserna por concluir.

De Aldeia Formosa (Quebo), era aguardada, para dia propício, a vinda de uma coluna – auto, a qual viria escoltada por uma companhia da "velhice" (Os lenços azuis) e outros grupos de combate, todos já muito experientes. De volta juntávamo-nos a eles e, isso, dava-nos relativo apaziguamento interno.

Nas conversas de “caserna” com outros camaradas, que ali tinham chegado antes de nós, diziam-nos que Aldeia Formosa era mais protegida em função de Buba, porque lá residia o Chefe Religioso Cherno Rachid, a autoridade máxima do Islão na Guiné, que o IN muito respeitava.

Só que as colunas-auto eram complicadas, devido ao mau estado das estradas, conjugado com as emboscadas e as minas.

Enquanto esperávamos, neste impasse de acalmia aparente, fui passando o tempo a visitar a oficina auto, a jogar às cartas, a nadar no rio com a água a 28º e o ar com muita humidade e temperatura alta.

Como algarvio estava a fazer turismo disfarçado, mas não havia Sol que sempre durasse e esperava, a qualquer momento pela "pancadaria" (foto 4).

Foto 4 – Guiné-Bissau> Região de Quinara> Buba> Rio Grande de Buba. Eu, na Ponte Cais, a banhos na praia de Buba, como muitos outros Camaradas e ao fundo o Aquartelamento.

Não esquecer que a 9 de Julho/68, seria o meu aniversário das 22 Primaveras, o qual viria a acontecer como sendo o pior da minha existência. Tinha que escrever a tempo para os meus pais e para a minha namorada, com a qual hoje sou casado, e para também desejar receber correspondência (foto 5).

Foto 5 – Guiné – Bissau> Região de Quinara> Buba. Eu, aqui a escrever uma carta, com bonitas notícias, e dando resposta a outras.

Os militares da minha Companhia ainda "saltavam" como periquitos e, enquanto isso, os operacionais iam-se adaptando e conhecendo a zona. Estávamos num teatro de guerra, mas não tínhamos tido ainda qualquer intervenção directa e nem sabíamos como iríamos reagir quando tal acontecesse.

Os mecânicos autos, ainda não "alinhavam" nas movimentações, porque estavam de passagem, não tinham viaturas e por isso não havia escala de serviços (foto 6).

Foto 6 - Guiné – Bissau> Região de Quinara> Algures no Sector de Buba/Empada. Os Camaradas da minha companhia C.Caç 2381 “Os Maiorais”: com camisola branca está o Fur Mil Joaquim Tareco, o Condutor Auto é o Soldado Raul Braz e de pé, à direita, o 1º Cabo Enf Jorge Catarino.

Chegado o dia 22/07/68, inesquecível para todo o sempre dos militares da C.Caç.2381, com vários acontecimentos, entre eles a chegada do previsto apoio logístico e a recepção da coluna–auto, vinda de Aldeia Formosa (Quebo) e, coisa que não pensávamos, aconteceu o dia de baptismo de fogo da nossa Unidade, que Buba veio a apadrinhar.

Eram cerca das 5 horas da manhã, todo o pessoal estava já acordado, e foram dadas ordens para que os pré-determinados grupos de combate da C.Caç.2381, vestissem o equipamento camuflado e se municiassem bem, para marcharem ao encontro da coluna – auto que procedia de Aldeia Formosa (Quebo).

Por parte da minha companhia, por estar no início da comissão, era natural a apreensão tomando como referência o passado recente, em Contabane, com a C.Caç. 2382. Conjuntamente connosco iam outros grupos de combate mais experientes e lá partimos. Os que ficaram desejaram-nos boa sorte.

Em Buba, contávamos com qualquer "escapadela" informativa dos operadores dos rádios e se bem me lembro, quem se prestava para esse fim era o 1º Cabo de Trms Pedra Rafael (que fora jogador de futebol do Tramagal) (foto 7).

No entretanto, foram ouvidas duas fortes explosões que provavelmente seriam de minas e ficamos apreensivos. Iam-nos dando dicas, que as tropas que partiram de Buba estavam bem e relativamente à marcha da coluna–auto, esta vinha progredindo lentamente, pois já tinham sido detectadas e levantadas algumas minas, e, dessas, haviam sido destruídas duas.

Foto 7 – Região de Quinara> Buba> Aquartelamento. Almoço num dos piores refeitórios (se isso podemos chamar ao local, sem mais comentários). À direita, ao fundo, o 1º Cabo Trms Pedra Rafael e, antes dele, estou eu. Em primeiro plano, do lado esquerdo, o 1º Cabo Pinheiro (que infelizmente já deixou de nos acompanhar), e, à direita, o Soldado José da Silva.

Ao por do sol, chegou a coluna auto. As nossas tropas não tiveram contacto directo com o IN e os grupos, que intervieram nesta operação, ultrapassaram todas as ocorrências apresentando-se exaustos, enlameados e "mascarados" de pó e suor.

Muitos camaradas que tinham ficado, dirigiram-se ao encontro dos seus amigos mais próximos a dar-lhes o apoio possível e curiosos em saber como decorrera a missão, bem como para verem se tinha chegado alguém conhecido.

Pela minha parte encontrei um amigo, o Carlos Chapa (que fora jogador de futebol do Portimonense) e era condutor de uma viatura Fox (foto 8).

Foto 8 - Guiné – Bissau> Região de Tombali> Aldeia Formosa (Quebo)> Quartel. No refeitório, Natal de 1968. Eu estou de costas, ao centro e ladeado por dois camaradas da minha companhia. De frente, à direita, está o Carlos Chapa e os restantes elementos são também do seu pelotão - Fox 2022.

Após a chegada da coluna ao aquartelamento houve descompressão, com o natural expandir de satisfação, ajuntamentos nos balneários, no refeitório e nas camaratas, em que havia sempre lugar para mais um se acomodar.

O PAIGC tinha as suas fontes de informações e soube que uma força de mais de 200 militares saíra de Buba ao encontro da coluna. Não havia, por isso, contingente suficiente para protecção do quartel e em simultâneo para realizar outras operações.

Aproveitando esta vantagem, o inimigo, procurou atacar de surpresa a partir de duas zonas: as margens do rio e áreas opostas ao Aquartelamento, onde instalou as suas baterias de fogo. Planeou emboscadas nas calmas e para a sua própria protecção na fuga, de forma a não ser "incomodado", utilizou as zonas protegidas pelo rio, pelo tarrafo e pelas bolanhas. Criando, assim, em caso de perseguição, uma situação a que chamávamos "do gato e do rato".

Pela noite, eis que chega o momento do nosso baptismo de fogo e "embrulhamos" mesmo, ouviram-se diversas explosões e rajadas de tiros. Ouviam-se as vozes de ordem: “Aí estão eles, aí estão eles, para a vala.”

Procuramos a mais rápida protecção nas trincheiras/valas e abrigos, enquanto outros foram reforçar os postos de defesa (abrigos do obus, das metralhadoras e dos morteiros).

No Quartel e nas suas imediações, caíram algumas granadas inimigas (canhão s/r, morteiro 82 mm e rockets RPG 7). O ataque foi iniciado do lado da bifurcação do rio, as granadas passavam por cima de nós e a baixa altitude, ouvindo-se as suas características deslocações no ar. Algumas delas caíram na Tabanca e, outras, explodiram após a mesma.

Fomos iluminados por verylites lançados pelos turras e ouviram-se as célebres PPSH - Pistolas-metralhadoras (conhecidas na gíria pelas "costureirinhas"), despejando sobre nós balas tracejantes, cujos estampidos nos punham nervosos.

Da nossa reacção em contra-ataque, disseram os militares mais antigos, já identificados com a forma do ataque e do tipo de detonações, que nós estávamos a responder ao IN e bem, tendo-se verificado que o seu fogo amainou. Pensei: "Já estão a levar nos cornos!" - pois deixaram de disparar e lançar os verylites, que iluminavam tudo "furando" a noite escura.

Os camaradas mais novos que ficaram surpresos pela súbita iluminação e logo perguntaram se havia algum incêndio, ao que, logicamente, foi respondido que não.

Na retirada, os turras lançaram mais alguns verylites, para tentarem despistar os nossos soldados, através do encandeamento, de forma a que não houvesse a noção mais exacta dos locais de onde lançaram o ataque.

Contudo, os camaradas atiradores de metralhadoras pesadas e artilheiros, indiferentes à luz artificial oferecida pelo IN, continuaram a enviar “bujardas e ameixas”, sem restrições, batendo as possíveis zonas de fuga do IN (foto 9).

Foto 9 – Guiné – Bissau> Região de Quinara> Buba> Quartel. Eu sobre o "gargalo" do poço do abrigo do morteiro de 81 mm. Na zona posterior podemos ver a construção de valas e do poço para abrigo do obus 10,7 cm, com o obus ainda ao lado. Ao fundo vêm-se as margens do Rio Buba e das zonas do ataque IN.

Relativamente ao local onde me fui proteger (vala/trincheira), não tive sequer tempo de tomar noção de onde era efectuado o ataque IN.

Todos se atiraram para a vala, uns por cima dos outros, porque estando escuro saltavam sobre os que já lá estavam e havia o típico vocabulário vernáculo de ocasião (ai... f... c... desculpa lá pá... está bem não faz mal...).

Posteriormente, no decorrer do dito “arraial”, apercebi-me que não estava no local mais adequado, porque a vala se situava no enfiamento do sentido de passagem de granadas da artilharia IN. Havia uma edificação próxima, de permeio, que em parte nos dava também alguma protecção.

Para agravar o desconforto, durante o ataque, abateu-se sobre nós uma forte bátega de água “a cântaros”, mas logo os mais "velhinhos" nos disseram que era normal e que sempre acontecia o mesmo, quando haviam ataques com tempo nublado. O resultado foi que todos ficamos enlameados e encharcados, no meio de uma grande chafurdice, que pouco nos importava, pois o que nos interessava, acima de tudo e como é óbvio, era estarmos vivos e ilesos.

Quanto à reportagem deste nosso baptismo de fogo, no nosso jornal da caserna, o nosso repórter de ocasião o Mário Caixeiro, cuja alcunha era “Diário de Notícias”, escreveu que caíram granadas no rio e no quartel, mas entre a malta ninguém ficou ferido e que na Tabanca arderam três palhotas devido às granadas incendiárias.

Por curiosidade, de manhã, fui observar os estragos e confirmei esta afirmações. Quando clareou o dia, as nossas tropas efectuaram batidas às posições de onde o IN atacara, tendo-se confirmado que deixaram no terreno material diverso e detectado extensos rastos de sangue de prováveis baixas humanas.

2 - PROCURO INFORMAÇÕES

Foto 10 – Guiné - Bissau > No mato em local secreto> Rubrica de perdidos e achados.

Aproveito esta oportunidade, para solicitar qualquer informação que me possa ser prestada sobre o paradeiro do ex-militar da foto.

Gostava de conhecer a sua identificação, disponibilizando as seguintes referências:
  • Andou pelo Norte e Sul da Guiné-Bissau;
  • Na sua especialidade tinha a intuição na arte de dar Mesinho e LMs, tratando sempre e com primor as “bajudas manga di giras;”
  • Foi um artista em rebentar canos de G3, por isso no fim da comissão e à última hora, foi rebuscado para “Comando”;
  • Saiu e voltou para a Metrópole, tendo viajado no Paquete Turístico NTT Niassa, em Classe de Luxe.
Para qualquer contacto, o meu e-mail pesssoal é: estorninho75@hotmail.com>

Por hoje fico por aqui, dando um corte já no repentino "acumular" cerebral de estórias que me estão a afluir em catadupa, do tipo cada cavadela “agúidas” (formigas de asas), isto é, quanto mais escrevo, mais a memória rejuvenesce, pelo que tive de optar em subdividir este bloco e, por hoje, o chão guinéu ficou bem lembrado.

Para a próxima haverá mais.

Com cordiais saudações, para os camaradas da tertúlia da Tabanca Grande, deste amigo e camarada,
Arménio Estorninho
1º Cabo Mec Auto Rodas


Fotos: © Arménio Estorninho (2009). Direitos reservados.
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
____________
Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:


sábado, 23 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5698: Tabanca Grande (199): António Fernando R. Marques, ex-Fur Mil da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

1. Mensagem de António Fernando R. Marques, (ex-Fur Mil da CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71), com data de 18 de Janeiro de 2010:

Caro Luís Graça

António Fernando Rodrigues Marques, ex-Furriel Miliciano da CCaç 12 (CCAÇ 2590), Contuboel / Bambadinca 1969 / 1971, nascido a 24 de Agosto de 1946, venho inscrever-me como membro da Tabanca Grande, enviando para isso as duas fotografias uma antiga e outra recente.

Quanto à pequena história para contar não a tenho, tenho sim uma grande história a qual já te referiste no Blogue em 6 de Março de 2009*, que foi o rebentamento da mina em Nhabijões em 13 de Janeiro de 1971, onde íamos os dois e onde fiquei gravemente ferido e em perigo de vida.

Grato pela minha integração
Um grande abraço
Marques
Cascais, 18 de Janeiro de 2010


2. Comentário de CV:

Caro António Marques, bem-vindo à Tabanca Grande, onde por motivos menos bons foste falado em tempos.

São os votos da tertúlia que te encontres completamente restabelecido das mazelas provocadas pelo rebentamento daquela mina anticarro. És mais um dos que infelizmente têm a lamentar momentos e experiências horríveis daquela guerra, mas ao mesmo tempo, felizmente, um dos sortudos que hoje pode narrar o acontecimento porque está bem vivo.

Não quererás falar muito disso, o que se compreende, mas terás outras histórias para partilhar connosco, vividas com os teus e nossos camaradas guineenses da CCAÇ 12, onde foste companheiro do Luís Graça. Também nos podes enviar fotos que tenhas desse tempo para as publicarmos.

Esperamos então que brevemente nos voltes a contactar com mais pormenores da tua experiência enquanto graduado numa Companhia Africana. Falar, escrever neste caso, por vezes faz bem, e como em casa já ninguém quer ouvir falar de Guiné, este é o sítio onde nos estamos entre iguais.

Em nome da tertúlia envio-te um abraço de boas-vindas e votos de que sintas bem entre nós. Vê tu quantos mais amigos tens a partir de hoje.

Para ti uma saudação e um abraço especial do Luís.

Bambadinca > António Fernando Marques com o nosso Editor Luís Graça

Lisboa, Janeiro de 2010, António Fernando Marques e Luís Graça de novo juntos.

Foto de José Eduardo Reis Oliveira

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Notas de CV:

(*) Sobre o acontecimento de 13 de Janeiro de 1971, vd. postes de:

2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXIX: E de súbito uma explosão
e
23 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCV: 1 morto e 6 feridos graves aos 20 meses (CCAÇ 12, Janeiro de 1971)

Vd. último poste da série Tabanca Grande de 29 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5561: Tabanca Grande (198): Rogério Cardoso, ex-Fur Mil da CART 643/BART 645 (Mansoa, 1964/66)

Guiné 63/74 - P5697: Controvérsias (62): Colonizar versus descolonizar (Torcato Mendonça)

1. Mensagem de Torcato Mendonça * (ex-Alf Mil da CART 2339, Mansambo, 1968/69), com data de 18 de Janeiro de 2010:

Caros Editores Camaradas e Amigos

Por falta de tempo e muito mais, não tenho lido e escrito. Não é desculpa, não tenho que a dar e vocês dela não necessitam. Sou ou procuro ser, levemente brincalhão e, em muito do que tenho escrito, já lá vão mais de cento e trinta escritos, intimista em excesso. Demasiado é certo e disso me penitencio. Optei, aqui neste espaço entre Homens/Camaradas e, porque não Amigos esse tipo de linguagem, essa forma de abordar quer a temática quer na forma da escrita.

Curiosamente eu, pessoalmente, não sou bem assim. Talvez isto se deva ao Luís Graça, a conversas com ele e não só. Talvez à maneira de encarar este blogue. Preferi, prefiro assim.

As questões, ditas fracturantes ou passíveis de o ser, tentei passar, a custo é certo, ao lado. Sou polémico e reconheço o dito mau feitio em muitas ocasiões. Aqui, não era a remissão dos pecados pois nisso não acredito. Talvez o tal lugar de afectos, o lugar de amizade e camaradagem, o lugar que, aos poucos, foi passando para as Tabancas Pequenas...

Agora, mesmo sem ter lido com a devida atenção, anotando os números e não abdicando de hoje ler, sem horas ou madrugadas, vi e li um, depois outro e mais outro poste sobre o tema colonizar versus descolonizar.

Parei um pouco a pensar. Não vou maçar-vos com os meus pensamentos de ex-cafre ou colocador de fotos em traição e etecetera. Vês o feitio, o nunca esquecer e menos perdoar, o desejar sempre o dobro, em "carinho" claro, do que me desejam.

Mas pensei, mesmo fora do computador, nas minhas voltas e reviravoltas no tempo entre isto e aquilo e, sem me meter na edição e menos ainda na linha orientadora do blogue, penso ser conveniente abrir um dossiê colonização/descolonização.
É tema abrangente, de abordagem com vários angulos, dificil, quiça fracturante. Certo é que está aberta. Certo é que em dois ou três postes levantou uma enorme quantidade de informação, de questões quase ou mesmo escondidas de nossa história recente (sabiam claro... e muito ...). Recente mas longa de cinco séculos; esta, esta pequena ou grande(?) parte já dá para preencher muito, mesmo muito de um dossiê. Temer? Mas temer o quê e porquê? "Não se abriu nenhuma caixa de pandora"... ou abriu? Claro que não.

Reparem vocês meus caros Camaradas o dossiê Guiledje. Com todo o respeito que me merece(m) o(s) trabalho(s), não pode, em certa medida ser visto como propaganda ao PAIGC? Porque foi escolhido o local, porque... porque ou porquê e há sempre um porquê! Deixemos isso e voltema ao tema: colonizar/descolonizar.

O José Brás escreveu um escrito - P5572 "A guerra Colonial e o Sentido da História" que mereceu vários comentários. Ainda lhe devo uma resposta a um mail que ele teve a amabilidade de me enviar. Depois aparece o José Belo levanta, creio que quatro questões e vai bater em cheio na Descolonização - P5660 que tem vários comentários e um escrito resposta do José Brás - P5665 com comentários e o José Belo no P5667 trata da Reunião do MFA em Tancos e tem vários comentários também. Maravilha, que maravilha e saudades.

São homens que, além de escreverem bem, sabem do que falam, viveram os acontecimentos e podem descrevê-los... então não dará um belo (perdoa a redundância com teu nome José Belo) dossiê, extremamente importante e clarificador. Escreva-se tudo e, partindo do princípio elementar que a verdade é uma sómente, contudo, encontrá-la exige trabalho, análise, controvérsia, respeito pela diversidade opinativa... e mais... muito mais.....

Um simples mail vai dar em escrito enorme.
Sabia ser maior que comentário, mas tanto não. Gostava que os Josés Belo e Brás recebessem. Podem contudo, como é hábito entre nós, fazer dele o que entenderem.

Vou sair e nada mais digo. As pressas... e a vida a ser, em mais um dia de menos um dia... nas sucessivas vinte e quatro horas que passam... e by-passado... depois entendi e ri...

Não revejo e emendem se assim entenderem e lerem claro.
Digam se foi recepcionado. Abraços do Torcato

Torcato Mendonça
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5643: Memória dos lugares (68): Os militares eram uns tipos do caraças (Torcato Mendonça, CART 2339, Mansambo, 1968/69)

Vd. último poste da série de 23 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5696: Controvérsias (61): Ser ou não ser (português), eis a questão (José Brás)

Guiné 63/74 - P5696: Controvérsias (61): Ser ou não ser (português), eis a questão (José Brás)

1. Mensagem do nosso camarada José Brás, (ex-Fur Mil da CCAÇ 1622 (Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68), com data de 16 de Janeiro de 2010:

Carlos, meu amigo
Aqui vai mais uma, não necessariamente para editar e se for, quando o entenderes
Um abraço
José Brás


E QUE TÍTULO HEI-DE PÔR NISTO?

Dizia Brecht que... desgraçado do país que tem necessidade de heróis.

Dizia ele e concordo eu, não apenas porque o tenha como homem sábio, que sem dúvida era, mas porque também eu me sinto com direito a opinião, ainda que não opinião de construção original, escarrada em palavras novas, ou pelo menos juntas assim pela primeira vez, querendo dizer o que disse Brecht e que quero eu dizer porque concordo.

Claro que poderia dizê-lo de maneira diferente, com outro palavrar, porque creio de crer firme que a humanidade não careceria nem de heróis nem de santos se homem o fossemos de verdade, se homem fosse criado à imagem de deus, como se diz, buscando um ideal elevado, de mãos dadas à volta do mundo, cada um irmão de outro, de outros, e de outros, em cadeia aberta e sem fim à vista, ou, pelo menos, primo ainda que afastado, esclarecido de que ninguém pediu para nascer mas, nascendo, nasce com direito total à vida e à esperança.

Mas não digo assim porque dizê-lo assim, ou de outro modo complicado, não apenas dá o trabalho de juntar as palavras mas obriga a pensá-las e ainda antes delas, a pensar mesmo, de pensamento engendrado, a tirar da cabeça ideias arrumadas em gavetas que melhor é nem abrir.

Porém, tendo já dito e não podendo voltar atrás, e sabendo eu como ferve o sangue nas artérias dos meus amigos da sina africana, quando alguém parece pôr em causa a sua dádiva generosa em nome daquilo em que acreditavam, uns muito, outros menos, outros mesmo que nada mas presos de uma espécie de solidariedade que nascia da sua crença de que nação e país eram apenas os vizinhos, os amigos, os da matriz social, cultural e histórica igual e que sendo eles ceifados não lhes cabia direito de se negarem à ceifa, ainda que muito lhes custasse ceifar em seara alheia.

Mas direi que se estou de acordo com o Berthold, é apenas porque sei de certeza certa que quando ele disse o que disse, não o disse por pouca coisa, quer dizer, para negar a grandeza do heroísmo, daquele heroísmo que leva um homem a arriscar a vida para espantar invasores da sua morança; daquele que dá forças para tirar à morte um amigo em risco, ou que nem amigo, mas conhecido, vizinho apenas, desconhecido que seja, mas ser humano; daquele de um homem ou de um pequeno grupo que expõe a única coisa que pessoalmente tem, a vida, em acções que empurram o mundo em frente, representando desse modo a própria humanidade; ou do que se assume sem a razão fundamental mas na crença de que a temos.

E nós, portugueses, nascemos, crescemos e esperamos morrer, seja lá aonde for, cidadãos de um País desgraçado porque tem o tempo cheio de heróis. Os verdadeiros, os que sulcaram mares, alargaram a geografia da Terra, descobriram coisas novas de que nem suspeitávamos, inventaram instrumentos e meios, contribuíram de forma superior para um entendimento maior e mais profundo sobre o homem, sobre o seu sonho e sobre a sua tragédia. E os outros, os que ficaram heróis apenas porque tendo nascido onde nasceram, quase nem podiam ser outra coisa senão heróis, de vontade própria porque crentes nos valores que os fizeram, a contra-gosto, outros, mas decididos.

Não creio que Brecht quisesse negar o herói em si próprio, no seu valor, na sua decisão de ir até ao extremo da dádiva em nome daquilo em que acredita, ainda que aquilo em que acredita, seja apenas a obrigação de cumprir um dever colectivo a que nenhum concidadão se deva furtar.
Brecht não aceitava a monstruosidade da fera que cresceu em seu tempo e no seu próprio berço, ainda que gerasse gente capaz de se imolar na ideia que lhes enchia a vida.

E dizendo isto, assim, nem parece necessário pôr mais na carta porque ninguém ignora o que nela ficaria dito, se mais dissesse.
Portugal não tem gente dessa. Ou pelo menos, se teve em tempos, gente acolitada em torno do ódio, da repressão assustadora, da ideia da penitência extrema, da necessidade da dor e do sofrimento, se teve, foi em tempos outros, na sombra dos restos de feudalismo que o Renascimento só mais tarde varreria e que, hoje, todos repudiamos horrorizados.

O que fizemos no mundo, tomado no seu balanço global, não nos envergonha como povo, antes pelo contrário, tentando entender a fatalidade do sacrifício e do feito, individual ou de grupo, como necessidade absoluta do mundo para saltar em frente, nos dá a certeza de que fomos grandes na contribuição trágica e heróica que demos no passado ao futuro que nos é presente.

A guerra colonial!

Da guerra colonial não acrescentarei nada ao que já disse antes e confirmo agora. Éramos o que éramos, filhos de um País com uma história que, como todas as histórias, se interpreta de um modo ou de outro, conforme o dono da verdade transitória.

Tínhamos os olhos em heróis e mártires do passado que nos diziam desígnio nacional quase divino, quase ordem de um deus que nos davam ao contrário, não como consequência dessa necessidade humana e global de melhorar o mundo, mas como valentia musculada e portadora de superioridades raciais.
Mais nos falaram de bravos que de trovadores; de guerreiros que humanistas; de homens de armas que de poetas. No entanto, enchemos o tempo e oferecemos ao mundo, de uns e de outros.

A História da América Latina está cheia dos sangue dos povos anteriores e posteriores a Colombo, mas falavam mais castelhano e se chamavam Cortez ou Pizarro ou Balboa ou Orellana ou Valdívia ou Ponce de Leon os autores dos massacres, e não Antónios ou Joaquins de qualquer coisa.
Ocupámos, sim, na prática da época que mais ouvia a palavra domínio que sermões aos peixes. Mas nem ladrões, nem torturadores fomos, senão na emergência de necessidades de sobreviver.

Os colonizadores que ocuparam as terras descobertas, não eram senão colonizados.

O saque em África e na América Latina, não fomos nós que o fizemos e do que trazíamos nos deixávamos espoliar no mar pela pirataria inglesa e holandesa ou em negócios parvos da nossa elite analfabeta.

Como homens em armas, pelo menos, estamos limpos dessa prática de massacrar, tão própria de outros povos, mesmo europeus e actuais. Lutámos, apenas.

Poucas vezes encontrei tão claramente e em tão poucas palavras discurso que definisse "português" como em "Eva Luna" faz Isabel Allende. "Tenia doce años cuando conoció al hombre da las gallinas, un portugués tostado por la intemperie, duro y seco por fuera, lleno de risa por dentro. Sus aves merodeaban devorando todo objeto reluciente encontrado a su paso, para que más tarde su amo les abriera el buche de un navajazo y cosechara algunos granos de oro, insuficientes para enriquecerlo, pero bastantes para alimentar sus ilusiones. Una mañana, el portugués divisó a esa niña de piel blanca con un incendio en la cabeza, la falda recogida y las piernas sumergidas en el pantano y creyó padecer de otro ataque de fiebre intermitente. Lanzó un silbido de sorpresa, que sonó como la orden de poner en marcha a un caballo. El llamado cruzó el espacio, ella levantó la cara, sus miradas se encontraron y ambos sonrieron del mismo modo. Desde ese dia se juntaban con frecuencia, él para contemplarla deslumbrado y ella para aprender a cantar canciones de Portugal".

Amamos aquela gente contra quem combatemos. Abraçamo-los quando os encontramos e queremos para eles o melhor do mundo, não por remorso, não com saudade, não com vontade de voltar ao que fomos, sinceramente como irmãos que poderíamos ter sido e que poderemos ser agora e no futuro.
Se o merecermos nos chefes que, à vez, nos calharem.
Bem-aventurados sejamos, então

José Brás
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 9 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5618: Bibliografia de uma guerra (54): 30 anos de guerra colonial (José Brás)

Vd. último poste da série de 17 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5482: Controvérsias (60): Ainda as afirmações de Lobo Antunes e os apoios sociais atribuídos aos ex-combatentes (Arménio Santos)

Guiné 63/74 - P5695: Em busca de... (112): Neusa Danho procura amigos de seu pai, o 2.º Srgt Mil Cristóvão dos Santos (Paulo Santiago)

1. O nosso Camarada Paulo Santiago (ex-Alf Mil At Inf do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72), enviou-nos a seguinte mensagem, com data de 22 de Janeiro de 2010:

PROCURAM-SE INFORMAÇÕES SOBRE

Camaradas,

Como devem saber, uma guineense, Neusa Danho, colocou há umas semanas um comentário num poste que escrevi em 2007, no qual evocava todos os militares que me acompanharam no PEL CAÇ NAT 53, entre eles o 1º Cabo Cristovão Mantudo dos Santos.

O pai da Neusa, já falecido, foi militar no Exército Português onde atingiu o posto de 2º Sarg. Mil. e chamava-se Cristovão dos Santos, e daí a Neusa querer saber se o Cristóvão que comandei seria o pai dela, do qual me indicava o NIM.

Foi através do NIM que concluí que o 1º Cabo do 53 não podia ser o progenitor da Neusa, o que transmiti na caixa de comentários. Em posterior comentário, a Neusa informava-me, após conversa com a mãe, que vive em Portugal, ficar a saber que o Cristóvão Mantudo dos Santos, 1º Cabo do PEL CAÇ NAT 53 era primo do pai, tendo crescido juntos e sido educados pelo avô paterno dela, e indicava-me o contacto em Bissau.

Abreviando, a Neusa quer encontrar alguém que tenha estado com o pai dela nalguma das unidades por onde passou, e que são por esta ordem: EPC, Centro de Instrução de Sargentos Milicianos (isto deverá ser em Tavira, será?), EPI, CCAÇ 3, e por último a CCS do QG do CTIG.

Numa troca de e-mail's fiquei a saber que o Cristóvão dos Santos foi incorporado em 1966, e hoje recebi da Neusa umas fotos do pai, das quais anexo duas.

Seria excelente aparecer um camarada que se recordasse do Fur Mil, depois 2º Sarg Mil Cristovão dos Santos, que tivesse estado com ele na CCAÇ 3 ou na CCS do QG. A Neusa, vive em Bissau, empresária, fica agradecida.

P.S. - As fotos não estão datadas nem têm indicação do local onde foram tiradas.

Um abraço,
Paulo Santiago
Alf Mil At Inf do Pel Caç Nat 53

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

(*) Vd. também sobre esta matéria o poste:


(*) Vd. último poste da série em:


Guiné 63/74 - P5694: Histórias de José Marques Ferreira (14): O macho desejado


1. O nosso Camarada José Marques Ferreira, ex-Sold. Apontador de Armas Pesadas da CCAÇ 462, Ingoré - 1963/65 -, enviou-nos com data de 22 de Janeiro de 2010, a seguinte mensagem:

Camaradas,

Não me ausentei, nem abandonei a Tabanca Grande... Apenas andei "distraído" com outras coisas, não me deu oportunidade de aqui poder "estar" mais frequentemente com a colaboração a que me comprometi, enquanto posso e houver motivos.

Pressinto que estarei desculpabilizado e, com votos de boa saúde para toda a gente deste «local», aqui envio uma pequena estória, de Ramiro Fernandes Figueiredo, que foi médico da CCaç 462, em 1963-1965, em Ingoré e outras localidades por onde passamos. Pequena e singela, apenas produzindo uma amostra da sombria vida daquele povo Guineense. É isto o que o seu conteúdo pretende "mostrar".


O MACHO DESEJADO


Velho nas giras balantas, de coxas musculosas – mas já flácidas -, mascando o tabaco em pó, guardado em pequena extremidade do chifre de uma vaca, barba crescida e já entremeada de laivos prateados, com o chapéu de esteira quadrangular na cabeça, lá estava o velho SAMUD olhando o capim que crescia em alvoroço em bolanha fértil.

Com aquela idade já pouco podia fazer.

Ano após ano esperava em vão o filho que sonhara, sentado no ourique empapado e negro, imaginando-o troncudo e enorme que rasgava a lama fecunda com a precisão de um veterano e o entusiasmo de rapariga em noite de batuque.

A cada sulco, a cada golpe, o velho abanava a cabeça numa aprovação muda e amarga. Acariciava a barba requeimada por anos de cachimbadas apreensivas e sôfregas.

Como lhe tardava a nascer um filho, como ele o desejava! Chuvas e chuvas de canseiras, lavrando e suando; beijando a terra que lhe daria o arroz, na mira de pecúlio para aumentar as cabeças de gado. Trabalhador e honesto jamais aparecera no Posto por furtar uma vaca.

Luas e luas, na época do seco, enganando a fome, fugindo da loja onde a aguardente de cheiro activo e adocicado tentava um santo, para que não se endividasse, para não ter de entregar, na hora da colheita, toda a produção a título de pagamento.

Quantas dores não recalcara, silencioso e grave no dia que lhe roubaram três vacas amarelas e possantes que o seu suor, a sua fome, o seu isolamento haviam pago com moedas de sangue!

Por fim casara. Não tivera de mendigar mulher, de porta em porta requerendo prazos, firmando contratos. Aparecera, um belo dia, com um bom partido. Pudera escolher, fazer-se exigente, impor condições. De nada lhe servira.

Ano após ano esperava em vão o filho que sonhara. Nem o jambacosse, nem as viagens que a mulher, só, de povoação em povoação fizera, nem os mèzinhos, nem as sovas, nem as pragas.

NADA!

Vezes sem conta arrumara as alfaias e as esteiras, pronto para a mudança de terra, mas aquelas bolanhas férteis e negras, incansáveis, agarraram-no sempre, e sempre o acorrentaram à grilheta eterna.

Arranjara outra mulher. Desta vez, porém, pagara-a bem paga – que a notícia da esterilidade correra toda a Administração de Posto e lhe assacaram a culpa. Trouxera-a mimada, enchera-a de panos e lenços, de aguardente e tabaco. Fechara os olhos, complacente, à sua malandrice. E não ouvira – nunca as pragas e as queixas, as revoltas espectaculosas que a primeira fazia, em gritos furiosos que toda a povoação escutava.

Um filho. Ele mais não queria que um filho, um macho valente que juntasse aos seus braços novos músculos, aos arados novas mãos. E o filho tardara. Sofreu a injúria das piadas mordazes, a afronta dos desrespeitos, a dor de novos roubos – que homem sozinho é arado sem cabo.

Pedira apoio, gritara, ameaçara. Naté, aquele porco que deixou a mulher morrer no mato, depois de partir, empunhara o terçado quando lhe pediu ajuda e fizera-o calar. Estava bêbado o cão!
Tudo passava pelo seu espírito, sentia-se só, muito só e tristonho. DAVATAMBE, ainda a resfolgar, sem fôlego, borracho como um porco dissera a contorcer-se num riso rouco ao passar junto do velho SAMUD: - “Então a tua Cumba não fica prenhada?!...”

Samud emudecera. Como aquele cretino adivinhara o que pensava! E, aumentava a sua dor que mastigava e engolia silencioso. Rolou-lhe uma lágrima pelo rosto e olhou distante até aos confins do capim selvagem que lhe invadia as terras da bolanha outrora férteis.

E ali ficou parado e mudo, olhando estupidamente para a água muito clara, para a canoa encalhada, para a sua Cumba que se aproximava indiferente e sorna.

“OKEY”
Pseudónimo de Ramiro Fernandes Figueiredo
Ex. Alf Mil Médico da CCaç 462
Guiné – Ingoré, 11 de Abril de 1964
Um conto integrado no «Jornal da Caserna» (nº 5)
Periódico daquela Companhia

Cumprimentos a todos sem excepção,
J.M. Ferreira
Sold Ap Armas Pes
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Nota de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:


Guiné 63/74 - P5693: Da Suécia com saudade (20): Um Lusitano entre as...renas

1. Mensagem do José Belo, com data de 16 do corrente... (José Belo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, vive em Kiruna, no norte da Suécia, próximo do Círculo Polar Ártico; é um dos membros da nossa Tabanca Grande de quem se pode dizer apropriadamente que faz parte da diáspora lusitana) (*)



Assunto - Um Lusitano entre as...renas.


Caro Camarada:

Quero agradecer sinceramente as palavras AMIGAS que Te deste ao trabalho de escrever aquando do lançamento, prematuríssimo , pois muito de técnico há a completar, da Tabanca da Lapónia (**). Tudo mais não é que uma das minhas "fugas" através do humor que me vão ajudando a vencer isolamentos, saudades, e um clima dificil de um Lusitano aguentar durante décadas sem complementar outros...."apanhamentos guinéus"!

Recebi muitos E-Mails amigos de Camaradas da Tabanca Grande, mesmo de alguns dos quais terá havido "piropos" trocados, anteriormente, em comentários divergentes.Mais uma vez vem demonstrar que o que nos une através das experiências comuns passadas na Guiné acaba por ser mais forte do que outros.....promenores de percursos.

O verdadeiro "poema culinário açoreano" num dos comentários é genial na sua simplicidade,ao mesmo tempo que tanto dos Açores consegue compartilhar.Esta procura de imitar "Infantadas Henriquinas" ao colocar um "Padrão Cibernético Lusitano"...na Lapónia com a humilde tabanca local, talvez tivesse sido muito bem compreendida por Ruy Belo quando escreveu:

Sem casas não haveria ruas,
as ruas onde passamos pelos outros,
mas, e principalmente, onde passamos por nós!

Fosses para onde fosses,
foste decerto para o País
de onde, afinal, eras.

No frio de Março,
no calor de Agosto,
nos dias de hoje ou nos tempos antigos....
tivesse eu uma casa,
tu passarias à minha porta!

[Citação de cor]

Um grande abraço do José Belo.

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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série > 17 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5667: Da Suécia com saudade (17): Intervenção do Capitão Azevedo Martins, delegado do MFA de Angola à Assembleia de Tancos (José Belo)

(**) Vd. poste de  14 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5645: Blogues da nossa blogosfera (32): A nova Tabanca da Lapónia, de José Belo, Kiruna, Suécia

Guiné 63/74 - P5692: Notas de leitura (57): Armor Pires Mota (2): Tarrafo, o primeiríssimo relato literário da Guerra da Guiné (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Janeiro de 2010:

Queridos amigos,
Junto o primeiro texto sobre a obra do Armor Pires Mota. Para mim foi uma revelação. Espero partilhá-la com todos os camaradas do blogue.

Um abraço do
Mário



Tarrafo, o primeiríssimo relato literário da Guerra da Guiné

Beja Santos

Armor Pires Mota pertenceu à CCAV 488, formado em Estremoz, combateu durante dois anos em Mansabá, ilha do Como, Bissorã e Jumbembem, entre 1963 e 1965. Os seus relatos, à guisa de um diário, foram publicados no quinzenário Jornal da Bairrada, a partir de 1964. Regressado da Guiné, publicou Tarrafo, a colectânea organizada das suas crónicas, que a PIDE prontamente retirou das livrarias, o que não deixa de ser surpreendente, já que tudo, praticamente, era conhecido na imprensa regional. Critérios de quem sabia que a difusão em livro pode funcionar como um vitríolo, um pregão, um porta-estandarte.

Ele chega a Bissau e uma criança dirige-se-lhe: “Branco, parto um peso comigo”. E logo parte para a guerra, os T6 bombardeiam, uma tabanca é reduzida a cinzas. Nos seus relatos cabe todo o corpo da guerra: a nostalgia do que está longe, o capim com dois metros de altura, a descrição do trabalho dos enfermeiros a socorrer os feridos, os repentes da sorte quando um tiro do inimigo esfacela uma coronha, não produzindo ferimento, a acção psico, o bonito crioulo (“Mim cá cume arroz três dias...”), um assalto a um acampamento no Morés, o ajuste de contas com aquele que jogava com um pau de dois bicos, o medo físico como uma doença ou uma bola de fogo que nos devora as entranhas. É ainda uma tropa que leva burros e que usa capacetes.

Tarrafo surpreende, 45 anos depois: pela sinceridade, pelo registo inocente, pela dureza da aprendizagem. E chegamos a Janeiro de 1964, o autor vai viver a batalha do Como, legou-nos páginas densas, emocionantes, estranhamente esquecidas. Por exemplo: “Atravessámos o riacho e o tarrafo, de saco às costas, muito a custo, curvados, e encobertos pela vegetação, quase impotentes e amachucados, porque a viagem fora penosa, difícil. E debaixo de fogo intenso, a rastejarmos, entrámos no objecto... Sinto-me em baixo. A alma pesa-me como chumbo. E causa-me calafrios a morte daqueles dois moços que, ao entardecer, foram encontrados nus. Só lhes deixaram as meias enfiadas nos pés, por algum motivo religioso. De resto, levaram-lhes tudo. Tinham o sexo mutilado, o nariz arrancado e os olhos, e, pelos rasgões espalhados pelo corpo, tudo leva a crer que lutaram corpo a corpo, quando se viram sós e sem munições... Não quero que ninguém fique com a impressão de que este diário é pura ficção nem, tão pouco que me mascarem de valente. Escreverei para mim e não para a eternidade. E aqui estarei para chegar até ao fim”. O autor reza o terço quando rebenta a fuzilaria, estão metidos num cerco em ferradura, o ataque é reprimido, renasce a atmosfera de silêncio enquanto um vento húmido traz o cheiro horrível da carne a apodrecer algures, entrecortado pelos estrondos da artilharia. É uma batalha como não haverá igual, em tudo o que se passou na Guiné, todos se batem, tomam-se posições, derrubam-se acampamentos, regam-se feridos e mortos, há sequências apocalípticas, vive-se permanentemente à espera de um contra-ataque: “Há 40 dias que o mundo para nós é a incerteza da hora seguinte a devorar-nos a fronte atormentada. Há refeições em branco, porque não apetece senão a paz, o regresso. Uma grande parte da tropa está já inoperacional. As semanas são uma eternidade. Até parece que nascemos na tropa, na guerra. Em 1 de Março de 1964, dentro da batalha do Como, Armor Pires Mota faz a seguinte oração:

“Só Tu sabes, Senhor, a minha hora.

Mas tenho medo porque sou homem e tenho o destino de mãos vazias.

Que as minhas mãos não façam correr sangue inocente, mas que não sejam cobardes se for preciso castigar, matar ou morrer.

Mas tenho medo, Senhor!

Tu bem sabes que eu tenho uma mãe que chora e reza a minha ausência e que a saudade chora dentro de mim como uma criança longe dos braços maternos.

Tu sabes que eu tenho sonhos de ouro e espero de olhos azuis no futuro.

Tu sabes que eu tenho um amor na vida de mãos cheias de primavera e cabelo preto, da candidez dos lírios. E Tu bem sabes como dói cair uma rosa no chão só porque não choveu...

E só Tu sabes o segredo da noite: para a vida?, para a morte?

A hora é de luta para vencer ou morrer.

Mas tenho medo sem ser cobarde e tremo todo como cana agitada ao vento.

Espero em Ti.”

A batalha prossegue, sangrenta, com casas da mato a arder, pára-quedistas perdidos, o caos das ordens e contra-ordens. Escreve no seu diário: “Tivemos missa, como antigamente nas manhãs das grandes batalhas. O altar era feito com duas caixas de cerveja e montado por detrás da casa velha a ruir. De tronco nu ou descalços, mas alma cheia de esperança nos desígnios eternos, todos quantos ali estavam confiavam ao Senhor dos Exércitos as suas angústias, as oras más, as vitórias e as derrotas, as saudades da terra e da família, da noiva... Deus desceu à guerra para a paz”.

Armor Pires Mota vai seguir para Jumbembem. Voltaremos proximamente a “Tarrafo” e à obra seguinte, os poemas “Baga-Baga”.

Resta perguntar porquê este silêncio em torno do primeiro repórter combatente, alguém que escreveu a guerra quase em directo, em tom singelo, frugal nas imagens, entregando-nos os seus estados de alma sobre a forma de diário. Porventura houve preconceitos ideológicos, hoje totalmente inexplicáveis, talvez porque o escritor assumisse que fizera esta comissão numa convicção dos destinos da Pátria. Ele foi o primeiro escritor entre nós, devemos-lhe esta guerra quase em directo, no tempo em que se combatia de capacete e se transportavam munições e víveres em burros. Como veremos, a Guiné tem acompanhado a sua obra literária, até ao presente. Armor Pires Mota ofereceu-me a cópia de “Tarrafo” com as marcas do lápis da PIDE. É um exemplar que, cheio de orgulho, entrego ao blogue.

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 22 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5687: Notas de leitura (56): Armor Pires Mota (1): Tarrafo e Baga-baga, duas surpresas de um combatente repórter (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5691: Os nossos seres, saberes e lazeres (16): Nascimento da fabulosa Tabanca da Linha (António Graça de Abreu / José Manuel Dinis)

1. Mensagem de António Graça de Abreu (ex-Alf Mil, no CAOP 1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74), com data de 16 de Janeiro de 2010:

Hoje, dia 14 de Janeiro de 2010, quinta-feira, foi o nosso dia de criarmos mais uma fabulosa Tabanca. Não éramos propriamente os queques da linha do Estoril, mas nove gloriosos ex-combatentes da Guiné juntos pela primeira vez, na nova Tabanca da Linha, num lugar privilegiado, mas escondido, algures nas bandas altas da Parede. Chocos, assados, legumes, batatinha cozida, um vinho caseiro capaz de encantar os deuses. Almoçámos como príncipes, conhecemo-nos melhor, convivemos, deixámos a marca da fraternidade que nos une.

Eis o nome destes primeiros gloriosos tabanqueiros da Linha:

ex-Alf Mil Rosales (Porto Gole e Bolama),
ex-Fur Mil António Fernandes Marques (Bambadinca, CCaç 12, do Pelotão do Luís Graça),
ex-Fur Mil Rogério Cardoso (Mansoa e Bissorã, CArt 643),
ex-Fur Mil Manuel Domingos, o Gato (Mansoa, CArt 568),
ex-Fur Mil Mário Fitas (Cufar),
ex-Fur Mil José Dinis (Piche, Bajocunda, CCaç 2679),
ex-Fur Mil José Carioca, Gringo de Guileje, (Guileje, CCaç 3477),
ex-Fur Mil Comando José Caetano, (Mansoa, Bedanda, CCaç 4);
e este vosso amigo e servidor,
ex-Alf Mil António Graça de Abreu (Teixeira, Pinto e Cufar, CAOP 1)

(António Graça de Abreu)


Segue-se o texto do nosso incomparável José Dinis

Informo V.Exas. de que, hoje, nesta data, sob o comando do veterano e competente Rosales, aconteceu um encontro refeiçoeiro de antigos combatentes na Guiné, circunstância que pode tornar-se embrião de outros atabancados. Poucos, mas bons, nesta primeira iniciativa de pipis da linha. Não há elementos a destacar, porque todos cumpriram muito bem as missões que lhes competiram, atacando com decisão as entradas de presunto e queijo, mai-las azeitonas bem temperadas, a que se seguiu o assalto aos chocos, acolitados de batatas e uma couves que denotaram bastante portuguesismo. A entusiasmar a tropa, conferindo-lhe determinação e eficácia, o vinho, de proveniência particular, revelou-se bem preparado, ao nível do que de melhor saíu do CIOE. Mas não se deu por satisfeita a força, que ainda batalhou com uma sobremesa de gelado e tarte, bem como esvaziou de conteúdo umas impotentes garrafas de whisky e aguardente.

Numa apreciação breve, pode dizer-se que esta primeira operação de Inverno, promete ter repetição todas as estações do ano, para cabal avaliação e treino do corpo especial agora mobilizado, a que, eventualmente, poderão juntar-se outros combatentes a quem se lhes reconheça espírito de sacrifício e pendor para a luta.

O azimute da querela foi sabiamente guardado até ao momento da acção, e também não serei eu a revelá-lo. Quem quiser habilitar-se, sempre na base do voluntarismo, pode enviar para a minha morada, pelo menos uma garrafa de tinto bem qualificado (nada de aldrabices marteladas), a título de comissão empreendedora, que, seguidamente, os apresentarei ao Exmo. Comandante da Força.

Abraços fraternos
JD

Nas fotos, o Mário Fitas, o Zé Dinis, Graça de Abreu, o Zé Carioca, o Rosales, o Zé Caetano, o Marques, o Rogério, o Manuel Domingos


2. Comentário de CV:

Em primeiro lugar o meu pedido de desculpas pela demora na publicação da notícia do aparecimento de mais uma Tabanca, agora a da "Linha".

Cada nova Tabanca que aparece é sempre um aconteciento importante para a Tabanca Grande. É mais um inequívoco sinal de que, contra ventos e marés, o espírito de camaradagem existente no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, se multiplica pelo país e por todos os camaradas, idependentemente das suas convicções políticas, religiosas e outras. Desengane-se quem julga ser capaz de derrubar esta muralha, por mais truques que use para o tentar.

Parabéns camaradas da Tabanca da Linha, não parem.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5454: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (15): Tabanca de Matosinhos, Tertúlia do Cozido à Portuguesa e viva a amizade (Juvenal Amado)