quarta-feira, 9 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6567: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (IV Parte)




Guiné > Zona Leste > SEctor L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Estrada Xime- Bambadinca > 1969 > O Cap Inf Carlos Alberto Machado Brito, comandante da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)...

Foto: © Humberto Reis (2006). Direitos reservados





Lisboa> Curso finalista da Escola do Exército (hoje, Academia Militar) do ano de 1955, do qual faziam parte, além do George Freire, de 77 anos de idade, membro da nossa Tabanca Grande, residente nos EUA, antigo comandante da 4ª CCAÇ - Fulacunda, Bissau, Nova Lamego Bedanda, Maio de 1961/ Maio de 1963 - , os seguintes oficiais reformados do exército português: Generais Hugo dos Santos, António Rodrigues Areia, Adelino Coelho e António Caetano; coronéis João Soares, Costa Martinho e Maurício Silva, entre tantos outros.

De acordo com o nosso camarada e amigo Gabriel Gonçalves (ex-1º Cabo Cripto da CCAÇ 12, Bambadinca,  1979/71), o terceiro elemento da foto, a contar da direita (e assinalado por nós com um rectângulo a vermelho), seria o futuro Cap Inf Carlos Brito, hoje coronel, residente em Braga.  Ainda não conseguimos obter a confirmação por parte do autor da foto, George Freire.

Foto: © George Freire / Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008). Direitos reservados




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém > Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de Março de 2008)> Visita dos participantes do Simpósio ao Cantanhez > Abílio Delgado, ex-capitão miliciano, comandante da penúltima unidade de quadrícula de Guileje, a CCAÇ 3477, os Gringos de Guileje  (Nov 1971/Dez 1972), que foi substituída pela CCAV 8350, os Piratas de Guileje (Dez 1972/Mai 1973). Foi, aos 21 anos, o mais jovem capitão, miliciano, do Exército Português. Vive na Ericeira.  É membro da nossa Tabanca Grande. Ei-lo aqui fotografado com a estatueta, em metal, da santa protectora dos Gringos de Guileje, encontrada nas escavações arqueológicas do antigo aquartelamento de Guileje, pelo Domingos Fonseca, o técnico da AD que dirigiu os trabalhos de reconstrução de Guileje e que também é membro da nossa Tabanca Grande...


Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
 
 
 
Outro capitão miliciano, o Jorge Picado, natural de Ílhavo, membro da nossa Tabanca Grande (mas temos mais, do Vasco da Gama ao Carlos Nery, a última entrada de um Cap Mil para o nosso blogue...). Eis como o Jorge nos contou a sua história: 
 
(...) Cheguemos então ao CPC/QC que me transformou em Capitão, não de qualquer navio como as dezenas de conterrâneos meus, mas do Exército.


Aquilo porque esperava há mais de um ano, aconteceu nos finais de Junho de 1969, quando recebi a convocatória para “frequentar o CPC/QC-2.º T.º/69, com início em 25/8/69, na EPI, nos termos da nota n.º18211-P.ºHC, de 27/6/69, da 2.ªSec. da RO/DSP/ME”.

Tinha: (i) 32 anos; (ii) cumprido o serviço militar obrigatório há 9; (iii) feito o 5.º ano do ISA [ Instituto Superior de Agromomia] há 10; (iv) sido convocado para prestar novamente serviço militar de 30/8/61 a 6/2/62 e de 18/8/62 a 17/10/62 duas situações que me inutilizaram 2 anos de ensaios de campo necessários para o meu trabalho de final de curso tendo como consequência apenas ter defendido a minha Tese do Final de Curso em Julho de 1963 (então já sem arriscar mais ensaios de campo), quando todos os meus colegas de curso já tinham 1 ou 2 anos de exercício profissional; (v) casado (até este acto esteve quase para ser impedido pela Instituição Militar) há 8; (vi) 4 filhos e (vii) trabalhava na Direcção Geral dos Serviços Agrícolas [DGSA] , mais exactamente com sede em Aveiro. (...)


Fonte: Vd. poste de 28 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3248: Eu, capitão miliciano, me confesso (1): Engenheiro agrónomo, ilhavense, 32 anos, casado, pai de 4 filhos... (Jorge Picado)
Vd. também poste de 9 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2736: Tabanca Grande (60): Jorge Picado, ilhavense, ex- Cap Mil, CCAÇ 2589, CART 2732 e CAOP 1 (1970/72)





















































O autor deste estudo é o Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva,  professor do ensino superior universitário, antigo docente da Academia Militar, do Instituto Superior de Gestão e da Universidade Autónoma de Lisboa. É especialista em Investigação Operacional. Também passou pelo TO da Guiné como oficial do QP.

O Morais da Silva teve a gentileza de nos facultar, em pdf e em word, um exemplar do seu estudo, de 30 pp., sobre a "Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate" (Março de 2010), que circulou internamente, na nossa Tabanca Grande, através da nossa rede de emails. Está agora a chegar a um público mais vasto, através do nosso blogue (*).

A existência de um elevado número de gráficos e quadros obrigou-nos a digitalizar todo o relatório que está a ser publicado, no nosso blogue, sob a forma de imagens, por partes. Esta é a IV parte, correspondente às pp. 18-22.

O nosso camarada Jorge Canhão (ex-Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74) encarregou-se dessa diligente tarefa. Aqui fica a expressão do nosso agradecimento público, pelo empenho e pela competência com que levou a cabo a digitalização do documento, de 30 páginas.

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Nota de L.G.:


(*) Vd. postes anteriores da série:

31 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6507: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (I Parte)


6 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6541: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (II Parte)

 8 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6560: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (III Parte)

Guiné 63/74 – P6566: Efemérides (45): XXVII Encontro Nacional de Combatentes, 10 de Junho em Belém/Lisboa


10 de Junho de 2010 - XVII Encontro Nacional de Combatentes da Guerra do Ultramar
Camaradas,

1. Amanhã, dia 10 de Junho, festeja-se o XXVII Encontro Nacional de Combatentes, como habitualmente frente ao magnífico e majestoso Monumento Evocativo aos ex-Combatentes da Guerra do Ultramar, que se situa na margem direita do Rio Tejo, junto ao Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa.

Aos tertulianos da Tabanca Grande que se queiram encontrar, aqui fica a sugestão para que tal como ano passado nos concentremos em frente ao portão principal do dito Forte, a partir das 12h00.

Lembro que a organização dispõe, no mesmo local da realização das cerimónias, para quem assim o pretender, de serviço de refeições a preços económicos, o que permitirá almoçarmos em amena confraternização por mais uns bons momentos, cavaqueando e convivendo.

Sobre o evento recebemos a seguinte mensagem, que pela sua importância passamos a publicar.
10 de Junho de 2010 - XVII Encontro Nacional de Combatentes da Guerra do Ultramar
2. Caros Veteranos da Guerra do Ultramar, repassem esta mensagem – segue a transcrição:

A todos os Patriotas, Combatentes e suas Famílias.
Este ano, o 10 de Junho realizará uma especial homenagem às Mães e Mulheres dos Combatentes.
Será oradora a viúva do Herói de Diu, Senhora Dª. Maria do Carmo Oliveira e Carmo.

Torna-se imperativo passar a mensagem, não só aos Combatentes mas a todas as Famílias Portuguesas que mantêm vivos os Valores Patrióticos. Para isso basta que, quem receber, sinta a responsabilidade de cooperar, reenviando a todos os seus endereços com pedido de reenvios sucessivos.

Será seguramente uma bonita e muito digna cerimónia, celebrando VALORES que o nosso Portugal de hoje tanto necessita.

Lá vos esperamos!

Francisco de Bragança v. Uden
Comissão Executiva
3. Do nosso Camarada Beja Santos recebemos a seguinte Newsletter, de Junho, do Forte do Bom Sucesso e Museu do Combatente:
Exmo(a). Sr(a).
Bem-vindo à Newsletter do mês de Junho de 2010 do Forte do Bom Sucesso (século XVIII) e Museu do Combatente.
No âmbito do mês de Junho e das comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas - 10 de Junho de 2010, o Museu do Combatente e Forte do Bom Sucesso convida a marcar presença no XVII encontro Nacional de Combatentes 2010.
As cerimónias são organizadas pela Comissão Executiva do Encontro Nacional de Combatentes 2010, cujo Presidente da Comissão é o Sr. Almirante Francisco Vidal Abreu e terão lugar no Museu do Combatente e Forte do Bom Sucesso e na Igreja dos Jerónimos.
Tendo por finalidade comemorar o Dia de Portugal e homenagear a memória de todos quantos, ao longo da história de Portugal, chamados um dia a Servir a Pátria, tombaram no campo da honra, em qualquer época ou ponto do globo.
O programa iniciará com a concentração junto ao Monumento aos Combatentes da Guerra do Ultramar, por volta das 11h30, seguindo-se uma cerimónia inter-religiosa (católica e muçulmana), homenagem aos mortos e deposição de flores, sobrevoo por aeronaves da Força Aérea Portuguesa, Salto de Pára-quedistas, entre outras iniciativas.
A visita ao Museu do Combatente e Forte do Bom Sucesso neste dia é gratuita, acrescendo-se a renovação das mostras representativas de material/equipamento dos três ramos das Forças Armadas Portuguesas.
Inaugurado em 2003, o Museu do Combatente é da responsabilidade da Liga dos Combatentes, a qual procedeu à requalificação do Forte do Bom Sucesso como espaço museológico.
Incorporando hoje em dia uma agenda cultural que tem por objectivo não só a expressão dos feitos militares portugueses (mostra permanente), mas também a realização de várias exposição temporárias, enquanto espaço de defesa de uma cultura livre e pluridisciplinar.
A Liga dos Combatentes, foi fundada em 1923, enquanto pessoa colectiva de utilidade pública Administrativa, sem fins lucrativos, de ideal patriótico e de carácter social, exercendo a sua actividade sob a tutela do Ministério da Defesa Nacional.
O Museu do Combatente surge deste modo, como pólo de divulgação da História de Portugal de uma forma viva e dinâmica, incorporando o conjunto Monumento-Forte e a magistral envolvência do espaço, junto à Torre de Belém.
Por tudo isto e pela magnífica vista panorâmica sobre o Tejo que o Forte proporciona, convidamos desde já, à sua visita virtual através da Newsletter FBS (em anexo).
Com os melhores cumprimentos,
Catarina Carvalho
Departamento de Marketing e Comunicação
Museu do Combatente e Forte do Bom Sucesso
Forte do Bom Sucesso, Praça do Império (junto à Torre de Belém),1400 - 038 Lisboa - Portugal? Telefone: 927 383 139?
E-mail:

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Nota de M.R.:

Guiné 63/74 – P6565: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (38): A guerra marcou-nos para sempre (Mário G R Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a sua 38ª mensagem, em 6 de Junho de 2010:


Camaradas,

Ao aproximar-se o dia 10 de Junho, com tudo o que esta data representa para nós os ex-Combatentes e capitalmente pela homenagem anual aos nossos saudosos Camaradas mortos na guerra, a nossa adrenalina e nostalgia aumentam para altos índices de intensidade.

Além de recordarmos, justamente, aqueles que pereceram, não nos podemos alhear, seja a que título for, à injustiça de que são vítimas, por esta sociedade cruel, selvática e amorfa, grande parte dos que ainda permanecem vivos e afectados pelos graves problemas que, infortunadamente, os traumatizaram tanto ao nível psíquico como fisico.

Estamos todos no último terço das nossas vidas, por isso já pouco tempo nos resta para deixarmos todos os sinais possíveis, claros e inequívocos às gerações vindouras, através os nossos melhores e mais fiéis testemunhos, por todos os meios possíveis, do nosso descontentamento e revolta.

É os devastadores efeitos psicológicos da guerra nas nossas mentes de ex-Combatentes que importa combater! Alguns conseguem-no com ajuda de familiares e amigos, mas a que custos? E os outros, aqueles que apenas contam com eles próprios, quem os ajuda?

Sob uma capa polida com mais ou menos brilho e sob os adornos com que nos ataviamos às vezes parecemos como que meretrizes de feira, e continuamos tão “nus” e tão “brutos” como os homens que nós combatemos nas matas, nas bolanhas e nos aquartelamentos da Guiné.

A GUERRA MARCOU-NOS PARA SEMPRE

Numa época de suposto progresso industrial, as populações da Guiné vivem quase primitivamente e em paupérrimas instalações. São preparados para a ausência de felicidade e de bens materiais e isso levou-os á descrença total nas diversas políticas adoptadas pelo poder instituído, e à constatação mais que evidente que o desenvolvimento contínuo não passa de uma ilusão utópica.

Se a selvajaria, a brutalidade e a barbaridade populares, próprias dos instintos nativos e tribais, com resquícios de eras ancestrais se confundiram, muitas além do nosso entendimento racional europeu, tais sentimentos deveriam ter sido esbatidos pela sociedade agora livre, em prol de um futuro melhor e mais promissor.

O domínio “bestial” continua hoje activo e em força, fazendo questão de irromper nas veias do ser étnico, dilacerado pela fome, pela miséria, pelo tratamento diferente entre sexos, pelo segregacionismo, pelo ódio, pelos combates mortíferos, etc.

Raros são os mais pacíficos que continuam como sempre frágeis face à força bruta e primitiva. O progresso quase não existe ou nada representa.

Enquanto combatentes experimentámos o terror sob diversas perspectivas: O terror de morrer, o horror dela matar, a tensão nervosa permanente, a cedência psíquica perante a adversidade, dias e dias sem dormir, as horríveis visões de camaradas e amigos estropiados, mortos e feridos, etc.

Com o decorrer do tempo vamos ficando indiferentes e insensíveis ao terror e aos horrores recorrentes das vicissitudes da guerra.

A violência provocada pelos combates poderia, nas retaliações vingativas, originar nos seus protagonistas alguma espécie de “prazer” instintivo, sádico e desumano, mas como é óbvio isso só poderia ser resultado de desgostos, revolta, angústia, dor e sofrimento.

Os aquartelamentos eram as muralhas ou bastiões de refúgio dos que combatiam, mas não só, pois eram também lugares de tensão e locais perfeitamente localizados e identificados, tornando-se alvos fáceis, pela sua estaticidade, cada vez batidos pelo fogo atacante e retaliador do PAIGC, para desespero dos seus “enjaulados” ocupantes.

A guerra é tão velha como a humanidade. Pelo que temos vindo a constatar ao longo dos séculos, até aos dias de hoje, a barbárie primitiva e inerente é algo instintivo que não desaparece do peito do ser humano, sejam eles muito ou pouco desenvolvidos intelectual ou cientificamente.

Por incrível que pareça, os instintos dos homens do século XXI, quando espicaçadas a digladiarem-se entre si, continuam tal como o teriam sido na época pré-histórica, primitivas e selváticas.

Lembro-me bem que no conflito que vivi em Mampatá, em nome da minha própria sobrevivência, só pensava em: ”Viver e matar!"

Eram os impulsos naturais interiores que, tendo começado por ser irracionais, foram ganhando forma consciente e me levavam a responder à violência de que éramos vítimas por parte do IN, com uma violência idêntica que eu desconhecia em mim.

No auto-domínio pessoal dessa violência interna, é que eu notava a superior estatura moral e categórica dos nossos militares, relacionando-os intestinamente.

Pelo que me foi dado testemunhar e acabo de vos tentar relatar, concluo que a paz é um sonho irreal e inatingível nos tempos mais próximos.

Os homens são por natureza violentos e as suas origens, quer queiramos, quer não, remontam a tempos muito primitivos, onde sempre se matou e, quase sempre, pelos motivos mais fúteis.

Por isso não nos devemos admirar com o que se passa na Guiné, é o destino dum povo com usos e costumes ancestrais, divididos por cerca de 30 etnias diferentes, que só poderá mudar com a alteração das mentalidades e esforços concertados, sérios e respeitados mutuamente, que obrigatória e necessariamente terão que partir de exemplos concretos e firmes dos seus actuais líderes.

Não haverá futuro para os guineenses enquanto não houver união e trabalho de todos para o desenvolvimento e criação de riqueza.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art da CART 2519

Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

3 de Junho de 2010 > Guiné 63/74 – P6528: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (37): Um básico super operacional (Mário G R Pinto)

Guiné 63/74 - P6564: Estórias do Jorge Fontinha (11): Um soldado pediu-me que o matasse

1. Mensagem do nosso camarada Jorge Fontinha* (ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791, Bula e Teixeira Pinto, 1970/72), com data de 6 de Junho de 2010:

Carlos Vinhal:
Esta é a História da minha guerra, publicada na revista Domingo, do Correio da Manhã, em 19 de Outubro de 2008.
Neste relato, o jornalista que o compôs, entrelaçou as duas realidades da minha História de vida, Estórias essas que eu já contei no blogue.

Em pesquisa de blogues sobre o Ultramar Português, descobri que alguém aproveitou e muito bem, o meu contributo, então para a referida revista.

Se achares oportuno e não repetitivo, gostaria que publicasses no Blogue, esta versão dos mesmos factos.

Um abraço.
Jorge Fontinha


Outubro 19, 2008

'Um soldado pediu-me que o matasse'


Jorge Ventura Fontinha, esteve na Guiné, em 1970/72 e diz na Revista do «Correio da Manhã» deste domingo:

- “O Ultramar, para mim, divide-se em duas partes: quando lá vivi e o meu irmão mais velho foi assassinado pelos guerrilheiros, e depois, quando regressei para combater por Portugal.”

Eu vivi as duas faces da guerra. Primeiro em Angola, onde o meu irmão, mais velho seis anos, foi assassinado em 1961, durante um ataque dos guerrilheiros à nossa fazenda, em Nambuangongo. Nove anos e meio mais tarde, após ter passado por Portugal como refugiado, fui enviado para a Guiné-Bissau pelo Exército, onde voltei a ver a morte e procurei defender os interesses do País.

Como cabo miliciano, fui integrado na Companhia de Infantaria 2791 e embarquei a 19 de Setembro de 1970, no paquete ‘Carvalho Araújo’, com destino a Bula e ao Batalhão de Caçadores (BCAÇ) 2868. O meu baptismo de fogo começou a desenhar-se às 02h00 de 17 de Novembro de 1970, quando já era furriel. Da parada do quartel de Bula partimos para Chochmon. A minha secção ia completa: na primeira equipa, o Celestino, o Azevedo e o Monteiro olhavam, de vez em quando, para trás. Os restantes, que seguiam atrás de mim (o Romão, o Cavaco, o Matos, o Pinto e o Nunes) iam como uma sombra, a uma distância considerável. Um problema atormentava-me: antes de partirmos, o Nunes havia-me pedido que o ‘desenfiasse’, porque pressentia que lhe ia acontecer alguma coisa. Fiz--lhe ver que tudo não passava de mania mas no meu lugar (o 5.º na progressão em relação ao grupo de combate) não parava de pensar no seu caso.

Eram 03h30 e eu seguia embebido nestes pensamentos, quando, de súbito, ouvi um estrondo e uma chuva de estilhaços caiu sobre alguns de nós. Depois, foi o silêncio. Pensei logo tratar-se de uma mina e, quando olhei para trás, vi o pessoal abrigado, à excepção de um soldado que, no caminho, gemia e rebolava-se no chão. Corri para ele, que, de barriga para baixo, com a mão esquerda a procurar na perna do mesmo lado o pé perdido, suplicava: – Meu furriel, mate-me, acabe comigo! Meu furriel, tenha dó de mim!

Olhei para ele, emocionado, quando o homem das Transmissões e o enfermeiro corriam para o soldado. Virei as costas, para que me não vissem chorar. Chorei, sim, de raiva, de impotência e de ódio. Era o Nunes! E porquê ele, meu Deus? Antes de sairmos do quartel, bem me tinha dito que ia acontecer alguma coisa! E, afinal, não fora um ataque, apenas um acidente: o Nunes, apontador da bazuca, deixou cair uma granada no chão que, ao rebentar, lhe ceifou um pé e parte de uma perna. Outros soldados e o alferes comandante ficaram com ferimentos menos graves e tiveram de ser evacuados. Mais tarde, a coluna pôs-se em marcha e caminhou para a conclusão da operação, que culminou com grande sucesso, apesar de mais alguns soldados terem sofrido ferimentos ligeiros.

A 27 de Setembro de 1972, a companhia regressou a Lisboa, de avião; mas esta era apenas uma parte da minha vida no Ultramar que terminava e a outra, vivida nove anos e meio antes, no início de 1961, em Angola, fora ainda mais dolorosa. Eu tinha 12 anos e havia nascido em Ambriz. O meu pai era guarda-fiscal e, no início da década de 1950, adquiriu uma fazenda. Eu encontrava-me em Luanda, no colégio da Missão de S. Paulo, onde sempre residi quando não estava com o meu pai e o meu irmão. A minha mãe morrera em 1953, vítima de ‘biliosa’. Apenas a 20 de Março de 1961 soube do ataque que tinha havido à fazenda, cinco dias antes, quando chegaram os primeiros sobreviventes. Entre eles o meu pai, meio despido e descalço, na altura com 51 anos, desfigurado e desfeito no seu íntimo. Esteve agarrado a mim uma eternidade a chorar.

Soube então o que tinha acontecido. Eram 16h00 e o meu pai encontrava- -se a descansar no quarto quando se apercebeu de que algo se passava lá fora. Levantou-se e deparou-se com alguns empregados e familiares barricados atrás da porta, que era violentamente empurrada e cortada à catanada. O meu pai verificou de imediato a ausência do seu filho Fernando. Um dos empregados enfrentou os atacantes e decepou um deles à catanada, pondo os restantes em fuga, dando tempo a que todos fugissem em direcção a uma camioneta. Foi aí que meu pai deu com o meu irmão a agonizar na cabina, com uma catanada na testa e outra no peito! Algum tempo antes, quando o meu irmão, diminuído fisicamente dos membros inferiores, estava por perto, a governanta apercebeu-se de uma certa movimentação junto ao capim e foi ver o que se passava. De imediato, um grupo compacto de guerrilheiros da UPA (de Holden Roberto), de catana em punho, dirigiu-se aos trabalhadores, pondo-os em fuga. Houve, no entanto, um que não pôde locomover-se com tamanha rapidez: o meu irmão, que tentou proteger-se na cabina da camioneta, onde viria depois a ser assassinado.

Os sobreviventes fugiram na camioneta em direcção a Nambuangongo. Como já estava ocupada, dirigiram-se para Onzo, aonde foi inviável chegar. A única saída foi largar a viatura e fugir para a mata. Por lá andaram três dias e três noites, até receberem ajuda militar. Quando voltaram à camioneta, para recolher o meu irmão, tinha sido incendiada e o corpo havia desaparecido.


UMA VIDA DIVIDIDA ENTRE ANGOLA, GUINÉ E PORTUGAL

Nasci em Angola, na vila piscatória de Ambriz, onde o meu pai era chefe da Guarda Fiscal. O meu falecido irmão nasceu em Castedo da Vilariça, Torre de Moncorvo, terra da minha mãe, falecida em Nambuangongo em Outubro de 1952. O meu pai era de Alijó, Vila Real, e faleceu em Junho de 1975. Após o falecimento da minha mãe, dividia a vida entre Nambuangongo, nas férias, e Luanda, durante as aulas, quando ficava em casa de uns tios. Vim para Portugal refugiado e fui viver para Alijó, onde estudei até ser incorporado no Exército, em Outubro de 1969. Fui militar até Setembro de 1972.

Entrei para um banco em Maio de 1972 e casei-me em 1973. Do casamento nasceram dois rapazes. O mais velho ainda em Luanda, em Agosto de 1975, e o mais novo em Alijó, em 1978. Sou reformado da banca.

(In Revista «Domingo» do Correio da Manhã)
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Notas de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6302: Estórias do Jorge Fontinha (10): Uma noite muito mal passada

Guiné 63/74 - P6563: Banco do Afecto contra a Solidão (11): Vamos telefonar ao Victor Condeço (que vive no Entroncamento)



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > Foto 11:  "O Fur.Mil. Vitor Condeço sentado na raiz do Poilão, tendo por fundo o edifício do comando".





Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > Foto 13: "Na parada o Alf Mil Barreto e o Fur Mil Gil, tendo por fundo o edifício do comando e a caserna nº 3".



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > Foto 14: "Fur Mil Machado,  de serviço, na porta de armas tendo por fundo a ainda em construção camarata dos oficiais, mais ao longe a caserna nº 3.



Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS/BART 1913 (1967/69) > Álbum fotográfico de Vitor Condeço > Catió - Quartel > Foto nº 21: "Na arrecadação antiga de material de guerra, o 1ºCabo Camarinha e o Fur Mil Victor Condeço. A motorizada que se vê não eramaterial de guerra, foi comprada avariada ao electricista da central civil sr.Jerónimo por 250 pesos, foi reparada e ainda serviu para dar umas voltas". 

Fotos (e legendas): © Vítor Condeço (2006). Direitos reservados




1. Mensagem do Alcides Silva (*) [, foto à esquerda]:

Data: 5 de Junho de 2010 13:11
Assunto: Solidariedade


Amigo Luís Graça, li a mensagem referente ao Victor Condeço (**), é triste saber estas notícias, nestas circunstâncias é muito difícil dizer alguma coisa.

Eu digo ao Victor que viva um dia de cada vez, não pense no pior, com a ajuda de Deus ele pode vencer, porque por aquilo que conheci em Catió ele sempre foi um vencedor. Victor, não te deixes arrebatar por pensamentos demolidores, pensa sempre que o amanhã será um dia melhor. 

O telefone fixo do Victor é: 249 718 626.

Com votos de recuperação,  um grande abraço.
Alcides






2. Mensagem do Benito Neves  (***) 

Luís, bom dia e obrigado pela informação [sobre os Melech Mechaya], embora nãová poder estar presente. Já vi, no programa das festas de Abrantes, que osMelech Mechaya irão actuar em Abrantes, no dia 10 do corrente mês, às 23 horas.A actuação será na Praça Barão da Batalha, em palco a descoberto. Atendendo aque está anunciado tempo de chuva até ao fim-de-semana, não sei como irá ser,mas vamos acreditar que não vai chover.Pergunta que se impõe: Vais acompanhar a banda até Abrantes? Em caso afirmativonão quero deixar de te dar um abraço. Caso não venhas, o teu filho não me vaiescapar.

[Comentário de L.G.: Benito, obrigado pela tua gentileza e pela tuainformação sobre o concerto na tua terra, que eu desconhecia. Não, não irei atéaí... Vou estar para o sul. Se puderes, dá ao João -  o rapaz do violino -um abraço da malta toda, que está atabancada. Bom concerto, boas festas, diverte-te!]
Outro assunto: Victor Condeço 

Benito Neves


O Victor é meu "amigo do peito" desde há muito tempo, inclusivéestivémos juntos em Catió. E apadrinhou a minha entrada na Tabanca Grande.

A meu convite tem participado nos almoços de confraternização da minha Companhia,que esteve adida ao Batalhão do Victor, embora não eu fizesse parte doBatalhão. Era uma Companhia independente que esteve em Catió em intervenção aoSector.

Entre muitas vezes que nos encontramos, em finais de Abril estive com o VictorCondeço na festa de aniversário do meu "cabo pastilhas" e nada faziaprever que 30 dias depois se viesse a revelar a doença [que ele tem].

Desde que nos reencontrámos há uns anos - e foi através do blogue - que temoscontactado e privado com frequência. Tornámo-nos mais amigos.

Ontem voltei a telefonar ao Victor. Atendeu-me o genro (o Victor sóesporadicamente atende o telefone). O Victor apercebeu-se de que era eu e quisfalar comigo (...).







Victor Condeço



Um camarada nosso, ex-Fur Mil da minha CCav 1484, é médico homeopata e tambémtem estado a acompanhar o Victor com a ajuda possível (...).

Há alturas na vida muito difíceis, tanto mais quando temos apenas palavras parapoder dar força num sofrimento que quereríamos ver atenuado.

Estou triste mas a acompanhar a situação muito de perto e a dar a ajudapossível. No meu intimo temo perder um amigo que ao mesmo tempo é um homem bom,mas ao mesmo tempo quero acreditar em milagres.

 Desculpa este meu desabafo, mas sei que gostas de saber o que se passa com opessoal da tua Tabanca Grande.

Um abraço

Benito Neves
3. Comentário de L.G.:

Alcides, Benito e demais amigos e camaradas que conhecem o Victor: Vamosdar-lhe força,  ao Victor. É importante que ele se sinta rodeado docarinho dos velhos camaradas da Guiné.  Ele vive no Entroncamento comuma família maravilhosa. O telefone fixo dele é o 249 718 626.Procurem saber qual é a melhor hora para lhe darem uma palavrinha...  Umpor todos, e todos por um!
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Notas de L.G.:

(*) Vd. poste  de 15 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6394: Tabanca Grande (219): Alcides Silva, ex-1º Cabo Estofador (e não ex-Sold Cond Auto...), CCS / BART 1913, Catió, 1967/69


(...) Senti, ao telefone, que o Vitinho não está na melhor forma. Ia começar a radioterapia, esta semana, em Lisboa. Tem um belíssimo genro que o leva e  traz. Uma filha que ele adora. Dois netos. A esposa. Uma família, encantadora, que é um importante esteio e vai ser meia cura. O suporte social, nestes casos de doença crónica, é muito importante. Para além da efectividade, cada vez maior, das terapêuticas, e da competência dos nossos profissionais de saúde que trabalham no IPO, os aspectos não-médicos, psicológicos e sociais, são também decisivos no processo terapêutico. Foi essa mensagem que eu reforcei, ao telefone, ontem, junto do Vitinho.

A Tabanca Grande é também um grupo de amigos e de camaradas que estão aqui para ajudar, apoiar, aconselhar, animar... Vamos torcer pelas melhoras do Vitinho. Vamos fazer-lhe sentir, de preferência de viva voz, por telemóvel (963 139 769) ou telefone fixo (deixei escapar o nº dele....), ou passando pela casa dele, no Entroncamento, que ele não está sozinho, neste momento difícil. (...)


(***) Vd. poste de 18 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1673: O blogue do nosso contentamento (Benito Neves, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)

(...) Mensagem do Benito Neve, com data de 14 de Março de 2007, com o pedido formal de entrada na nossa tertúlia. Começo por lhe pedir desculpa, a ele e ao seu padrinho, o Victor Condeço, pelo atraso. Houve uma engarrafamento de trânsito nas minhas caixas de correio. Ou melhor: tem havido muito embrulhanço, no meu sector...A explicação, um pouco tosca e esfarrapada, está dada e é sincera.
O Benito já é dos nossos há muito. Só espero que por cá se sinta bem. Para já adorei as tuas palavras de grande camarada: que o blogue é mato e bolanha por onde te metes todos os dias, não já com o coração em sobressalto, mas com a emoção do reencontro, da redescoberta, da memória... Espero poder abraçar-te em breve, a ti e ao Condeço. Em Pombal ou noutro sítio. L.G. (...
)

(...) Posto > Ex-Furriel Mil Atirador de Cavalaria: nUnidade > Companhia de Cavalaria 1484 - Guiné 1965/67 (Nhacra e intervenção ao Sector de Catió de 8/6/66 a finais de Julho/67).

Referências ao blogue... quase me dispenso de as fazer. Mas digo que é mata e bolanha onde me meto e atasco todos os dias (com a melhor boa vontade), não por vício mas para continuar a sentir os sons, as cacimbadas, os medos e tudo o mais que faz parte das nossas recordações de há 40 anos. E é também a saudade das gentes, das tradições, dos usos e costumes que nos acicatam a vontade de voltar um dia. (...)

terça-feira, 8 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6562: Contraponto (Alberto Branquinho) (10): Grafia do crioulo da Guiné-Bissau

1. Mensagem de Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 6 de Junho de 2010:

Karo Karlos Winhal
Não fiques peocupado, não ensandeci. Quando leres o texto que vai junto, entenderás a razão.

Um abraço do
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (10)

GRAFIA DO CRIOULO DA GUINÉ-BISSAU


Não tenho conhecimento que exista grafia oficial ou oficiosa do Crioulo da Guiné-Bissau.

Por outro lado, ninguém põe em dúvida que a sua língua-base é o Português, apesar de encontrarmos vocábulos que são de origem francesa devido ao facto de a Guiné-Bissau estar cercada por dois países francófonos.

Então, porquê escrever o Crioulo da Guiné-Bissau com letras que, na pureza da sua origem, não são do alfabeto português?

Porquê escrever “kriol” e não “criol”? Porquê escrever “ká” e não “cá”? Porquê “kurpo” e não “curpo”, “macaco-kom” e não “macaco-com”? Porquê usar kk e ww?

Será que é para dar um aspecto exótico à escrita? Por serem letras usadas em outras escritas africanas ou com influência anglófona?

Se é o exotismo que se procura, sugiro, então, que se escreva “makako-kom”, que, além do mais, transmite, também, um aspecto “amacacado”.

Apesar de, por força das circunstâncias (terminologia científica e outras), termos sido obrigados a receber esses caracteres para escrevermos algumas palavras, não queiramos ser ortógrafos “avant-la-lettre” com respeito à forma de escrever num espaço geográfico que não é o nosso. Deixemos as autoridades guineenses decidir sobre a grafia do seu crioulo e não comecemos já a “estrangeirar” essa miscigenação linguística que pode continuar fiel à sua origem.

Ainda recentemente pudemos ver, aqui no blogue, uma fotografia de uma mulher guineense (com uma criança às costas) escrevendo no quadro preto de uma escola. Escreveu “Candê”, “Calissa” e não “Kandê”, “Kalissa”. Assim, também, ”Camará” e não “Kamará”.

Claro que convém ter presente que muitos apelidos são comuns à Guiné-Bissau e à Guiné-Conacri e ao Senegal. Nas nossas movimentações dos tempos da guerra, encontrámos muitas vezes cidadãos com “dupla cidadania” (quero dizer, com documentos de identificação de dois países). E, nesses casos, o atrás mencionado apelido “Candê”, estaria, francofonamente escrito, “Candé” ou “Kandé”. Aí está, também, outra diferença – como passar à escrita o som “ê”.

De qualquer modo, a última palavra será da própria Guiné-Bissau.

Convém lembrar que o(s) crioulo(s) de origem portuguesa falado(s) na parte ocidental de África (Guiné, Cabo Verde, São Tomé) deu(deram) origem a um “papiamento” falado em ilhas da América Central (que contém, também, palavras de origem holandesa e espanhola) e que tem estatuto de língua oficial. Tive oportunidade de o ouvir falar em Curaçau há poucos anos, durante um Carnaval. Este caso será, talvez, o único que beneficiou desse estatuto, mas muitos outros existem em outros lugares do mundo onde o Português foi falado por navegadores e comerciantes.

Alberto Branquinho
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6430: Contraponto (Alberto Branquinho) (9): Eutanásia?

Guiné 63/74 - P6561: Histórias de Carlos Nery, ex-Cap Mil da CCAÇ 2382 (3): Fui o criador do emblema da Companhia, e gosto

1. Em Mensagem de 4 de Junho de 2010, o ex-Cap Mil Carlos Nery, Comandante da CCAÇ 2382, Buba, 1968/70, conta-nos como surgiu a ideia de criar o emblema da sua Companhia e as reacções ao Zé do Olho Vivo, símbolo do militar atento e corajoso, capaz de se suplantar nos momentos mais difíceis.


Emblema da CCAÇ 2382 de autoria do seu Comandante o ex-Cap Mil Carlos Nery.
Divisa: "Por estradas nunca picadas, Por picadas nunca estradas"



Foi o Alf Curado e Silva quem me disse: "Capitão, a rapaziada gostava de ter um emblema que pudesse pôr sobre o bolso da camisa da farda e que identificasse a Companhia..."

Eu era alérgico a grandes aparatos assumindo falsos "espíritos de corpo" mas naquele momento senti que, no nosso caso, havia já bastante união e camaradagem para podermos usar algo que nos identificasse. Entrei no meu gabinete, puxei pelo meu velho jeito para a bonecada e, durante umas horas daquela noite de Buba, lá estive, de esferográfica em punho, puxando pela imaginação.

Achei que devia homenagear o soldado comum, possuidor daquela sagacidade, coragem e suficiente boa disposição que lhe permitiria voltar aos braços dos seus pais, das suas noivas, dos seus familiares, terminados os cerca de dois anos de Guiné. Fiz o desenho sem uma emenda, acho que estava inspirado... Depois foi encomendar os guiões, crachás e emblemas e... Creio que foi um sucesso!...

Quando aguardávamos embarque, em Brá, ainda apareciam militares de outras unidades, que eu nem conhecia, pedindo-me, por tudo, um guião! Chegaram-me também alguns reparos: parece que eu não havia respeitado as regras de heráldica militar! Claro que isso foi o que menos me preocupou... O engraçado é que descobri, recentemente, que a maioria da rapaziada nem sabia que tinha sido eu o autor do desenho... Tudo bem!... Gostaram, não foi? Era o mais importante...

Este foi o comentário que deixei no Poste 2791 do Furriel Manuel Traquina da CCAÇ 2382. Repararam no minha satisfação? Mas há certos assuntos, próprios da intimidade da caserna, que ficam por lá... O Capitão é o último a saber... Alguns só me foram contados há pouco tempo quando já se não receava a "minha justa ira", para usar a expressão tão ao gosto de Carlos Fabião...

Vem isto a propósito do distintivo da CCAÇ 2382, desenhado por mim numa serena noite de Buba...

O assunto assemelha-se a uma cebola a que se vão tirando camadas para surgirem outras mais profundas...

Primeiro descobri que muitos militares, o Traquina, por exemplo, não faziam ideia de quem tinha sido o autor do desenho... Mas logo esclareci o assunto. O Traquina ainda teve tempo de modificar o texto do Capítulo "O Distintivo da Companhia" do seu livro Os Tempos de Guerra,  dando o "seu a seu dono" no que respeita à autoria do Distintivo... Confesso que fiquei mais sossegado... E logo me agarrei a outra tábua de salvação que volto a transcrever: "Tudo bem!... Gostaram, não foi? Era o mais importante..."

O pior, amigos, é que já não estou tão confiante...

Vou contar:

Este ano, no almoço que reuniu as CCAÇ 2381 e CCAÇ 2382, eis-me a falar com o Cancela, soldado da minha companhia e membro da Tabanca Grande... A conversa andou por estes temas, o Cancela entusiasmado com o nosso blogue e entusiasmando-me a colaborar também nele. Não sei porquê falo no distintivo... Que pensava escrever qualquer coisa sobre ele... Na expressão do Cancela passa uma nuvem de desagrado... "Aquele emblema"... E num trejeito desagradado: "Os Palhaços"...

Como podem calcular,  isto é demais para um homem só... Afinal nem toda a gente gosta da minha obra-prima... Claro... Afinal o não cumprimento das regras e do espírito da heráldica militar tem o seu preço...

Olho melhor para o distintivo... Bem... De facto aquilo tem pouco de marcial... "Por Estradas Nunca Picadas"... "Por Picadas Nunca Estradas"... Uma gracinha nada mobilizadora de uma atitude bélica... E a figura central? O tal "Zé do Olho-Vivo"? Um boneco engraçado, talvez... Mas não teria sido preferível colocar ali um bicho? Um Leão, uma Pantera ou um Tigre? Ou até um Gato, de preferência Negro? Olha,  uns camaradas nossos optaram por ser os "Morcegos de Nhala"... Bom, também... Quanto aos amigos da CCAÇ 2381 são os "Maiorais"... Que tal?... Há um sugestão de autoridade, no Oeste... Outros levam lenços de côr mal embarcam: "Os lenços Vermelhos, Azuis, Verdes, sei lá... Côr-de-rosa, acho que não"...

Mas essa do Zé do Olho Vivo... Ainda por cima ostentando um nariz redondo e vermelho... Sim... Eu estava a pedi-las naquela noite, em Buba...

Bem,  a idéia era ir buscar uma inspiração talvez ao Bordalo, à figura do Zé Povinho... Que se identificasse com o Zé Soldado, de olho alerta, atento, corajoso, capaz de passar além das minas e armadilhas existentes nas picadas da vida...

Olha: Eu gostei... E gosto... E aqui já não há mais camada que me incomode... Desculpa lá, ó Cancela, soldado amigo... Eu gosto!
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Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6489: (Ex)citações (63): A minha homenagem à enfermeira pára-quedista Ivone Reis que ficou connosco, em Contabane, a cuidar dos feridos graves (Carlos Nery)

Vd. poste de 23 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2791: Álbum das Glórias (46): O distintivo da CCAÇ 2382, 1968/70 (Manuel Baptista Traquina)

Vd. último poste da série de 27 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6479: Histórias de Carlos Nery, ex-Cap Mil da CCAÇ 2382 (2): Noite longa em Contabane

Guiné 63/74 - P6560: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (III Parte)



















 Cor Art Ref António Carlos Morais da Silva é professor do ensino superior universitário, foi docente da Academia Militar, do Instituto Superior de Gestão e da Universidade Autónoma de Lisboa, sendo especialista em Investigação Operacional.  Também passou pelo TO da Guiné como oficial do QP. 

O Morais da Silva teve a gentileza de nos facultar, em pdf e em word, um exemplar do seu estudo, de 30 pp.,  sobre  a  "Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate" (Março de 2010), que circulou internamente, na nossa Tabanca Grande, através da nossa rede de emails. Está agora a chegar a um público mais vasto, através do nosso blogue (*).

  A existência de um elevado número de gráficos e quadros obrigou-nos a digitalizar todo o relatório que está a ser publicado, no nosso blogue, sob a forma de imagens, por partes. Esta é a III parte, correspondente às pp. 14-17. 

O nosso camarada Jorge Canhão (ex-Fur Mil da 3ª Companhia do BCAÇ 4612/72, Mansoa,  1972/74) encarregou-se dessa diligente tarefa. Não é demais agradecer-lhe  o empenho e a competência com que levou a cabo a digitalização do documento.

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Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores da série:




Guiné 63/74 - P6559: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (23): O Comandante do BART 645, Coronel Braamcamp Sobral

1. Nota solta enviada pelo nosso camarada Rogério Cardoso (ex-Fur Mil, CART 643/BART 645, Bissorã, 1964/66), em mensagem do dia 5 de Junho de 2010:


NOTAS SOLTAS DA CART 643 (23)

O COMANDANTE DO BART 645 - ÁGUIAS NEGRAS, COR. BRAAMCAMP SOBRAL


O Bart 645 - ÁGUIAS NEGRAS, foi formado em Santa Margarida, a partir de Novembro de 1963, data em que fui transferido do RAC de Oeiras.
Portanto desde esta data até 4 de Março de 1964, data do embarque, houve tempo suficiente para conhecimento da maioria dos camaradas.

Desde cedo e logo de principio, que o Bart 645 estava destinado a Moçambique, província que na altura estava em completa paz. Então eu e a minha mulher, combinámos ficar em África no fim da comissão, por conseguinte decidimos casar, assim como fizeram alguns camaradas.
Mas o tempo ia passando e nunca mais o Batalhão embarcava, deste modo todos nós começámos a ficar um pouco apreensivos, e lá se aplicou o velho ditado "contar com o ovo no c... da galinha "

Lá pela altura do Natal ou Janeiro, não preciso bem, o Comandante vei-nos dizer que Moçambique estava fora de hipótese, concerteza Angola nos esperava.
Foi a desilusão geral, as familias receberam a notícia com um certo choque emocional, mas eu e outros pensámos numa defesa para com os familiares mais chegados. Dissemos que nem tudo era mau em Angola, se fosse a Guiné é que era a desgraça total, ainda por cima tinha caído em combate, um filho de um amigo de meu pai, eu achei que a justificação que apresentava, era a melhor tática, mas a ida da minha consorte, já estava à partida com menos 50% de hipóteses.

O tempo ia passando, o Comandante Braamcamp Sobral, sabia de antemão a sorte do Batalhão, dizia-se que o tinha oferecido para a Guiné, porque havia uma dívida de honra a pagar. Um dos seus filhos, oficial quando da invasão da Índia, "ausentou-se" e a forma que de momento achou melhor, foi a do oferecimento dos Águias Negras.

Lá para o fim de Fevereiro, houve a reunião de todo o pessoal, numa noite depois do jantar. Quando deu a notícia, perante cerca de 600 homens, houve um ah geral, ouviram-se alguns comentários, o chamado grande melão, pois só meia duzia de oficiais e sargentos sabiam o destino.

O Comandante Braamcamp Sobral, é aí que se encontra o grande homem que era, soube contornar a situação, as suas palavras foram de encorajamento, enaltecendo tudo e todos os Águias Negras, e meia hora depois tinha conquistado a simpatia geral.

Era um fantástico condutor de homens, assim até 4 de Março, data do embarque e mesmo até fim da comissão, teve um dos melhores batalhões que passaram pela Guiné. Estando em Mansôa, visitava com regularidade as companhias de Bissorá e Mansabá, e mesmo com aquela idade, chegou a ir ao mato, dando exemplo e mostrando como se comandava uma companhia a um certo capitão, que em Santa Margarida mostrava ser aguerrido, audaz e ousado, mas na realidade era completamente o contrário, não mostrando apetência para o lugar, sendo substituido porque era o unico que destoava daquela grande familia.

Enfim o Comandate Braamcamp Sobral, homem de alta estatura com mais de 1,90 e elevada compleição fisica, farta cabeleira totalmente branca, vulgarmente chamado pelos nativos de " Cavalo Branco", era um exemplo de homem, respeitado por nós, populações e pelo IN. Os homens dele eram intocáveis, nem a PM que às vezes em Bissau nos fazia a vida negra, ele respondia por todos o que lhe valeu alguns aborrecimentos.

Não posso nem devo terminar, sem deixar uma nota de apreço pelo nosso primeiro 2.º Comandante Major Glória Alves, homem de grande educação e amigo de todos os subordinados.

Já partiram, deixando saudades de quantos lidaram com eles.

Rogério Cardoso
Ex-Fur Mil
Cart 643 - Aguias Negras
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 27 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6480: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (22): 1.º Cabo António Melo e Soldado Manuel Bernardes, as nossas únicas baixas mortais

Guiné 63/74 - P6558: Agenda cultural (80): Sessão de lançamento do livro Mouzinho de Albuquerque: um soldado ao serviço do Império, de Paulo Jorge Fernandes (A Esfera dos Livros), hoje, às 18h30, em Lisboa, no Museu Militar



A Esfera dos Livros convida todos os membros da Tabanca Grande, nomeadamente os que residem na área da Grande Lisboa,  para a sessão de lançamento do livro Mouzinho de Albuquerque: um soldado ao serviço do Império, da autorida de Paulo Jorge Fernandes, especialista em história contemporânea. A cerimónia realizar-se-á, hoje, dia 8, às 18h30, no Museu Militar, junto à Estação de Santa Apolónia.

Título: Mouzinho de Albuquerque
Autor: Paulo Jorge Fernandes
Colecção: História Biográfica
Nr de páginas: 426 + 24 extratextos
PVP c/  Iva: 27 €
ISBN: 978-989-626-223-5
Formato: 16 x 23,5
Encadernação: Brochado
Data: Maio de 2010

Sinopse:

Uma coluna diminuta de apenas 51 oficiais e praças chegava a Chaimite, sob fortes chuvadas, com um único propósito: capturar Gungunhana, o temido régulo que desafiava as autoridades portuguesas havia anos.

O bravo capitão de cavalaria Mouzinho de Albuquerque, de espada desembainhada, foi o primeiro a entrar na povoação e berrou bem alto o nome do inimigo que saiu da sua palhota para se render aos militares portugueses.

Finalmente, ao fim de tantos anos a sonhar com aquele momento e depois de tanto penar, Mouzinho de Albuquerque estava frente a frente com o seu adversário.

Este feito notável, numa mistura de imprudente coragem e golpe de sorte, teve ecos na metrópole. Foi assim que nos confins de Moçambique nos finais de 1895 Mouzinho de Albuquerque dava sentido ao seu destino e gravava o seu nome na História.

Nos últimos anos da sua vida foi preceptor e aio de D. Luís Filipe, herdeiro da coroa. Cargo que detestou cumprir. No entanto, no convívio com a família real, terá nascido uma paixão impossível de concretizar pela rainha D. Amélia. Terá sido para salvar a honra de ambos que no dia 8 de Janeiro de 1902 se suicidou com dois tiros?

Questionado sobre qual seria o seu ideal de vida terá respondido: «Morrer a tempo.» O seu desejo cumpriu-se já que a sua morte prematura aos 46 anos o impediu de assistir à derrocada da Monarquia e à violência da República.