sábado, 20 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14774: Filhos do vento (38): O caso do António da Graça Bento que foi a Angola, 40 anos depois, conhecer o seu filho. Reporatgem "on line" e em papel, no jornal Público: texto de Catarina Gomes e imagem e som de Ricardo Rezende



Dois fotogramas do vídeo (31' 17'') publicado pelo Público "on line": "Quero que ele sabe que tem um pai".  Ricardo Rezende (imagem e som). Reproduzidos com a devida vénia.



O encontro do pai (António Graça Bento, 63 anos) e do filho (Jorge Paulo Bento, conhecido por o "Pula", na Unidade de Intervenção Rápida, de Luena, a que pertence; tem agora 40 anos e 4 filhos; a mãe, Esperança, já morreu em 2005). (*)

Foto de Manuel Roberto, fotojornalista do Público, reproduzida com a devida vénia.

O António Bento, natural de Nisa, que trabalha em Montemor-o-Novo e vive em Vendas Novas, foi fur mil da 1ª C/ BART  6321/73 (1973/75), mobilizada pelo RAL 3 (Évora). Este batalhão esteve no leste de Angola (Lucusse, Luvuei, Cassamba e Lutembo). A 1ª companhia esteve no Luvuei. Eis aqui a sua história. 

A reportagem "Quem é o filho que António deixou na guerra?" é uma magnífica peça jornalística de Catarina Gomes (texto), Manuel Roberto (fotografia) e Ricardo Resende  (vídeo em Luanda e Luena).

"Esta é a história de um furriel português que foi viver para a sanzala e que foi feliz na guerra. E de um filho angolano que sempre viveu incompleto. Afinal, o pai de Jorge existe e foi ao seu encontro."

Vd. na edição em papel, domingo, dia 21, a reportagem completa (Público | Revista) (**)

Guiné 63/74 - P14773: Parabéns a você (923): Cherno Baldé, Amigo Grã-Tabanqueiro, Engenheiro e Gestor de Projectos

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Nota do editor

Último poste da série > 19 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14765: Parabéns a você (922): Henrique Cerqueira, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610/72 (Guiné, 1972/74) e Leopoldo Amado, Amigo Grã-Tabanqueiro, Historiados e Professor Universitário

sexta-feira, 19 de junho de 2015

Guiné 63/74 - P14772: Filhos do vento (37): Nos trilhos de crianças nos tempos da guerra colonial (José Saúde)


1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem. 

Nos trilhos de crianças nos tempos da guerra colonial
“Filhos do Vento” 

Obrigado Catarina Gomes! 

Falamos a mesma linguagem. A linguagem jornalista, aquela que nos foi e é peculiar nos tempos que ocorrem e no preciso momento de informar. O contexto, o nosso, é uníssono. Sabemos de como tratar o assunto. Sabemos, também, o impacto da informação junto a um público que anseia a justeza de comunicação. 

Vi reportagem na SIC sobre o encontro de um pai, passados 40 anos, com um filho que deixou em Angola. Revi, simultaneamente, a minha ousadia quando um belo, repito, belo dia, desmitifiquei preconceitos sociais e “histórias da carochinha” contadas entretanto por caminhos ínvios de antigos camaradas que sempre mantiveram tabu sobre as nossas presenças num palco de guerra que nos foi substancialmente cruel. 

“Filhos do Vento” foi uma temática que tentei passar para a opinião pública sabendo de antemão o desconforto que a narrativa pudesse eventualmente trazer no conceito social. Porém, avancei despido de preconceitos que o tema tinha, com certeza, motivos adjacentes que poderiam guindar-se a níveis superiores e elevar bem alto o absolutismo de realidades que nós, antigos combatentes, deixámos em pleno palco de guerra. 

Confortam-me os depoimentos de homens que assumem essas realidades. Constatei a última sondagem feita no nosso blogue sobre uma temática que tem levantado celeumas. Claro que acredito fielmente nas convicções dos antigos camaradas. Todavia, nem todos foram santos. Houve, também, pequenos “diabos à solta” cujas diabruras sexuais foram motivos evidentes que em momentos de eufóricos êxtases carnais fecundaram seres que viveram angustia de jamais conhecerem os verdadeiros progenitores. O pai que se perdeu numa devastada penumbra. 

E foi justamente na base deste pressuposto em saber separar as águas que antiga guerra colonial nos impôs, que desafiei desbravar o “cabo das tormentas” e colocar na ribalta os “Filhos do Vento”, cujo atrevimentos me confere aureolas de lisonjeiras verticalidades que o tempo acabaria por confirmar. 

O desígnio ocorreu-me, talvez levianamente, admito, reconhecendo, por outro lado, a influência que o nosso blogue – Luís Graça & Camaradas da Guiné - confere no contexto nacional e internacional. Aliás, é líquido que revejamos o excelente trabalho feito pela jornalista de “O PÚBLICO”, Catarina Gomes, que tem trazido até nós excelentes momentos de reportagem sobre crianças, hoje homens e mulheres, que por lá ficaram e que sempre ansiaram conhecer o homens que esteve na origem da sua vinda ao mundo dos mortais. 

Creio que abri um caminho, outrora quiçá impensável, para um reencontro de afetos familiares que pareciam perdidos no tempo. 

Com o dever cumprido este antigo combatente na Guiné, alentejano assumido e nascido em Aldeia Nova São Bento, tendo na cidade de Beja a sua terra de adoção, partirá um dia para a tal viagem sem regresso transportando consigo uma mala de eternas recordações onde à superfície emerge o profícuo reconhecimento de uma história que não fora a minha ousadia morreria, quiçá, no limbo do esquecimento. 

E é neste desafiar de memórias que remeto os camaradas para esporádicas revisões que, a espaços, contemplam lembranças de um passado que jamais deveremos olvidar. 

O palco do conflito armado nas antigas colónias – Angola, Moçambique e Guiné – trouxe inequívocos resquícios de um passado que outrora mexeu com a nossa sensibilidade humana, mormente quando as nossas idades joviais traçavam planos onde o sexo emergia à tona das nossas mentes. 

Conheço há muito o mundo do jornalismo e aproveito, uma vez mais, para enaltecer o trabalho desenvolvido pela Catarina Gomes no que concerne ao seu trabalho sobre o desígnio “Filhos do Vento”, em concreto, uma temática que eu em boa hora trouxe a público. 

O meu agradecimento é, obviamente, extensivo ao nosso camarada e amigo Luís Graça pela oportunidade dada.


Um abraço camaradas, 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

18 DE JUNHO DE 2015 > Guiné 63/74 - P14764: Filhos do vento (36): SIC, Jornal da Noite, hoje, 4ª feira, 18, 20h00-21h30; e revista do jornal "Público", domingo, 21: "Tivemos a felicidade de acompanhar o António Bento, que esteve em Angola entre 1973 e 1975, e era furriel, e ir com ele ao encontro do filho que ele nunca conheceu, deixou a mulher com quem viveu durante um ano grávida" (Catarina Gomes, jornalista)  

Guiné 63/74 - P14771: Efemérides (194): Homenagem aos Combatentes no dia 10 de Junho de 2015 em Leça da Palmeira-Matosinhos (Carlos Vinhal)


Uma vez mais foi celebrado o Dia 10 de Junho em Leça da Palmeira, à semelhança do que se faz noutros locais, prestando homenagem a todos os combatentes caídos em campanha.

O programa começou às 10H30 com o Içar da Bandeira Nacional no edifício da União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira – Leça da Palmeira.

O senhor Dejalme Rodrigues, em representação do Presidente da União de Freguesias, no momento em que hasteava a Bandeira Nacional.

Em simultâneo, na varanda do edifício, foram hasteadas: a Bandeira da União de Freguesias, a do Concelho e a da Comunidade Europeia, por três Combatentes leceiros. O Coro do Núcleo interpretou o Hino Nacional acompanhado pelos presentes ao acto.

A Guarda de Honra presente nas cerimónias

Pelas 11 horas foi celebrada uma Missa de Sufrágio pelo senhor Pe. Francisco Andrade, Pároco de Leça da Palmeira, com a participação do nosso Coro, que interpretou os vários cânticos litúrgicos, e da Guarda de Honra do Exército.



Às 11h50 foi a concentração junto ao Memorial da Liga dos Combatentes, no Cemitério n.º 1 de Leça da Palmeira, para as cerimónias de homenagem aos combatentes caídos em campanha.

Depois do Toque de Sentido foi depositada uma coroa de flores.

O senhor Dejalme Rodrigues, pela Autarquia, e o senhor TCor Armando Costa, pela Liga dos Combatentes, aquando da deposição da coroa de flores.

Seguiram-se os Toques de Silêncio e de Homenagem aos Mortos em Combate. O Minuto de Silêncio e os Toques de Alvorada e a Descansar.


Seguiram-se as alocuções alusivas ao acto pelo Presidente do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, TCor Armando Costa e pelo Presidente União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, senhor Dejalme Rodrigues, em representação do Dr. Pedro Sousa, Presidente da União das Freguesiasde Matosinhos e Leça da Palmeira, ausente por motivos de força maior.

TCor Armando Costa, Presidente do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes.

Senhor Dejalme Rodrigues, executivo da União das Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira. 

Uma perspectiva dos presentes

As cerimónias terminaram com a terceira intervenção do Coro do Núcleo de Matosinhos da LC, desta feita  interpretando o Hino da Liga dos Combatentes.

A manhã terminou com um Porto de Honra oferecido pela União de Freguesias.

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Fotos: © Abel Santos e Dina Vinhal
Texto e legendas: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14767: Efemérides (193): O Dia da Consciência, 17 de junho de 2015, celebrado em Lisboa: sessão de homenagem a Artistides de Sous Mendes, por ocasião dos 75 anos da sua decisão histórica (1940-2015) - Parte I

Guiné 63/74 - P14770: In Memoriam (223): Manuel Rocha Bento (Galveias, Ponte Sor, 1950 - Ponta Coli, Xime, 1972), fur mil at art, CART 3494, morto em combate, em 22/4/1972 (Alexandre Bento Mendes, seu sobrinho / Jorge Araújo, seu camarada de pelotão)


1. O nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494, Xime e Mansambo, 1972/1974), a seguinte mensagem com data de 15 de Junho de 2015, na continuação do poste P14749. 

UM SENTIMENTO DE PESAR AINDA PRESENTE
(A MORTE DO FURRIEL BENTO EM 22ABR1972)
- a única baixa em combate da CART 3494 -
1.- INTRODUÇÃO
A divulgação das memórias mais relevantes que marcaram a minha presença no CTIGuiné durante os já longínquos anos de 1972 a 1974, na qualidade de miliciano da CART 3494, e que de forma irregular têm sido transformadas em narrativas, visam deixar expresso, na sua dimensão historiográfica escrita no singular, algumas das ocorrências vividas no plural, e daí as considerar portadoras de eventual interesse colectivo.
Sabemos que o número de leitores a que a elas têm acesso, independentemente das suas motivações e interesses, é significativo, como se pode confirmar pelo número de visitas diárias ao Blogue da nossa Tabanca… que é [muito] Grande, prestando este, sem quaisquer dúvidas, um inquestionável serviço público, abrindo as suas portas ao aprofundamento e a esclarecimentos posteriores sobre dúvidas que porventura cada episódio possa suscitar.
Está neste caso o interesse demonstrado por Alexandre Mendes, sobrinho do malogrado meu/nosso camarada Furriel Manuel Rocha Bento, morto em combate no dia 22ABR1972 [P14495 – Recordando a 1.ª emboscada na Ponta Coli e a morte do Furriel Bento - a única baixa em combate da CART 3494], na mata da Ponta Coli.
Foi neste local enigmático e misterioso, sito na estrada Xime-Bambadinca, que foram travadas duras batalhas com os guerrilheiros do PAIGC, pelas diferentes unidades sediadas no Xime, e que tivemos a oportunidade de as experienciar e de as descrever, em particular aquelas que a história haveria de determinar que seriam as duas últimas.
Com efeito, o [nosso] Alexandre nasceu catorze anos depois da morte de seu tio [em 1986], tendo crescido e convivido desde sempre com a mágoa dos seus avós e de sua mãe pela saudade que o tio deixou, sendo ainda hoje [quarenta e três anos depois] recordado por todos os seus pares.
Na tentativa de encontrar resposta às dúvidas que o tem acompanhado ao longo dos anos, tomou a iniciativa de contactar o camarada Luís Graça, editor do Blogue, pedindo-lhe ajuda para o encaminhamento do seu e-mail, o que veio a acontecer.
2.- OS CONTACTOS DO ALEXANDRE MENDES
1.º - 10JUN2015
Boa Noite,
Em primeiro lugar parabéns pelo blogue, através dele pude conhecer a verdadeira história da morte do meu tio.
Em segundo lugar queria perguntar se dispunham de mais fotos onde o meu tio esteja presente (além das constantes no blogue) e caso haja, se me podem enviar por email.
Em último lugar gostaria de saber quando é que o meu tio chegou à Guiné para desempenhar a missão.
Vejo que uma das pessoas que foi colega dele e que o menciona é o Jorge Araújo, talvez se puder encaminhar este email, ele possa ajudar. Cumpts Alexandre Mendes.
2.º - 10JUN2015
Jorge: Queres responder e comentar? Podias fazer um poste… Luís.
3.º - 10JUN2015
Caro Alexandre,
O seu contacto de hoje, via Luís Graça, merece-me um carinho especial, particularmente pelos motivos que o fundamentam.
Por isso, saúdo-o, antes de mais, pela iniciativa que tomou em querer saber algo mais sobre a vida militar de seu tio [e meu/nosso camarada] Manuel Bento, morto em combate nas matas do Xime, na Guiné, naquele fatídico dia 22ABR1972, fez agora quarenta e três anos.
O seu presente contacto é, com efeito, muitíssimo gratificante para nós, na justa medida em que através da recuperação e divulgação pública das nossas memórias, gravadas no decurso da nossa presença no Teatro de Operações da Guiné, recordamos alguns dos episódios mais marcantes dessa experiência ultramarina.
Os seus destinatários são muitos. Desde logo o colectivo da unidade militar que connosco as partilhou, depois os seus familiares directos, independentemente do grau de parentesco, e finalmente a comunidade que nos lê, quer sejam aqueles que por lá passaram, quer sejam as novas gerações que delas foi dispensada, por via do 25 de Abril de 1974.
Não sei a sua idade, mas certamente que nasceu depois da data acima, o que torna o contacto ainda mais valioso.
O seu tio, como teve a oportunidade de constatar nos diversos postes que escrevi sobre as emboscadas na Ponta Coli [P9698 + P12232 + P14495], morreu a meu lado, oitenta dias depois de ter chegado ao Xime, um dia dramático para todos nós, ou quatro meses após o embarque no N/M Niassa, em Lisboa, em 22DEC1971 [P12978], com passagem por Bolama durante um mês.
O facto tornou-se ainda mais dramático, pois sabíamos que ele tinha sido pai, deixando, assim, uma viúva e uma bebé órfã. Foram, de facto, indescritíveis os dias que se seguiram. Mas tivemos de seguir em frente.
Caro Alexandre, para além das narrativas que estão publicadas no blogue de Luís Graça & Camaradas da Guiné, outras semelhantes estão disponíveis no blogue da CART 3494, a sua unidade militar, bastando identificar na coluna da direita [etiquetas] o assunto/tema que mais lhe interesse.
Como no próximo sábado, dia 13 do crt., iremos realizar um almoço-convívio em Vila Nova de Gaia, o 30.º, gostaria de lhes dar esta boa nova, se possível, através da elaboração de um texto a publicar até lá. Para o efeito, gostaria que me fizesse chegar uma sua foto, acompanhada por algo mais que entenda por oportuno.
Ao dispor, receba um forte abraço. Jorge Araújo.
4.º - 15JUN2015
Boa Noite Jorge,
Eu pensava que ele tinha estado mais tempo na Guiné, porque li algumas cartas que ele enviava à irmã (minha mãe) e deu-me a sensação que ele teria vindo mais do que uma vez a Portugal, já depois de estar na Guiné…
No passado sábado dia 6 de Junho, visitei o Memorial em Belém com o nome dos militares que tombaram em combate e quando cheguei a casa lembrei-me de escrever o nome do meu tio no Google e ver o que me surgia… com grande espanto obtive as descrições, fotografias postadas por si.
Não sou realmente desse tempo, pois nasci em 1986, mas cresci a ver e conviver com a mágoa dos meus avós e da minha mãe pela saudade que o meu tio deixou. É extraordinário, que embora tenha falecido muito novo (com 22 anos), ainda hoje é recordado na terra [Ponte de Sor] com carinho, por exemplo em 2007 houve um convívio entre colegas da terra (escola e afins) e foram colocar uma pedra [lápide] na campa com uma dedicatória, isto passados 35 anos da sua morte.
É extremamente gratificante para mim, ter chegado à fala com alguém que privou de perto com ele nos momentos difíceis e que tenha infelizmente presenciado aquele trágico acontecimento a fim de hoje, através dos seus postes, me descreva as questões que me interrogavam no passado. Sabia-se que tinha sido uma granada, mas o descritivo, não. Lamento só agora ter prestado atenção à data do almoço (dia 13 de Junho), de qualquer forma anexo uma foto minha.
Pedia-lhe por favor, caso tenha mais fotos onde esteja o meu tio (além das que estão nos sites) se possível me as enviasse desde que não cause transtorno, naturalmente.
Um Grande Abraço. Cumpts. Alexandre Mendes.
3.- HOMENAGEM DOS EX-COMBATENTES DA CART 3494
AOS MORTOS EM COMBATE NA GUERRA DO ULTRAMAR
A pretexto da realização do 30.º Almoço/Convívio/Encontro dos ex-combatentes da CART 3494, este ano agendado para Vila Nova de Gaia, tomou a organização deste evento a iniciativa de homenagear na sua Unidade Mobilizadora para a Guiné [ex-RAP2], agora Regimento de Artilharia 5 [RA-5], os camaradas que tombaram nos diferentes T.O. e, particularmente, o camarada ex-Furriel Manuel Rocha Bento.
Durante a cerimónia oficial realizada sob chuva intensa e enquadrada por uma Guarda de Honra constituída por uma secção daquela Unidade, comandada pelo Alferes Tiago Martins, foi colocada uma coroa de flores no respectivo Memorial. 


Foto 1 - 13JUN2015 - Vila Nova de Gaia [RA-5/ex-RAP2] - Memorial aos mortos da Unidade que tombaram nos T.O. da Guerra do Ultramar.

  
Foto 2 - 13JUN15 - Vila Nova de Gaia [RA-5/ex-RAP2] - Memorial aos mortos da Unidade que tombaram no CTIGuiné, onde consta o nome do camarada Bento.


Foto 3 - 13JUN2015 - Vila Nova de Gaia [RA-5/ex-RAP2] - Monumento aos mortos da Unidade que tombaram nos T.O. da Guerra do Ultramar, onde foi depositada uma coroa de flores.
Obrigado Alexandre por nos ter contactado.
Um forte abraço e muitas felicidades.
Jorge Araújo.
Fur Mil Op Esp / Ranger, CART 3494
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Nota de M.R.: 

Vd. Também o último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P14769: Agenda cultural (411): Lisboa Mistura 2015, todos/as ao Intendente até domingo 21...



O Lisboa Mistura tem-se afirmado, desde 2006, como um espaço intercultural destinado ao conhecimento e à inscrição de novas linguagens e tendências.

Em 2015, a cultura musical urbana é, como não podia deixar de ser, uma ponte para as dimensões sociais e políticas que integram o cosmopolitismo de uma Lisboa eterna. Num momento de grande dinamismo, a cidade respira positivas contradições e desafios que, embora globais, são intensamente íntimos, particulares.

É a beleza da diferença, a herança da curiosidade. Desde sempre que o Lisboa Mistura se questiona sobre a construção metapolítica, sobre a atividade cultural que deveria preceder o pensamento organizacional tornando-o mais humano. 

É neste sentido que a décima edição do Lisboa Mistura apresenta palestras, debates e encontros que, no meio da música ou da gastronomia, fazem sentir esse pulsar. 

Lisboa Mistura é também um momento de construção da alegria necessária para vivermos lado a lado, resistindo à aniquilação da diferença. Artistas do mundo, cozinheiros, pensadores, agentes de várias geografias, jovens talentos de bairros com sonhos, pessoas curiosas, felizes ou tristes, e lisboetas. Lisboetas porque Lisboa os acolhe como seus.

Flashmob Lisboa Mistura
17 jun: 21h30

Concertos

Ibibio Sound Machine
18 jun: 21h30
Mitch & Mitch + Felix Kubin
19 jun: 21h30
Kuenta i Tambu
19 jun: 23h
Alsarah & the Nubatones
20 jun: 21h30

Vieux Farka Touré
20 jun: 23h
Tomoro + Seiwa Taiko
21 jun: 20h45

Hugh Masekela
21 jun: 21h30

INFORMAÇÕES ÚTEIS

Entrada livre
LOCAL
Lisboa, Largo do Intendente

Fonte: Agenda Cultural de Lisboa, junho de 2015

PS - Amigos e camaradas, aproveitem o fim de semana, e vão visitar o novo Jardim da Cerca da Graça, que liga a Graça à Mouraria... Foi recentemente inaugurado... Ando cá há 40 anos e estou longe de conhecer todos os recantos e encantos de Lisboa... Uma cidade única, fascinante...
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Guiné 63/74 - P14768: Blogpoesia (416): A senhora Sexta-Feira, que vivia em Ganjola, a doce companheira do senhor Brandão (J.L. Mendes Gomes, ex-alf mil, CCAÇ 728, "Os Palmeirins", Cachil, Catió e Bissau, 1964/66)

A senhora Sexta-Feira

por J. L. Mendes Gomes  (*)


Vivia em Ganjola,
arredores de Catió.
Era a doce companheira
do senhor Brandão. (**)

Um desterrado de Arouca
a cumprir pena na Guiné.

Fez-se comerciante,
vendia de tudo aos nativos,
por todo o sul desde Bedanda a Cufar.

Faziam bicha em corropio
as mulheres negras,
açafates à cabeça,
e filhinhos atrás das costas.

Traziam ovos,
traziam galinhas,
de cristas rubras,
e levavam arroz e sal
para suas tabancas.

Sua casa era um palacete,
à beira-rio,
onde abundavam os crocodilos,
mas havia peixe a dar com pau.

Ali fui parar um mês com meu pelotão.
Como num quartel.
Ali dei com o célebre Brandão,
sempre rodeado de muitas crianças,
que lhe ventilavam o ar,
na sua esteira suspensa.

E havia uma senhora negra,
cabelo grisalho
um rosto belo,
cheio de rugas,
e uns olhos brilhantes,
um sorriso divino e puro.

Era a Sexta-Feira.
Cozinhava tão bem!...
Que será feito dela?


Berlin, 19 de Junho de 2015, 8h47m
Joaquim Luís Mendes Gomes

[ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66]






Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (Catió, 1967/69) > Destacamento de Ganjola > Meninos, filhos de habitantes locais, dois deles irmãos, os mestiços . Dizia-se que eram filhos (ou netos?) do velho Brandão (que não sabemos quando e onde morreu). 

O que foi feito destes meninos e desta menina, pretos e mestiços de Ganjola ? Estarão vivos ? Casaram ? Tiveram filhos ? Vivem na sua terra ? São felizes e livres ? Ficamos semopre fascinados pelas fotos de gente, de ontem e de hoje... Quantas histórias não ficarão por contar se não inquirirmos estas fotos ?

Fotos do nosso saudoso grã-tabanqueiro Victor Condeço (1943/2010), ex-fur mil,  mecânico de armamento, CCS/N»BART 1913 (Cati+ó, 1967/69) / © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados

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Notas do editor:


(**) Vd, poste de 22 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjola, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira

(...) Era-nos fácil imaginar, com sadia cobiça, a deliciosa época da vida colonial, de antes da guerra, para os felizardos, a quem a sorte, em boa hora, escorraçara, com a pena de desterro, por feitos heterodoxos à moral reinante das gentes da metrópole.

Era o caso do Sr. Brandão, de Ganjola (...) , a quinze km de Catió, um injustiçado lavrador das terras de Arouca. Ali vivia há dezenas de anos, por assassínio, cometido numa das romarias da Senhora da Mó. No meio dos folguedos e romarias, por vezes, acertavam-se contas atrasadas, duma qualquer hora de desavença, mesmo no fim da missa domingueira.

O Sr. Brandão, agora, era um velhote, rodeado de filhos e netos que foi gerando, ao sabor das madrugadas de batuque e da liberdade de escolha, sem custos, entre as mais viçosas bajudas da tabanca…

Uma negra, velha, mas de rosto e olhar, ainda iluminados por olhos meigos, como a sua voz, doce, era a predilecta, de sempre. Seu nome, Sexta-Feira. Soava bem aos ouvidos dos falares balantas, fulas ou mandingas. Era ela quem lhe tratava das tarefas caseiras. Dedicada. Sem nada cobrar, para além do breve e malicioso sorriso do velho Brandão, quando lhe despontava o desejo do seu corpo, negro, sem idade. Podia despontar a qualquer hora. Sexta-Feira ali estava, sempre dócil e submissa.

Uma loja farta de tudo o que chegava na carreira regular das barcaças de Bissau. Os lindos panos de cor garrida e os gordos cordões reluzentes, de fantasia, com que as negras tanto gostavam de se enfeitar.

O vinho tinto da metrópole era o regalo dos ociosos negros, de rostos engelhados e curtidos pelo álcool, pela tarde fora, a par da cachaça de coco.O saboroso bacalhau, curado nas míticas secas da Figueira da Foz e Aveiro, tão apreciado e toda a sorte de ferragens eram tudo o que aguçava o desejo daquelas gentes, para a troca do arroz, milho, mandioca, galinhas e demais produtos que, em cortejo lento e constante, pelas picadas entre as frondosas matas, traziam em açafates, à cabeça.O preço era feito, à medida da vontade gulosa do velho, matreiro e bem afortunado, Brandão.

Dizia-se que tinha metade das terras de Arouca… não fosse o diabo tecê-las. Ali, vivia, pacatamente, como se não houvesse guerra, numa típica mansão colonial, de um piso sobreelevado, com um varandim a toda a volta, com as dependências necessárias à farta panóplia de utensílios, alfaias e mercadoria. (...)


Guiné 63/74 - P14767: Efemérides (193): O Dia da Consciência, 17 de junho de 2015, celebrado em Lisboa: sessão de homenagem a Artistides de Sousa Mendes, por ocasião dos 75 anos da sua decisão histórica (1940-2015) - Parte I


Lisboa > Centro Cultur5al Franciscano > Largo da Luz > 21h > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristide de Sousa Mendes > Um dos "slides" que foi projetado na sala onde se realizou a conferência, a que assistiram largas dezenas de pessoas. Sobre a biografia do homenageado, ver aqui o sítio da Fundação Aristides de Sousa Mendes


Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz nº 11, Carnide > 21h > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristide de Sousa Mendes > Detalhe de um cartaz da Fundação Aristides de Sousa Mendes. de apelo à doação de sangue.


Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz, nº 11, Carnide > 21h > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristides de Sousa Mendes > Da esquerdas para a direita, Cristina Ferreira, um das organizadoras do evento e grande amiga da Guiné onde esteve naum missão de cooperação durante dois meses. (Acrescente-se que é uma "mulher de armas" que  já fez com o nosso camarada António Camilo e outros camaradas a famosa viagem terrestre, ao longo da costa do norte de África, de jipe,  até à Guiné-Bissau!)


Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz, nº 11, Carnide > Da esquerda para a direita,  a Alice Carneiro, o João Crisóstomo, uma amiga do João (que vive em Leiria), o  António Rodrigues (que vive na Batalha, e é também  ativista de causas sociais, foi ele com o João quem salvou da ruina completa a Casa do Passal, em 2004; emigrou para os EUA em 1967, depois de ter feito o serviço militar na Base de Monte Real, como voluntário na FAP), a Mariana Abrantes de Sousa (, outra grande ativista da causa de Aristides de Sousa Mendes, igualmente da diáspora lusitana nos EUA) e a esposa do António Rodrigues


Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz, nº 11, Carnide > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristides de Sousa Mendes > Alice (de costas) e a simpatiquíssma esposa do João, a Vilma, de origem eslovena.


Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz, nº 11, Carnide > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristides de Sousa Mendes > Da esquerda para a direita, (i) João Lourenço, padre, reitor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portugues; (ii) dra. Marina Resende, chefe do gabinete da dra. Teresa Morais (secretária dos Assuntos Parlamentares e da Igualdade) (com quem o João Crisóstomo esteve recentemente em Nova Iorque e que à última hora. não podendo vir, enviou a sua chefe de gabinete): (iii)  a dra. Mariana Abrantes; e o (iv) João Crisóstomo (estes dois últimos, duas caras conhecidas da luta, nacional e internancional, pelo reconhecimento de Artistides de Sousa Mendes)



Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz, nº 11, Carnide > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristides de Sousa Mendes > Mariana Abrantes e o José Ruy, o autor da banda desenhada "Aristides de Sousa Mendes, herói do holocausto", editado em português, francês e inglês. A edição portuguesa é de 2005 (Lisboa, Âncora Editora, 32 pp.)



Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz, nº 11, Carnide > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristides de Sousa Mendes > Exposição de cópias de documentos encontrados pelo João Crisóstomo e o António Rdorigues, em 2004, na Casa do Passal, incluindo correspondência familiar datada de 1909, a par de recortes de jornal e correspondência relacionada com as várias edições do Dia da Consciência, criado por iniciativa do nosso camarada e amigo João Crisóstomo.



Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz, nº 11, Carnide > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristides de Sousa Mendes > Uma aspeto (parcial) da mesa com os oradores da sessão de homenagema  a Aristides de Sousa Mendes, e que foi presidida pelo professor João Lourenço; o primeiro da esquerda é o dr. Américo Pereira, professor de filosofia na Universidade Católica, seguido da jornalista e escritora  Miriam Assor e do neto do homenageado, o major Álvaro de Sousa Mendes.


Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz, nº 11, Carnide > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristides de Sousa Mendes > Uma das oradoras, Miriam Assor, jornalista, "freelancer", escritora,  autora de, entre outros títulos, Aristides de Sousa Mendes - um justo contra a corrente (Lisboa, Guerra e Paz, 2009,  176 pp., já em 2.ª edição); nasceu em Lisboa, em 1966, "no seio de uma família judaica ortodoxa, ao qual acresce ainda o facto de ser filha de Abraham Assor que foi, durante 50 anos, rabino da Comunidade Israelita de Lisboa", segundo o jornal i (onde ela escreve).



Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz, nº 11, Carnide > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristides de Sousa Mendes >  Outro dos oradores, Álvaro de Sousa Mendes, um dos netos do cônsul de Bordéus; é major do exército, presidente do CA da Fundação Aristides de Sousa Mendes. Na sala, estavam ainda presentes mais dois netos do homenageado.


Lisboa > Centro Cultural Franciscano > Largo da Luz, nº 11, Carnide > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristides de Sousa Mendes > Mariana Abrantes leu a comunicação do João Crisóstomo, devido a este estar afónico; à direita, o jornalista Joaquim Franco.


Lisboa > Centro Cultur5al Franciscano > Largo da Luz > 21h > 17 de junho de 2015 > Dia da Consciência > Homenagem a Aristide de Sousa Mendes >  O nosso camarada e amigo João Crisóstomo. Vai cá estar até 10 de julho. Vamos seguramente,  até lá,  reunir as Tabanca de Nova Iorque, de Torres Vedras e da Lourinhã...

Recorde-se que o nosso grã-tabanqueiro João Crisóstomo: (i) é natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras; (ii) foi alf mil, na CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/66); (iii) vive em Nova Iorque desde 1975, onde foi mordomo, de gente ilustre, rica e influente,  até ao início de 2015 (reformou-se agora); (iv) é um mediático ativista comunitário, tendo estado ligado à defesa de três causas que tiveram repercussão internacional e que nos dizem muito, a nós, portugueses (gravuras de Foz Coa, independência de Timor Leste e memória de Aristides Sousa Mendes); (v) foi um dos fundadores do "Luso-American Movement for East Timor Autodetermination" (LAMETA); e, não menos importante, (vi) é casado em segundas núpcias com a eslovena e nossa muito querida amiga Vilma e, por fim, (vii) integra a nossa Tabanca Grande desde 26 de julho de 2010]


Fotos (e legendas): © Luís Graça  (2015). Todos os direitos reservados.

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Nota do editor:

Vd. poste de 11 DE JUNHO DE 2015 > Guiné 63/74 - P14731: Efemérides (192): 75º aniversário do gesto heroico de Aristides de Sousa Mendes ao decidir ajudar a salvar milhares de seres humanos fugidos ao terror nazi...Dia da Consciência, no próximo dia 17 de junho, celebrado com missas em diversas partes do mundo cristão, de Bordéus ao Vaticano, de Cabanas de Viriato a São Paulo, de Fátima a Newark ... Exposição e sessão de homenagem nesse dia, no Centro Cultural Franciscano, Lisboa (João Crisóstomo, Nova Iorque)

Guiné 63/74 - P14766: Notas de leitura (729): “Olhos de Caçador”, de António Brito, Porto Editora, 2014 (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Julho de 2014:

Queridos amigos,
Poderá haver quem nesta prosa excessiva, rotunda, gongórica, encontre argumentos que levem a justificar a inverosimilhança da história de Zé Fraga. Pouco importa, empolgante, tem uma carpintaria poderosa entre o muito quente e o muito frio, há um doseamento soberbo na galeria das figuras, na paleta das sensibilidades, no uso sensorial quem vem da vegetação do Planalto dos Macondes.
Uma obra acabada, dominadora, um Fernão Mendes Pinto que tudo vem contar quando é um homem acabado, escreve-se no bronze a glória do combatente destemido, a saga do português antigo, ferrabrás, dadivoso, doidão, justiceiro. Está aqui tudo que faz a panóplia dos grandes livros de aventuras da viagem dos portugueses.
A seguir vamos falar doutro livro de António Brito.

Um abraço do
Mário


Olhos de Caçador: Livro soberbo, o poliedro das brutalidades da guerra (4)

Beja Santos

Estamos de novo em Magolé, a atmosfera é de cortar à faca, o capitão Vinhais, alcunhado de Galo Doido, foi alvo de uma participação do alferes Perdigoto, a seguir ao desmando das suas estruturas a prisioneiros que não suportaram a monstruosidade das duas sevícias. No decurso de uma emboscada, Galo Doido irá assassinar o alferes Perdigoto, Zé Fraga vê tudo com olhos de ver, e cresce nele o mecanismo da vingança. E denuncia-o. O oficial de justiça está perplexo, havia outros depoimentos corroborando que o alferes morrera com os disparos do inimigo, como é que ele podia afirmar o contrário? E ele explica que o capitão se aproximara sorrateiramente do alferes, fazendo coincidir os seus disparos com a aproximação dos guerrilheiros. “Estou perfeitamente consciente, meu tenente. E digo-lhe mais: antes que enterrem o cadáver do alferes Perdigoto, mande o médico autopsiá-lo e verificar o calibre das balas que lhe provocaram a morte. Vai descobrir que foi crivado chumbo de G3”. Galo Doido ameaça-o de morte e chantageia-o, quer que ele negue tudo o que ele afirmou no inquérito.

Zé Fraga vai a Mueda, assiste ao espetáculo dantesco dos helicópteros a descarregar feridos e mortos, e volta a depor sobre o assassinato do alferes Perdigoto. Aproveita e recebe do enfermeiro Ranholas a encomenda negociada com o Mãozinhas. Aproveita um sarau artístico e dá uma boa cambalhota com uma corista do Parque Mayer. E recomeça a guerra, a coluna lá vai a caminho de Magolé, há uma emboscada enorme, mais à frente uma mina anticarro explode. “Esta é uma mina diferente. É um fornilho feito com uma bomba de avião português. De 500 libras, por deflagrar. Recolhida de um alvo bombardeado por Fiats G91, trazida de padiola dos confins da floresta e enterrada na picada, sob uma mina anticarro. Um dia em cheio para os frelimos. Trocámos as armas por machados e catanas e abrimos uma clareira grande. Chegam os AL-III para carregar os despojos. Batemos o terreno, pau na mão, esgravatando o chão, empurrando para dentro do cobertor pedaços de sargento, resto de soldado polvilhados de terra escura. Neste jogo de perdidos e achados os corpos vão incompletos. Há pedaços que ficam nas árvores ou foram projetados para longe. Sorte das hienas e dos abutres”.

A todo o momento parágrafos de primeiríssima água geram embevecimento, são peças de antologia, rutilantes:
"Por alturas do Natal estávamos cercados. Por mais que o capelão Tomé falasse da gruta de Belém e anunciasse a Boa-Nova, permanecíamos isolados do mundo. O ciclone rugia, por cima do Cabo Delgado. As estradas ficaram intransitáveis. Nada que tivesse rodas era capaz de se aventurar até Magolé, ficámos isolados pelas minas e chuva da monção. Um mar de lama. Um atoleiro, onde qualquer movimento de viaturas servia para se atascarem até aos eixos para desespero dos condutores. A floresta da região pintou-se de verde e água barrenta. O rio, no fundo do vale, encheu-se de brios e transformou-se no Amazonas, arrastando as margens, forrando de castanho quilómetros de vegetação rasteira, alagando bolanhas, inundando tocas, expulsando animais".

É imperativo um abastecimento aéreo. As coisas correm mal:
“Da porta aberta, por baixo de asa, sem um saco claro, volumoso, seguindo de imediato por outro, despenhando-se ambos sobre as nossas cabeças. Bateram no chão e ricochetearam como duas bolas de futebol. O primeiro ressaltou meia dúzia de vezes até se imobilizar; o segundo, ao terceiro ressalto, rompeu-se e os pães saíram disparados em todas as direções como estilhaços de bomba.
Corremos a apanhar as carcaças de trigo, antes que os ratos dessem as primeiras dentadas. Numa frente de 50 metros, havia papos-secos espalhados, pincelados com terra molhada. Alguns ficaram tão encharcados que apenas serviriam para migas e sopa alentejana. - Vá lá, porra, larga os frangos! O vento colaborou, soprando as nuvens durante um bocado. Foi o suficiente para o DO-27 se colocar em posição. O piloto calculou a direção do vento e largou o primeiro saco. Não era uma descida na vertical, era como se escorregasse por uma rampa inclinada desde o avião até ao aquartelamento. Os homens precipitaram-se para trazer o saco para dentro.
A segunda largada foi cópia da primeira. Com uma diferença dramática. O para-quedas abriu parcialmente e o saco precipitou-se em direção ao solo, com os restos do para-quedas rodando no ar, sem controlo. Estarrecidos, como se se tratasse de vida humana, os homens viam os frangos despenharem-se sobre a floresta do outro lado do vale”.

A sorte foi no dia de Natal ter aparecido um javali abatido com um tiro da sentinela. O disfuncional Rosca Moída aproveitou para lançar um punhado de balas para dentro da fogueira, a cozinha incendiou-se, destruiu a refeição, houve feridos. Aproveitou-se a evacuação para empurrar o Rosca Moída para dentro do helicóptero antes que fosse estrangulado.

“Quando o levaram para o héli, perguntaram-lhe: - Porquê, Rosca? Porquê? Meu grande cabrão. Tu não gostavas da comida que estava a ser cozinhada? - Da comida gostava. Mas a fogueira não estava grande coisa – respondeu o tonto, com ar inocente”.

E vai começar o grande duelo entre o Galo Doido e Zé Fraga, fatalmente vão os dois na coluna para Nangololo. Galo Doido recorre a um executor, Mamude Salé, os dois travarão um combate que custará a vida a Salé. A guerra intensifica-se, Galo Doido não há meio de ser recambiado para Nampula. Numa operação apanham máquinas de costura e logo Galo Doido pensou em fazer negócio. São descrições espantosas, Zé Fraga vai perdendo mais camaradas, morreram o Miudinho e o Fajolas. E a roda da fortuna desengonça-se nas picadas do Delgado, é preciso ir buscar mais Berliets, vão levantando minas, anticarro e antipessoais. O destino foi padrasto: uma mina rebenta debaixo dos pés de Zé Fraga, exatamente no tempo em que Galo Doido foi preso.

Zé Fraga é operado no hospital de Nampula onde conhece a enfermeira Filomena. É condecorado com a medalha de valor militar, Zé Fraga fica indiferente. O pelotão era a sua família. A companhia é transferida de Magolé para a região do lago Niassa, a distância e a nostalgia aumentam. Irá começar um longo período de fisioterapia. Zé Fraga recebe a sua nova perna de plástico em Hamburgo, reencontra-se com Filomena. Criam uma clínica de bem-estar, a ideia de Zé Fraga é recuperar os mutilados de guerra fazendo-os descobrir as boas sensações com um pouco de sexo à medida. E trava-se o duelo final com Galo Doido, um pouco à imagem dos bons filmes norte-americanos do género.

E assim chegamos ao epílogo em que Zé Fraga vai a um cemitério alentejano despedir-se do alferes Perdigoto escrevendo numa árvore com marcador azul: assassinado por um filho-da-puta conhecido por Galo Doido.

Indiscutivelmente um livro que vai ficar na galeria das obras mais representativas da literatura da guerra colonial.
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Nota do editor

Vd. postes anteriores de:

8 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14713: Notas de leitura (724): “Olhos de Caçador”, de António Brito, Porto Editora, 2014 (1) (Mário Beja Santos)

12 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14737: Notas de leitura (727): “Olhos de Caçador”, de António Brito, Porto Editora, 2014 (2) (Mário Beja Santos)
e
15 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14747: Notas de leitura (728): “Olhos de Caçador”, de António Brito, Porto Editora, 2014 (3) (Mário Beja Santos)