Capa e contracapa do livro do Joaquim Costa, "Memórias de Guerra de um Tigre Azul: O Furriel Pequenina, Guiné: 1972/74". Rio Tinto, Gondomar, Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp.
Pedidos ao autor: valor 10 € (livro + custas de envio), a transferir para o seuNIB que será enviado juntamente com o livro. Os pedidos devem ser feitos para o e-mail: jscosta68@gmail.com, indicando a morada para envio.
1. Nota final, por Luís Graça (pp. 177/178)
Em boa hora
o Joaquim Costa decidiu, no princípio do ano de 2021, deixar de ser um “consumidor
passivo”, um simples leitor, do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné,
para se tornar um “elemento ativo”, um “autor”… E começou logo, ainda em plena pandemia de Covid-19, a
pré-publicar alguns excertos (cerca de 2
dezenas) do livro que agora deu à estampa. Todos ficámos a ganhar, a começar
por ele, que, ao expor-se-à crítica dos
leitores, muitos deles antigos combatentes, receberia em troca cerca de 170 comentários “a quente”.
O que
seguramente ajudou a melhorar a versão final deste livro que eu saúdo e
agradeço: vem enriquecer o património literário e documental da Tabanca Grande,
que é uma tertúlia virtual centrada na experiência de uma guerra, a guerra
colonial (1961/74), e em particular a da
Guiné, sendo porventura a maior tertúlia
do género, em português, quer pelo número de visualizações do blogue (cerca de
13,2 milhões, desde 2004) quer pelo número dos seus membros registados (N=854) e
ainda pelo volume de memórias partilhadas. Memórias mas também afetos. E este
livro é sobretudo um livro de afetos.
O Joaquim
Costa é mais um talento literário que o nosso blogue veio revelar, com a particularidade de, sendo um bom minhoto,
a sua prosa ter também belos nacos do
português camiliano, a começar pela ironia, o humor e até o sarcasmo, tão bem patentes na
reconstituição de algumas das suas memórias de infância e na evocação da sua
família, bem como na descrição de cenas da vida castrense.
Já tive ocasião
de lho dizer, e agora passo a partilhá-lo com os seus futuros leitores: Joaquim,
quisestes escrever um livro com uma parte da tua história de vida, que é também a de muitos de nós, e que quiseste
dedicá-lo aos que te amam e estimam. A
tua narrativa tem momentos portentosos
sobre a epopeia de Cumbijã e de Nhacobá, os seus bravos e as suas vítimas. Um dia, quando fizermos uma antologia dos
nossos melhores textos, o teu testemunho, na 1ª pessoa, sobre a Op Balanço
Final (17-23 maio 1973), por exemplo, terá que lá figurar, com toda a justiça.
A
historiografia militar pode, em meia
dúzia de linhas secas, telegráficas, resumir aquela “guerra de baixa
intensidade”, num contexto geopolítico marcado pela guerra fria e o fim dos
impérios, mas que não foi feita para “meninos de coro”, como todas as guerras...
Mas faltar-lhe-á, por certo, à escrita do historiador, o nosso "sangue,
suor e lágrimas", que na Guiné, no meu e no teu tempo, não foi uma figura de retórica. E é bom que os
nossos filhos e netos saibam, por fim, que ali não fizemos só a guerra mas também a
paz.
Obrigado,
Joaquim, também por dares voz a muitos
combatentes, de um lado e do outro, que nunca tiveram nem terão oportunidade de escrever, e muito menos de publicar, sob chancela editorial, as suas “vivências” sobre aquela guerra e
aquela terra (que, estranhamente, acabou por ficar no nosso coração,
contagiando até os nossos filhos). E muitas memórias vão morrer connosco...
Não quero
acabar esta nota sem referir os sucessivos murros no estômago que,
metaforicamente falando, recebeste, a começar pelo batismo de fogo, as
primeiras minas e emboscadas, o primeiro morto... Na
realidade, aqueles de nós (e fomos muitos) que passámos por essa dura, trágica,
traumática experiência, sabe dar valor às tuas palavras onde há raiva e impotência
mas também coragem e dignidade, quando falas do primeiro camarada que morre ao
teu lado.
O batismo de
fogo era sempre uma situação-limite... O
coração ficava a bater à velocidade Match 1...Depois, era como tudo: a guerra (e
a morte) banalizava-se, tornava-se uma certa rotina... Mas os
"embrulhanços" eram sempre temidos, de um lado e do outro... As balas
e os estilhaços das granada ou o sopro das minas (antipessoais e anticarro) não
tinham código postal... Era a roleta russa...
Mesmo sem
quereres fazer juízos de valor sobre a legitimidade, a condução e o desfecho daquela
guerra, acabas por nos mostrar, com fino mas cáustico humor, que às vezes
acontecia sentirmo-nos como um bando de cegos, comandados por outros cegos, à
beira de um precipício. Felizmente voltaste, “são e salvo”, para escrever este livro e dares mais valor e
força à liberdade, à justiça, à paz e à solidariedade.
Luís Graça,
sociólogo, editor do Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné.
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Nota do editor:
Último poste da série > 31 de dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22859: Notas de leitura (1403): Léopold Sédar Senghor, o poeta da Negritude (Mário Beja Santos)