sábado, 25 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22842: Os nossos seres, saberes e lazeres (484): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (30): Lisboa no tempo de D. Manuel I, a cidade que ambicionava o mundo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Novembro de 2021:

Queridos amigos,
Fui ao Museu da Cidade com o intuito de continuar a viagem, visitando o precioso acervo do 1.º andar, nada feito, está em obras de conservação. Mas não bati propriamente com o nariz na porta, estava já patente a exposição dedicada ao reinado de D. Manuel, a exposição é evocativa dos 500 anos da sua morte, mostra singela de alguns dos dados fundamentais deste reinado, o monarca faleceu quando o seu poder estava no auge. Conforme escreve na folha de sala o historiador José Manuel Garcia, "As riquezas de além-mar e da Europa continuavam a afluir a Lisboa, que enriquecia, bem como o resto do país; as armadas portuguesas saíam para todas as partes do mundo; as povoações do reino tinham forais novos passados entre 1500 e 1520; muitas delas tinham pilhas de pesos aferidos pelo de Lisboa, os quais foram mandados fazer em 1499; Portugal possuía ampla legislação impressa".
Edificante exposição que permite ver Lisboa no reinado do Venturoso através de iluminuras, gravuras, pergaminhos, réplicas, esculturas soltas, uma seleção harmoniosa que vai até ao falecimento do monarca no Paço da Ribeira em 13 de dezembro de 1521. A documentação oferecida na exposição é do maior interesse.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (30):
Lisboa no tempo de D. Manuel I, a cidade que ambicionava o mundo


Mário Beja Santos

De volta ao Museu da Cidade, fica-se um tanto descorçoado com a notícia de que há obras no primeiro piso, mas na receção anuncia-se surpresa, já está patente a exposição “Lisboa no tempo de D. Manuel”, na Sala dos Fundos deste Palácio Pimenta de quem já se contou um pouco da sua história, das famílias aristocratas e plebeias que aqui viveram, como se instalou em 1979 um vastíssimo espólio que vai da Pré-História, passando por Romanos, Visigodos, Muçulmanos, Medievos, Quinhentistas e Maneiristas, podendo desfrutar nesse primeiro piso a Lisboa Barroca, Pombalina, Oitocentista, com o Romantismo e a Regeneração à mistura, a alvorada republicana, não faltando aqui e acolá mostras de Arte Contemporânea de grande interesse.
Aproveita-se para recapitular e mostrar faianças policromadas de Jorge Barradas, duas figuras femininas, obras de 1959, saídas da Fábrica Viúva Lamego


O Museu da Cidade é multidisciplinar, o que na prática significa que aqui encontramos pintura, desenho, gravura, azulejos, escultura, cerâmica e algo mais. A coleção de azulejaria é riquíssima, espraia-se pelos diferentes pisos, temo-la logo na receção, no pátio que abre para o belíssimo jardim onde se procura respeitar inteiramente a sua traça primitiva. Deixam-se quatro imagens desta portentosa azulejaria que só por si vale uma visita.
O pintor Manuel Amado viveu aqui na sua juventude, antes do palácio mudar de proprietário. Deixará uma vasta obra dedicada às reminiscências da sua infância, mostrar-se-á atento à sua cidade como se pode ver neste óleo dedicado à Praça do Município.
É na Sala dos Fundos que está patente a evocação dos 500 anos da morte de D. Manuel I. Aqui se mostra a importância de Lisboa, fala-se das suas reformas, na sua autoproclamação imperial “Por Graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves, D'aquém e D'além Mar em África, Senhor de Guiné, da Conquista, da Navegação e Comércio de Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia”. A sua divisa era a esfera armilar, que tinha o duplo sentido de espera e esfera, já com uma direção apontada para o domínio universal. Legou a Lisboa o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, renovou a cidade, no seu reinado assistiu-se a uma política de intervenção em todas as partes do mundo conhecido. Mandou construir um novo palácio, ficará conhecido como Paço da Ribeira, será aqui que o monarca procurará controlar o afluxo de mercadorias e a construção naval na vizinha Ribeira das Naus, era um rei que ia assiduamente à Casa da Índia e Guiné ver a chegada das riquezas. Lê-se na exposição que o complexo arquitetónico manuelino ocupava uma área correspondente aproximadamente aos atuais Paços do Concelho e edifícios anexos localizados entre a Praça do Município, a Rua do Arsenal, a Rua do Comércio e a Rua do Ouro.
Réplica da estátua de D. Manuel I no Portal Ocidental da Igreja do Mosteiro dos Jerónimos. Este portal terá sido desenhado por João de Castilho, mas o trabalho escultórico ficou a cargo de outro artista notável do tempo manuelino: Nicolau Chanterene, que foi um dos responsáveis pela introdução de formas renascentistas na arte do tempo de D. Manuel. Este foi o primeiro portal de um mosteiro português a receber estátuas que representam os doadores.
Nau Brasão da Cidade de Lisboa, 1502, iluminura inserida no vulgarmente conhecido Livro carmesim
De entre as reformas operadas no reinado de D. Manuel I consta a revisão administrativa que levou a uma alteração profunda dos forais, atualizando-os no que dizia respeito à Justiça, às obrigações da população para com o rei, à tributação fiscal e a outros aspetos económicos, sociais e administrativos. Surgiu legislação moderna de pesos e medidas, como se mostra na exposição.
Lisboa e a região entre Santos e Cascais, gravura de 1572 e do lado direito uma gravura do Mosteiro dos Jerónimos
Pedra de Armas de Lisboa, séculos XV-XVI, proveniente de um prédio da Rua do Bem Formoso, a peça exibe as armas municipais de Lisboa: uma embarcação colocada em mar-alto, cujas velas são enfunadas pelo vento. É um tipo de representação em que surgem por vezes dois corvos à proa e à popa.
Mostra de um capitel manuelino
Azulejo com a esfera armilar (réplica de azulejo existente no Palácio Nacional de Sintra), proveniente da Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha
O conjunto de objetos que podem servir de súmula do reinado do Venturoso, vice-reis da Índia, vários tipos de naus e outras embarcações, o enriquecimento dos edifícios com a recuperação azulejar.

A exposição detém-se, como é óbvio, nas duas obras emblemáticas, os Jerónimos e a Torre de Belém. Em 1496, com D. Manuel decidiu erguer os Jerónimos, ainda não podia imaginar que ganharia uma tão grande magnificência devido aos resultados da exploração do Caminho Marítimo para a Índia. A Torre de Belém, obra aparatosa e bem ornamentada, marcava uma das entradas da capital, sendo um dos testemunhos mais simbólicos do tempo dos Descobrimentos. A UNESCO classificou em 1983 o mosteiro e a torre como Património da Humanidade.

Torre de Belém, por John Thomas Serres, 1811, Museu da Cidade

(continua)
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Notas do editor

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Último poste da série de 23 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22835: Os nossos seres, saberes e lazeres (483): Guerra e Desporto, mais um artigo de Alexandre Silveira publicado no Jornal Fayal Spor Club, enviado a partir da Mata dos Madeiros (José Câmara, ex-Fur Mil Inf)

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