segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

Guiné 61/74 - P22823: Notas de leitura (1400): "Guiné, Minha Terra", pelo jornalista bolamense Armando de Aguiar; uma edição da Agência-Geral do Ultramar (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Novembro de 2018:

Queridos amigos,
Trata-se de uma obra de um jornalista nascido em Bolama que aqui regressa nas primícias da luta armada, traz a exaltação patriótica e rasgados elogios às políticas das últimos governadores. É recebido com pompa e circunstância em Bolama, botou conferência para a comunidade local, apareceu sorridente e de laço na camisa, vem tudo em "Bolamense", órgão de propaganda regional de cultura e de turismo, cujo primeiro número saiu em 1 de agosto de 1956, e que terá uns anos de vida. O aspeto mais curioso, falo por mim, são os dados que ele enuncia sobre a prospeção de petróleo, a haver fidelidade nos dados, petróleo era só miragem. Mas a esperança continua.

Um abraço do
Mário



Guiné, minha terra, por Armando de Aguiar

Beja Santos

Armando de Aguiar foi jornalista do Diário de Notícias, gostava imenso de viajar, era natural de Bolama, encontrei no jornal “Bolamense” uma sua conferência ao lado do inspetor Santos Lima, que o apresentou. Tratando-se de uma edição da Agência-Geral do Ultramar, com data de 1964 mas anteriormente escrito (ele di-lo, entrevistou o Governador de então, o Comandante Peixoto Correia, estaríamos seguramente no início da década de 1960), é todo redigido num tom laudatório, cheio de exclamativas, com muitos encómios dirigidos aos últimos governadores que fizeram estradas, portos, trouxeram equipamentos, a saúde, a educação e a cultura; refere sempre que por detrás estão cinco séculos de colonização, que aquela terra é irremissivelmente portuguesa, que houve a obra de um herói chamado Teixeira Pinto, entre outros gloriosos; viaja de Santiago para Bissau, entretanto passa pela Gâmbia e passeia-se por Zinguinchor, em Bissau repertoria tudo quanto se tem construído e mostra os sinais do desenvolvimento. Em suma, uma obra que se regista mas praticamente sem história. Porém, já estamos a caminhar para o final desta exaltação ultramarina quando ele nos traz um capítulo que espicaça a curiosidade, tem o título “Haverá Petróleo?”. Vamos ver o que ele escreve:
“Quando em Abril de 1958 a Esso Exploration Guiné, Inc., que acabava de ser fundada com sede naquela capital e subsidiária da Standard Oil Company, de Nova Jérsia, solicitou do governo permissão para estudar, em primeiro lugar, e realizar depois a pesquisa e eventual exploração de petróleo, gás e outros hidrocarbonetos que porventura existissem na área da concessão solicitada, grande onda de entusiasmo avassalou a província.
A área da concessão, que ocupa cerca de 40.000 quilómetros quadrados, pode ser definida da seguinte maneira: abrange uma zona continental limitada a norte pela fronteira com o Senegal e a leste pelo rio Geba, e uma zona marítima que inclui o arquipélago dos Bijagós.
A pesquisa do petróleo compreende duas fases que se completam. A prospeção indireta é feita por intermédio de sondagens de profundidade executadas em locais selecionados, com base nas informações obtidas pelas investigações geológicas e geofísicas.
A existência ou não existência de petróleo é uma incógnita a que só as sondagens de profundidade poderão dar uma resposta concreta. As pesquisas por métodos indiretos levadas a efeito pela Esso da Guiné na área da concessão consistiram no reconhecimento geológico e nos levantamentos gravimétrico e sísmico.

Haverá petróleo na Guiné?
Para responder conscienciosamente a esta pergunta, a Esso contratou três grupos de técnicos americanos, aos quais se juntaram alguns portugueses, que realizaram um após outro, importantes trabalhos de campo e de laboratório: levantamento sísmico, marítimo e terrestre de toda a Guiné e levantamento gravimétrico. Aguardava-se com o maior interesse o resultado das sondas perfuradoras quando elas atingissem os lençóis petrolíferos. O poço Safim n.º 1 é um poço exploratório destinado a fornecer informações que permitiriam verificar determinadas hipóteses formuladas pelos geólogos e geofísicos quanto às caraterísticas estruturais do subsolo. Naquele local, situado a menos de 30 quilómetros de Bissau, estabeleceu a Esso um dos seus acampamentos. A sonda funcionava 24 horas por dia. Infelizmente, o poço Safim n.º 1 foi abandonado à profundidade de 3244 pés sem que se tivessem encontrado quaisquer vestígios de petróleo ou outros hidrocarbonetos. O mesmo aconteceu no 2.º  poço – Có n.º 1 –, que foi abandonado à profundidade de 6569 pés. A terceira sondagem – Cagongué n.º 1 –, a 10 quilómetros para oeste de Teixeira Pinto, atingiu cerca de 8000 pés de profundidade. Teoricamente também não assinalou a existência de petróleo, razão por que as pesquisas foram suspensas e os trabalhos dados por terminados. Ao fim ao cabo os americanos souberam aquilo que pretendiam. A verdade é que essa curiosidade custou-lhes rios de dinheiro. Tenho, porém, fortes razões para julgar que não foi trabalho totalmente perdido…”


Na verdade, com o crescendo da luta armada, estes poços foram selados e nunca mais se falou em petróleo. A haver, não passava de conjetura. Depois da independência, como é sabido, as prospeções estenderam-se à plataforma marítima, entre a Guiné e o Senegal, continuavam a não existir resultados conclusivos, mas só a hipótese de haver petróleo fez suscitar um grave litígio entre os dois Estados – ninguém quer perder o quinhão, cedendo um quilómetro de mar ao outro.

Haverá petróleo na Guiné?

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Nota do editor

Último poste da série de 18 DE DEZEMBRO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22819: Notas de leitura (1399): "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências", 2ª edição revista e acrescentada (2021), por Arsénio Chaves Puim, um caso de grande sensibilidade sociocultural e de amor às suas raízes (Luís Graça ) - Parte I: "Muitos parabéns, muitos parabéns, muitos parabéns!"

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