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António Alvea da Cruz, foto atual: lisboeta, vive em Almada |
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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quarta-feira, 30 de agosto de 2023
Guiné 61/74 - P24600: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (2): O percurso de muitos de nós: Tavira (CISMI), Elvas (BC 8), Tomar (RI 15), T/T Uíge...
Guiné 61/74 - P24599: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (8): Bonjour tristesse!
Contos com mural ao fundo (8) > Bonjour tristesse!
Nada fazia prever, quando o Teodoro nasceu, que estaria predestinado a ser padre. Pelo menos não havia nenhum sinal exterior dessa predestinação, desse chamamento de Deus.
− Nenhum rasto de estrela ou cauda de cometa a apontar para a minha casinha de xisto. (Apesar de tudo, sempre era melhor do que a loja da vaca e do burro, em cuja manjedoura nascera o Menino Jesus, em Belém.) − comentaria ele, com um misto de ironia e melancolia, mais tarde, em 2008, quarenta anos depois da sua partida para França, onde fixara residência. Nunca mais voltara à sua aldeia, na Serra da Lousã, a não ser então, depois da reforma.
Vinha de uma família serrana, pobre e humilde.
− O meu pai não era carpinteiro como José, mas um simples cantoneiro de limpeza, assalariado da Câmara Municipal, pago à semana ou à jorna, já não me lembro bem ao certo. E tínhamos umas leiras, em socalcos, roubadas à floresta, onde os meus pais faziam a horta…
Tinha cabelo ruivo e olho esverdeado.
− Chamavam-me o “Rucinho”. Jesus era moreno, de olhos e cabelos pretos, como qualquer palestiniano, segundo rezavam os livros. − brincava ele, ao evocar os tempos em que andara no seminário, chegando a subdiácono, e depois fora expulso, ao se descobrir que "vivia amancebado e tinha fugido para França"...
Teodoro era oriundo da Beira Litoral. Nado e criado na Serra da Lousã, era o penúltimo de seis filhos, quatro rapazes e duas raparigas. Nasceu em meados de 1944, a nove meses do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa.
No início dos anos 50, já havia sinais, embora pouco percetíveis, de desertificação das aldeias das serras da Lousã e do Açor, fenómeno que se veio agravar a partir da década seguinte. E em 2008, na sua aldeia, haveria apenas três ou quatro velhos, um dos quais tinha andado com ele na escola.
Nos anos 50 havia escola na sede da freguesia, num edifício construído pelo Estado Novo.
− E, claro, bandos de putos, de pé descalço, a cheirar a tojo, a urze, a resina e a fumo, uma das imagens poéticas que irei guardar de minha infância pobre, mas apesar de tudo livre e feliz.
O professor de instrução primária achava que era uma pena o seu melhor aluno perder-se nos caminhos da vida, o mesmo era dizer, nos trilhos da serra. Ou nas sete partidas da emigração. Afinal, o que é que poderia esperar do futuro se lá ficasse depois de tirada a quarta classe?
− Quando muito, vir a ser lenhador ou ajudante de madeireiro como o meu mano mais velho, o resineiro como o meu tio, ou pastor de cabras ou ovelhas como o meu primo, talvez cantoneiro de limpeza como o meu pai, ou até na melhor das hipóteses guarda-rios ou guarda-florestal, com direito a farda, arma e licença de porte de arma, enfim, uma autoridade como sonhava a minha pobre mãe, que Deus já lá tem. Mas o mais provável era a fazer a trouxa e correr mundo, com aconteceria mais tarde com os meus irmãos e os meus vizinhos.
E num aparte, acrescentou com tristeza:
− Coitada, morreu cedo, a minha mãe. E foi seguramente para o céu, mesmo não sabendo ler nem escrever.
Não, o seu destino seria mais nobre: “ Servir Deus na Terra, ser pastor de almas”… A expressão era do seu pároco, que fazia o favor de ser amigo da família e seu protetor. Mesmo franzino, o Teodoro já ajudava à missa, depois de feita a primeira comunhão.
O professor também achava que o seu “Rucinho” (era assim que o tratava com solicitude paternal) já estava predestinado ao magistério divino, embora tendo nascido numa família “pobre, mas honrada”.
− Sim, porque nem todos os pobres eram honrados, havia-os pobres e mal agradecidos − lembrava o professor nas aulas numa turma de pés-descalços.
Com uma cunha do seu amigo e condiscípulo de seminário, o bispo castrense, o seu querido aluno Teodoro haveria de entrar num bom seminário, de modo a fazer jus ao seu nome (do grego Théo + doros, “dádiva de Deus”).
− Que seja tudo para glória de Deus e a bem da Nação ! − proclamou o mestre-escola, fazendo instintivamente a saudação romana, no final do seu discurso de homenagem e de despedida do Teodoro.
E, dirigindo-se diretamente ao “filho do cantoneiro”, fez questão de desejar-lhe um futuro auspicioso.
− E quem sabe se ainda não hás de chegar a cónego ou até bispo, honrando a tua família e a nossa terra… e, já agora, este teu humilde e dedicado professor ?!
Os pais do “Rucinho”, como ele era conhecido na aldeia, sorriam timidamente, disfarçando, mal, uma pontinha de natural orgulho, enquanto o pároco, impaciente, aguardava a sua vez de falar a seguir ao professor, perante a turma e o escasso povo que àquela hora ali se juntara, desbarretado e de pé, para ouvir dos caciques da terra a decisão sobre o futuro de um dos seus filhos.
O padre começou por se dirigir ao casal, pais do “feliz contemplado”:
− Queridos pais, não chorem a não ser de alegria. Para além da honra, é uma prova de gratidão. Dar um filho a Deus é retribuir-lhe o milagre da vida, e vós sois ricos, Deus deu-vos logo seis rebentos!
E, depois, virando-se para o “herói da aldeia” (o primeiro rapaz que saía para ir estudar):
− Meu menino, está decidido. Vais para o Seminário Menor, da diocese de Lisboa. Eu e o teu professor chegámos à conclusão que era o melhor para ti.
Estava traçado o destino de Teodoro. E, a seguir, o padre aduziu algumas das razões da bondade da escolha. Por um lado, os pais não o podiam mandar para o liceu, e o mais perto era Coimbra. Por outro, nos seminários do Patriarcado de Lisboa, "comia-se bem":
−E tu, rapaz, estás a crescer, precisas de comer bem!
Toda a gente se riu. Mas o santo homem prosseguiu o seu discurso:
− Eles têm mais recursos do que a nossa diocese. Depois têm bons professores. E estão bem relacionados. Lisboa é a capital do império e é lá também que está o capital, quer-se dizer, aquilo com que se compram os melões… Mas, não menos importante, são um rebanho que está sob o cajado de um bom pastor.
− … Sua eminência reverendíssima o Senhor Cardeal-Patriarca Dom Manuel. Um dos grandes príncipes da Igreja Católica, Apostólica, Romana − atalhou o professor, interrompendo intempestivamente o representante de Deus.
Não perdendo o fio à meada, o pároco também reforçou a sua admiração pelo Cardeal-Patriarca Manuel Cerejeira:
− … que ainda poderá chegar a sentar-se na cátedra de São Pedro, se for esse o desígnio de Deus. Seria uma grande honra para Portugal, o Estado Novo e a nossa Igreja!
O pobre do Teodoro não tugiu nem mugiu. Ainda não tinha direito à palavra nem estava pronto para tomar decisões sozinho. Mas, aparentemente, mostrava-se resignado com o destino que Deus e os seus representantes na terra lhe haviam talhado. Só disse, que sim, baixinho, que ia “ser um menino bem comportado para contento de todos”…
O professora preparara gratuitamente o Teodoro para o exame de admissão ao liceu, que ele fez com brilhantismo em Coimbra. Quando o júri lhe perguntou pelos rios e serras de Portugal, não falhou nem uns nem outros, mesmo que só conhecesse um rio (o Mondego, além do Ceira, claro, que corria à sua porta), e uma serra, a sua, a da Lousã (e, muito ao longe, a Serra da Estrela, que era a mais alta de Portugal continental).
Estavam ali os dois velhos caciques da terra (faltava o terceiro, o regedor). Eram velhos amigos (ou estavam condenados a sê-lo):
− Se fossem bois, dificilmente formariam uma junta capaz de trabalhar em equipa sobre a mesma canga − recordaria muito mais tarde, com saudade, o Teodoro, quando soube da notícia da morte de um deles.
Na realidade, raramente estavam em sintonia, dadas as personalidades fortes de que eram dotados, e os estreitos horizontes em que viviam, emparedados entre serras desde os anos 30.
"Germanófilo" (a expressão era do Teodoro), o professor tinha seguido, com sentimentos contraditórios, entre a euforia e a depressão, os altos e baixos da sorte das armas na Segunda Guerra Mundial. E, na escola, todos os meninos haviam chorado a morte do Hitler. A bandeira nacional ficara a meia haste mais do que os três dias do luto nacional, decretado pelo Governo. Uma decisão “por conta e risco do professor”…
O padre não gostou, mas também não comentou.
Naquele tempo, as notícias do horror de Auschwitz e dos demais campos de concentração ainda não tinham chegado à Serra da Lousã, mesmo que ali tão perto da cidade dos doutores (pelo menos em linha reta).
Mais do que o padre, o professor era "um indefetível de Salazar" (sic). E do Estado Novo. Mas já sem grandes ilusões... e sobretudo ambições políticas a nível pessoal, uma vez gorada a possibilidade de integrar em 1938 a lista única de deputados à Assembleia Nacional.
Fora injustamente acusado por inimigos políticos da Lusa Atenas (Coimbra), de na sua juventude, na escola do magistério primário, ter distribuído propaganda dos Nacional-Sindicalistas, o partido de Rolão Preto (que se situava à direita de Salazar, e chegou a ser seu rival e a estar preso e, a seguir, ser exilado. em 1934).
Ir para Lisboa e ser deputado era o seu sonho.
Portugal felizmente tinha sido poupado à hecatombe, lembrava o pároco, graças ao "génio político e diplomático do Salazar, um beirão como ele" (citação do Teodoro).
Em 1954, o Teodoro tem 10 anos. O seu professor está, entretanto, com 45: solteiro, sem filhos, era um homem amargurado e precocemente envelhecido. Para mais um acidente há uns anos atrás, no tempo do irmão mais velho do “Rucinho”, havia manchado a sua carreira e quiçá a sua reputação.
Como era norma na época, vigorava na escola a pedagogia da violência e da dor, personificada na Santíssima Trindade: a menina dos cinco olhinhos, o ponteiro e a pesada manápula do/a professor/a. A um dos seus miúdos, o professor dera um chapadão. O aluno, “cábula”, de frágil constituição, e para mais “filho de fraca gente” (sic), desequilibrou se e bateu com a cabeça na esquina da carteira, revestida com cantoneira de ferro.
Ficou com um hematoma subdural, a que ninguém ligou.
Chamado à cama do doente, que gritava desalmadamente com dores agudas na cabeça e febre alta, o médico municipal torceu o nariz e achou por bem mandá-lo para o velho hospital universitário de Coimbra, onde pelo menos havia um aparelho de raio X.
O inspetor escolar, vindo de Coimbra, lido o relatório da autópsia, e torcidos os fartos bigodes, não estabeleceu nenhum nexo de causalidade entre a alegada bofetada do professor (falara com alguns alunos que haviam presenciado a cena, além dos pais), a queda do miúdo e a sua morte uns dias depois.
Mas o caso fora comentado na aldeia, nas redondezas e até na vila, para embaraço do professor (e do padre, que optou pelo silêncio cúmplice), tanto mais que eles eram reconhecidamente as autoridades morais e espirituais daquela comunidade serrana. Acabou por prevalecer, como sempre, a velha lei do silêncio. Já que “na Serra da Lousã, desata a língua à noite e cala-te pela manhã”.
− E o próprio tempo encarregou-se de apagar a memória do pobre Inocêncio (era o nome do colega do meu irmão mais velho). Mas o meu professor, coitado, esse nunca mais seria o mesmo.
"Roído pelo remorso", sentindo-se culpado, no seu íntimo, pela morte do aluno, ajudou a pobre família a fazer o luto, deu-lhe inclusive algum apoio monetário, e sobretudo jurou a si próprio que nunca mais usaria a violência física nas aulas.
− Talvez isso ajudasse a explicar, pelo menos em parte, o carinho paternal que ele sentia por mim, e por mais um ou dois dos seus alunos, naturalmente, o reduzido lote dos melhores alunos, o “pelotão da frente”.
Nesse dia, no já longínquo ano de 1954, memorável para a aldeia, houve uma merendinha, ao fim da tarde. Cada família ofereceu um pouco do que tinha no fraco fumeiro (um enchido ou outro, guardado na talha de azeite) e na minguada salgadeira (onde se guardava então o porco, quem o criava e matava, e que era a "arca frigorífica dos pobres", muito antes da eletricidade chegar à serra) . E a mãe do Teodoro cozera pão com torresmos no forno. Assinalava-se assim festivamente o fim do ano escolar e a ida, para o seminário, do melhor aluno do mestre-escola.
O padre (“um homem simples, santarrão, mas bom garfo e melhor copo”, segundo o retrato feito pelo Teodoro), sorriu de orelha a orelha, feliz por ver o seu pequeno rebanho ali junto, aconchegado, e de barriga farta.
O mestre-escola tinha contribuído com algumas guloseimas para a "canalha", trazidas da vila. Ele era de Vieira do Minho, de uma família nobre, do lado do pai, “de boa cepa miguelista mas arruinada”.
O professor às vezes gostava de lembrar por brincadeira (ou “por maldade” ?), a origem do padre. Era de Belmonte, terra de “judeus ex-comungados”, “marranos”, “cristãos novos”…
Mais subtil, o vizinho sorria com bonomia. Vingava-se chamando-lhe “camisa azul”, o que tinha o condão de irritar o antigo seguidor, “em má hora” (sic), arrependido, do Rolão Preto.
− Mas, no fundo, entendiam-se, estavam bem um para o outro e cultivavam uma relação de amor-ódio, exacerbada pelo celibato, a solidão e a miséria da aldeia, perdida na serra − concluía o Teodoro.
O professor era o único que tinha rádio, a par do homem da “venda”.
Depois de a sua mãe ter morrido, cedo, o padre passou a ter uma criada. Viúva, sem filhos, como convinha, mas que fazia a melhor chanfana da Serra da Lousã.
− Coisas de velho! – rosnava a criada.
O Teodoro frequentava a casa paroquial nas férias. Seguramente era a melhor casa da aldeia e já tinha dado guarida ao bispo de Coimbra e a um ou outro lente da velha universidade de Coimbra, atraídos pelos bons ares da Serra, que faziam bem aos pulmões, pela caça e pela chanfana e pelo cabrito da “viúva do abade” (como galhofava o professor, não sem uma pontinha de ciúme),
O professor tinha casa de função, mas almoçava habitualmente na “venda”, o único estabelecimento comercial da aldeia, misto de pensão, casa de comidas, taberna, mercearia e posto dos correios. Fazia os melhores pratos de caça e de cabrito.
Defraudando logo no início as expectativas do mestre-escola e do padre, o seminarista Teodoro foi um aluno mediano.
Por outro lado, não pertencia ao grupinho dos “manteigueiros". os que "davam graxa aos padres” (sic). E que eram os meninos bonitos dos prefeitos e dos professores. Ali ninguém mais o tratava por “Rucinho” ou “Teodorozinho”. E a competição era feroz, muito pouco cristã , pelas boas graças de Deus e dos seus poderosos representantes na terra.
Aos alunos com mau aproveitamento escolar, descartavam-nos logo ao fim do primeiro ou segundo ano. Punham-lhes lá fora o baú com os parcos haveres (lençóis, camisas, cuecas, botas…), à porta do seminário, e recambiavam-nos de volta às agruras da vida nas suas aldeias ou vilas.
De uma colheita de cem, talvez um ou dois chegasse à meta, ou seja, tivesse a graça divina de ser ordenado sacerdote.
− Meus filhos, sois muitos os chamados, mas poucos os escolhidos – resignava-se o venerando reitor a quem os seminaristas chamavam a “múmia”, de tão velho e mirrado… E de quem se dizia que era um heróico sobrevivente das lutas assanhadas da República contra o clero e os seminários.
O Teodoro era tímido e “tanso” (sic), mas vingava se no futebol.
Aprendera cedo a andar em rebanho com as outras “ovelhas do Senhor”, procurando nunca se tresmalhar. Ou não tivesse ele também aprendido a apascentar as cabras do tio, que era resineiro.
Pedia, por outro lado, ter sido selecionado para a “Schola Cantorum”, o coro dos meninos da igreja, constituído pelas melhores, as mais puras vozes infantis ou "vozes brancas"... Era um lugar disputado porque um privilégio,,, Mas as hormonas do crescimento traíram-no.
− A minha voz já estava precocemente a mudar. Tinha boa voz, ouvido musical, assobiava muito bem, sabia imitar os pássaros, do pombo bravo ao rouxinol… Mas de que é que isso servia, todos esses saberes serranos, a um futuro padre ?
Saber falar em público também era uma das qualidades apreciadas num sacerdote. Não era um dos pontos fortes do Teodoro. Faltava lhe também a sofisticação dos meninos da cidade, o seu ar serrano ainda se colava à pele, como a resina dos pinheiros quando andava à caruma. Também não escrevia muito bem, embora sem grandes erros de ortografia. Precisava de ler mais, recomendava-lhe o professor de português.
Não guardava, de resto, as melhores recordações dos primeiros anos do seminário, bem pelo contrário. Um dia havia de passar ao papel, depois de se reformar, as suas memórias de infância e adolescência.
Em 1957, aos 13 anos tinha apanhado a gripe asiática.
Chumbou no 3º ano, por doença.
1958 foi outro ano de terror, com o comício do general Humberto Delgado na praça defronte ao seminário.
Contra todas as expectativas, o Teodoro chegou ao fim do curso de teologia e recebeu a ordem de subdiácono.
Nunca teve propriamente uma crise de vocação. Teve naturalmente alguns momentos em que foi posta à prova a sua fé e, por tabela, a sua vontade de se dedicar inteiramente a Deus, o que significava não conhecer mulher, não se casar e não ter filhos.
Talvez a maior provação, que podia ter levado a uma grave crise, foi justamente, no início das férias grandes, no verão de 1958, aos 14 anos, depois do “grande susto das eleições do Humberto Delgado” (como ele recordava 50 anos depois)…
Esse momento (de dúvida, hesitação, provação ou tentação mais propriamente dita), ia-lhe custando caro, no final do 3º ano (que ele repetira, com sucesso). Já nas férias grandes, viajava ele de comboio, de regresso a casa na serra, devendo apear-se em Coimbra B e apanhar o ramal da Lousã.
Já era mais espigadote do que os outros miúdos. “Com 14 anos era já rapaz feito”. E não era mal apessoado, com ar de “irlandês” (quem sabe se descendente de algum dos pobres soldados levados pela corrente do rio Ceira, no combate de Foz do Arouce , em 15 de março de 1811, durante a retirada de Massena, no final da terceira invasão francesa).
− Mas, desembucha… Que desgraça, afinal, que é que te aconteceu ou que susto apanhaste?
− Vi o rabo a uma rapariga empoleirada na janela do comboio.... A dizer adeus, muito efusivamente, a alguém (talvez um rapaz, imaginava eu), que estava do lado de fora, na plataforma da estação…
− Onde ?
− No Entroncamento.
− E depois?
− Não tinha cuecas…
− Como assim ?
O Teodoro reconstitui-me esta “cena do pecado” de que ainda tinha uma viva memória, ao fim de meio século: ficou vermelho como um tomate saloio quando ela, que estava de costas, se voltou… e fez questão de se sentar, mesmo à sua frente. Percebeu que ele estava ruborizado, sorriu “matreira como o diabo” (sic). Estavam sozinhos os dois, cada um no seu banco de pau corrido, numa carruagem de terceira classe da CP - Caminhos de Ferro Portugueses.
− Então, ela levantou-se ligeiramente. Abanou o rabo, ajeitou a saia e, com as pontas de dedos, como se fossem pinças, foi-na puxando muito lentamente para cima, enquanto ao mesmo tempo afastava as pernas…
− Uma cena de sedução, altamente erótica, ó Teodoro! − comentei eu. – Uma sessão de strip-tease privativa para o padreco!
− Então ela diz-me candidamente: Bonjour tristesse ! (#)
Ele percebeu, com o seu já razoável francês do terceiro ano, que ela era francesa… Ficou tão envergonhado que não conseguia dizer-lhe mais nada do que um tosco, desajeitado “Excusez-moi, madame!” (queria dizer “mademoiselle”).
Ela notou que ele ficara tão perturbado que desatou a rir a bandeiras despregadas… E logo a seguir, tranquilizou-o num português do Brasil com “accent parisien”:
− Joli garçon!... Não seja bobo, menino!... Meu nome é Carol. E o seu ?
Mais calmo, o Teodoro e ela foram a conversar como se já fossem “velhos amigos”, misturando palavras em francês e português…
Saíram ambos em Coimbra B. E ela deu-lhe um beijo rechonchudo de despedida…Não usava batom, mas os seus lábios eram lava de vulcão!...
Que sortudo!... No comboio até à Lousã, não parou de saborear o prazer e a glória daquele efémero momento que ele bem gostaria de ter podido eternizar. Deu dois estalos na cara para se certificar de que não estava a delirar…
Mas à medida que se aproximava da serra da sua infância, era invadido pelas imagens do terror bíblico, a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, a ex-comunhão, os diabos pretos a chicotearem-no, as labaredas do inferno a reduzirem-no a cinzas…
−Vade retro, Satanás! – gritou a plenos pulmóes, já cá fora, enquanto se metia a caminho, perfazendo os últimos quilómetros até casa, com a mala às costas, a suar como um touro.
Mal chegou, pediu intempestivamente ao pai para no dia seguinte ir roçar mato para castigar o corpo e “manter a mente sã”.
− Nunca falei disto a ninguém, a nenhum dos meus condiscípulos ou sequer amigos… Muito menos ao meu confessor e ao meu diretor espiritual que, felizmente, no ano seguinte, já não eram os mesmos…
Mas nessas férias, "o raio do diabo, sob a forma da fogosa francesa, assombrou-o diversas vezes de noite"... Muitos terços lhe custou a penitència!
− Chegava ao fim (ou quase ao fim…) mas sem curriculum para poder aspirar um dia a ser cónego ou até bispo, como era desejo dos meus amigos e protetores, o padre e o professor da minha aldeia.
Foi um aluno médio em filosofia e em sofrível teologia.
− Havia gajos mais brilhantes do que eu, que seguiram depois as suas vidas. Entraram no seminário e saíram quando melhor entenderam. Não desistiram nem foram expulsos, a meio do caminho. Entraram na universidade. Foram juízes, advogados, professores, um ou outro engenheiro ou médico. Nenhum quis ser padre, eu devo ter sido uma segunda ou terceira escolha de Deus. Refugo, é o termo. Refugo de Deus. Com direito a sotaina. negra como os corvos, e cabeção, como a coleira dos escravos.
O Teodoro não se sentia bem na sua nova pele.
Tinha vivido numa redoma de vidro. Pior do que isso, crescera no universo concentracionário do seminário, mesmo que, com o tempo e a influência do Vaticano II, a instituição se tenha aberto mais à sociedade civil.
Discutiu muito com o seu diretor espiritual sobre o rumo a tomar ao fim de 13 anos. As raízes da sua vocação sacerdotal vacilavam como o ainda frágil castanheiro que o seu pai plantara no logradouro da casa de xisto, quando ele entrara no seminário?
Como sempre, o diretor espiritual não lhe pediu opinião. Sentenciou, lacónica e algo ameaçadoramente.
−Farás um compasso de espera de dois anos até que Deus te ilumine o caminho.
− E se Deus, que tem tanto que fazer, se esquecer de mim, um ser insignificante ?!
− Os caminhos, o relógio e o calendário de Deus não são os nossos. Vai à luta, enfrenta e vence as tentações do mundo… Deus mandar-te-á chamar quando sentir que estás pronto… Está atento aos seus sinais.
Aos 23 anos, o Teodoro sentia-se "um soldado de Deus, desarmado e desorientado".
Sair do seminário não lhe convinha.
Com a tropa e com a guerra, hipotecava o seu futuro durante pelo menos três ou quatro anos.
− Se não queres ser padre, meu sacana, tu que andaste a chular a Igreja, vais então combater pela pátria − pensava o Teodoro com os botões da sua sotaina.
Tomou então a decisão mais prudente: até 69, tinha carta branca do Seminário Maior. E ninguém lhe pedia contas.
− Eram já as ondas de choque do terramoto do Vaticano II. Ainda não era o ciclone do século, era pelo menos uma tempestade de verão. O Vaticano II estava a provocar estragos naquela casa. As deserções eram muita, aumentando de ano para ano. Ficavam "os santos, os beatos e os malandros" (os que só pensavam na melhoria das habilitações literárias…).
O único problema é que não tinha um chavo no bolso, precisava de comer. beber, dormir, viajar… Pedir aos seus irmãos, nem pensar, preferia rebentar de fome…
Ofereceu os seus préstimos a alguns párocos e paróquias das dioceses de Lisboa e Setúbal.
Numa das paróquias encarregou-se da folha dominical, tirada a “stencil”. Noutra, passou a coordenar a JOC, a Juventude Operária Católica. Era uma terra de fábricas e bairros de lata e aqui começou a sua perdição: enamorou-se da Josefina, uma militante jocista, para mais legalmente menor, ainda não tinha atingido a maioridade (naquele tempo, aos 21 anos).
Havia um mundo a desmoronar-se lentamente, o mundo que ele conhecia.
Da doutrina social da Igreja, só conhecia, estranhamente, a “Rerum Novarum” de Leão XIII, em vigor, setenta anos depois. Os novos ventos do Vaticano II começavam a chegar a Portugal, ainda sob a forma de uma brisa, pouco ameaçadora para um clero conservador e sobretudo amordaçado.
Começava-se a ouvir falar de “padres operários”, semi-clandestinos, tal como de “católicos progressistas”, à revelia da hierarquia da Igreja e da polícia política.
Josefina, uma rapariga destemida, para não dizer ainda imatura, temerária, apaixonada, generosa e solidária “até demais”, espicaçava-o com a experiência de “padre operário” qne ele tinha que fazer, mesmo sem autorização dos seus superiores hierárquicos. Foi ela que o empurrou para a fábrica.
Há uns meses que já morava com a Josefina numa casa atamancada, sem água nem esgostos (a não ser uma retrete).
Grávida (não usava nem sabia o que era a pílula), a Josefina, em pànico, arranjou maneira de ir ter com uma irmã em França. Recusou.se a fazer um desmancho.. O Teodoro foi encostado à parede: “Era a mulher da sua vida (a primeira de resto com quem tinha dormido) e a mãe do seu filho”-
− Não a podia abandonar!...
Tirou o passaporte, arranjou maneira de ir a um congresso da JOC Internacional, em Billancourt, a “cidade vermelha”, meteu-se no comboio para Paris. Morria de medo de a PIDE o poder intercetar em Vilar Formoso, por alguma denúncia ou algum passo mal dado.
No seu compartimento ia um grupo de emigrantes portugueses que, passada a fronteira, abriram o farnel e o garrafão. Disse então as primeiras palavras de português, quando o convidaram a partilhar do farnel… Que era, de facto, padre e que ia a um encontro religioso em Paris. Foi recebido com palminhas nas costas. Comeu, bebeu, dormiu, ressonou. Achou mesmo que se “enfrascou”, não estava habituado àquele “carrascão” trepador…
Josefina (aliás, Joséphine), ansiosa, estava à sua espera. Já de barriga grande.
− Allons, enfants de la Patrie! / Le jour de gloire est arrivé, / Contre nous de la tyrannie / L'étendard sanglant est levé!...
E a contra-senha, dita por ele próprio, em francês:
− Monsier l’abbé, soyez le bien-venue chez nous! (####)
Na imaginação fértil da Josefina havia bufos da PIDE por todo o lado, em Paris…
Epílogo:
O Théo (como começou a ser conhecido entre os novos amigos da Josefina, aliás Joséphine) ficará por França o resto da sua vida.
A sua situação legal e canónica só ficou resolvida após o 25 de Abril de 1974. O Seminário Maior deu conta da sua falta quando o subdiaconato foi extinto pelo Vaticano, em 1972. Soube-se então que ele tinha “fugido” para França e andava “amancebado".
A mãe morreria em finais de 1973, de cancro.
− Filho desnaturado, eu me confesso!...
Veio mostrar a um dos filhos e a alguns dos netos a serra, a sua terra, o cantinho onde nascera....
A sua aldeia estava agora “gentrificada".
− Gentrifiée, c’est çá ?!... Gen-tri-fi-ca-da… É o mesmo fenómeno que se verifica, no campo e na montanha, em França, há muito mais anos…
Tinha-se separado da Joséphine, “a mulher da sua vida".
Nunca me falou dos empregos que teve.
Quando, no verão de 2008, se despediu da sua antiga aldeia (agora uma das famosas "aldeias de Xisto" da Serra da Lousã), numa tarde com um magnífico pòr do sol, mas com o pesado pressentimento de que nunca mais lá voltaria, lembrou-se de novo da frase da Carol / Sagan e, prafraseando-a, teve um ataque de choro, c0mpulsivo, exclamando, de braços abertos:
− Bonsoir... tristesse!!! (##)
Nota do editor:
Último poste da série > 21 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24572: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (7): Sozinho, como um cão
terça-feira, 29 de agosto de 2023
Guiné 61/74 - P24598: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (6): ex-alf mil cav Jaime Machado, cmdt Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70): Parte II . a "cova do lagarto" (Bambadinca, em mandinga)
Foto nº 9 > Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) > Escolta a uma coluna na estrada Bafatá / Nova Lamego (s/d)
Foto nº 10 >Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) >Aspeto parcial do quartel de Bambadinca. vista do lado sudoeste... Pista de aviação, heliporto, arame farpado e campo de futebol e instalações do pessoal da CCS...
Foto nº 11 > Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) > Aspeto parcial do quartel de Bambadinca, visto do lado sudoeste... Porta de armas, posto de vigia, e à direita o edifício do comando, instalações de oficiais e sargentos... O aquartelamento (e posto administrativo) ficava num promontório, sobranceiro à grande bolanha de Bambadinca (à direita). Em mandinga, Bambadinca queria dizer "cova do lagarto".
Foto nº 12 > Guiné > Zona leste > Sertor L1 > Região de Bafatá > Sector L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) > O centro do quartel de Bambadinca: o mastro bandeira, os memoriais das unidades e subunidades que por lá passaram, a escola oficial (que tinha uma professora branca, oriunda de Cabo Verde, a Dona Violeta, solteira, que vivia com a mãe)... Do lado da direita da escola, ficavam outras instalações civis do posto administrativo: a casa do chefe de posto, o edifício dos CTT... À esquerda, no mesmo enfiamento, ficava a capela. Por detrás da escola, vê-se ainda antena das transmissões
Foto nº 13 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 >Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (maio de 1968/fevereiro de 1970) > O edifício dos CTT, contrariamente à capela, a escola (e a casa da professora), e o posto administrativo (e casa do chefe de posto), ficava fora do recinto do quartel de Bambadinca... Mais exatamente, segundo a precisosa descrição do Humberto Reis, ficava no lado da rampa que, descendo do quartel, atravessa a tabanca de Bambadinca, dando acesso do lado esquer4do ao porto fluvial (e destacamento da Intendência) e do lado direitoa estrada (alcatroada) para Bafatá... edifício dos CTT ficava do lado oposto da casa e loja do Rendeiro (, comerciante, branco, da Murtosa)...
O insólito foi o ataque, à granada (de mão. defensiva) perpetrado contra o edifício, em 18/1/1974, às 20h45, embora sem consequências... Tudo indicava que havia, por esta altura, uma célula ativa do PAIGC na localidade de Bambadinca... Foram encontradas mais duas granadas, do mesmo tipo, chinesas, que não rebentaram...
Foto nº 14 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sertor L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) > Uma vista da tabanca de Bambadinca, entre o quartel, o posto administrativo e o rio Geba. A rua principal, que atrevessava a povoação (e quartel), fazia ligação à estrada (alcatroada) para Bafatá... Era a "autoestrada!" do leste que depois, com os anos há de chegar a Nova Lamego, Piche e até à fronteira... Por aqui passaram dezenas de milhares no início e no fim das suas comissóes de serviço no leste (Regióes de Bafatá e de Gabu).
Na imagem, vê o Jaime Machado,a tirar uma foto, no alto do depósito de água que ficava à esquerda da escola, e tiuha uma vista panoràmica de 360 graus.
Foto nº 15 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sertor L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) > Aspeto parcial da tabanca de Bambadinca e rio Geba: Vista do lado norte / nordeste: a rua principal, com o edifício dos correios ao centro, e o início da rampa de acesso ao quartel e posto administrativo... Bambadinca, além dos CTT, tinha escola primária, capela e diversos estabelecimentos comerciais.
Foto nº 16 > Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sertor L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) > A grande bolanha de Bamfadinca, a sul/sudeste, vista do quartel, que ficava num pequeno promontório.
Foto nº 17 :> Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sertor L1 > Bambadinca > Pel Rec Daimler 2046 (1968/70) > Fevereiro de 1970 > Não, não é chegada do pessoal do Pel Rec Daimler 2046, vindo do Xime (onde desembarcou da LDG 101, Alfange, em 7 de maio de 1968) , mas sim o adeus a Bambadinca, depois de terminada a comissão, em fevereiro de 1970...
O quartel tinha duas entradas e saídas: (i) a sudoeste (ligando ao Xime); e outra a sul (ligando a Mansambo, Xitole e Saltinho); e (ii) uma outra, no outro extremo, a nordeste (ligando ao Rio Geba e a Bafatá).om duas direções: esta, que vemos na foto, ia para sudoeste, ou seja, a estrada Xime-Bambadinc, que se apanhava no final da pista de aviação, tendo à esquerda o cemitério de Bambadinca com a sua fiada de poilões (e um muro, branco, visível na imagem), e à direita, a pista, o heliporto, o aquartelamento, o arame farpado.
A coluna auto, com o pessoal do Pel Rec Daimler 2046, segue para o Xime, que fica(va) a sudoeste de Bambadinca... Havia aqui um cruzamento, com duas direções: esta, que vemos na foto, ia para sudoeste, ou seja, a estrada Xime-Bambadinc, que se apanhava no final da pista de aviação, tendo à esquerda o cemitério de Bambadinca com a sua fiada de poilões (e um muro, branco, visível na imagem), e à direita, a pista, o heliporto, o aquartelamento, o arame farpado.
Recorde-se que esta subunidade de cavalaria esteve ao erviço do comando do BART 1904 (Bambadinca, maio /setembro 68) e depois do BCAÇ 2852 (Bambadinca, outubro 68/fevereiro 70).
Publicaram-se 17 postes com o álbum fotográfico do Jaime Machafo (que tem 150 "slides" do tempo do Guiné(. (**)
10 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15347: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte XVII: Bambadinca, um quartel onde há homens, bichos e flores...
21 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14775: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte I: Chegadas e partidas...
Guiné 61/74 - P24597: Tabanca Grande (553): Souleimane Silá, nascido em 1958, filho da "Rainha de Catió (que afinal era natural do Xitole)", a viver hoje no Luxemburgo: senta-se à sombra do nosso poilão, no lubgar nº 881
Agradeço que me seja permitido publicar minha versão da vossa publicação de passado 09/agosto/2023 sobre as recordações do entâo major Pinheiro referente a rainha de Catio (**),
Cumprimentos,
Souleimane Silá
Data - quinta, 17/08/2023, 18:17
Caro Luís, boa tarde e votos de boa saúde.
Se for necessário padrinho para apadrinhar a adesão ao blogue, podem contar com a minha disponibilidade.
Forte abraço.
“Quero pedir um favor. O ex-major e comandante Pinheiro que esteve em Catio 70/72, amigo e conhecido da minha família postou no blog Camaradas de Guiné fotos da minha mãe, rainha de Catio, no dia 09/agosto/2023 que eu de seguida comentei enviei um comentário meu para Luís Graça por email que pensei ele tornaria público.
Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves (ex-Fur Mil Atirador da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67, membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2007) >Foto-010 > Catió 1967- Lagoa entre Catió e Priame.
Guiné > Região de Tombali > Catió > Álbum fotográfico de Benito Neves (ex-Fur Mil Atirador da CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67, membro da nossa Tabanca Grande desde Abril de 2007) > Foto-022 Catió 1967- Vista aérea na região de Catió
Data - 28 ago 2023 15:50
Mantenhas, queridos camaradas da nossa Grande Tabanca "Luís Graça & Camaradas da Guiné"!
(ii) O Aliu SILA, chauffeur da Administração de Circunscrição de Catio, não foi nem Djacanca, nem Saracolé. Não. Ele foi, sim, filho de mãe e pai da etnia Maninka-morin (Malinké), natural de Kankan e passou infância em Boké, Guemeyré, ambas regiões da vizinha Guinée francesa (Guiné Conakry).
Em resumo, todos filhos do famoso e honrado Aliu Chauffeur nasceram, registados e cresceram de mulheres nacionais do país acolhedor, ex-Guiné portuguesa. A minha rainha, essa é natural e cresceu em Xitole (...)
(iii) O meu nome (porque está registado Souleimane em vez de "Suleimane"), poderia abrir uma outra pergunta. Porquê o "Aliu" não foi escrito "Aliou", sabendo-se que ele preservou sempre a naturalidade à francesa?
Aceitem um grande abraço (de bom humor), do vosso camarada Souleimane Silá.
4. Comentártio do editor LG:
(**) Vd. poste de 9 de agosto de 2023 > Guiné 61/74 - P24540: Fotos do álbum do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, antigo 2º cmd do BCAÇ 2930 (Catió, 1970/72) e cmdt do Comando Geral de Milícias (Bissau, 1972/73)