Lourinhã > Monumento aos Combatentes do Ultramar > 25 de agosto de 2013 > Comemorações do 8º aniversário da inauguração do Monumento aos Combatentes do Ultramar. Da esquerda para a direita, o Jaime Bonifácio Marques da Silva e o João Delgado, dois dos elementos da comissão "ad hoc" que há 8 anos atrás concretizou o sonho dos combatentes da Lourinhã.
Fotos (e legendas): © Luís Graça(2013). Todos os direitos reservados
1. Texto do discurso do meu amigo, camarada, conterrâneo, lourinhanense, atualmente residente em Fafe, Jaime Bonifácio Marques da Silva [, foto atual, abaixo], ex-alf mil paraquedista, BCP 21 (Angola, 1970/72), proferido em 25/8/2013 (e que nos chegou à caixa do correio a 10 do corrente):
AVECO - Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste
Lourinhã, 25 de agosto de 2013
8.º Aniversário da Inauguração do "Monumento de Homenagem aos Combatentes do Concelho da Lourinhã que Participara, na Guerra Colonial"
TEMA: O significado histórico da construção do monumento em memória dos combatentes da Lourinhã mortos na guerra do ultramar no contexto da evocação dos 50 anos do seu início
Saudações...
Introdução
“Não há futuro sem passado. Uma comunidade, uma nação constrói-se em torno de um projeto comum, em volta de um desígnio que todos junta e anima. Mas só é possível construir esse sonho futuro quando houve uma história comum, que alicerçou valores e criou partilha de ideias. Vamos hoje, minhas senhoras e meus senhores, celebrar um puco dessa história.”
Minhas senhoras e meus senhores, estas foram as primeiras palavras dirigidas a todos os presentes na abertura da cerimónia solene da inauguração deste Monumento em 26 de junho de 2005.
A frase foi lida por mim que coordenei a cerimónia, mas as palavras são da autoria (à data) do Exmo Coronel Tavares Nunes, comandante da EPI (Escola Prática de Infantaria de Mafra), responsável pela conceção e organização da cerimónia.
O que fizemos a 26 de junho de 2005, é o que iremos fazer, hoje, 25 de agosto de 2013 ou seja: continuar a “celebrar” um momento da História de Portugal para a qual os jovens da Lourinhã deram o seu contributo, alguns com o tributo do seu próprio sangue. Ao construirmos este memorial, pretendemos, tão só, perpetuar a sua memória.
A Direção da Associação dos Veteranos Combatentes do Oeste (AVECO) ao convocar-nos, hoje, para evocarmos o 8.º aniversário da sua Inauguração cumpre, antes de mais, o dever cívico de lutar contra o esquecimento de uma Nação para com aqueles que a serviram e tratou mal.
A este propósito, o Dr. António Barreto, na qualidade de Presidente das Comemorações do Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas, no dia 10 de Junho de 2010 que, segundo o jornal O Público de 11 de Junho do mesmo ano, afirmou:
“Os antigos combatentes ainda não tiveram o merecido reconhecimento dos poderes públicos”.
“ O estado cumpre mal o seu dever de respeito perante aqueles a quem tudo se exigiu”. Nem a Assembleia da República cumpre o papel que lhe está conferido”.
Foi com esta intensão de “luta contra o esquecimento” e de “evocação da memória” que um grupo de ex-combatentes da Lourinhã lançou a ideia da construção deste memorial, constituindo, para o efeito, uma Comissão Promotora.
Em nome dessa Comissão (já extinta, evidentemente) agradecemos à Direção da AVECO o convite para evocarmos os passos que foram realizados desde a ideia à concretização.
Irei, por isso, tentar descrever os diferentes momentos desse percurso e refletir sobre o significado histórico e a função pedagógica que esteve presente na conceção e edificação do monumento
Génese:
A génese da construção deste monumento remonta-se ao verão de 2003 quando, informalmente, um grupo de ex-combatentes se reuniu na Casa do Benfica, aqui na Lourinhã, para preparar o 1.º Encontro de Ex-Combatentes da Guerra do Ultramar do nosso Concelho. Este 1.º Encontro viria a realizar-se no dia 1 de dezembro do mesmo ano. O programa, para além da cerimónia religiosa e da romagem ao cemitério com a deposição de uma coroa de flores no Talhão dos Combatentes, encerrou com um almoço convívio no restaurante os Severianos.
Presidiram a esse almoço convívio o Exmo Presidente da Câmara José Manuel Custódio e o Exmo Tenente General Jorge Silvério. É no decorrer desse almoço que um dos elementos da Organização, usando da palavra para agradecer a presença das entidades oficiais, dos veteranos e dos familiares e amigos presentes no convívio, lança ao Senhor Presidente da Câmara o repto para que o Executivo Camarário apoiasse a construção de um monumento em memória dos Lourinhanenses tombados na Guerra Colonial.
No momento em que usou da palavra, o Exmo Presidente da Câmara não sóanuiu à ideia, como também incentivou a Comissão Organizadora do Encontro a apresentar um projeto exequível, disponibilizando o departamento Técnico do município para nos apoiar. Sugeriu, também, que se formasse uma Comissão Promotora para a Construção do Monumento de modo a servir de interlocutor válido entre os ex-combatentes, a autarquia e as entidades, necessariamente, a envolver para a concretização da ideia
A Comissão Promotora para a Construção do Monumento foi constituída por José Félix Picão de Oliveira, combatente na Guiné na região de Conquelifá; Jaime Bonifácio Marques da Silva, combatente em Angola – integrado no Batalhão de Caçadores Paraquedistas n.º21 – BCP21), João Henriques Rodrigues Delgado, José Marques Bonifácio da Silva e Adílio Braz da Fonseca, também combatentes em Angola
O primeiro ato formal da dita Comissão foi o envio de um ofício dirigido ao Senhor Presidente da Câmara dando-lhe conta da nossa intensão.
Em 23 de janeiro de 2003 a Comissão Promotora recebeu um ofício informando-nos que em relação ao nosso pedido de apoio para a construção de um “Memorial onde se eternize os nomes dos combatentes Lourinhanenses mortos na Guerra Colonial”, a Câmara tinha deliberado em reunião do executivo, realizada em 21.01.2003, o seguinte: “A Câmara deliberou aprovar a proposta apresentada, delegando no Sr. Presidente da Câmara para prosseguimento do assunto.”
As fases da construção:
Começou aqui, verdadeiramente, o percurso das dificuldades que foram sendo ultrapassadas até à concretização da ideia.
A primeira dificuldade, foi a preocupação de encontrar alguém que se disponibilizasse para desenhar no papel um esboço que, de certo modo, concretizasse a nossa ideia. O José Picão conseguiu o apoio do senhor Arquiteto Augusto Silva, apresentando, este, durante o almoço do 2.º convívio realizado no dia 1 de dezembro de 2004, no mesmo restaurante, um conjunto de esboços figurativos do que poderia vir a ser o futuro monumento. Após a apreciação e discussão, os presentes no almoço convívio, votaram na versão que foi dada ao bronze e aqui permanece neste espaço maior da nossa vila há oito anos.
A segundo dificuldade, talvez a maior, era, a partir da ideia concretizada no esboço, conseguir um orçamento exequível para a sua concretização. Os primeiros orçamentos solicitados e apresentados por diferentes escultores foram muito desanimadores e quase nos levou a adiar a construção do monumento, dado o seu elevado custo. Felizmente, um nosso amigo, professor catedrático na Faculdade das Belas Artes do Porto, sugeriu-nos que contactassemos uma licenciada em Artes Plásticas na especialidade de Escultora que tinha sido a melhor aluna do seu curso em estatuária. Foi assim que chegámos ao contacto com a escultora Andreia Couto natural de S. João da Madeira. Lembro-me de fazermos a primeira reunião com a senhora escultora no Café Velasques no Porto, junto ao estádio das Antas. Entreguei-lhe o desenho do senhor Arquiteto Augusto Silva e passados dias, apresentou um orçamento considerado exequível pelo município.
A proposta é apresentada formalmente pela Senhora escultora, através de ofício dirigido ao Senhor Presidente em 7 de Novembro de 2004. A Câmara aceitou a proposta e informa a escultora através de ofício que lhe é dirigido em 30 de novembro 2004.
Em Abril de 2005, os cinco elementos da Comissão Promotora deslocaram-se à Fundição a Vila Nova de Gaia, a convite da Senhora escultora, para avaliarem e proporem alguma alteração à imagem esculpida, ainda, na fase de modelação em barro.
A partir desta data, foi a conclusão da fase de passagem a gesso, fase do bronze, transporte, colocação no local e a inauguração.
26 de junho de 2005: dia da inauguração
A cerimónia da inauguração tem lugar no dia 26 de Junho de 2005, por altura do 3.º convívio dos combatentes da Lourinhã, com a dignidade que o significado histórico do Monumento encerra e merece.
Presidiram à cerimónia, por parte da edilidade o Exmo Presidente da Câmara José Manuel Custódio e o Exmo Tenente General Jorge Silvério, ilustre comandante do Comando de Pessoal do Exército, em representação das Forças Armadas por despacho do Exmo Tenente - General Governador Militar de Lisboa datado de 19 de maio 2005.
Os dois ilustres personagens, filhos da nossa terra, juntamente com os cinco ex-combatentes da Comissão Promotora para a Construção do Monumento, constituíram a Comissão de Honra, instituída pela autarquia para presidir ao evento.
A cerimónia foi concebida e organizada pelo Exmo Coronel Tavares Nunes, Comandante da EPI, também, representante na cerimónia do Exmo Tenente General GML (Governo Militar de Lisboa) por despacho deste em 23 maio 2005.
Para além das ilustres figuras, anteriormente, mencionadas, deram-nos, ainda, a honra da sua presença e amizade:
i) Em representação das Forças Armadas estiveram presentes, ainda: um Pelotão da EPI, a Fanfarra do GML (Governo Militar de Lisboa), o Exmo Padre Rui Peralta, Capelão da EPI, Exmo Tenente General Chito Rodrigues Presidente da Liga dos combatentes Portugueses, o Exmo Comandante da GNR da Lourinhã, o Exmo Comandante da Capitania do Porto de Peniche Capitão Tenente Damásio Afonso
ii) Em representação da autarquia da Lourinhã, para além do seu Presidente, estiveram presentes: o Exmo Presidente da Assembleia Municipal da Lourinhã João Ferreira, os Exmos Vereadores João Duarte, José Tomé, Raul Leitão, Júlia Alfaiate e Nuno Sampaio.
iii) Em representação das associações de combatentes, deram-nos a honra da sua presença o Senhor Manuel Patuleia Mendes, Exmo Presidente da ADFA (Associação dos Deficientes das Forças Armadas) e o Senhor António Basto, Exmo Presidente da APVG (Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra)
iv) Estiveram presentes, também, Familiares e Amigos dos combatentes da Lourinhã que tombaram em combate e, cujos nomes, se encontram mencionados neste Memorial
vi) Associaram-se, ainda, ao evento muitos ex-combatentes da Lourinhã e de outras zonas do país, bem como, o povo da Lourinhã que quis estar presente na homenagem a estes “filhos da terra”.
O evento terminou com um almoço festivo oferecido pela Câmara Municipal a todos os participantes na efeméride nas instalações do Hóquei Clube da Lourinhã.
Será de toda a justiça destacar e agradecer, neste momento, volvidos que são oito anos, o empenhamento do Exmo Presidente da Câmara da Lourinhã, Senhor José Manuel Custódio, para a efetiva construção deste Monumento. Em nome dos ex-combatentes da Lourinhã, o nosso muito obrigado.
Solicitamos ao Senhor Vereador Eng.º João Duarte, hoje em representação do senhor Presidente, que faça o favor de transmitir ao Senhor Presidente da Câmara esta nossa mensagem de gratidão.
O significado histórico e pedagógico do Monumento
Para nós, ex-combatentes, este Monumento tem um significado histórico, social e político, bem como, uma mensagem pedagógica importante para as gerações pós 25 de abril. Ele encerra parte da história de Portugal escrita, também, com o sangue de vinte Lourinhanenses nossos conterrâneos mortos em combate nesta guerra: 9 em Angola, 6 na Guiné e 5 em Moçambique.
A este propósito, o lourinhanense Luís Graça, ex-combatente na Guiné e coordenador do Blogue “Luís Graça e Camaradas da Guiné” afirma: “Vinte Mortos foi o contributo da minha terra, o imposto de sangue que os lourinhanenses pagaram na defesa dum Império e de um regime em agonia.”
A edificação deste Memorial, como criação artística, é uma forma consciente de lutarmos contra o esquecimento. A obra de arte, na sua diversidade de manifestações e quando comporta uma mensagem, como o é, neste caso, cumpre a sua função social de despertar as consciências.
Já fui abordado por várias pessoas, nem todas da geração pós 25 de abril, que me manifestaram a sua discordância pela forma demasiada realista e talvez chocante da figura agressiva do soldado progredindo com a arma na mão pronta a ser disparada.
Afirmei a essas pessoas que esta forma de expressão realista, talvez seja a forma mais objetiva, a mais corajosa e a mais chocante de enfrentar a verdade a verdade histórica
Disse-lhes, ainda: Não há volta a dar. Jamais alguém terá hipótese de inventar forma de “fazer de conta que esta guerra nunca aconteceu”, nem mesmo com “anjinhos” a fazerem de soldados! …
Em África, disse-lhes, andámos a fazer guerra, não outra coisa, quer queiramos quer não. Tivemos que apontar as nossas armas para não morrer! Foram dos piores momentos das nossas vidas, cujas imagens jamais se apagarão da nossa memória.
Participei em operações no norte de Angola precedidas do lançamento de bombas de “Napalm” pelos aviões da Força Aérea (o seu uso era proibido pela convenção de Genebra). Os aviões e os helicópteros não lançavam balões ou bombinhas de S. João para fazer a “Psico.” Não. Foram lançadas bombas, cuja matéria química incendiária, uma vez em contacto com o corpo, queima o indivíduo até à morte numa agonia dolorosa e terrível.
Numa dessas operações, num assalto a uma base do MPLA situada nos Montes 1020 no norte de Angola, os guerrilheiros do MPLA, mataram um dos soldados do meu pelotão.
Só perceberá este horror quem viu e viveu esta guerra horrível e inútil.
É, por isso, repito, que este Monumento tem um significado histórico e pedagógico muito importante, sobretudo para as gerações pós 25 de abril de 1974 no momento em que os portugueses evocam os 50 anos do início desta Guerra designada por “ A Guerra de África, Guerra do Ultramar ou Guerra Colonial (designação oficial portuguesa até ao 25 de Abril de 1974), ou, ainda, Guerra de Libertação (designação utilizada pelos movimentos africanos independentistas). Desenrolou-se entre 1961 e 1974 em África, em três teatros de operações diferentes:
i) Angola (1961). O primeiro morto em combate da Lourinhã foi o Joaquim Alexandre Neto, natural dos Casais de Porto Dinheiro em 12 de junho de 1961;
ii) Guiné (1963). Em 23 de janeiro de 1965 morreu o José António Canoa, natural da Lourinhã;
ii) Moçambique (1964). Em 2 de outubro de 1967 morreu o Manuel Filipe Henriques, natural do Casal das Barrocas;
iii) A última morte em combate de um lourinhanense ocorreu na Guiné em 5 de maio de 1973. Foi o José João Marques Agostinho, do Reguengo Grande.
Por isso, as novas gerações quando por aqui passarem e olharem com “olhos de ver” para este soldado, descobrirão, certamente, que ali, para além do bronze esculpido, estão, também, as circunstâncias trágicas da morte em cada um dos nomes cravados na pedra.
Por isso, as novas gerações quando por aqui passarem e olharem com “olhos de ver” para este soldado, descobrirão, certamente, que ali, para além do bronze esculpido, estão, também, as circunstâncias trágicas da morte em cada um dos nomes cravados na pedra.
Também com a ajuda da nova historiografia sobre a Guerra Colonial que tem sido editada nos últimos tempos pelos principais centros de investigação universitários portugueses e alguns estrangeiros, as novas gerações e particularmente os jovens em idade escolar perceberão e chegarão à conclusão que esta Guerra:
1.º Foi “ Uma guerra inútil, uma guerra injusta e uma guerra evitável “como afirmou o General Ramalho Eanes, na altura Presidente da República e também, ele, ex – combatente.
2.º Descobrirão que no início de 1961 quando rebenta a Guerra em Angola, os líderes do “regime”, Almirante Américo Tomás, Presidente da República e o Dr. Oliveira Salazar, presidente do Concelho de Ministros, recusaram-se a aceitar os sinais evidentes dos “ventos de mudança” que pairavam, nessa altura, em todo o mundo em relação ao movimento descolonizador. Sabiam-no, mas não quiseram aceitar.
Afirma o Coronel de Artilharia Aniceto Afonso e o Coronel do exército, Calos Matos Gomes na obra editada conjuntamente e intitulada: ALCORA – O Acordo Secreto do Colonialismo - Portugal, África do Sul e Rodésia na última fase da Guerra Colonial, página 325:
“O fim da Segunda Guerra Mundial foi também o fim da Europa como centro de domínio à escala planetária. Perdida a posição de supremacia mundial ocupada durante séculos, obrigada a concentrar os esforços na sua reconstrução, a Europa em ruinas não tinha condições para manter o poder que detivera sobre vastíssimas e longínquas regiões do planeta”.
Ainda, a propósito do início do movimento descolonizador que se seguiu ao final da Segunda Guerra Mundial em todo o mundo, Maria Manuela Stocker, na obra intitulada Xeque-Mate a Goa, página 252, afirma:
“A história da queda da Índia Portuguesa é uma história da fragilidade externa crescente de um país colonial ameaçado. Uma ameaça que começa na Ásia, na periferia do império, onde uma nova soberania pôs em causa a estabilidade de fronteiras centenárias. Essa fragilidade alastrou ao resto do império, no continente africano, com a internacionalização da oposição ao colonialismo português e o desenvolvimento da contestação interna ao regime. (…)
Portugal foi chamado a iniciar o seu processo de descolonização em 1947, pela recém criada União Indiana. (…)
E continua: “O Estado Novo optou por não se envolver no processo histórico resultante da Segunda Grande Guerra Mundial, de dissolução dos antigos laços imperiais que o ligavam aos seus territórios de além – mar.”
3.º As novas gerações descobrirão que os líderes do Estado Novo, Tomás e Salazar, preferiram arrastar um país pobre para uma Guerra sem sentido e para a qual nem sequer estava preparado nem tinha os meios técnicos e humanos para a suportar. Só a disponibilidade da “carne para canhão” da sua juventude.
Tive a oportunidade de rever no início o desta semana (22.8.13) no Canal História, no programa “O Preço da História”, o Senhor General Almeida Bruno reafirmar a propósito da falta de condições de Portugal para suportar a Guerra. Disse: “O maior problema não era os homens, mas o material. O equipamento não era grande coisa, não era grande coisa”. Repetiu.
4.º Os jovens poderão descobrir, ainda, que este Monumento é um Livro de História. Se o folhearem poderão descobrir, como exemplo paradigmático como os Estado Novo tratava aqueles que serviam a Pátria, a história do Soldado Arsénio que, como tantos outros, morreu no decorrer de uma operação em combate e, se tivesse o apoio do helicóptero para o retirar da zona operacional a tempo, certamente poderia ter sobrevivido, como me afirmou o alferes seu comandante de pelotão. O Helicóptero só esteve disponível para aevacuação, quatro horas após o rebentamento da mina que lhe decepou um pé e lhe provocou vários ferimentos por todo o corpo, vindo a falecer no hospital de Luanda no dia seguinte, quatro de setembro de 1972.
E descobrirão, com surpresa e horror que nenhum responsável da Forças as Armadas teve a coragem de contactar pessoalmente a família do Soldado Arsénio para lhe anunciar a notícia da sua morte e apoiá-la naquele momento trágico. Não, nunca tiveram a coragem de dar a cara. Comunicavam a tragédia através dos CTT, cujo mensageiro da desgraça era o Carteiro.
Neste caso concreto do meu primo Arsénio, contou-me a minha tia, o carteiro não teve coragem de se dirigir diretamente aos meus tios para lhes comunicarem a notícia e pediu a uma das minhas primas para o fazer.
5.º Finalmente, as novas gerações, interrogar-se-ão, seguramente, (porque os combatentes já o fizeram e não obtiveram resposta) por que razão não foi instituída no gabinete do Presidente da República Américo Tomás um grupo responsável para levar a mensagem e estar presente junto das famílias nesse momento trágico ou junto dos gabinetes do Primeiro-ministro Salazar ou dos ministros do Ultramar ou da Defesa Nacional ou nos gabinetes dos Chefes de Estado - Maior dos três ramos das Foras Armadas - Exército, Marinha e Fora Aérea ou junto, ainda, do movimento associativo afeto ao Estado Novo e que apoiava e incentivava a nossa participação na Guerra como a Mocidade Portuguesa (quantos deles meteram cunhas para se “safarem da Guerra!) ou do Movimento Nacional Feminino ou da Legião Portuguesa ou da PIDE (tão lesta a entrar na casa das famílias para prender quem se opunha à Guerra!) ou, ainda, e talvez com mais propriedade, por que razão os responsáveis do regime não incumbiu, dessa missão dolorosa, a direção da Liga dos Combatentes?
Infelizmente, os jovens, descobrirão que os líderes do tempo dos seus pais e avós, os líderes deste sua Pátria, não foram capazes de assumirem as suas responsabilidades perante os cerca de um milhão de portugueses que participaram na Guerra, dos quais 8 mil tombaram no campo de batalha, cerca de 120 mil ficaram estropiados e , estima-se, que cerca de 100 mil ex-combatentes sofrem de “stress” pós traumático de guerra.
Foram cobardes. Nenhum deu a cara perante as famílias. Esconderam-se atrás de um funcionário dos CTT, transformando os Carteiros em mensageiros da desgraça e do infortúnio.
Se não fosse a dinâmica e a capacidade de luta dos ex-combatentes em criarem as sua próprias associações para os apoiar, nomeadamente a ADFA -Associação dos Deficientes das Foras Armadas, fundada em 1974 (há 39 anos) e a associação APOIAR , fundada em 1994, para apoiar os ex-combatentes que padecem de perturbações de stress pós traumático que adquiriram quando estiveram em combate, teriam sido literalmente abandonados à sua sorte.
O estado não foi pessoa de bem para com os seus combatentes e suas famílias. Às mães, disseram, sem escrúpulos:
- A pátria deu-te a missão de dar à luz e criar o teu filho. Nós, sacrificámo-lo no altar da pátria.
- Foi a vontade de Deus
- Deus to deu, Deus to tirou.
- Resigna-te.
- Cumpriste a tua obrigação para com a tua Pátria.
Finalizo, relembrando, ainda, o Professor António Barreto na defesa dos combatentes:
“Todos fizeram o seu esforço e ofereceram o seu sacrifício, seguindo determinações políticas superiores. As decisões foram as do Estado português.”
Referiu-se, também, à forma como, por vezes, são tratados os veteranos:
“Um antigo combatente não pode nem deve ser tratado de colonialista, fascista, democrata ou revolucionário de acordo com as conveniências ou interesses menores. Foram, simplesmente, soldados portugueses.
“ Não há antigos combatentes milicianos ou de carreira ou contratados. Há veteranos e antigos combatentes, ponto final”.
O país deve respeito aos que fizeram a guerra: Merecem que as suas associações sejam consideradas de utilidade pública. Merecem estar presentes nas cerimónias públicas oficiais. Mas, sobretudo, merecem respeito”
Viva os ex-combatentes. Viva Portugal. Obrigado
Jaime Bonifácio Marques da Silva
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 11 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11825: (In)citações (53): Bem haja quem fundou o blogue, bem haja quem apreciou as crónicas do meu pai, e tu, pai, continua a escrever, peço-te. Da filha que te adora (Paula Ferreira)
1.º Foi “ Uma guerra inútil, uma guerra injusta e uma guerra evitável “como afirmou o General Ramalho Eanes, na altura Presidente da República e também, ele, ex – combatente.
2.º Descobrirão que no início de 1961 quando rebenta a Guerra em Angola, os líderes do “regime”, Almirante Américo Tomás, Presidente da República e o Dr. Oliveira Salazar, presidente do Concelho de Ministros, recusaram-se a aceitar os sinais evidentes dos “ventos de mudança” que pairavam, nessa altura, em todo o mundo em relação ao movimento descolonizador. Sabiam-no, mas não quiseram aceitar.
Afirma o Coronel de Artilharia Aniceto Afonso e o Coronel do exército, Calos Matos Gomes na obra editada conjuntamente e intitulada: ALCORA – O Acordo Secreto do Colonialismo - Portugal, África do Sul e Rodésia na última fase da Guerra Colonial, página 325:
“O fim da Segunda Guerra Mundial foi também o fim da Europa como centro de domínio à escala planetária. Perdida a posição de supremacia mundial ocupada durante séculos, obrigada a concentrar os esforços na sua reconstrução, a Europa em ruinas não tinha condições para manter o poder que detivera sobre vastíssimas e longínquas regiões do planeta”.
Ainda, a propósito do início do movimento descolonizador que se seguiu ao final da Segunda Guerra Mundial em todo o mundo, Maria Manuela Stocker, na obra intitulada Xeque-Mate a Goa, página 252, afirma:
“A história da queda da Índia Portuguesa é uma história da fragilidade externa crescente de um país colonial ameaçado. Uma ameaça que começa na Ásia, na periferia do império, onde uma nova soberania pôs em causa a estabilidade de fronteiras centenárias. Essa fragilidade alastrou ao resto do império, no continente africano, com a internacionalização da oposição ao colonialismo português e o desenvolvimento da contestação interna ao regime. (…)
Portugal foi chamado a iniciar o seu processo de descolonização em 1947, pela recém criada União Indiana. (…)
E continua: “O Estado Novo optou por não se envolver no processo histórico resultante da Segunda Grande Guerra Mundial, de dissolução dos antigos laços imperiais que o ligavam aos seus territórios de além – mar.”
3.º As novas gerações descobrirão que os líderes do Estado Novo, Tomás e Salazar, preferiram arrastar um país pobre para uma Guerra sem sentido e para a qual nem sequer estava preparado nem tinha os meios técnicos e humanos para a suportar. Só a disponibilidade da “carne para canhão” da sua juventude.
Tive a oportunidade de rever no início o desta semana (22.8.13) no Canal História, no programa “O Preço da História”, o Senhor General Almeida Bruno reafirmar a propósito da falta de condições de Portugal para suportar a Guerra. Disse: “O maior problema não era os homens, mas o material. O equipamento não era grande coisa, não era grande coisa”. Repetiu.
4.º Os jovens poderão descobrir, ainda, que este Monumento é um Livro de História. Se o folhearem poderão descobrir, como exemplo paradigmático como os Estado Novo tratava aqueles que serviam a Pátria, a história do Soldado Arsénio que, como tantos outros, morreu no decorrer de uma operação em combate e, se tivesse o apoio do helicóptero para o retirar da zona operacional a tempo, certamente poderia ter sobrevivido, como me afirmou o alferes seu comandante de pelotão. O Helicóptero só esteve disponível para aevacuação, quatro horas após o rebentamento da mina que lhe decepou um pé e lhe provocou vários ferimentos por todo o corpo, vindo a falecer no hospital de Luanda no dia seguinte, quatro de setembro de 1972.
E descobrirão, com surpresa e horror que nenhum responsável da Forças as Armadas teve a coragem de contactar pessoalmente a família do Soldado Arsénio para lhe anunciar a notícia da sua morte e apoiá-la naquele momento trágico. Não, nunca tiveram a coragem de dar a cara. Comunicavam a tragédia através dos CTT, cujo mensageiro da desgraça era o Carteiro.
Neste caso concreto do meu primo Arsénio, contou-me a minha tia, o carteiro não teve coragem de se dirigir diretamente aos meus tios para lhes comunicarem a notícia e pediu a uma das minhas primas para o fazer.
5.º Finalmente, as novas gerações, interrogar-se-ão, seguramente, (porque os combatentes já o fizeram e não obtiveram resposta) por que razão não foi instituída no gabinete do Presidente da República Américo Tomás um grupo responsável para levar a mensagem e estar presente junto das famílias nesse momento trágico ou junto dos gabinetes do Primeiro-ministro Salazar ou dos ministros do Ultramar ou da Defesa Nacional ou nos gabinetes dos Chefes de Estado - Maior dos três ramos das Foras Armadas - Exército, Marinha e Fora Aérea ou junto, ainda, do movimento associativo afeto ao Estado Novo e que apoiava e incentivava a nossa participação na Guerra como a Mocidade Portuguesa (quantos deles meteram cunhas para se “safarem da Guerra!) ou do Movimento Nacional Feminino ou da Legião Portuguesa ou da PIDE (tão lesta a entrar na casa das famílias para prender quem se opunha à Guerra!) ou, ainda, e talvez com mais propriedade, por que razão os responsáveis do regime não incumbiu, dessa missão dolorosa, a direção da Liga dos Combatentes?
Infelizmente, os jovens, descobrirão que os líderes do tempo dos seus pais e avós, os líderes deste sua Pátria, não foram capazes de assumirem as suas responsabilidades perante os cerca de um milhão de portugueses que participaram na Guerra, dos quais 8 mil tombaram no campo de batalha, cerca de 120 mil ficaram estropiados e , estima-se, que cerca de 100 mil ex-combatentes sofrem de “stress” pós traumático de guerra.
Foram cobardes. Nenhum deu a cara perante as famílias. Esconderam-se atrás de um funcionário dos CTT, transformando os Carteiros em mensageiros da desgraça e do infortúnio.
Se não fosse a dinâmica e a capacidade de luta dos ex-combatentes em criarem as sua próprias associações para os apoiar, nomeadamente a ADFA -Associação dos Deficientes das Foras Armadas, fundada em 1974 (há 39 anos) e a associação APOIAR , fundada em 1994, para apoiar os ex-combatentes que padecem de perturbações de stress pós traumático que adquiriram quando estiveram em combate, teriam sido literalmente abandonados à sua sorte.
O estado não foi pessoa de bem para com os seus combatentes e suas famílias. Às mães, disseram, sem escrúpulos:
- A pátria deu-te a missão de dar à luz e criar o teu filho. Nós, sacrificámo-lo no altar da pátria.
- Foi a vontade de Deus
- Deus to deu, Deus to tirou.
- Resigna-te.
- Cumpriste a tua obrigação para com a tua Pátria.
Finalizo, relembrando, ainda, o Professor António Barreto na defesa dos combatentes:
“Todos fizeram o seu esforço e ofereceram o seu sacrifício, seguindo determinações políticas superiores. As decisões foram as do Estado português.”
Referiu-se, também, à forma como, por vezes, são tratados os veteranos:
“Um antigo combatente não pode nem deve ser tratado de colonialista, fascista, democrata ou revolucionário de acordo com as conveniências ou interesses menores. Foram, simplesmente, soldados portugueses.
“ Não há antigos combatentes milicianos ou de carreira ou contratados. Há veteranos e antigos combatentes, ponto final”.
O país deve respeito aos que fizeram a guerra: Merecem que as suas associações sejam consideradas de utilidade pública. Merecem estar presentes nas cerimónias públicas oficiais. Mas, sobretudo, merecem respeito”
Viva os ex-combatentes. Viva Portugal. Obrigado