Mensagem do nosso camarada José Colaço, ex-Soldado Trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65, com data de 12 de Setembro de 2013:
ÉTICA MILITAR
Quando jovem sempre tive por hábito vestir o melhor possível muitas das vezes com sacrifício de outros bens porque nem sempre se pode ter tudo.
Desta vez o passeio teve um encontro inesperado. Em sentido contrário vinha o major Ricardo Durão com o tenente coronel, comandante do BCav 757, e mais um ou dois oficiais. Aquele encontro não era o que desejava. Fico parado, em sentido, e faço-lhe a continência com uma palada, mas o major mira-me de alto a baixo e diz-me:
- Anda aqui.
Faz-me as perguntas sacramentais: quem era eu e a que unidade pertencia.
Resposta em sentido:
- Soldado de transmissões 1162 da CCaç 557.
- Põe-te à vontade.
Começa a examinar a indumentária; os sapatos são pretos mas são civis, as calças não são de caqui e o corte não é militar, a camisa (quem está autorizado a usar camisas de nylon são os graduados). O bivaque era a única peça que ele admitia, embora não estivesse 100% a rigor devido ao tecido que era terilene e devia ser caqui.
Mandou-me seguir o meu caminho:
- Vou tratar do teu assunto com o comandante da tua companhia.
Bem o disse, melhor o fez. Passado pouco tempo fui chamado ao capitão para esclarecer o que se tinha passado, e quanto a factos não há argumentos, há que aceitar e não aparecer com tal indumentária à frente do senhor oficial.
Solução: para usar a mesma indumentária sem ser incomodado pelo dito oficial, o capitão passava-me um papelinho com autorização de trajar à civil e eu, a única coisa que tinha que fazer, era deixar o bivaque no cacifo e aí estava eu um rapaz livre a passear sem o incómodo do sentido de ter que sair porque na mesa ao lado estava o senhor oficial fulano ou sicrano.
Um abraço.
Colaço
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Nota do editor
Último poste da série de 13 DE AGOSTO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11937: Estórias avulsas (65): Manga di ronco... Uma "rapidinha" a Bafatá, para uma "patuscada"! (José Ribeiro)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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