A octogésima estória cabraliana (*) merece ser saudada, de maneira "discreta", como o alfero gosta, mas também com regozijo da parte dos inúmeros fãs da série, onde se inclui este seu "discreto" leitor.
O senhor alfero sabe quanto discretamente o admiro e anseio o lançamento do seu livro para poder ser um dos 10 primeiros, pelo menos, a ter o privilégio de uma dedicatória autografada.
Levanta o meu alfero (que eu tive a honra de conhecer em Bambadinca, nos idos tempos de 1969/71), duas questões interessantes para a história do nosso tempo, em geral, e da guerra colonial (ou do ultramar, como preferir), em particular:
(i) era possível motivar alguns militares da tropa, como o 1º sargento Candeias ou até alguns cadetes de Mafra, com o simples slogan propagandístico "há mulatas em Luanda";
(ii) naquele tempo, de impoluto patriotismo (coisa que os jovens de hoje não sabem muito bem o que é), também funcionava a "valente cunha de última hora", a avaliar pelo inesperado desfecho da situação do cadete Cabral: em vez do almejado tacho no SAM - Secretariado de Administração Militar, com direito a ar condicionado ou, no mínimo, de ventoínho de muitas rotações e garrafeira de uísque velho, puseram-no como apontador de artilharia em pleno coração da Guiné; em vez da ilha de Luanda e das mulatas angolanas, enfim mandaram-no para Fá e para as mandingas (e balantas) da Guiné...
Este último tema (o do "factor C") interessa-me particularmente, já que não tem sido devidamente abordado no nosso blogue, como deveria e eu desejaria..
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 13 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12035: Estórias cabralianas (80): As mulatas de Luanda (Jorge Cabral)
(**) Último poste da série > 19 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11955: Manuscrito(s) (Luís Graça) (9): Em honra da Lourinhã e da(s) sua(s) banda(s) filarmónica(s)
Levanta o meu alfero (que eu tive a honra de conhecer em Bambadinca, nos idos tempos de 1969/71), duas questões interessantes para a história do nosso tempo, em geral, e da guerra colonial (ou do ultramar, como preferir), em particular:
(i) era possível motivar alguns militares da tropa, como o 1º sargento Candeias ou até alguns cadetes de Mafra, com o simples slogan propagandístico "há mulatas em Luanda";
(ii) naquele tempo, de impoluto patriotismo (coisa que os jovens de hoje não sabem muito bem o que é), também funcionava a "valente cunha de última hora", a avaliar pelo inesperado desfecho da situação do cadete Cabral: em vez do almejado tacho no SAM - Secretariado de Administração Militar, com direito a ar condicionado ou, no mínimo, de ventoínho de muitas rotações e garrafeira de uísque velho, puseram-no como apontador de artilharia em pleno coração da Guiné; em vez da ilha de Luanda e das mulatas angolanas, enfim mandaram-no para Fá e para as mandingas (e balantas) da Guiné...
Este último tema (o do "factor C") interessa-me particularmente, já que não tem sido devidamente abordado no nosso blogue, como deveria e eu desejaria..
Afinal, a lei era igual para todos ou havia, como hoje, uns mais iguais do que outros ?...
Em Alcácer Quibir parece que morreu (ou ficou prisioneira dos moiros) a fina flor na Nação... Mas na Guiné a sociodemografia da guerra e da morte foi muito mais nivelada por baixo... Houve muito boa gente que se safou de ir parar ao chamado Vietname português...
Ainda ontem um amigo e conterrâneo meu, mais novo, me contava como um primo seu, mais velho, da minha geração, ficou livre da tropa (e portanto de ir parar à Guiné ou a outros sítios indesejáveis do vasto império onde havia guerra) mediante "cunha valente de última hora"...
A avó (de ambos) pagou 200 contos (o que na época dava para comprar um apartamento) para livrar o querido netinho da servidão militar... O patriota impoluto que conseguiu livrar o mancebo era nem mais nem menos do que uma das figuras gradas do regime de então, médico, militar, de muitos galões, poderoso e influente... que esteve à frente de respeitáveis instituições como o Hospital Militar Principal...
Ainda ontem um amigo e conterrâneo meu, mais novo, me contava como um primo seu, mais velho, da minha geração, ficou livre da tropa (e portanto de ir parar à Guiné ou a outros sítios indesejáveis do vasto império onde havia guerra) mediante "cunha valente de última hora"...
A avó (de ambos) pagou 200 contos (o que na época dava para comprar um apartamento) para livrar o querido netinho da servidão militar... O patriota impoluto que conseguiu livrar o mancebo era nem mais nem menos do que uma das figuras gradas do regime de então, médico, militar, de muitos galões, poderoso e influente... que esteve à frente de respeitáveis instituições como o Hospital Militar Principal...
A senhora era vizinha da tal figura grada da Nação, morava ali para os lados da Estrela, e adorava aquele netinho (filho único da sua querida filha, viúva) e tinha bagalhoça. (Pessoa de resto que eu bem conheci e a quem fiquei a dever favores, diga-se de passagem).
O menino pôde fazer a sua carreira, académica e depois profissional, tranquilamente, tendo-se em licenciado em economia e arranjado um bom emprego numa instituição bancária, enquanto os jovens da sua geração andaram a matar e a morrer em Angola, Guiné, Moçambique...
O menino pôde fazer a sua carreira, académica e depois profissional, tranquilamente, tendo-se em licenciado em economia e arranjado um bom emprego numa instituição bancária, enquanto os jovens da sua geração andaram a matar e a morrer em Angola, Guiné, Moçambique...
Claro que, também aqui, nesta história nem todos os netos são ou eram iguais...Um deles, meu amigo, e irmão do meu informante, foi parar com os costados à Guiné, tal como eu... Enfim, já naquele tempo havia netos ricos e netos pobres... E, claro, médicos militares, figuras da mais fina flor da Nação, com diferentes leituras do valor do "patriotismo impoluto"...
Ouvindo histórias aqui e acolá, vamos juntando as pontas e reconstituíndo o "puzzle":
(i) o sistema estava longe de tratar todos por igual (na escola, na tropa, na vida civil...);
(ii) a classe social também contava (e se contava!);
(iii) o "capital de relações sociais" também contava muito (o pessoal do "downstairs" que servia o pessoal do "upstairs", também tiravam partido dessa condião e, muitas das v vezes, eram as pessoas certas a quem o pobre necessitado devia meter um cunha);
(iv) os resultados dos testes psicotécnicos, por mais válidos e fiáveis que fossem (segundo as garantias dos psicólogos militares) podiam ser, nalguns casos, desvirtuados na secretaria...
Por outro lado, a sociedade portuguesa é marcada por séculos de relações clientelares... E o poder manifestava-se, também, através do favor (e da sua simbologia): "com favor não te conhecerás, sem ele não te conhecerão"...
Por outro lado, a sociedade portuguesa é marcada por séculos de relações clientelares... E o poder manifestava-se, também, através do favor (e da sua simbologia): "com favor não te conhecerás, sem ele não te conhecerão"...
Por outro lado, essas relações de poder eram assimétricas: como se diz na nossa terra, "dou um presunto a quem me der um porco"... E, em boa verdade, quem é que não estaria disposto, no nosso tempo, a dar 200 notas de conto, se as tivesse, só para se safar do alegado inferno da Guiné ? (**)
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 13 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12035: Estórias cabralianas (80): As mulatas de Luanda (Jorge Cabral)
(**) Último poste da série > 19 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11955: Manuscrito(s) (Luís Graça) (9): Em honra da Lourinhã e da(s) sua(s) banda(s) filarmónica(s)
17 comentários:
Caro Luís Graca.
Sem o "Factor C" o que restaria do nosso querido Portugal de hoje,ontem,ou... antes de ontem?
Grande abraco.
Oh Luís Graça, o factor C e o factor $,
de escudos outrora ou € de agora sempre
houve,há e haverá...ia quem não aplicava
qualquer destes factores...o $(escudo) comprava
por duzentos, quinhentos ou,pasmem os virgens, uma
ida de um por outro, mais dificil e caro certamente em oficiais...oh...
que chatice...DIZIAM...havia ainda a Pátria e o regime
de então, quem acreditasse ser um dever
e etecetera mas isso é diferente e eu,
ontem como hoje respeito. Todo o cidadão
tem o direito...
Com mais ou ments factores C $ € v^ao
que esta droga chegou...
Ab,T.
Seria interessante, pedagógico, didático, instrutivo... ver, caso a caso, terra a terra, rua a rua, quem é que não foi à tropa, no nosso tempo, ou livrou-se do ultramar, a partir da simples pergunta "Diz-me quem era o teu pai, dir-te-ei quem és"...
Ainda está por aparecer o blogue "Eu não fui otário, livrei-me da Guiné"...
é interessante que volta e meia se fala neste tema.
Por acaso no "meu tempo" até houve vários amigos meus que se "baldaram" á tropa e a seus efeitos "maléficos".Mas,não foi por meio de cunhas,porque a malta era tão pobre que as cunhas eram impossíveis.Vai daí esses meus amigos de infância deram o "pira" para França e por lá ficaram até Abril de 1974.Claro que como a malta vivia em casas camarárias os respectivos pais foram logo intimados para serem despejados das suas casas.Aí sim valeu uma cunha que tinha-mos de um EX-PADRE que lá moveu alguma influencia nas mentes de uns senhores do poder (se calhar tinham muitos pecados)e os pais dos fugitivos lá se safaram do despejo camarário.
Hoje em dia a "CUNHA"...há lá isso há...
Um abraço
Henrique Cerqueira
Obrigado Luís,pelo simpático elogio.
Já agora informo, que o Filipe da estória,filho de...foi um ano depois.
Destinado a capitão,deram-lhe uma pomada,para provocar uma doença de
pele..Baixou ao hospital e passou aos
Serviços Auxiliares..Fez a tropa no
Museu Militar. É meu amigo e claro
que não se chama Filipe...Algumas
cunhas envolviam verdadeiros crimes.Existiu um sargento enfermeiro que trocava as chapas e assim iam os tuberculosos e livraram-se os que lhe pagaram...
Abraço.
J.Cabral
Jorge:
Somos um país de brandos costumes. Ainda hoje... às vezes penso que sim. Outras vezes não: basta vert o que se passou na guerra civil de 1828/1832... Aqui, na minha 2ª terra, adoptiva, ainda se falava, com terror, da forca de Ancede... Ou do "justiceiro" do Zé do Telhado...
Um forcado (mouro ...) diria que nos faltam tomates para pegar o auroque, o touro ou o minotauro pelos cornos...
Até há 15/20 mil anos os nossos antepsssados recoletores-caçadores do vale do Côa (hoje Portugal) aprenderam a fazê-lo... Gravavam no xisto os planos de operações...
Mas hoje o povo é "manso" (em linguagem tauromática)...É "sereno", como dizia o outro, o marinheiro de águas doces... E "cá vamos andando", rindo, cantando, gemendo e chorando... A nossa raiva, sublimada, dá provocar incêndios... É isso que fizemos, novamente, este verão... Os nossos "montes" (pinhais) de Candoz costumam arder em anos de "crise"... De 1975 para cá, já aconteceu várias vezes... Há meia dúzia de anos que não ardiam, nas nossas barbas... Arderam, de 2 para 3 de setembro, este ano... E todo o mundo dormiu descansado, mesmo com um anel de fogo dantesco à nossa volta... Os helicópteros, na tarde do dia 2, ainda lá foram, cumprindo o horário da "função pública"... Foram ao rio Douro encher uns baldes e depois piraram-se para a "base" que, eles, tal como na Guiné, só trabalham com luz do sol... Os patrões já devem ter debitado a fatura á senhora ministra das finanças...
Pois é, alfero Cabral, a gente vai engolindo e enchendo o saco (estomocal)... A gente vai pondo a pedra em cima do vulcão... Mas um dia destes não dá mais... Não dá mesmo mais...
Luís Graça.
Pois então...nos finais de Maio abre a "ÉPOCA DE INCÊNDIOS" como se tratasse da época de caça.Os telejornais publicitam essa "abertura" . Durante a "caça" desculpa queria dizer incêndios,as notícias são quase sempre propícias a motivar algumas mentes mais fracas a praticar o fogo posto.
Pergunto??? - Será que há "valores" que se levantam mais alto?( do que os bens e vidas humanas que se perdem?).Que diabo em jovem ia sempre passar férias para o campo e as matas raramente se incendiavam.Na Guiné com o capim altíssimo e seco raramente se incendiava o que a acontecer como acontece cá nas "ÉPOCAS " de incêndios até dava um certo jeito á tropa não???
Porra Luís essa "gente" ainda não viu aquilo que até um cego vê ?
Desculpa lá Luís mas andaste a mexer no " vulcão" e a "lava" começou a transbordar.
Abraços
Henrique Cerqueira
"Raiva sublimada",vulcöes,"lava a transbordar"...falaräo os meus Amigos e Camaradas do mesmo Portugal que deixei há mais de 35 anos?
Entäo,alguem cantava:"O que faz falta é avisar a malta".
Aparentemente a malta näo apreciou tanto aviso e rapidamente os "abafou".
Hoje em dia, as eleicöes seräo mais ou menos livres. Os votos contam-se.
Continuaräo os resultados a ser as tais "pedras colocadas sobre vulcöes"?
Mas pode-se dormir descansado.
Se as tais pedras acabarem depressa nos enviam muitas mais desde a Uniäo Europeia.
Um grande abraco aos Amigos.
Depois de regressar e organizar a minha vida, participei como formador num Curso de noivos.
Um dos participantes de 24 anos, filho de gente com maçaroca,queria tirar a carta, pois tinha carro e conduzia sem tal documento e queria casar, mas não podia, porquanto tinha "uma doença grave" que o "obrigava" a passar oito dias por ano no hospital militar sem nunca lá ter entrado, num esquema montado pelo seu pai. Pela mesma razão tinha deixado de estudar.
Era filho único e namorava para uma catraia de se lhe tirar o chapéu.
Andava depressivo, desorientado, enfim!
Pôs.me a questão e eu desafiei-o a olhar o pai olhos nos olhos e a desafiá-lo a desmontar o esquema. A discussão parece que foi dura e uns dias depois o pai disse-lhe zangado - Se assim o queres, assim o terás e foi ter com um tal sargento para desmontar a tramóia.
ò diabo! terá dito este - Agora preciso de outro tanto para desmontar tudo o que foi feito e continuou a "sacar" durante uns tempos.
Parece que havia um desgraçado esse sim com problemas de saúde graves que baixava ao Hospital de vez em quando.
Em consequência da mudança de atitude paternalista o meu amigo desta vez ficou uns dias no Hospital e deu-se o "milagre" de sair curado e apurado para todo o serviço.
Tirou a carta, casou e na primeira incorporação que se seguiu foi parar a Mafra. Entretanto deu-se o 25 de Abril e ele fez o tempo regulamentar de serviço militar.
consituiu uma família simpática com quem convivi vários anos. As vicissitudes do tempo afastaram-nos e hoje não sei por onde anda.
Passados estes anos surge à memória, ao ler este poster. É maisu ma acha para esta "fogueira"
Zé Teixeira
Caros camaradas
Esta questão das 'cunhas' é velha e relha, como se dizia.
Julgo lembrar-me de um artigo que li, faz bastante tempo, do Miguel Esteves Cardoso, que abordava com a sua habitual ironia essa questão da 'corrupçãozinha', tratando-a como uma atitude 'quase institucional', uma questão 'cultural', de 'identidade'.
Pois, relativamente à questão da cunha para a 'não ida à guerra', soube-se muita coisa, ouviu-se dizer muita coisa e até mesmo se viu muita coisa.
Hoje em dia isso já não resolve nada. Ou melhor, não altera nada,
mas pode ter o mérito de ajudar alguns esforçados patrioteiros a verem mais claro (se quiserem ver, se conseguirem)a falsidade de muitas das suas atitudes e até de comentários inqualificáveis que por vezes vão surgindo.
Abraços
Hélder S.
Joaquim L. Fernandes
Caros camaradas
Este tema da cunha dava pano para mangas. Evitarei os exemplos que conheci e ficarei com uma breve reflexão; Não serão a cunha e a corrupção irmãs gêmeas, filhas de uma cultura egocêntrica que tem contribuído para delapidar os valores morais de uma Nação?
Foi assim no nosso tempo de tropa, continuou pelo tempo fora, ganhou evidência crescente ao ponto de por vezes ser aceite socialmente como a normalidade. Só que entretanto tem vindo a desgraçar o País, a vida de muitos de nós e a comprometer o futuro de muitos mais.
Só nos resta lutar por um mundo novo e melhor e acreditar numa regeneração possível, que há-de emergir das cinzas. Assim façamos nós o que nos compete: Dizer não a essa cultura egocêntrica, por palavras e por atos. Ser fraternos, solidários e respeitadores dos legítimos direitos de todos.
A luta começa em nós, reeducando-nos para sermos melhores.
Um abraço fraterno
J.L.F.
Vale a pena ler. comentar e divulgar...Excertos do "Expresso, de 9/7/2013. LG
_________________
A importância da "cunha"
Os cidadãos desconfiam da administração pública, dos Governos e até das associações cívicas. Mas...
Carolina Reis
5:00 Terça feira, 9 de julho de 2013
(...) Em cada dez portugueses há oito que acreditam que a corrupção aumentou nos últimos dois anos, revela o Barómetro Global da Corrupção, feito pela associação cívica Transparência e Integridade.
A sondagem, realizada em 107 países, mostra que 78% dos portugueses considera que a corrupção piorou desde 2010. Já 70% dizem que é um problema "sério ou muito sério" no setor público.
Esta desconfiança dos cidadãos atinge também os governantes, com 53% a defender que o Governo está nas mãos de um pequeno conjunto de grupos económicos. Para os portugueses, há o risco de as decisões políticas serem tomadas em nome desses mesmos interesses.
Os números da sondagem revelam, contudo, que os portugueses são dos mais comedidos sobre a captura dos executivos por grupos económicos. O Chipre (90%), a Grécia (83%) e Espanha (66%) apresentaram níveis de desconfiança muito mais elevados.
(...) Questionados se nos últimos 12 meses pagaram um suborno, ou se têm conhecimento que alguém do seu agregado familiar o tenha feito, apenas 3% admite que sim.
Portugal é, assim, o terceiro país da União Euroepia onde menos se reconhece o uso de "luvas". Porém, quando existem, é para a obtenção de serviços, sendo as áreas responsáveis por registos prediais, civis e a obtenção de licenças e alvarás, as mais susceptíveis.
Apesar deste tipo de suborno (para garantir acesso a bens e serviços que os cidadãos têm direito) ser mais frequente em países a passar por uma transição democrática, o fenómeno tem crescido nas democracias consolidadas.
(...) Os portugueses reconhecem (60%), no entanto, a importância dos contatos pessoais para obter serviços, resultados ou acelerar procedimentos na administração pública.
Quando se trata de combater a corrupção, 80% estão disponíveis a denunciar casos, contudo, 42% considera que a justiça não protege de represálias quem faz as denúncias ou colabora com as autoridades.
O combate à corrupção também é avaliado negativamente pelos portugueses. 76% diz que o combate, feito através de ações do Governo, é ineficaz.
Mesmo assim, a maioria (85%) acredita que o envolvimento dos cidadãos é fundamental para combater a corrupção, porém preferem fazê-lo de forma isolada do que envolvidos com instituições, o que revela também uma descrença nos organismos não governamentais.
Em vez de aderir a uma organização, 81% preferem assinar uma petição online, 59% acham que é necessária uma manifestação, 61% estão disponíveis a boicotar a compra de produtos e 54% acham que a solução passa pelo "passa a palavra" nas redes sociais. Apenas 40% estão disponíveis para se juntar a uma associação. (...)
Ler mais: http://expresso.sapo.pt/a-importancia-da-cunha=f819070#ixzz2f1UxCNj7
Quem foi à guerra ? Muitos filhoa família ter-se-ão safado, pelas boas relações doa pais com o regime... Não me lembro, na Guiné, de grandes nomes sonantes... Um sobrinho ou outro: Champalimaud, Spínola...
Costumam citar-se dois exemplos, como exceção, o filho do deputado Casal-Ribeiro e o filho do ministro do interior Rapazote... Se calhar houve mais, havia gente afeta ao regime com valores, coerente, etc. Repesquei na Net um comentário no blogue O Arrastão, a um poste de Daniel Oliveira, de 16/3/2011 ( 16 de março de 2011: O bom aluno do Estado Novo). LG
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Comentário:
Alexandre Carvalho da Silveira
Apesar de tudo, na ditadura houve filhos de pilares do regime que não se negaram à guerra. Dois exemplos: José Maria Casal-Ribeiro, morreu em combate em Angola, sendo o seu pai uma das figuras importantes do estado novo. Sá Carneiro demitiu-se de deputado da "Ala Liberal", depois de uma violenta discussão com o deputado Casal-Ribeiro na então Assembleia Nacional, se bem me lembro exactamente a proposito da guerra do ultramar.
O outro exemplo é Alfredo Rapazote, filho de Gonçalves Rapazote ministro do Interior de Marcello Caetano, que felizmente regressou vivo da Guiné, onde passou a comissão praticamente sempre em zona operacional. Estes dois exemplos foram exepções, mas houve mais.
http://arrastao.org/2203595.html?thread=44674251
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PS - Lembro-me bem, em 1968, da notícia da morte do tenente fuzileiro José Maria do Casal-Ribeiro Carvalho, em Angola. Não sei em que circunstâncias, mas foi em combate.
... a título de esclarecimento:
José Maria do Casal Ribeiro de Carvalho (nascido em 17Ago43), não era fuzileiro: era alferes, piloto-aviador.
Em 1968 estava colocado em Luanda na esquadrilha de helis da BA9: no dia 7 de Maio, quando tripulava o AL-III 9292, acompanhado pelo 1Cb MMA António Pinho Brandão, ao sobrevoar a Serra do Cazunho embateu inadvertidamente no arvoredo e em seguida o aparelho despenhou-se, causando a morte dos ocupantes.
Paz às suas Almas.
O Zé Maria era casado com Maria Teresa Martins Santos Silva, e deixou orfãos o José Maria (nascido em 1966), e o Bruno (nascido em 1967).
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... m/errata: onde se lê 17Ago43, leia-se 07Ago43.
Adenda: o Especialista da FAP, que tb faleceu naquele acidente aeronáutico, era natural de Bolama (filho do conhecido proprietário Brandão).
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Cpts,
Abreu dos Santos
Os portugueses só fomos quem fomos por sermos quem somos.
Se não fossemos assim seriamos como uns bascos ou uns catalães ou uns galegos que têm 2 línguas, a deles próprios e o castelhano.
Isso é bom? é mau?
Para nós o político ou presidente de clube com mais valor, é aquele que nenhum tribunal consegue mandar prender.
Olá Camaradas!
Hoje temos uma dicotomia entre o "impoluto patriotismo" e o "factor C".
O factor C implicava sempre a intervenção de alguém com influência para determinar a cunha, e o favorecimento de alguém, mesmo que para lá se chegar, se recorresse aos serviços internediários de um qualquer personagem com vaga "influência" sobre o influente. Até podia ser uma serviçal, um parente, um amigo, ou motivado pela vaga sensação de obter uma contrapartida.
Um dos capitães que passou pela minha Companhia, era ainda jovem, bem constituído, aparentava saúde, e adivinhava-se-lhe uma brilhante carreira militar, na senda da carreira di pai, oficial-médico.
Casado e com uma filhinha, as saudades deviam constituir a maior dificuldade na Guiné.
Um dia, sem aviso-prévio, ou indicio, ausentou-se de Piche, e foi evacuado para a metropole.
Obviamente, não me atrevo a inventar que teve que pagar 200 contos para obter uma doença súbita de tamanha gravidade, mas se tivesse que pagar, com aquela patente, os 200 contos seriam suficientes?
A verdade é que o tal médico que aqui foi citado por ter recebido tal maquia, deve ter tido oportunidade de folgar na despesa pessoal, em correspondência com a dignidade que o salário talvez não abrangesse. E esses influentes, por norma, são pessoas de recato, impolutos patriotas, susceptíveis de serem apontados como exemplos a seguir.
Ontem como hoje, são tantos a ambicionar viver com folga na carteira (quando não no offshore).
Abraços fraternos
JD
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