Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 28 de agosto de 2013 > Um quivi, ainda verde...Um fruto de origem chinese cuja cutura se expandiu pelo continente australiano, América e depois pela Europa e, mais recentemente, por Portugal e a região de Entre Douro e Minho... Uma nódoa na paisagem, como o eucalipto e tantas outras plantas exóticas e infestantes (, mas também coisas, ideias, usos, costumes, etc.).
Foto: © Luís Graça (2013). Todos os direitos reservados.
No melhor pano cai a nódoa
por Luís Graça
No melhor pano cai a nódoa, diz o povo.
Ou dizem que diz o povo.
Pergunto: com razão ?
Opto pela dúvida metódica.
Não sei se cai mesmo,
a nódoa no pano.
E afinal o que é que cai ?
E onde ?
A nódoa ou o pano ?
A nódoa no pano ou o pano na nódoa ?
Ou melhor, reformulando a questão:
é a nódoa que cai no pano
ou é o pano que cai na nódoa ?
O pano pode ser voador
como o tapete mágico
das mil e uma noites.
E até provocar um orgasmo de múltiplas nódoas.
E a nódoa, por seu turno,
pode estar ali,
especada,
emboscada,
traiçoeira,
oportunista,
como uma flor carnívora
à espera da sua vítima,
como a orquídea-abelha
à espera do zangão
para ser fecundada.
Pergunto:
será o pano fêmea
e a nódoa macho ?
Se sim, porque dizes o pano, a nódoa ?
Tu, que és pano,
não sei porque deverias ser
estático,
passivo,
objeto,
recetáculo.
Tu, que és nódoa,
terias que ser dinâmica,
proactiva,
sujeito,
vetor ?
Em boa verdade,
não sei mesmo se a nódoa cai,
como a a mação de Newton
por força da gravidade
ou por via do pecado original.
E muito menos se cai no pano.
E logo no melhor pano.
Além disso, por que é que no melhor pano
haveria de cair a pior nódoa ?
Ou por que é que no pior pano
não pode cair também a melhor nódoa ?
Na seda mais fina é que a nódoa pega,
há também quem o diga e ajuramente.
O que vale é que
a nódoa que põe a amora.
com outra, verde, se tira.
Eu prefiro a bosta de abril
que tira manchas mil.
Mas cuidado com os meses,
que a nódoa de janeiro
não a tira o ano inteiro.
E depois há nódoas e nódoas:
nem toda a água do mar
pode certas nódoas tirar.
E, abrenúncio!,
nódoa de gordura
é alma que cai no inferno.
A conclusão que eu tiro
é que não há pano sem nódoa,
não há nódoa sem pano,
não há ponto sem nó.
____________
Nota do editor:
Último poste da série > Guiné 63/74 - P12040: Manuscrito(s) (Luís Graça) (10): O dever de servir a Pátria... Éramos todos iguais, mas uns mais do que outros
a nódoa no pano.
E afinal o que é que cai ?
E onde ?
A nódoa ou o pano ?
A nódoa no pano ou o pano na nódoa ?
Ou melhor, reformulando a questão:
é a nódoa que cai no pano
ou é o pano que cai na nódoa ?
O pano pode ser voador
como o tapete mágico
das mil e uma noites.
E até provocar um orgasmo de múltiplas nódoas.
E a nódoa, por seu turno,
pode estar ali,
especada,
emboscada,
traiçoeira,
oportunista,
como uma flor carnívora
à espera da sua vítima,
como a orquídea-abelha
à espera do zangão
para ser fecundada.
Pergunto:
será o pano fêmea
e a nódoa macho ?
Se sim, porque dizes o pano, a nódoa ?
Tu, que és pano,
não sei porque deverias ser
estático,
passivo,
objeto,
recetáculo.
Tu, que és nódoa,
terias que ser dinâmica,
proactiva,
sujeito,
vetor ?
Em boa verdade,
não sei mesmo se a nódoa cai,
como a a mação de Newton
por força da gravidade
ou por via do pecado original.
E muito menos se cai no pano.
E logo no melhor pano.
Além disso, por que é que no melhor pano
haveria de cair a pior nódoa ?
Ou por que é que no pior pano
não pode cair também a melhor nódoa ?
Na seda mais fina é que a nódoa pega,
há também quem o diga e ajuramente.
O que vale é que
a nódoa que põe a amora.
com outra, verde, se tira.
Eu prefiro a bosta de abril
que tira manchas mil.
Mas cuidado com os meses,
que a nódoa de janeiro
não a tira o ano inteiro.
E depois há nódoas e nódoas:
nem toda a água do mar
pode certas nódoas tirar.
E, abrenúncio!,
nódoa de gordura
é alma que cai no inferno.
A conclusão que eu tiro
é que não há pano sem nódoa,
não há nódoa sem pano,
não há ponto sem nó.
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Nota do editor:
Último poste da série > Guiné 63/74 - P12040: Manuscrito(s) (Luís Graça) (10): O dever de servir a Pátria... Éramos todos iguais, mas uns mais do que outros
4 comentários:
Não sou "xenófobo", nem "sinófobo"... Muitas outras coisas boas nos vieram da China (... tirando o "livrinho vermelho")... Por exemplo, o arroz, a videira, o papel... Já o desgraçado do eucalipto é praga australiana... Infelizmente, a eucaliptização de Portugal está em marcha, agora que a florestação é livre!... Por que as celuloses são quem mais ordenam...
Enfim, é apenas um comentário, feito com sorriso amarelo, à legenda da foto... Felizmente que em Candoz só temos dois ou três pés de quivis, p'ra mostrar ao turista...Em contrapartida, temos dois belos sobreiros (!), além de bastantes carvalhos e castanheiros... O resto é vinha de socalco que o engenheiro e enólogo Augusto Soares (e em dias de festa, tocador de acordeão) trata com esmero, saber, sabedoria, paciência e paixão... Vai ser a primeira vindima já este fim de semana, e eu não posso ir!... Ainda vim de lá a 10 do corrente... 400 km me separam de Candoz...
Joaquim L. Fernandes
Caro camarada Luís Graça
Belo e oportuno texto poético.
Poderia seguir a via da reflexão sobre as questões ambientais e ecológicas, mas prefiro recentrar-me na realidade humana, na "matéria" de que somos feitos.
Diz-me o poema, que somos (os humanos) santos e pecadores, portadores de grandezas e debilidades, com grande capacidade de amar, mas carentes de ser amados. Não é um drama. Somos assim.
Um abraço com amizade
J,L,F.
Explicação do Dicionário Priberam da Língua Portuguesa:
(...) No melhor pano cai a nódoa: Expressão que indica que até mesmo algo ou alguém tido como perfeito, infalível apresenta falhas. (...)
http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.aspx?pal=panos
Às vezes, a expressão é usada, de maneira sarcástica e até cruel, contra aqueles de nós que são tidos como "santos", "exemplos", "líderes"... É usada pelos "pecadores", claro... Pode ser uma expressão de gente "ressaibiada" contra a fina flor da Nação, os melhores, ops excelsos, os príncipes encantados, os bem-sucedidos, os ricos, os filhos-família, a nata, o escol...
Cuidado com a sua ambivalência, segundo sentido, ironia... É sabido que o Zé Povinho é um "ressaibiado", ingrato, vilão, invejoso, manhoso, desleal, sabujo, xico-esperto...
Todas as nódoas desaparecem? Ou algumas são eternas?
Abraço. J.Cabral
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