1. Em mensagem do dia 8 de Setembro de 2013, o nosso camarada Tony Borié (ex-1.º Cabo Operador Cripto do Cmd Agru 16, Mansoa, 1964/66), enviou-nos a continuação da narrativa da sua viagem/aventura de férias, num percurso de 7000 milhas (sensivelmente 11.265 quilómetros) através dos Estados Unidos da América, na companhia de sua esposa.
7000 milhas através dos USA - 4
Ainda se lembram onde parámos no último dia?
Eu vou lembrar.
Foi na cidade de Hays, no estado de Kansas.
Bem, companheiros de “Jornada”, cá vai o resumo do quarto dia
Sim, dormimos na cidade de Hays, no estado do Kansas, que dizem que é a maior cidade no norte-oeste do estado de Kansas, é um centro económico e cultural da região e é a casa da “Fort Hays State University”, que tem uma população que anda à volta de 20.500 pessoas. Pelo menos para nós é acolhedora, comemos o menu típico do Kansas, que para quem não sabe, existem muitas “smokehouses”, que servem algumas variedades de bife ou costelas de búfalo, e até mesmo uma espécie de enchidos, frescos, que são assados num grande “braseiro”. A ementa é à base de carne, alguma curtida, tudo acompanhado com cerveja, alguma local, que é uma espécie de vinho branco, sem muito álcool. O molho, ou seja o tempero na comida, depende da zona onde se pára, pois pode ser de origem russa, polaca, irlandesa, alemã, sueca, mexicana, italiana, ou até mesmo da grã-bretanha, pois algum desse molho, até leva mel e passas de uvas. Alguém nos aconselhou, que não interessava o aspecto do restaurante, o importante era o número de carros ou camiões estacionados à porta, e foi o que fizemos e não ficámos com razão de queixa, também dormimos bem.
Continuando, e desculpem lá a linguagem, “fizemo-nos” de novo à estrada número 70 que depois longas rectas, com a paisagem já conhecida, de pastagens, poços de petróleo com bombas em funcionamento, moinhos de energia, estábulos, alguns abandonados, aqui e ali algumas quintas, onde havia sempre um letreiro em letras muito grandes, mas muito mal desenhadas, dizendo que era o maior “Rancho”, ou a maior “Pedraria” do mundo, com uns milhares de hectares, onde se podia caçar coelhos, lebres e outras qualidades de animais selvagens, assim como faisões, codernizes, perus, galinhas bravas, e muitas outras aves.
Chegámos e cruzamos a fronteira com o Colorado, que está localizado nas montanhas rochosas, parte do seu terreno, pelo menos na parte oeste é acidentado, cheio de montanhas e recebe uma grande precipitação de neve durante o inverno, terreno muito propício para a criação de grandes “resorts” de esqui, como a internacionalmente conhecida “Aspen”.
O nome Colorado, foi dado pelos exploradores espanhóis que deram o nome ao rio que atravessa muito do actual estado de Colorado, por causa do terreno vermelho onde o rio está situado.
Visitámos o centro de boas-vindas, que tem um museu bastante atractivo com motivos do oeste americano que frequentemente se vê nos filmes de Hollywood, tomámos conhecimento da rota que deveríamos seguir, onde existem as melhores estradas, e os locais com maior beleza, o nosso objectivo era ver a cordilheira de montanhas, que se prolonga por umas centenas de milhas de norte para sul, para o lado de lá da cidade de Denver, que os nossos antepassados, se viram aflitos para cruzar e seguir em direcão à Califórnia.
Chegámos a Denver, aquele Denver de terra plana de um lado e montanhas do outro, aquele Denver cantado em baladas de cowboys, aquele Denver, onde tem locais de sonho, com casas lindas e jardins tratados, na encosta da montanha, e na parte baixa, junto de grandes edifícios, ruas sem tráfego automóvel, só
abertas a pessoas para caminhar, com estabelecimentos de modas e restaurantes “chiques”, tudo muito limpinho, as pessoas transportando sacas de compras na mão, com nomes de botiques famosas, mas em outros locais parecidos com o inferno, se é que se pode chamar inferno, a locais com pouca limpeza, casas, algumas deterioradas onde passam estradas rápidas sobre pontes, e debaixo dessas pontes, algumas pessoas dormem, e talvez até habitem. Outras estão junto dos cruzamentos, perto dos semáforos, empurrando aqueles carrinhos das compras do supermercado, onde talvez transportem todos os seus bens, toda a sua fortuna, onde nunca falta um saco de plástico com dezenas de latas vazias de refrigerantes, ou qualquer outro líquido, roupas, sapatos, botas ou chinelas, largas e algumas rotas e sujas, com a face coberta por cabelo de meses. Fazem sinal aos carros, estendendo a mão, dizendo que são “pessoas sem abrigo”, enfim, aquele aspecto que sempre se vê nos subúrbios das grandes metrópoles, mas a impressão final foi de que é uma cidade agradável e sempre em movimento, uma espécie de posto avançado, talvez onde as pessoas esperam antes de atravessar a cordilheira de montanhas e ir para o outro lado, na esperança de ver o oceano Pacífico.
Seguimos para norte pela estrada número 25, e umas milhas à frente, desviámo-nos para oeste, para as montanhas, pois o nosso destino era o “Rock Mountain National Park”. Este parque é parte do “Continental Divide”, em outras palavras, dá uma grande extensão de terreno ao leste e outra ao oeste. Na parte leste, o
parque é seco e tem cumes com gelo quase todo ano, na parte do oeste, tem água, ribeiros, lagos, vegetação e floresta. Tem 359 milhas de carreiros famosos onde se pode caminhar, 150 lagos, 450 milhas de ribeiros caindo da montanha, tem 72 picos, ou seja locais com nome, com mais de 12.000 pés de altura, sendo o seu ponto mais alto com 14.259 pés, (4.346 metros), que se chama Long Peak.
É o local de preferência de muitos atletas, campeões olímpicos, que aqui se preparam, também local de lazer de pessoas com boa situação financeira, que possuem casas em locais, que o Tony nunca imaginou que pudesse haver construção, como em ravinas, cimo de montes, vales e em outros locais que são autênticos precipícios!
Um familiar nosso sempre fez referência para visitarmos, neste parque, uma parte que se designa por “Estes Park”, que é uma pequena vila, na encosta de uma montanha, com um grande lago, casas pequenas e acolhedoras, estabelecimentos de modas e outras coisas para quem viaja, tudo muito limpinho, guardas florestais fazendo patrulha a toda a hora, onde está situado o famoso hotel “Stanley”, mesmo na encosta da montanha, sim o hotel “Stanley” dos filmes de Hollywood, onde actores famosos actuaram, como por exemplo: Jim Carrey e Jeff Daniels, no filme “Dumb and Dumber”.
Este hotel foi construído e começou a operar em 1909, onde passaram nomes famosos, como a sobrevivente do desastre do “Titanic”, Margaret Brown, o músico John Philip Sousa, autor da marcha oficial dos Estados Unidos, que é “The Stars and Stripes
Forever”, descendente de emigrantes portugueses, pois seu pai era português, mais propriamente oriundo dos Açores, o presidente Theodore Rosevelt, o imperador do Japão e muitas personalidades de Hollywood.
Contam que este hotel tem uma maldição, e que de noite aparecem pessoas já mortas há muitos anos, por isso este hotel foi o tema do filme “The Shining”, com os actores Jack Nicholson e Shelley Duval. O Tony dormiu nele, no quarto 213, quase junto ao quarto 217, onde foi baseada a história do filme, dizem que aparecem vozes e pessoas já mortas há muitos anos, a caminhar nos corredores, nuas ou com roupa aos farrapos, durante a noite, mas ao Tony e à sua companheira e esposa, nada apareceu.
Estava um pouco excitado, mas devia de ser de duas cervejas que tinha bebido no bar do hotel!
Também percorreram parte do parque, caminharam algumas distâncias, viram alguns animais e aves exóticas, cascatas de água pura vinda da montanha, trilhos que atravessavam pequenos ribeiros, onde ainda se podia beber a água, e fizeram um pic- nic, junto de um lago.
Tony Borie, Agosto de 2013.
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Nota do editor
Último poste da série de 7 DE SETEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12014: Os nosssos seres, saberes e lazeres (55): Passagens da sua vida - 7000 milhas através dos Estados Unidos da América (3) (Tony Borié)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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