quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22469: Blogues da nossa blogosfera (162): Um modelo de comparação - Um piropo dirigido ao Cap PilAv Miguel Pessoa, publicado no Blogue da Tabanca do Centro


Com a devida vénia ao nosso camarada Miguel Pessoa (Coronel PilAv Ref, ex-Capitão PilAv da BA 12 - Bissalanca, 1972/74) e ao Blogue da Tabanca do Centro, reproduzimos o Poste 1306, ali publicado, onde o Miguel, Oficial do Quadro Permanente da Força Aérea Portuguesa, se confessa lisongeado por um "piropo" que lhe foi dirigido por um militar daquele Ramo das Nossas Forças Armadas, quando o equiparou, pelo seu relacionamento e camaradagem, a um Oficial Miliciano.

Também ficamos a saber que o então nosso Tenente Piloto Aviador Miguel Pessoa ainda foi Capitão nos últimos 8 meses da sua comissão de serviço na Guiné.


UM MODELO DE COMPARAÇÃO

UM PIROPO...

Na Guiné, como “piloto da caça”, no dia-a-dia o meu relacionamento com o pessoal da linha da frente dos Fiat G-91 era algo reduzido, limitando-se ao período imediatamente antes do voo e após este, o que não se prestava a um conhecimento profundo do pessoal que nos apoiava. Talvez o facto de ser um oficial do quadro habituado a alguma reserva no relacionamento hierárquico tenha contribuído também para esse distanciamento.

Por outro lado, o ambiente na Esquadra dos AL-III era algo diferente, dada a coesão naturalmente desenvolvida entre a tripulação – pilotos, mecânicos de bordo, atiradores do heli-canhão e as enfermeiras paraquedistas, que complementavam a tripulação nas missões de evacuação.

Embora com as limitações decorrentes desse maior isolamento, os meus contactos no decorrer das missões foram proporcionando um maior conhecimento do pessoal da linha da frente, o que acabou por permitir uma maior aproximação aos mesmos fora das horas de serviço.

Lembro-me de, a convite de um deles, ter assistido a várias sessões de ensaio de uma “banda de garagem” constituída por mecânicos da FAP, e de em outras ocasiões ter participado em alguns convívios por eles organizados.

Como ponto forte deste tempo relembro a recepção que me foi feita à chegada à Base de Bissalanca, no regresso do hospital, comemorando o excelente trabalho desenvolvido por todos na minha recuperação na sequência do abate do meu avião.

Esse relacionamento mais informal que se foi desenvolvendo ao longo da minha comissão permitiu-me uma maior integração e aceitação no grupo, de tal modo que um dia recebi de um deles um piropo que terá constituído para o próprio a melhor apreciação que ele poderia fazer da minha pessoa:
- “O Senhor Capitão(*) é um tipo porreiro! Até parece miliciano!...”


Miguel Pessoa

(*) - Embora em todas as minhas histórias da Guiné se fale sempre do Tenente Pessoa, a verdade é que os últimos oito meses da minha comissão os passei como Capitão, no período entre Novembro de 1973 e Agosto de 1974...

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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22434: Blogues da nossa blogosfera (161): PANHARD - Esquadrão de Bula (Guiné, 1963/1974) (5): Garraiada na Monumental Arena do Real Solar Esquadrão - 1972 (José Ramos, ex-1.º Cabo Condutor de Panhard AML do EREC 3432)

Guiné 61/74 - P22468: Fotos à procura de... uma legenda (154): A imagem da capa do livro de Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África" (Guerra e Paz Editores, 2021)

 
Pormenor da imagem, reduzida a preto e branco, da capa do livro de Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África: Angola, Guiné, Moçambique; mortos, feridos, armas e combates, custos, desertores". Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp.). (Com a devida vénia ao autor e editora...).


1. Comentários aos poste P22463 (*)

 
(i) Valdemar Queiroz:

Que me desculpe Pedro Marquês de Sousa, ilustre autor deste livro.

A imagem da capa do livro parece ser em instrução, "prá fotografia", ou não sendo, a escolha da fotografia para capa é de escolha propositada para demonstrar o que nunca se deveria fazer e evitar mortos entre os próprios militares (?).

Naquela estrada de campo aberto e plano, a coluna só podia ter sido atacada de um dos lados, por isso a NT só deveria estar do lado do ataque e não dos dois lados da estrada. Nem o IN e muito menos a NT queria ser atingida pelo seu próprio fogo. (**)

17 de agosto de 2021 às 23:32

(ii)  Tabanca Grande Luís Graça:

O Valdemar "não brinca em serviço", esta sempre no seu "posto de observação" e tem um "olho clínico" como poucos... Esta sempre atento ao pequeno erro ou lapso que escapa ao comum dos leitores.

Não sei de quem é a responsabilidade da escolha da capa. Muitas vezes é tarefa que o autor declina à editora...

O autor, que eu saúdo, não tem felizmente idade para ter andado nas "guerras de África"... Esta imagem não passa de uma encenação... O fotógrafo está em cima de um veículo... O que se vê ao fundo é uma autometralhadora ligeira Fox, com dois militares, o condutor e o apontador,  "de peito feito as balas"... Os "infantes" (tropa metropolitana e africana) "fingem" tomar posição na berma da picada, de um lado e do outro... Parece ser uma foto de Angola, tirada "na reinação" para o pessoal mandar às namoradas...

É a minha primeira leitura, feita às 5 da manhã, no "escritório" do WC...

18 de agosto de 2021 às 05:11

 (iii) Valdemar Queiroz: 

Luís, o mais certo é ser uma "reinação".

Mas, o tema do "Os Números da Guerra de África" é um assunto muito sério e quem ver a capa e não tenha sido periquito ao papagaio sabichão fica alarmado com um 'coitados, assim caiam que nem tordos'. Calhando até foi esta a ideia da capa.

A propósito daquele capim, numa operação com dois pelotões da minha CART 11, tivemos de caminhar em fila pelo meio do capim por um carreiro, que os nossos soldados fulas conseguiram descobrir só possível em tempo de seca. Não me lembro porquê, deixe de ver o pessoal que vinha atrás de mim e fiquei uns segundos à espera, depois nem os de trás apareciam nem conseguia ver os da frente. Fiquei perdido meia dúzia de segundos, meia dúzia de aflitivos segundos.

18 de agosto de 2021 às 13:09


 Capa do livro do tenente-coronel Pedro Marquês de Sousa, "Os números da guerra de África: Angola, Guiné, Moçambique; mortos, feridos, armas e combates, custos, desertores". Lisboa: Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp. Disponível nas livrarias a partir de 24 do corrente. (*)
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Notas do editor:

(**) Último poste da série > 24 de julho de 2021  > Guiné 61/74 - P22399: Fotos à procura de... uma legenda (146): Uma vez por todas, não havia nem há "jacarés" na Guiné-Bissau, mas "crocodilos" (e outros répteis)

Guiné 61/74 - P22467: Parabéns a você (1984): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)

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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22464: Parabéns a você (1984): Maria Alice Carneiro, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do nosso Editor Luís Graça

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22466: Agenda cultural (781): O livro da autoria do nosso camarada Carlos Silva, "Os Roncos de Farim", foi apresentado no dia 14 de Agosto no habitual convívio da Tabanca dos Melros

1. Mensagem do nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71) com data de 17 de Agosto de 2021:

Amigos Luís e Vinhal
O lançamento do livro "Os Roncos de Farim" no passado sábado na Tabanca dos Melros foi um êxito, pois estiveram talvez mais de 50 pessoas, amigos, camaradas e familiares, seguido do almoço convívio como é costume ao 2º sábado de cada mês.
Acompanhara-me na mesa o Dr. José Manuel Pavão que falou sobre os combatentes e sobre o congresso a realizar em Bissau entre combatentes.
O Sr. Mário Brito representante da editora 5Livros que também proferiu algumas palavras sobre o livro e sobre a editora.

O livro está esgotado, mas já pedi uma reedição e no futuro será comercializado através de plataformas.

Abraço
Carlos Silva


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Nota do editor

Vd. poste de 5 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22435: Agenda cutural (778): "Os Roncos de Farim", de Carlos Silva (Porto, 5 Livros, 2021): lançamento do livro, na Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gondomar, no próximo dia 14, sábado

Último poste da série de 17 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22463: Agenda cultural (780): lançamento oficial no dia 9 de setembro, em Lisboa, Palácio da Independência: "Os Números da Guerra de África", de Pedro Marquês de Sousa (Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp.)

Guiné 61/74 - P22465: Historiografia da presença portuguesa em África (276): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (13) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Dezembro de 2020:

Queridos amigos,
Pareceu-me da maior utilidade complementar as Actas das sessões do período fundador da Sociedade de Geografia, onde pontificou Luciano Cordeiro, seu primeiro secretário perpétuo, com leituras complementares. Este é o segundo trabalho editado pela própria Sociedade, é referente aos 75 anos de atividade, obviamente que nos cingimos ao período que vai até 1900. Seguir-se-á uma interessante dissertação de mestrado que foi apresentada na Faculdade de Ciências e Tecnologia por José Manuel da Silva Veríssimo. Ele dirá que "A Sociedade de Geografia de Lisboa é a referência incontornável para o estudo aprofundado das relações e da conjugação entre Ciência, Tecnologia e Império". Esta conjugação de curiosidades científicas, de interesse e de conjuntura, estabeleceu-se entre 1875 e 1926. O leitor ficará assim com um leque abrangente de interpretações sobre o período de arranque do pensamento imperial e quem o protagonizou, até ao dobrar do século.

Um abraço do
Mário



O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (13)

Mário Beja Santos

Antes de continuarmos as referências à bibliografia complementar para este conjunto de artigos referentes aos sócios fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa, no período estimado entre 1875 e o dobrar do século, recorde-se que já se fizeram alusões a duas obras: "Uma Corrente do Colonialismo Português", por Ângela Guimarães, Livros Horizonte, 1984; e "A Sociedade de Geografia, As Suas Origens e a Sua Obra de 50 Anos (1875-1925)", por António Ferrão, sem data, como se disse obra incompleta. Iremos hoje referir outra edição da Sociedade de Geografia alusiva aos "75 anos de Atividades ao Serviço da Ciência e da Nação", edição interna com data de 1950. Mais adiante, daremos ao leitor a súmula de duas obras que reputamos como importantes para o estudo do pensamento dos pais-fundadores e que são "A Sociedade de Geografia e as Expedições Africanas de Portugal a Sul do Equador entre 1855 e 1926", dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, por José Manuel da Silva Veríssimo (pode-se consultar na Biblioteca da Sociedade de Geografia); e "Nos Caminhos de África, Serventia e Posse, Angola, Século XIX", por Maria Emília Madeira Santos, Instituto de Investigação Científica Tropical, 1998.

Vejamos agora a súmula desta obra dos 75 anos da Sociedade de Geografia. O autor (desconhecido) retoma o tema da fundação e os fins da Sociedade, recordando que a assembleia-geral dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa, em que foram eleitos os primeiros corpos gerentes, reuniu em 3 de abril de 1876 na Sociedade de Ciências Médicas, que então ocupava um prédio da Rua do Príncipe, sito no local onde hoje se encontra a Estação Central dos Caminhos-de-Ferro. A primeira sede da Sociedade funcionou no segundo andar do prédio n.º 89 da Rua do Alecrim, na esquina para o Largo do Barão de Quintela, onde a Sociedade se manteve com notório desenvolvimento até 1883, ano em que se transferiu para o primeiro andar do prédio n.º 5 da Travessa da Parreirinha (depois Rua Capelo) e transferiu-se em 1891 para o palacete da Rua das Chagas n.º 5 (onde mais tarde funcionará o Instituto Comercial de Lisboa) que ocupou até à sua instalação, em 1897, no edifício da Rua das Portas de Santo Antão. Nesta data, no vestíbulo, havia duas pequenas peças de artilharia e nas paredes havia panóplias de armas gentílicas, algumas das quais são verdadeiras raridades. No primeiro andar existiu um salão de leitura de jornais, bem como um ginásio, mais tarde em duas divisões deste primeiro andar funcionaram a Escola Superior Colonial e a Escola Superior de Educação Física; o segundo andar albergou sempre a Sala Portugal, as salas Algarve e Índia. A biblioteca que está hoje no primeiro andar chegou a estar no andar superior, bem como secções do museu. O Museu Colonial tem a sua história, vale a pena aqui uma referência. Chamava-se Museu Colonial e Etnográfico, foi criado em janeiro de 1871, e foi afetado à Direção-Geral do Ultramar, da Secretaria de Estado dos Negócios, da Marinha e Ultramar, tendo sido transferido para a Sociedade de Geografia de Lisboa em março de 1892.

Este historial dos 75 anos procede a uma descrição de como funcionou a Escola Superior Colonial e a Escola Superior de Educação Física. O leitor interessado encontrará também aqui uma nota breve sobre o intercâmbio científico internacional; uma relação das atividades de Defesa, Vulgarização e Propaganda Ultramarina.

Tal como já se verificou da apreciação das atas das sessões, logo nessas primeiras reuniões, a preocupação dos sócios-fundadores manifestou-se em prol da defesa dos nossos interesses ultramarinos e daí se ter sugerido ao governo a conveniência de se realizar uma expedição portuguesa a África, cujo plano o sócio H. Bandeira de Mello Madureira apresentou na sessão de 28 de outubro de 1876. Nesta mesma sessão se tomou conhecimento das atas da conferência que, durante cerca de um ano, se reunira em Bruxelas, a convite do rei Leopoldo II, para se ocupar do seu projeto de ocupação pacífica da África Central. Os sócios aperceberam-se dos perigos para as nossas possessões, e a provou-se um voto para que “o Governo e a Ciência Naval se empenhassem em manter vigorosamente a honra e o direito da Nação”, sugerindo-se que esta reclamada exposição a África procedesse à ratificação definitiva dos limites do território sob a nossa soberania. E também se apelou à redação em várias línguas uma memória descrevendo o que Portugal tinha feito em matéria de estudos respeitantes à geografia africana.

Como já se percebeu, as preocupações com a geografia em Portugal continental e insular vão sendo preteridas toda a questão africana. O sócio Pinheiro Baião salienta “a conveniência de se promover o reconhecimento e ocupação efetiva do território ao norte de Ambriz, devendo uma expedição explorar a ligação das duas costas, aproveitando-se o curso do Cunene, Cubango e Zambeze”.

Em junho de 1877, comunicava o governo à sociedade terem sido nomeados Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens para levarem a efeito a expedição, “devendo os ditos oficiais, antes da sua partida, fazerem na sociedade uma expedição do seu programa e itinerário provável”. Dão-se, nas sessões da Sociedade, ao longo de 1877, 78 e 79 informações sobre as viagens dos exploradores. É neste ambiente de natural exaltação patriótica que a recém-criada “Comissão Africana” da Sociedade lança a ideia da constituição de um fundo africano destinado a incentivar a obra de exploração e civilização de África. Decidiu a Comissão Administrativa deste Fundo apelar ao país, numa exposição da nossa situação em África, acompanhada de um mapa em que se apresentava, colorida, a larga faixa territorial que nos levaria de Angola a Moçambique, o “Mapa Cor-de-Rosa”. A viagem de Henrique de Carvalho, através da Lunda, de 1884 a 1888, obedece também à doutrina que presidiu ao estabelecimento de estações, que eram verdadeiros marcos de ocupação pacífica.

E findamos aqui porque chegámos a 1900, ano em que se realizou o primeiro Congresso Colonial Nacional, o pensamento imperial está em mutação.


Carta de Angola, Sociedade de Geografia de Lisboa

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22449: Historiografia da presença portuguesa em África (275): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (12) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P22464: Parabéns a você (1984): Maria Alice Carneiro, Amiga Grã-Tabanqueira, esposa do nosso Editor Luís Graça

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Nota do editor

Último poste da série de 17 de Agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22461: Parabéns a você (1983): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 (Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Buba, 1968/70)

terça-feira, 17 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22463: Agenda cultural (780): lançamento oficial no dia 9 de setembro, em Lisboa, Palácio da Independência: "Os Números da Guerra de África", de Pedro Marquês de Sousa (Guerra e Paz Editores, 2021, 384 pp.)




1. Press-release da editora Guerra e Paz, que nos acaba de chegar por mão do nosso camarada António Graça de Abreu:



Os números da Guerra de África 
como nunca foram apresentados


1, Uma nova e objectiva luz sobre a Guerra de África, é esta a proposta de Pedro Marquês de Sousa, tenente-coronel do Exército português doutorado em História, no livro Os Números da Guerra de África.



Resultado de uma ampla e rigorosa investigação, a obra reúne, pela primeira vez, os dados constantes dos relatórios dos três ramos das Forças Armadas que participaram na Guerra de África (1961-1975) e ainda os números dos movimentos independentistas. Os mortos e os feridos, militares e civis, o armamento mobilizado, os desertores, as despesas do Estado.

A realidade dos números, num livro que servirá para clarificar os debates do presente e de vital referência para o futuro. Com prefácio do major-general João Vieira Borges, presidente da Comissão Portuguesa de História Militar, Os Números da Guerra de África chegam à rede livreira nacional no próximo dia 24 de Agosto, com a chancela da Guerra e Paz Editores e o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, da Comissão Cultural da Marinha, da Direção de História e Cultura Militar, da Força Aérea Portuguesa e da Associação 25 de Abril.

O lançamento da obra acontece no dia 9 de Setembro no Palácio da Independência em Lisboa.


2. Já muito fora escrito sobre a Guerra de África, no que aos aspectos políticos e sociais, e até geoestratégicos, diz respeito, mas os dados estatísticos analisados nessas abordagens apenas reflectiam os relatórios do Exército português, o ramo das Forças Armadas que mais interveio em combate. Era preciso clarificar a realidade dos números e Pedro Marquês de Sousa, tenente-coronel do Exército doutorado em História pela Universidade Nova de Lisboa, fê-lo neste Os Números da Guerra de África.

No caso das baixas em combate, por exemplo, as informações oficiais apontavam, até aqui, para os 8 mil militares portugueses mortos, mas, segundo a investigação de Pedro Marquês de Sousa, foram mais de 10 mil os homens que perderam a vida nas três frentes.

Esta ampla investigação dá-nos também a conhecer quantas foram as baixas dos movimentos independentistas, de guerrilheiros, de civis, assim como a real mobilização dos militares portugueses, as despesas do Estado Português, a quantidade de armas, de aeronaves, de navios, de viaturas. Até são apresentados os números dos desertores. Toda a logística dos três ramos das Forças Armadas, enriquecida com tabelas, gráficos e mapas.

O impacto que a guerra de África teve na sociedade, na economia e na história dos povos de quatro nações faz desta uma obra obrigatória para clarificar os debates do presente, mas também um documento histórico de vital referência para o futuro.

É esse impacto que João Vieira Borges, major-general, presidente da Comissão Portuguesa de História Militar, destaca no prefácio da obra;

«Sustentado por fontes primárias existentes nos diferentes arquivos das Forças Armadas Portuguesas, o autor divulga novos dados e actualiza outros relativos a uma guerra que marcou e marca profundamente, ainda hoje, toda uma geração de cidadãos, em especial os combatentes.»

Os Números da Guerra de África chega à rede livreira nacional no próximo dia 24 de Agosto. A obra estará ainda disponível, em edição digital, nas principais plataformas de distribuição de ebooks, da Amazon à portuguesa Wook, da espanhola Casa del Libro à americana Barnes & Noble, da Kobo à Scribd, com distribuição da Libranda.

Esta é uma edição da Guerra e Paz Editores com o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, da Comissão Cultural da Marinha, da Direção de História e Cultura Militar, da Força Aérea Portuguesa e da Associação 25 de Abril.

O lançamento oficial da obra acontece no próximo dia 9 de Setembro, pelas 18h00, no Palácio da Independência, em Lisboa, e contará com a apresentação do prefaciador da obra, o major-general João Vieira Borges.

Ficha técnica:

Os Números da Guerra de África

Pedro Marquês de Sousa

Não-Ficção/História

384 páginas · 15x23 · 16 €

Nas livrarias a 24 de Agosto

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Nota do editor:

Último poste da série > 8 de agosto de 2021 > Guiné 61/74 - P22442: Agenda cultural (779): "Um caminho de quatro passos", o livro autobiográfico do António Carvalho (ex-Fur Mil Enf, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74), a ser apresentado na Tabanca dos Melros, Fânzeres, Gomndomar, no próximo dia 11 de setembro

Guiné 61/74 - P22462: António Damásio: um português nos EUA que muito honra Portugal e a nossa geração (José Belo, Key West, Florida)


O médico neurologista e neurocientista 



Um dos livros mais livros de António Damásio, 
"Ao Encontro de Espinosa" (2003)



Capa do livro de António Damásio,  edição portuguesa, 
Temas & Debates, 2012 "Ao Encontro de Espinosa: 
as emocões sociais e a neurologia do sentir" (364 pp, 
preço de capa, em papel: 19,90 euros)

Sinopse:

«A minha [anterior] invocação de Descartes foi puramente emblemática de uma perspetiva sobre um problema científico e filosófico e pouco tinha a ver com o personagem histórico. A minha relação com Espinosa, porém, é inteiramente diferente. Espinosa é uma pessoa impar e as suas ideias e maneira de ser fundem-se com os problemas psicológicos que aborda e com a correspondente neurociência.»


1. Mensagem de José Belo, o nosso luso-sueco, cidadão do mundo, membro da Tabanca Grande, que reparte a sua vida entre a Lapónia (sueca), Estocolmo e Key-West (Flórida, EUA). Foi nomeado por nós régulo (vitalício) da Tabanca da Lapónia (. Na outra vida, foi alf mil inf, CCAÇ 2391, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70); é cap inf ref. ; durante anos alimentou a série "Da Suécia com Saudade"... Agora escreve sobre o que lhe apetece, dentro da(s) temática(s) do nosso blogue, onde também cabem descritores como "EUA",  "Suécia", "Portugal", "diáspora", "médicos" e "lusofonia".)


Data - sábado, 24/07, 20:10



Assunto - António Damásio: Um português nos Estados Unidos a não esquecer

Não sendo propriamente desconhecido em Portugal,  não creio haver, por parte de muitos, consciência de quão considerado e admirado este nosso compatriota é.

Isto não só nos Estados Unidos como também pela comunidade científica mundial especializada
na sua área de investigação.
 
Não creio existir hoje, nem mesmo nunca (!) ter existido anteriormente, representante científico português com tais prémios, louvores e cargos docentes ao mais alto nível.

Infelizmente o nosso único prémio Nobel de Medicina (1949), Egas Moniz (1874 - 1955), está hoje bastante desvalorizado após os seus estudos e práticas sobre a lobotomia serem agora  olhados de modo muito crítico pelos actuais especialistas internacionais.

Não tendo andado ultimamente muito preocupado quanto à “Busca de Espinoza”  (por o ter encontrado há muito ),  contínuo a sentir a falta de uma referência, no Blogue,  ao tão nosso António Damásio.

Ele é um dos grandes portugueses na diáspora, da nossa geração, e felizmente ainda está muito activo tanto na sua vida de investigação como na carreira de docente e, não menos importante, como  escritor.

Nunca será demasiado salientar que a sua educação básica e superior foi adquirida em Portugal! E é hoje figura científica de topo tanto nos meios norte-americanos como mundiais.

António Damásio:

Professor universitário, Professor de Psicologia, Filosofia, Neurologia e Neurociência. | Director do Instituto do Cérebro e Criatividade da Universidade da Califórnia do Sul | Professor do Instituto Skalk em La Jolla, Califórnia.

Damásio têm contribuído para uma compreensão fundamental dos processos cerebrais subjacentes às emoções, sentimentos, decisões e consciência.

É autor de inúmeros trabalhos científicos. (O seu Índide h no Google Scholar é de 99 com um total de mais de 170 mil citações). 

A sua actividade como nvestigador  tem vindo a receber contínuo subsídio económico federal (EUA) nos últimos 30 anos.

É Doutor Honoris Causa em inúmeras Universidades, entre outras: Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2013); Universidade de Leuven (2013); Universidade C’a Foscari/Veneza; Escola Politécnica Federal de Lausanne (2011); Universidade de Coimbra (2010); Universidade de Leiden (2010); Universidade Raman Llull (2010); Universidade de Copenhagen(2009); Universidade de Nangin (2005); Universidade de Aachen(2002).

Entre outros, recebeu os seguintes prémios:

Prémio Príncipe das Astúrias em Ciências e Tecnologia (2005); Prémio Gravwemayer(2014);
Prémio Honda Fundation (2010); Prémio Melhores Médicos Americanos; Prémio da Associação Internacional de Psicoanálise,  por extraordinários resultados científicos (2004); Prémio Sigoret em Neuro-Ciência Cognitiva (2004).

É membro do Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências e da Academia Americana de Artes e Ciências. Membro da Academia Bávara de Ciências e da Academia Europeia de Ciências e Artes.

Foi nomeado “Investigador Altamente Citado” pelo Instituto de Informação Científica (USA); Prémio da Universidade da Califórnia de Criatividade e Escolaridade (2012); Prémio Jimenez (2012); Prémio Literário Corine International (2011).

Nomeado membro do Conselho Escolar da Livraria do Congresso (2009/USA); Leitor Distinto da Universidade da Califórnia do Sul (1985); Primeiro prémio Pfizer para o melhor artigo de investigação nas ciências médicas (1974); Prémio do Conselho Britânico de Pesquisa e Treino (1970); Prémio Boleeringer para o melhor estudante em Farmacologia Médica (1966).

António Damásio é um dos reconhecidos líderes internacionais em neurociências. As suas investigações têm vindo a ajudar a compreender a base neural dos sentimentos e emoções. Tem também demonstrado o papel central do afecto na consciência social e na tomada de decisões. O seu trabalho têm contribuído e influenciado a actual compreensão dos sistemas neuronais subjacentes à memória, linguagem e consciência.


- A Estranha Ordem das Coisas (2018)
- O Erro de Descartes (2005)
- Na Busca de Spinoza (2003)

Um abraço do J. Belo


Guiné 61/74 - P22461: Parabéns a você (1983): José Manuel Cancela, ex-Soldado Apontador de Metralhadora da CCAÇ 2382 (Aldeia Formosa, Contabane, Mampatá e Buba, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22430: Parabéns a você (1982): TCor Inf Ref Rui Alexandrino Ferreira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857 (Fulacunda, Bissorã e Mansoa, 1965/67); ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 18 (Aldeia Formosa, 1970/72)

segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22460: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte IV: Ordem de serviço, nº 279, de 28 de novembro de 1970, pp. 1 e 2

Foto nº 1 > Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > Janeiro de 1969 > No meu gabinete, individual, recebendo uma mensagem rádio


   
Foto nº 2 > Guiné > Bissau > Brá > BENG 447 > Dezeembro 1969 > Cortando o cabelo, no meu gabinete.

Fotos (e legendas): © João Rodrigues Lobo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem de João Rodrigues Lobo   [ex-alf mil, cmdt Pelotão de Transportes Especiais / BENG 447 (Bissau, Brá, dez1967/fev1971): fez o 1º COM, em Angola, na EAMA, Nova Lisboa; vive em Torres Vedras onde trabalhou durante mais de 3 décadas como chefe dos serviços de aprovisionamento do respetivo hospital distrital; membro nº 841 da Tabanca Grande.]

Date: sábado, 3/07, 23:07 | 
Subject:  Contributos para o blog.

Como combinado começo a enviar o que julgo serem alguns contributos pessoais para o blog, embora um pouco personalizados.

Duas Ordens de Serviço de Maio e Novembro de 1970, cujos originais me foram dados por nelas constar o meu nome, mas que revelam um pouco do que foi o BENG 447, e o que foi por este Batalhão construído.

De notar que a primeira é assinada pelo Major Engº João A.Lopes da Conceição e a segunda pelo Tenente Coronel Engº João António Lopes da Conceição.

À  data apenas Tenentes Coroneis podiam comandar batalhões. No entanto o Brigadeiro António Spinola (Comandante do CTIG), que conhecia a elevada competência do Major Engº Lopes da Conceição, exigiu a sua nomeação para o BENG 447 após o fim da comissão do anterior Comandante, o que foi concedido não obstante um certo desconforto em meios militares. (Ao que julguei na ocasião). Pouco após a sua chegada foi graduado em Tenente Coronel.

Junto mais duas fotos de um Alferes Miliciano, que me parece ter sido um dos poucos a ter direito a um gabinete próprio na Guiné. (Nada de comentários foleiros...);

- Lendo um rádio acabado de receber com os próximos movimentos do PTE  (Foto nº 1); e,

- Cortando o cabelo que por aqueles lados também crescia (Foto nº 2). (Nota: O actual bigode começou a crescer no preciso momento em que aterrei na Guiné, e no fim da comissão já começava a notar-se). A garrafa que se vê está ali por engano, era para despachar no transporte seguinte...

As O.S. têm os nomes cortados pois não sei se a CNPD (Comissão Nacional de Proteção de Dados) os deixaria publicar ou os visados não se oporiam, embora já se tenham passado CINQUENTA ANOS. (chiça, tanto tempo que ainda parece que foi há pouco).

Seria interessante que quem se reconhecesse nestas O.S. ou nas fotos que enviei, se juntasse á Tabanca Grande , dissesse: "Aquele sou eu !!!"  e nos transmitisse as suas opiniões.

Cumprimentos,

AS O.S. seguem em próximos mails devido ao tamanho.




BENG 447 - Ordem de Serviço nº 279, Quartel em Brá, 28 de novembro de 197o, pp. 1 e 2.
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Nota do editor

(*) Último poste da série > 3 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22339: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte III: Cumeré, março de 1969

Guiné 61/74 - P22459: Notas de leitura (1372): “Os Dirigentes do PAIGC, da Fundação à Rutura", por Ângela Benoliel Coutinho; edição da Imprensa da Universidade de Coimbra, Novembro de 2017 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 24 de Setembro de 2018:

Queridos amigos,
Publicar um trabalho universitário, datado de 2004 em 2017, quando a historiografia deu passos significativos em matérias que a então doutoranda investigou e que hoje são, em certos casos, matéria refutável, acarreta uma severa interpolação: por que razão a historiadora dá à estampa um trabalho que em pontos fundamentais a investigação já encontrou outras respostas? Historiadores cabo-verdianos, guineenses, portugueses e de outras nacionalidades têm continuado a estudar a génese do PAIGC, as suas atividades na luta armada, as questões internas, o legado de Cabral, o fracasso da política de unidade, designadamente na Guiné-Bissau.

Mas o mais grave de tudo é quando a historiadora desembainha o sabre sobre os dirigentes guineenses, culpa-os diretamente da rutura de 1980. Pergunto seriamente como é que este trabalho foi aplaudido numa universidade da Sorbonne e como é que o professor Luís Reis Torgal vem saudar a publicação deste livro na Universidade de Coimbra, como é possível?


Um abraço do
Mário



Os Dirigentes do PAIGC, da Fundação à Rutura,
por Ângela Benoliel Coutinho (2)


Beja Santos

Este livro resulta da tese de doutoramento em História da África Negra Contemporânea, defendida em 2005 na Universidade de Paris I – Panthéon – Sorbonne: “Os Dirigentes do PAIGC” é uma edição da Imprensa da Universidade de Coimbra, novembro de 2017.

A que se afoitou Ângela Benoliel Coutinho? Ela responde: “O presente estudo debruça-se sobre as trajetórias dos fundadores do PAIGC e dos membros do seu Comité Executivo de Luta. Interrogar-nos-emos acerca do recrutamento destes dirigentes, mais precisamente o recrutamento geracional, geográfico, de género, social, procurando também saber que formação tiveram, tendo em vista as suas atividades de direção política”.

Lançada luz sobre a primeira geração dos dirigentes do PAIGC, tendo-se mostrado quem eram os combatentes desde a primeira hora da luta, como, no fundo, se constituíram como a segunda geração dos dirigentes do PAIGC, a investigadora procura traçar o perfil dos valores e princípios dos heróis e ideólogos do PAIGC. As publicações guineenses, caso de Nô Pintcha, os heróis são guineenses, a maioria pertence à segunda geração, só Amílcar Cabral pertence à dos fundadores. Como são apresentados? Como dedicados, nunca se poupando a sacrifícios, abnegados, corajosos, verdadeiros filhos do povo. Cabral está noutro pedestal, é estudante brilhante, foi engenheiro brilhante, homem profundamente humano, honesto e de grande estatura, aceitou o sacrifício mais elevado, foi guia incontestado. O Nô Pintcha não deixa de relevar o universalismo de Cabral e a internacionalização da sua imagem. Analisando os selos de correio, Amílcar Cabral é a imagem maioritária, tanto na Guiné como Cabo Verde. Depois de exprimir o entendimento sobre a ideologia do PAIGC, a autora destaca expressões e trabalhos de Cabral sobre a cultura, o trabalho, a promoção da mulher, a gestão do tempo, a dedicação, a apologia de uma nova sociedade em consonância com os valores do PAIGC e retoma a controversa questão das relações suicidárias da pequena burguesia e do PAIGC, o que Cabral pensava da democracia revolucionária e também da união política, não descurando esta observação das atividades do PAIGC num quadro de unidade com certos movimentos ou partidos políticos africanos, com destaque para o MPLA e Frelimo. Ângela Coutinho não traz nada de novo sobre a questão das principais linhas ideológicas nem da questão da unidade, em momento algum no seu trabalho se relevam as questiúnculas permanentes, as dúvidas permanentes, os ressentimentos de longuíssima data, entre guineenses e cabo-verdianos.

Em novo capítulo, a autora tem um olhar de relance sobre os revolucionários no poder, no fundo não se ultrapassou o legado ideológico de Cabral no conceito de partido-Estado, vemos que houve uma gradual sobreposição de cargos de direção dos militares no poder político, o que é compreensível na época da escassez de quadros técnicos altamente qualificados. Não nos explica como começou logo a falhar a democracia revolucionária, o militantismo muito cedo foi desaparecendo, mesmo nos comités de tabanca.

Já estamos na independência, as heranças económicas eram distintas, o modelo ideológico o mesmo, ainda que mais atenuado em Cabo Verde, o PAIGC sabia que não podia afrontar literalmente os seus emigrantes, caso tentasse um modelo de nacionalizações em massa, haveria uma estrondosa quebra na remessa dos emigrantes tanto da América como da Europa. A grande polémica passava sobre o modelo de desenvolvimento, como introduzir novas formas de progresso sem chocar com os milenários usos e costumes africanos. Mas o modelo existia, era dado incontornável: havia que romper com a economia de autossuficiência que ocupava 80% da população. Escreve a autora: “Defendia-se uma articulação entre a agricultura e a indústria, no sentido em que a primeira era o setor de base da economia e a segunda seria a dinamizadora do seu desenvolvimento. Ou seja, de forma a romper com a economia de autossuficiência, a indústria devia colocar produtos no mercado, o que deveria criar nos camponeses o desejo de produzir mais e melhor, de forma a poder vender o excedente e adquirir os referidos produtos. Era necessário modernizar previamente o setor agrícola, tarefa que seria cumprida com a introdução de fatores de produção suscetíveis de aumentar a produtividade, tais como os utensílios de lavoura e os fertilizantes”. Mais tarde, virão as críticas ao modo como se tentou esta modernização, que falhou redondamente. Como igualmente se irão fazer críticas duríssimas à criação de indústrias de transformação. Estas tinham como objetivo primordial a resolução de problemas de desemprego e de subemprego nas cidades. Por altura da independência, o potencial circunscrevia-se a 14 unidades de produção industrial. Após a independência criaram-se novas estruturas, a prazo, irão todas ao fundo, desde as cervejas e refrigerantes, passando pelos sumos e compotas, pelo descasque de arroz, pelos móveis, pelas casas pré-fabricadas e colchões e estofos de espuma.

Na altura em que Ângela Coutinho preparou o seu doutoramento ainda não tinha saído o testemunho de Filinto Barros, um Ministro da Indústria que pouco antes do seu falecimento resolveu revelar o porquê de tantos fracassos, a começar pelos Armazéns do Povo até à indústria do descasque. Falando de Cabo Verde, a tomar como referência os dados utilizados pela autora, as coisas correram um pouco melhor. Falando de outras mudanças, elenca-se o que se pretendeu fazer na Justiça, na Educação, na Saúde, contando-se com imensos apoios da cooperação internacional.

O III Congresso do PAIGC (1977) apostou na educação, na conceção científica do mundo, tudo sob a alçada do partido-Estado. Aumentou de facto o número de escolas, tanto na Guiné-Bissau como em Cabo Verde e ganhou prioridade a política cultural.

Sem nunca nos oferecer qualquer tipo de esclarecimento sobre os confrontos internos no PAIGC, Ângela Benoliel Coutinho reserva a última parte do seu trabalho ao golpe de Estado de Bissau de 14 de novembro de 1980. Se até agora pudemos contar com uma postura tendencialmente neutral relativamente à evolução da conduta destes dirigentes, tanto na Guiné como em Cabo Verde, agora, em plena tese de doutoramento, e contrariando as regras elementares da ciência histórica, a historiadora desmanda-se sobre o PAIGC da Guiné-Bissau, veremos como ela vai exprimir a triste figura dos seus argumentos.

(Continua)
Os dirigentes do PAIGC Amílcar Cabral, Luís Cabral e Aristides Pereira saindo da reunião do CSL em Boké, 1971. Imagem da Fundação Mário Soares, com a devida vénia.
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Notas do editor:

Poste anterior de 9 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22444: Notas de leitura (1369): “Os Dirigentes do PAIGC, da Fundação à Rutura", por Ângela Benoliel Coutinho; edição da Imprensa da Universidade de Coimbra, Novembro de 2017 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 13 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22454: Notas de leitura (1371): "Os Roncos de Farim", por Carlos Silva; editora 5 Livros, 2021, a ser apresentado amanhã na Tabanca dos Melros (Mário Beja Santos)

domingo, 15 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22458: (De)Caras (173): "Afinal, de quem são as árvores?"... Recordando os madeireiros Manuel Ribeiro de Carvalho (Binta) e Albano Neves (Contuboel) (José Eduardo Oliveira, JERO, 1940-2021 / António Rosinha / Valemar Queiroz / Cherno Baldé)






Anúncio da empresas madeireira Manuel Ribeiro Carvalho,  com estabelecimentos em Binta e Farim, em meados dos anos 50. Imagem reproduzidas, com a devida vénia, de Turismo - Revista de Arte, Paisagem e Costumes Portugueses, jan/fev 1956, ano XVIII, 2ª série, nº 2. (*).


1. Dois conhecidos madeireiros do nosso tempo de Guiné, são aqui evocados, por camaradas nossos, em comentários a postes diferentes,um de 2015 e outro de 2021. Vale a pena ir recuperá-los (**):

(i) José Eduardo Oliveira (JERO) (1940-2020):

"Tropecei" com particular emoção neste anúncio do madeireiro Manuel Ribeiro de Carvalho, que conheci em Binta no 2º.semestre de 1964. 

Pertenci à CCaç 675 que esteve em Binta desde 30 de Junho de 64 a finais de Abril de 1966. Fui o Furriel Enfermeiro da Companhia e recorda-me de ter tratado do sr. Ribeiro duas vezes: a uma retenção de urinas, em que tive o algaliar e um "ataque" de abelhas muito grave. 

A minha Companhia fez-lhe segurança em algumas idas ao mato para cortar madeiras quando se aproximava a data do carregamento de barcos que vinham até Binta, pelo Rio Cacheu. Falei muitas vezes com ele. Era uma pessoa de bom trato e , nesse tempo, já com uns 30 anos de Guiné.

Quando vi o seu "anúncio" nesta postagem fiz uma autêntica viagem ao passado. E já vão 50 anos !!! Obrigado. Jero.

5 de fevereiro de 2015 às 21:02 (**)


(ii) António Rosinha:

Amigo Jero, Binta era de facto um antigo importante ponto de embarque de troncos de madeira, talvez a maior parte para exportação.

Se te lembras tinha uma ponte cais de madeira, pois o governo de Luís Cabral que dava muita importância ao transporte fluvial, ainda conseguiu dinheiro para substituir a pequena ponte cais de madeira por uma idêntica mas em betão armado.

Luís Cabral foi corrido e já não viu a sua obra. Mas os guineenses já não precisavam da ponte cais porque com o equipamento e máquinas modernas e grandes tractores e camiões da Volvo que a Suécia ofereceu, num instante cortaram e transportaram a maioria dos grandes troncos no porto de Bissau, e por via terrestre. (...)

5 de fevereiro de 2015 às 22:18 (*)


(iii)  JERO:

Boa, noite António Rosinha

Tenho muitas fotos da ponte cais que referes e "vi" muitos anos depois a de betão, que descaracterizou Binta. Digo eu. (...) Abraço de Alcobaça. JERO

5 de fevereiro de 2015 às 22:51  (*)

 
(iv) Valdemar Queiroz:


Lembro-me, em Contuboel, da serração do Sr. Albano (Neves). Quem passou por Contuboel, pelo menos, de Fevereiro  a Maio/Junho de 1969, interrogava-se, afinal de quem são as árvores?. Nunca soubemos.

Depois CART2479 / CART11 foi para Nova Lamego, para o Quartel de Baixo. Grandes árvores faziam parte da área no nosso Quartel, principalmente uma grande árvore que fazia sombra ao refeitório dos nossos soldados, á cantina e ao armazém da Companhia. 

Um dia, um enxame de abelhas fez poiso, na grande árvore do refeitório. Tanto o refeitório dos soldados, como o dos oficiais/sargentos, do outro lado, em frente, começaram a ser fustigados pelas abelhas. O 2º. Sargento Almeida, "o Velho Lacrau', aprontou-se para resolver o problema e, munido de um archote ateado, subiu à árvore para escorraçar as a abelhas com o fogo e conseguiu afasta-las para nunca mais serem vistas. Mas criou outro problema, pegou fogo ao 'coração' da grande árvore. Para apagar o fogo no interior da árvore despejaram-se vários 'Unimogs' de água, mas nada conseguia afastar o, mais que provável, desmoronamento da árvore. 

Por isso, surgiu ideia de contactar o senhor (cujo nome já não recordo),  da serração local, para abater a árvore. Depois, numa manhã, bem cedo, dois homens quase nus, apenas de tanga, com grandes serras e cunhos de ferro chegaram para abater a árvore que, entretanto, já tinha sido desbastada dos ramos principais. 

Disseram, quem viu, que os dois homens a serraram, compassadamente, de cachimbo aceso na boca, apenas pararam para meter os cunhos de ferro que iam aguentando a parte serrada, até chegarem ao fim, completamente a verterem suor por todo corpo que mais parecia uma nascente em cascata, até à queda da grande árvore. Depois, foi sendo levado tudo da árvore, para a serração. Não sei, nem agora estou interessado em indagar, como é que foi feito o 'contrato'.

8 de fevereiro de 2015 às 02:00 (*)


(v) Cherno Baldé:

A Serraçao do Português Albano Neves, com sede em Contuboel continuou a explorar madeira nesse Sector antes, durante e depois da guerra colonial (1963-1974). Eu cresci a ver os velhos camiões desta empresa a transportar madeira para Contuboel, inclusive depois da independência a partrir de sitios dos mais improváveis da nossa zona.

E a plantação de novas árvores pelos madeireiros ou quaisquer outras entidades para recuperação ou compensação era um mito, pois eu nunca vi uma única planta de substituição em todo o Sector e nunca vi nenhuma obra de infraestruturas para beneficiar a população local. 

E acreditem que eu conhecia a minha terra como poucos pois fazia pastorícia desde a mais tenra idade e só deixei de o fazer com a minha partida para os estudos em 1985 (em Kiev). Os sinais da exploração da madeira eram visíveis em todas as partes da floresta onde cortavam o bissilão o pau-de-sangue e o pau-de-conta.

A exploração dos recursos do continente, sejam eles florestais ou aliêuticos sempre foram feitos com a participação dos europeus em primeira linha,  sejam eles do Leste ou do Ocidente. Pessoalmente sou a favor da exploração controlada se isso fosse possível num pais tão desprotegido e fragilizado, porque de qualquer modo todas essas riquezas naturais estão condenadas a desaparecer seja pela acção do homem seja por causas naturais ligadas às mudanças climáticas.  E, porque não aproveitar quanto antes (digo eu) ?!

 12 de agosto de 2021 às 11:02  (***)


(vi) António Rosinha:

A "Serração do Albano", só foi do Albano após o 25 de Abril, pois o verdadeiro proprietário entregou as rédeas ao Albano que era o gerente ou encarregado.

Rezavam as crónicas dos moribundos resistentes brancos que iam desaparecendo de Bissau aos poucos,  que aconteceu isso com outros comerciantes e proprietários brancos,  entregarem as suas propriedades e casas a empregados enquanto eles, patrões, cansados de guerra, desvaneceram-se.

Só que o Albano não só manteve como desenvolveu e se entendeu muito bem com aquela empresa com a independência da Guiné Bissau.

Albano, quase sem exemplo, digo "quase". Entendeu-se às mil maravilhas, como peixe na água.

Na Guiné só se modernizou ou tentou modernizar a industria madeireira à "grande e à sueca" com Luís Cabral e seus ministros e continuou.

Até uma moderníssima fábrica de contraplacados e afins se montou em Buba, coisa linda, não sei como estará hoje.

Entraram mais máquinas, tratores, máquinas de corte, giratórias e camiões todo o terreno, tudo Volvo, tudo moderno para a Socotram de 1975 a 1983, do que desde 1500 até 1974 para os rudimentares madeireiros portugueses.

Aliás, era precisamente a medíocre iniciativa industrial e comercial e mineira dos portugueses, que os dirigentes dos movimentos nacionalistas mais criticavam e mesmo ridicularizavam o "portuga" e a sua presença nas colónias.

Dai-nos a independência e vão ver o que fazemos desta terra. (o que eu ouvi em Angola e depois repetido no Brasil, e depois na Guiné na inauguração da fábrica do Nhaie-Citroen).

Falar em ecologia em África é muito complicado, e na Guiné não é o pior país. Há linhas de água na Nigéria que o petróleo de pipe lines rotos contaminou. E nós, exploradores indignos, selávamos furos de prospecção de petróleo.

Eramos mesmo uns ecologistas, lá e cá, só mais tarde é que caímos nessa dos eucaliptos e celuloses, que estupidez de riqueza.

12 de agosto de 2021 às 18:27  (***)
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P22457: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte XI: Alberto Slva Matos, cap inf (Braga, 1879 - França, CEP, 1918)



Alberto Silva Matos (1879-1918)

Nome; Alberto Silva Matos
Posto; Capitão de Infantaria
Naturalidade:  Braga
Data de nascimento:  2 de Agosto de 1879
Incorporação:  1901 na Escola do Exército (nº 243 do Corpo de Alunos)
Unidade:  4ª Brigada de Infantaria, Regimento de Infantaria n.º 29
Condecorações:  Cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada (a título póstumo)
Cruz de Guerra de 2ª classe (a título póstumo)
Promoção a Major por distinção (a título póstumo)

TO da morte em combate: França (CEP)
Data de Embarque: 22 de Abril de 1917
Data da morte:  9 de Abril de 1918
Sepultura
Circunstâncias da morte:  No desempenho da sua função de 2º comandante do Batalhão de Infantaria 29 bateu-se com coragem e valentia na defesa da Red House até ser mortalmente ferido pelos fogos alemães.

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António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem

1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.
 
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