quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22465: Historiografia da presença portuguesa em África (276): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (13) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Dezembro de 2020:

Queridos amigos,
Pareceu-me da maior utilidade complementar as Actas das sessões do período fundador da Sociedade de Geografia, onde pontificou Luciano Cordeiro, seu primeiro secretário perpétuo, com leituras complementares. Este é o segundo trabalho editado pela própria Sociedade, é referente aos 75 anos de atividade, obviamente que nos cingimos ao período que vai até 1900. Seguir-se-á uma interessante dissertação de mestrado que foi apresentada na Faculdade de Ciências e Tecnologia por José Manuel da Silva Veríssimo. Ele dirá que "A Sociedade de Geografia de Lisboa é a referência incontornável para o estudo aprofundado das relações e da conjugação entre Ciência, Tecnologia e Império". Esta conjugação de curiosidades científicas, de interesse e de conjuntura, estabeleceu-se entre 1875 e 1926. O leitor ficará assim com um leque abrangente de interpretações sobre o período de arranque do pensamento imperial e quem o protagonizou, até ao dobrar do século.

Um abraço do
Mário



O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (13)

Mário Beja Santos

Antes de continuarmos as referências à bibliografia complementar para este conjunto de artigos referentes aos sócios fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa, no período estimado entre 1875 e o dobrar do século, recorde-se que já se fizeram alusões a duas obras: "Uma Corrente do Colonialismo Português", por Ângela Guimarães, Livros Horizonte, 1984; e "A Sociedade de Geografia, As Suas Origens e a Sua Obra de 50 Anos (1875-1925)", por António Ferrão, sem data, como se disse obra incompleta. Iremos hoje referir outra edição da Sociedade de Geografia alusiva aos "75 anos de Atividades ao Serviço da Ciência e da Nação", edição interna com data de 1950. Mais adiante, daremos ao leitor a súmula de duas obras que reputamos como importantes para o estudo do pensamento dos pais-fundadores e que são "A Sociedade de Geografia e as Expedições Africanas de Portugal a Sul do Equador entre 1855 e 1926", dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, por José Manuel da Silva Veríssimo (pode-se consultar na Biblioteca da Sociedade de Geografia); e "Nos Caminhos de África, Serventia e Posse, Angola, Século XIX", por Maria Emília Madeira Santos, Instituto de Investigação Científica Tropical, 1998.

Vejamos agora a súmula desta obra dos 75 anos da Sociedade de Geografia. O autor (desconhecido) retoma o tema da fundação e os fins da Sociedade, recordando que a assembleia-geral dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa, em que foram eleitos os primeiros corpos gerentes, reuniu em 3 de abril de 1876 na Sociedade de Ciências Médicas, que então ocupava um prédio da Rua do Príncipe, sito no local onde hoje se encontra a Estação Central dos Caminhos-de-Ferro. A primeira sede da Sociedade funcionou no segundo andar do prédio n.º 89 da Rua do Alecrim, na esquina para o Largo do Barão de Quintela, onde a Sociedade se manteve com notório desenvolvimento até 1883, ano em que se transferiu para o primeiro andar do prédio n.º 5 da Travessa da Parreirinha (depois Rua Capelo) e transferiu-se em 1891 para o palacete da Rua das Chagas n.º 5 (onde mais tarde funcionará o Instituto Comercial de Lisboa) que ocupou até à sua instalação, em 1897, no edifício da Rua das Portas de Santo Antão. Nesta data, no vestíbulo, havia duas pequenas peças de artilharia e nas paredes havia panóplias de armas gentílicas, algumas das quais são verdadeiras raridades. No primeiro andar existiu um salão de leitura de jornais, bem como um ginásio, mais tarde em duas divisões deste primeiro andar funcionaram a Escola Superior Colonial e a Escola Superior de Educação Física; o segundo andar albergou sempre a Sala Portugal, as salas Algarve e Índia. A biblioteca que está hoje no primeiro andar chegou a estar no andar superior, bem como secções do museu. O Museu Colonial tem a sua história, vale a pena aqui uma referência. Chamava-se Museu Colonial e Etnográfico, foi criado em janeiro de 1871, e foi afetado à Direção-Geral do Ultramar, da Secretaria de Estado dos Negócios, da Marinha e Ultramar, tendo sido transferido para a Sociedade de Geografia de Lisboa em março de 1892.

Este historial dos 75 anos procede a uma descrição de como funcionou a Escola Superior Colonial e a Escola Superior de Educação Física. O leitor interessado encontrará também aqui uma nota breve sobre o intercâmbio científico internacional; uma relação das atividades de Defesa, Vulgarização e Propaganda Ultramarina.

Tal como já se verificou da apreciação das atas das sessões, logo nessas primeiras reuniões, a preocupação dos sócios-fundadores manifestou-se em prol da defesa dos nossos interesses ultramarinos e daí se ter sugerido ao governo a conveniência de se realizar uma expedição portuguesa a África, cujo plano o sócio H. Bandeira de Mello Madureira apresentou na sessão de 28 de outubro de 1876. Nesta mesma sessão se tomou conhecimento das atas da conferência que, durante cerca de um ano, se reunira em Bruxelas, a convite do rei Leopoldo II, para se ocupar do seu projeto de ocupação pacífica da África Central. Os sócios aperceberam-se dos perigos para as nossas possessões, e a provou-se um voto para que “o Governo e a Ciência Naval se empenhassem em manter vigorosamente a honra e o direito da Nação”, sugerindo-se que esta reclamada exposição a África procedesse à ratificação definitiva dos limites do território sob a nossa soberania. E também se apelou à redação em várias línguas uma memória descrevendo o que Portugal tinha feito em matéria de estudos respeitantes à geografia africana.

Como já se percebeu, as preocupações com a geografia em Portugal continental e insular vão sendo preteridas toda a questão africana. O sócio Pinheiro Baião salienta “a conveniência de se promover o reconhecimento e ocupação efetiva do território ao norte de Ambriz, devendo uma expedição explorar a ligação das duas costas, aproveitando-se o curso do Cunene, Cubango e Zambeze”.

Em junho de 1877, comunicava o governo à sociedade terem sido nomeados Serpa Pinto, Hermenegildo Capelo e Roberto Ivens para levarem a efeito a expedição, “devendo os ditos oficiais, antes da sua partida, fazerem na sociedade uma expedição do seu programa e itinerário provável”. Dão-se, nas sessões da Sociedade, ao longo de 1877, 78 e 79 informações sobre as viagens dos exploradores. É neste ambiente de natural exaltação patriótica que a recém-criada “Comissão Africana” da Sociedade lança a ideia da constituição de um fundo africano destinado a incentivar a obra de exploração e civilização de África. Decidiu a Comissão Administrativa deste Fundo apelar ao país, numa exposição da nossa situação em África, acompanhada de um mapa em que se apresentava, colorida, a larga faixa territorial que nos levaria de Angola a Moçambique, o “Mapa Cor-de-Rosa”. A viagem de Henrique de Carvalho, através da Lunda, de 1884 a 1888, obedece também à doutrina que presidiu ao estabelecimento de estações, que eram verdadeiros marcos de ocupação pacífica.

E findamos aqui porque chegámos a 1900, ano em que se realizou o primeiro Congresso Colonial Nacional, o pensamento imperial está em mutação.


Carta de Angola, Sociedade de Geografia de Lisboa

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 11 DE AGOSTO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22449: Historiografia da presença portuguesa em África (275): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (12) (Mário Beja Santos)

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