quarta-feira, 23 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6630: Tabanca Grande (227): Rui Barbot / Mário Cláudio, ex-Alf Mil, Secção de Justiça do QG, Bissau (1968/70)




Guiné > Bissau > Quartel General > Ex-Alf Mil Rui Barbot Costa, que fez o serviço militar obrigatório na Secção de Justiça do QG... Aí conheceu, em 1970,  o nosso camarada Carlos Nery. O Rui, aliás Mário, passou doravante a pertencer à nossa Tabanca Grande, trazido pela mão do nosso camarada Carlos Nery. Já está na lista alfabética, de A a Z, na Letra M,  como Mário Cláudio.

Fotos: © Mário Claúdio (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Carlos Nery (ex- Cap Mil Inf,  CCAÇ 2382, Buba, 1968/70):

Caros Camaradas,

Junto o texto que me acaba de enviar o Rui Barbot, meu amigo desde 1970 em Bissau. 

Tivemos arte e engenho para, nessa altura, organizar um grupo de teatro, aliciar pessoas para esse empreendimento e, do nada, levantar um espectáculo. Quem se compromete numa tal "sopa de pedra"  fá-lo para toda a vida... Não há divórcios possíveis... 

Pergunto-me onde anda quem nela deitou o sal e os temperos e a ajudou a pôr ao lume; estamos a preparar um Poste sobre essa experiência e gostaríamos de reunir depoimentos, ou a seu pretexto, reunirmo-nos nós...

O Barbot, além de uma das molas impulsionadoras, foi um dos actores que tive a grata oportunidade de dirigir. Já lho disse e repito sem hesitar, se não tivesse optado pela escrita, que domina como o texto que se segue evidencia ["Para o livro de ouro do Capitão Garcez"], poderia ter sido um grande actor. Tinha a intuição, a inteligência e o "nervo" necessários para tal. Ganhou-se um grande escritor e, não o esqueçamos, um grande dramaturgo. Não se ficou a perder...

Carlos Nery

2. Mensagem do Rui Barbot / Mário Cláudio (cujo endereço de email não divulgamos, para já), com data de 17 do corrente, dirigida ao Carlos Nery

Meu Caro Carlos Nery,

Aqui segue o que lhe prometi. O que não constar dos anexos seguirá depois, ou irá ter-lhe às mãos por via postal.

Grande abraço amigo do
Rui Barbot

3.  Breve nota biobliográfica de Mário Cláudio, pseudónimo de Rui Manuel Pinto Barbot Costa , baseada em elementos fornecidos pelo próprio e/ou recolhidos pelo editor L.G, na Internet ou nos livros do escritor.

  [ P - Neste momento, estou a falar com o Mário Cláudio ou com o Rui Barbot Costa? R - Está a falar com os dois ao mesmo tempo, embora a segunda entidade a que se referiu tenda a desaparecer cada vez mais, porque, entretanto, se avolumou o autor. Excerto de uma entrevista, em 2/2/2009, ao JN- Jornal de Notícias ]

(i) Nasceu no Porto [, em 1941]. ["Não sou um escritor do Porto. Sou um escritor no Porto, que é uma coisa diferente".]

(ii) ["Mário Cláudio é o pseudónimo literário de Rui Manuel Pinto Barbot Costa, nascido a 6 de Novembro de 1941, no seio de uma família da média-alta burguesia industrial portuense de raízes irlandesas, castelhanas e francesas, e fortemente ligada à História da cidade nos últimos três séculos"].

(iii) [Fez o liceu no Porto; em seguida, matriculou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, tendo depois se transferido para a Universidade de Coimbra]; 

(iv) Licenciou-se, em 1966, em Direito, pela Universidade de Coimbra;

(v) É igualmente diplomado com o Curso de Bibliotecário-Arquivista, pela mesma Universidade, Master of Arts em Biblioteconomia e Ciências Documentais, pela Universidade de Londres [, em 1976];

(vi)  ["Pelo meio, a Guerra Colonial e uma mobilização para a Guiné, na secção de Justiça do Quartel General de Bissau. Antes de partir, em 1968, entrega ao pai, pronto para publicação, o seu primeiro livro de poemas, 'Ciclo de Cypris', publicado no ano seguinte".]

(vii) Ficcionista, poeta, dramaturgo, ensaísta e tradutor, é autor, entre outros, dos volumes de poesia Estâncias e Terra Sigillata, dos romances Amadeo, Guilhermina, Rosa, A Quinta das Virtudes, Tocata para Dois Clarins, As Batalhas do Caia, O Pórtico da Glória, Peregrinação de Barnabé das Índias, Ursamaior, Oríon, Gémeos, Camilo Broca e Boa Noite, Senhor Soares, e das peças de teatro Noites de Anto, O Estranho Caso do Trapezista Azul e Medeia

(viii) Tem numerosíssima colaboração dispersa por jornais e revistas, portugueses e estrangeiros. 

(ix) Está traduzido em inglês, francês, castelhano, italiano, húngaro, checo e serbo-croata. 

(x) Recebeu os seguintes galardões: 

Grande Prémio de Romance e Novela (1984), da Associação Portuguesa de Escritores;
Prémio de Ficção, da Antena 1;
Prémio Lopes de Oliveira;
Prémio de Ficção, do PEN Clube Português;
Prémio Eça de Queiroz, da Câmara Municipal de Lisboa;
Grande Prémio da Crónica, da Associação Portuguesa de Escritores;
Prémio Pessoa (2004);
Prémio Vergílio Ferreira (2008);
Prémio Fernando Namora (2009).

(xi) Foi galardoado pelo Presidente da República com a Ordem de Santiago da Espada [, em 2004,] e pelo Governo Francês com o grau de Chevalier des Arts et des Lettres.

4. Comentário de L.G.:

Mário, sê bem vindo à Tabanca Grande, a  caserna virtual aonde se acolhem os camaradas (e os amigos) da Guiné... O tratamento romano é norma, entre homens que estiveram física e psicologicamente muito próximos uns dos outros no Teatro de Operações  (TO) .

 Não podemos ignorar que és mais famoso, pelos teus livros (e prémios), do que  nós todos juntos.  Isso não nos impede de nos sentirmos irmanados pelas circunstâncias da vida que nos levaram à Guiné, no longo período em que decorreu a a guerra do ultramar / guerra colonial / luta de libertação (1963/74) (conforme os 'óculos' do observador)...

Como fazemos gala de dizer (e de tentar praticar) os amigos e camaradas da Guiné têm como maior denominador comum a experiência de (ou a relação com) a guerra colonial, a guerra do ultramar ou a luta de libertação na Guiné, entre 1963 e 1974... Tudo o mais que nos possa separar (a idiossincrasia, a ideologia política,  a religião, a nacionalidade, a origem social, a etnia, a cor da pele, as antigas patentes e armas, a orientação sexual, a riqueza, a fama,  o proveito, etc.), é secundário. Direi secundaríssimo.

Sabemos que, pelos teus afazeres de escritor activo, produtivo e famoso, um dos maiores da língua portuguesa actualmente vivos, e potencialmente Nobelitável, não terás muito tempo para, com regularidade, escreveres no nosso (e doravante teu) blogue,  e/ou compareceres nos nossos convívios períódicos (Tabanca Grande, anualmente, em Monte Real; Tabanca de Matosinhos, semanalmente, em Matosinhos; Tabanca do Centro,  em Monte Real, trimestralmente, etc.).

Mas fica a saber que será um grande prazer, para mim e para os restantes amigos e camaradas da Guiné, conhecer-te em pessoa, ao vivo, um dia destes. Somos calorosos, às  vezes até demais, fervendo em pouca água com alguns ditos & escritos. Mas vamos regando, todos os dias, a nossa cultura da tolerância...

Já leste, de certo, os nossos "dez mandamentos" (disponíveis na coluna do lado esquerdo do nosso blogue), o último dos quais diz o seguinte: "(x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos"...

Agradeço-te antecipadamente o envio do texto, soberbo (e julgo que inédito), "Para o Livro de Ouro do Capitão Garcez", que nos chegou, juntamente com as fotos, através do Carlos Nery... Oxalá o nosso blogue também te possa inspirar muitas outras e boas histórias relacionadas com este povo, fantástico e às vezes demasiado humilde, de soldados, marinheiros, poetas e aventureiros. de quem os altivos castelhanos diziam: "Portugueses, pocos, pero locos".

É, naturalmente, também uma honra, para nós, poder publicar e ler em primeira mão textos, de ficção ou não, de um grande escritor como tu, que também foi nosso camarada. Bem hajas. Prometo publicar o teu primeiro texto  muito em breve. LG.

2 comentários:

MANUELMAIA disse...

CARO MÁRIO CLÁUDIO,

UM GRANDE ABRAÇO DE BOAS VINDAS.
PARABÉNS AO NÉRY QUE TE APADRINHOU, E AO LUÍS QUE ENGRANDECE SISTEMÁTICAMENTE A TABANCA COM "NOVAS AQUISIÇÕES" DE ALTÍSSIMO QUILATE.
MANUELMAIA

Carlos Nery disse...

E não é que, em Monte Real, fui encontrar o João Barge, outro dos "meus" actores de Bissau?
O João, afinal, faz parte da Tabanca Grande e, descobri-o agora, esteve comigo em Buba, também.
Eu explico, houve uma altura em que Buba foi terra de "muitas e desvairadas" gentes. Abria-se aquele "elefante branco" que foi a Estrada Nova, (um dia falarei nessa empresa que custou vidas, sofrimento e imenso esforço e que nunca serviu para nada); uma das unidades que ali esteve, creio que durante três meses, foi a companhia que estivera em Gandembel, a CCaç 2317, a que o Alf João Barge pertencia. Certamente que o conheci nessa altura mas não me recordo. Mais tarde, quando em Bissau decidimos fazer "A Cantora Careca" creio que não tive a noção daquilo que havia sido a experiência de guerra do João.
Várias vezes o Barbot me perguntara, mais recentemente, pelo João. Dali mesmo, de Monte Real, lhe comuniquei que o encontrara, finalmente, e que estávamos ali os dois. Pois está "na calha" um encontro, algures, destes três amigos!