domingo, 20 de junho de 2010

Guiné 63/74 - P6621: Controvérsias (88): A ruptura do stock de capitães do QP e a milicianização da guerra (A. Teixeira / J. Manuel Matos Dinis / Mário Pinto / Manuel Rebocho)


Maia > Maio de 2007 > Três homens de Guileje (embora de épocas diferentes):  da esquerda para a direita, Nuno Rubim (Cor Art Ref), José Casimiro Carvalho e Abel dos Santos Quintas Quelhas. Nuno Rubim omandou duas das unidades que passaram por Guileje: a CCAÇ 726 (Out 1964/Jul 1966) e a CCAÇ 1424 (Jan 1966/Dez 1966). Ainda hoje é conhecido e reconhecido, pela população de Guileje (que vive em Mejo), como o Capitão Fula. Os outros dois camaradas são,  respectivamente, o ex-Fur Mil Op Esp e o ex-Cap Cav Mil, 1º Comandante da CCAV 8350, os Piratas de Guileje (1972/74).  Estes dois militares da CCAV 8350 foram entrevistados por Manuel Rebocho, no âmbito da elaboração da sua tese de doutoramento em sociologia pela Universidade de Évora, defendida em 2005 em provas públicas, sendo sua orientadora a Prof Doutora Maria José Stock e  o seu principal arguente o Prof Doutor Adriano Moreira.

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.


1. Comentários ao poste P6596 (*):

(i) A. Teixeirra (autor do blogue Herdeiro de Aécio), com data de 16 do corrente:

Os meus parabéns por este seu trabalho, Senhor Coronel.

É pena que,  à chegada ao fim do seu estudo, se tenham "perdido" os autores dos comentários que li neste blogue (**), ardentes defensores de teses contrárias às suas e que me pereceram baseados, numa maioria das vezes, em experiências pessoais pontuais,  quando não de "ter ouvido dizer".

Competir-lhes-á a algum deles agora a refutação com igual detalhe e rigor do que aqui deixou explicado.


(ii) José Manuel Matos Dinis , com data de 17 do corrente:

Meu Caro A. Teixeira

Não ando perdido em teses contrárias às do Sr. Coronel. Aliás, basta ver a redução drástica do número de capitães do QP que comandaram companhias de combate, acentuado a partir de 1972, conforme os quadros expostos.Onde é que eles estavam nesse período?

Por outro lado, o trabalho em apreço é, à evidência, uma estatística, não um estudo. Porque um estudo configura a conjugação de dados, e a análise sistematizada dos resultados em diferentes objectivos (v.g.,  considerar a inversão da pirâmide, quando o nº. de oficiais superiores fosse superior ao de capitães, se os resultados da guerra seriam mais ou menos vantajosos, apesar de outros factores endógenos e exógenos).

O trabalho do Sr. Coronel é, isso sim, uma ferramenta para os estudos que venham a realizar-se, e tem mérito.

Abraços fraternos
JD

(iii) Entretanto, já a 15 do corrente, o Mário Pinto se tinha feito a seguinte sugestão (que eu aceitei):

Caro camarada: Ao publicares o estudo do Coronel de Artilharia Carlos Morais e Silva, em resposta à tese defendida por Manuel Rebocho, na Universidade de Évora, e considerando a importância do tema em discussão e análise,  a meu ver terá de ser publicada a tese do Sarg Mor Pára-quedista Manuel Rebocho.

Embora já tenham sido citadas e sublinhadas inicialmente as passagens mais marcantes da tese (***), as mesmas ficam isoladas do seu principal sentido, por isso a meu ver, necessita do seu complemento para melhor análise.

Um abraço
Mário Pinto.

3. Comentário de L. G.:

O nosso blogue faz questão de dizer, alto e bom som, que todos os camaradas da Guiné, homens de boa fé e de boa vontade, têm o mesmo direito de escrever neste blogue, dentro das regras do jogo que estão definidas. Não compete aos editores defender opiniões ou posições particulares, identificadas com A, B, ou C. O papel dos editores é apenas o de facilitar a livre troca de informação e conhecimento entre os membros do blogue, e garantir a equidade no acesso à edição de postes.

Mais concretamente, as opiniões defendidas no blogue tanto pelo Cor Art Ref Morais da Silva (a ruptura do stock de capitães do QP em 1972) como pelo Sarg  Mor Pára Ref Manuel Rebocho (a milicianização da guerra colonial) podem e devem ser livre,  responsável e serenamente apresentadas e discutidas no nosso blogue. Mas não peçam aos editores, enquanto tal, que tomem partido.

O Manuel Rebocho é membro do blogue. O Morais da Silva não o é, porque nunca até manifestou interesse ou desejo em sê-lo,, embora eu já o tenha convidado. Isso em nada prejudica ou beneficia a nossa atitude para com estes dois camaradas que, de resto, conheceram o TO da Guiné e, além do mais, são pessoas com formação académica, de nível superior.

O Manuel Rebocho publicou, em livro, no ano passado a sua tese de doutoramento em sociologia pela Universidade de Évora (em 2005): A Formação das Elites Militares em Portugal de 1900 a 1975.  Prometi, em tempos, fazer a respectiva recensão bibliográfica, o que ainda não fiz por manifesta falta de tempo. O livro (com um título mais comercial, Elites Militares e a Guerra de África) está lido, pronto para a segunda leitura, mais atenta e crítica. O meu texto, possivelmente, só irá aparecer em Agosto.  Do livro, no entanto, já aqui se falou.  Temos, inclusive, no You Tube dois vídeos com excertos de intervenções públicas do autor (****).

Convirá deste já esclarecer que a famosa tese da "milicianização da guerra colonial" (em especial na Guiné) desenvolvida por Manuel Rebocho é apenas um aspecto lateral da sua tese de doutoramento. Em boa verdade, ocupa menos de meia dúzia páginas do seu trabalho de investigação. Para conhecimentos dos leitores que não leram o livro, aqui fica um pequeno excerto. Não poderemos reproduzir mais páginas, porquanto se trata de uma publicação, e como tal sujeita à legislação em vigor sobre direitos de autor...  LG

4. Excerto, com a devida vénia, do livro de Manuel Godinho Rebocho – Elites Militares e a Guerra de África. Lisboa: Roma Editora, 2009 (Guerra Colonial, 8), pp. 369-374.

(...) 3.3. A Milicianização da Guerra

Da conjugação dos elementos constantes no livro do Estado-Maior do Exército (EME, 2002), com os elementos constantes nos processos sobre as histórias das unidades que estiveram em África, existentes no AHM [Arquivo Histórico Militar], pode concluir-se que das 102 Companhias de Quadrícula, que estavam em Sector na Guiné, em Janeiro de 1974, apenas 11 tiveram algum comando de Oficiais oriundos da Academia Militar, mas só durante nove meses, em média. Durante o restante tempo, em que permaneceram em sector, tanto estas Companhias como todas as outras, foram comandadas por Oficiais milicianos.

Todavia, e não obstante esta factualidade, neste mesmo período existiam nas patentes de combate (Capitães, Tenentes e Alferes), 880 Oficiais das Armas Combatentes (Infantaria, Artilharia e Cavalaria) originários da Academia Militar, entre os quais 759 Capitães.

Obtida esta verificação, procurei apreciar o desempenho de algumas Companhias, cujo comando foi exercido por Oficiais milicianos, que estiveram estacionadas no Sul da Guiné, mantendo assim semelhanças ambientais com as outras unidades de quadrícula e especiais já estudadas. Com este objectivo recorri à consulta dos respectivos processos históricos e à entrevista de Oficiais milicianos envolvidos. Quando as circunstâncias o permitiram e fui para tal convidado, compareci às comemorações que estas unidades realizam, por norma anualmente. Foi o caso da Companhia de Cavalaria nº 8350/72, mobilizada pelo Regimento de Cavalaria nº 3 em Estremoz, a qual ficou para a história militar como a unidade que personalizou o abandono de Guileje e o drama de Gadamael, no extremo sul da Guiné, nos meses de Maio e Junho de 1973.

Das longas horas de gravação que efectuei com diversos elementos desta unidade, particularmente com o seu Comandante [, Capitão Miliciano de Artilharia Abel dos Santos Quelhas Quintas, então com 32 anos de idade], conjugadas com o meu próprio conhecimento dos factos, dos procedimentos e das situações, foi possível descrever o desempenho desta ‘unidade de milicianos’ nos seguintes termos. (pp. 369-370)

3.3.1 – A Companhia de Cavalaria nº 8350/72 (…)  [pp. 370-372]

3.3.2 – A A 1ª Companhia do Batalhão de Artilharia nº 6521/72 (…)  [pp. 372-373]

3.3.3 – A 3ª Companhia do Batalhão de Caçadores nº 4514/72 (…)  [pp. 373-374].


(...) As palavras que me escreveu [, em 13 de Julho de 2005,] o cidadão António Augusto Soeiro Delgadinho [, ex-Alf Mil, 3ª Companhia do BCAÇ 4514/72] sugerem uma pergunta e desde logo uma resposta: qual a diferença entre os Oficiais do QP e os Oficiais Milicianos ? Os valores que individualmente detinham, e a estabilidade no emprego. Nada mais. (p.374).

____________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Junho de 2010 >  Guiné 63/74 - P6596: Estudos (1): Guerra de África - O QP e o Comando das Companhias de Combate (António Carlos Morais da Silva, Cor Art Ref) (VI e última parte)

(**) Vd. poste de 27 de Abril de 2010  > Guiné 63/74 - P6261: Controvérsias (70): Os peões das Nicas (Mário G. R. Pinto)

(***) Vd. outros postes:

28 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5367: Controvérsias (57): Os Oficiais do Quadro Permanente Não Fugiram à Guerra (Carlos Silva, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Farim, 1969/71)



3 comentários:

Anónimo disse...

Caros camaradas e amigos,

Consultada a lista de militares mortos na Guerra do Ultramar da LC e conjugando estes dados com os do site Ultramar.terraweb, compilei os seguintes dados (com uma ou outra falha sem relevo) relativamente aos capitães mortos nos três TO:

- Capitães do quadro: 70
- Capitães milicianos: 28

Mortos em combate:

- Capitães do quadro: 19
- Capitães milicianos: 9
.

- Mortos na Guiné:

- 24 capitães.

Em combate: 10

- Capitães do quadro - 10

Um abraço,
Carlos Cordeiro

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Obrigado, Carlos: Afinal, os capitães, do QP ou milicianos, também morriam na guerra, em combate, acidente, doença, etc. E tu falasdo que sabes, por que tiveste um irmão, capitão pára, que morreu em acidente com pára-quedas, pertop de Bissalanca, no "intervalo da guerra"...

Já agora que os dados estão recolhidos, seria interessante listar os capitães (nomeadamente comandantes de companhias de combate) que morreram no TO daq Guiné, por nome, ramo, subunidade, causa, data...

Não sei se a taxa de mortalidade (ou de letalidade) era maior entre eles do que nas outras patentes de combatente (alferes, sargentos, praças...). E também comparativamente com outros TO, noutros cenários de guerras de "baixa intensidade" (Angola, Moçambique, Argélia, Vietname...).

Não sabemos nem é possível saber, na ausência de estatísticas, "válidas e fiáveis", que nos permitam fazer análises comparativas...

Um Alfa Bravo. E, se possível, até ao dia 26, se saúde da senhora tua mãe te deixar vir até Monte Real, o que seria para nós uma grande honra e prazer. Luís

Anónimo disse...

Obrigado, Luís.

Com minha mãe, as coisas estão a piorar. Já tive, aliás, que faltar a um compromisso profissional em Coimbra. Não vou conseguir sair de cá.
Com calma, vou mandar-te os elementos que pedes, ainda que o José Martins seja muito mais competente do que eu neste tipo de investigação e a quem tanto devemos.

Um abraço amigo do

Carlos