quarta-feira, 28 de março de 2007

Guiné 63/74 - P1632: Guidaje: Parabéns à TVI, ao Vitor Tavares e ao nosso blogue (Albano Costa)

Guiné > Região do Cacheu > Guidaje > Novembro de 2000 > O regresso a Guidaje e arredores, vinte e sete anos depois. Na foto, a bolanga de Cuifeu. O Albano Costa pertenceu à CCAÇ 4150 (que foi para Guidaje depois dos trágicos acontecimentos de Maio/Junho de 1973). Esteve lá oito meses, até ao fim da guerra.

Foto e legenda: © Albano Costa (2006). Direitos reservados.

Caro Luís Graça:

Estive pregado à TVI a ver a reportagem sobre os mortos que ainda hoje estão enterrados em Guidaje, um cemitério improvisado para enterrar os mortos (e foram muitos), o que aconteceu na altura do fatídico mês de Maio de 73, em resultado da ofensiva das tropas do PAIGC (1).

Dou os meus parabéns à TVI, pela reportagem, que veio trazer para a ordem do dia os mortos que ficaram no Ultramar, e ao Vítor Tavares, paraquedista, que estava lá, na altura, e se disponibilizou agora, passado estes anos todos, para contar o sucedido - foi um acto de muita coragem (2).

Fiquei um pouco paralizado ao ver a reportagem, embora para mim não fosse novidade, tudo o que vi na reportagem, eu sabia como as coisas estavam, e em que condições. Quando lá estive em Novembro de 2000, o local realmente estava com plantações. Mas quando se falam de coisas com uma carga de sentimento muito grande, isso mexe sempre com qualquer mortal.

Eu, a seguir à reportagem, fui vaguear um pouco sozinho sempre com Guidaje no meu pensamento. Tudo veio à minha mente. Quando deixámos Guidaje, em 1974, eu sabia que os corpos iam lá ficar, pensei sempre que um dia os iriam buscar, visto que se não o fizessem eles iriam, como veio a acontecer, ficar esquecidos, a não ser pelos seus familiares e por todos os que sabiam que lá estavam.

Mas, na reportagem que foi transmitida, eu fiquei muito triste, porque pensei muito nos familiares dos outros cinco portugueses que lá ficaram e de quem não se falou. O Vítor já me disse que falou também nos cinco mortos do exército que também tombaram na mesma guerra, a reportagem é que só falou nos paraquedistas. Quem viu, e não sabe, ficou com a ideia que só morreram os três paraquedistas, e não foi verdade, morreram muitos mais: só lá ficaram foi oito portugueses.

Tive a garantia que iriam trazer todos, e ainda bem, espero que o Estado através dos organismos responsáveis agora façam a sua obrigação e devolvam os corpos às suas famílias, já não basta a dor de perder um filho, ainda vir, a partir desta reportagem, saber em que condições eles se encontram. Faço um apelo, não castiguem mais, devolvam os corpos aos seus familiares.

Luís Graça (e o Blogue que tu tão bem comandas), tiveste no Vítor Tavares um grande representante, está mais um vez de parabéns. O blogue veio mexer com muitas mentes, assim como trazer para a ribalta estes acontecimentos que foram reais. Há muito boa gente que ainda faz ouvidos moucos, o que é pena.

Um abraço, Albano Costa

2. Comentário de L.G.: Albano, obrigado pela tua manifestação de solidariedade, sensibilidade e apoio. Bem o podes dizer: tivemos no Victor Tavares um lídimo e valente representante do NOSSO blogue...

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Notas de L.G.:

(1) Vd. posts de:

22 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1622: A Última Missão do paraquedista Victor Tavares (Luís Graça / Torcato Mendonça / J. Casimiro Carvalho)

(2) Vd. posts de:

20 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1616: O meu regresso a Guidaje (Victor Tavares, CCP 121)

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

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