Guiné > PAIGC > s/d > s/l > Amílcar Cabral, ao centro, rodeado de guerrilheiros do seu partido... Foto enviada pelo Nelson Herbert, jornalista guineense que trabalha na Voz da América, membro da nossa Tabanca Grande, habitual colaborador do nosso blogue. Julgo que esta foto faz parte do Arquivo Amílcar Cabral, da Fundação Mário Soares.
1. Mensagem de Nelson Herbert:
Data: 14 de Novembro de 2010 03:05
Assunto: Mulheres do PAIGC !
Caro Editores
Para que conste no blogue ! (*)
Achei interessante esta foto, cuja autoria entretanto desconheço...Amílcar Cabral, rodeado de guerrilheiras do PAIGC, algures na Guiné !
Várias mulheres guerrilheiras, guineenses e caboverdianas, destacaram-se durante a guerrilha ... De entre elas o nome mais sonante é a da hoje heroína nacional guineense Titina Silá (que não consigo identificar na foto), morta a 30 de Janeiro de 1973 quando a canoa em que seguia com mais guerrilheiros, foi surpreendida por uma patrulha de fuzileiros ("Zebro" ) durante uma travessia de um dos afluentes do Rio Farim ...
Titina Sila chefiava por sinal uma delegação da guerrilha que se dirigia a Conacri, para as cerimónias fúnebres de Amílcar Cabral !
2. Comentário de L.G.:
Meu caro Nelson:
Essa data, a de 30 de Janeiro, é hoje feriado nacional na Guiné-Bissau. Titina Silá é, com todo o mérito, uma heroína nacional. Sei pouco da sua vida. Terá sido uma das raras guerrilheiras a combater os tugas, de armas na mão. Também são raras as suas fotos.
Às mulheres, na luta de guerrilha, foram dadas sobretudo actividades de apoio, na rectaguarda. Em todo o caso, a mulher guerrilheira está no nosso imaginário. Basta lembrar, entre outros, os romances dos nosso camaradas Estranha Noiva de Guerra (de Armor Pires Mota, 2010, 2ª edição, ainda há dias lançada no mercado) ou Pami Na Dondo, a Guerrilheira (de Mário Vicente, aliás Mário Fitas, 2005).
Gostava de conhecer, em detalhe, as circunstâncias em que a Titina [Ernestina] Silá (1943-1973) foi morta pelos nossos fuzileiros. Pode ser que haja alguém, no nosso blogue, que conheça pormenores desta acção militar.
Os seus restos mortais (?) repousam hoje no Forte da Amura. Estive lá no dia 7 de Março de 2008. Fiz-lhes uns versos...
(...) E quanto a ti, Titina,
que incendiavas paixões
pelo Oio ?
Que fazes também aqui,
jazida entre os poilões,
debruados de branco,
da triste Amura ?
Cuidado, Silá,
que os tugas montaram-te a cilada
na cambança do Rio Farim.
(...)
Segundo informação recolhida pelo nosso camarada e amigo A. Marques Lopes, era a Titina Silá quem dirigia a Norte o Comité da Milícia Popular e que tinha como missão organizar a passagem de pessoas e mercadorias nas cambanças do rio Cacheu, segundo diz o Luís Cabral no seu livro "Crónica da Libertação". Diz aí também que ele, Luís Cabral, mais o Chico Mendes eram os responsáveis da Frente Norte.
Ainda este ano o nome de Titina Silá foi evocado pelo guineense Edson Incopté, na página do Didinho [, a quem agradeço a foto]. O autor lamenta que esta mulher esteja esquecida pelos guineenses...
(...) "Hoje, passados 37 anos após a sua morte, o respeito permanece mas não a merecida recordação! É Incomodativo constatar a falta de consideração para com a memória de Titina Sila, não só dentro do PAIGC, não só dentro dos órgãos governamentais, mas também entre a sociedade em geral. (...) A força espiritual que hoje sabemos que existiu em Titina Sila, tem de estar na nossa consciência, principalmente na consciência dos nossos governantes (...). A grande revolução que se deseja dentro da mente dos nossos jovens necessita de referências como Titina Sila. Só com essa revolução de mentalidade teremos uma Guiné-Bissau renovada sob todos os aspectos. Ou seja, meus irmãos, nunca mais teremos Titina Sila, mas podemos ter pessoas que se inspiram nela no seu dia-a-dia. Os tempos são outros, mas podemos fazer voltar o bom tempo em que as crianças eram ensinadas à cantar tão sentida canção: “Titina na riu di Farim, Titina nada i tchiga na metadi i fasi força pa iangasa kanua tuga odjale i kunsa lança bumba…” (...)
(...) E quanto a ti, Titina,
que incendiavas paixões
pelo Oio ?
Que fazes também aqui,
jazida entre os poilões,
debruados de branco,
da triste Amura ?
Cuidado, Silá,
que os tugas montaram-te a cilada
na cambança do Rio Farim.
(...)
Segundo informação recolhida pelo nosso camarada e amigo A. Marques Lopes, era a Titina Silá quem dirigia a Norte o Comité da Milícia Popular e que tinha como missão organizar a passagem de pessoas e mercadorias nas cambanças do rio Cacheu, segundo diz o Luís Cabral no seu livro "Crónica da Libertação". Diz aí também que ele, Luís Cabral, mais o Chico Mendes eram os responsáveis da Frente Norte.
Ainda este ano o nome de Titina Silá foi evocado pelo guineense Edson Incopté, na página do Didinho [, a quem agradeço a foto]. O autor lamenta que esta mulher esteja esquecida pelos guineenses...
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Nota de L.G.:
Nota de L.G.:
(*) Último poste desta série > 21 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7154: (De) Caras (5): Silate Indjai, um dos primeiros guerrilheiros do PAIGC a entrar em Guileje, dirige agora os trabalhos de detecção e limpeza de UXO (Pepito)
13 comentários:
Os jovens de Bissau tinham versões muito vivas sobre vidas como as de Titina Silá, Chico Mendes e outros que pereceram.
Mas os acontcimentos de há 30 anos alteraram os valores radicalmente e o que era fundamental passou a secundário.
Nelson, faz hoje, dia 14, 30 anos que tudo se alterou, noite de sábado para Domingo.
Ainda eras um jovem.
Cumprimentos.
Nelson e Luis, o anónimo que não assinou por lapso o comentário anterior, há 30 anos eram jovem de 42 anos.
Antº Rosinha
Umas raparigas giras, não há dúvida.
Aquilo sãopistolas metralhadorasou coisas simuladas, de playstation, de boneco animado?
Será limitação minha mas continuo a ter dificuldade em engolir estas 'recordações enternecidas'.
Não será de hostilizar a homenagem do PAIGC/Gov.Guineense aos seus combatentes mas não será de reconhecer ou aplaudir.
Compete-nos, ex-combatentes, assumidamente, aplaudir, pelo contrário, os fuzileiros que acabaram c'a perigosa bricadeira da menina Titina (se calhar nem isso foi, perigosa... se calhar foi só propaganda como a fotografia do Amilcar c'as meninas)
SNogueira
Rosinha, que recordações (enternecidas ou empedernidas, tanto faz) tens do "golpe de Estado" de 14 de Novembro de 1990, em que Amílcar Cabral terá sido morto pela 2ª vez ?
Tu estavas em Bissau, continuas a ser uma testemunha privilegiada e equidistante... desses acontecimentos.
Caros Nelson, Rosinha e Luis
Uns procuram testemunhar e ou analisar historicamente determinados factos, olhando para o passado com os olhos de hoje.
Outros, porém, fazem-no num estático e eterno posicionamento temporal com 40 anos de desfasamento.
Que fazer para os trazer até ao futuro ?
Interrogação simples e sem outro fim que não seja o apelo à razão.
Abraço
Jorge Narciso
Salvador:
Para tua informação, o Nelson Herbert é membro da nossa Tabanca Grande, o que significa que dá a cara em público e aceita os princípios e valores que norteiam o nosso blogue...
Como guineense que é (e admirador de Amílcar Cabral, mesmo sendo um "djubi" quando ele morreu), o Nelson tem direito a ter (e a manifestar) as suas eventuais "recordações enternecidas" em relação à sua pátria e aos seus símbolos, da mesma maneira que tu tens direito, mesmo não sendo membro da nossa Tabanca Grande, a manifestar, neste espaço público, factos e opiniões relacionados com a tua experiência como antigo combatente da "guerra de África", como tu gostas de dizer...
Como a guerra acabou há muito (ou não ?), ninguém faz propaganda de ninguém, quando aqui se evoca esta ou aquela figura, do Gen Spínola ao Eng Amílcar Cabral, do comandante Domingos Ramos ao comandante Alpoím Calvão, por muito polémicos (ou até detestáveis) que tenham sido...
Aqui não cultivamos (ou não gostamos de cultivar) ódios, muito menos ódios de estimação. E quando se escreve que Titina Silá foi morta, em 30 de Janeiro de 1973, na emboscada montada pelos nossos fuzileiros, não estamos a acusar nem a louvar ninguém, mas apenas a descrever um facto e a constatar a morte de uma ser humano, que por sinal também era mulher e mãe, além de guerrilheira.
Para azar da dirigente do PAIGC, os fuzileiros do Cacheu atravessaram-se no seu caminho. Eu não estava lá, nem sei pormenores, mas gostaria de saber...
Quanto à tua ironia ou insinuação (, segundo a qual a notícia da sua morte em combate poderá ter sido mais um caso de propaganda do PAIGC), tenho receio que possas ferir sentimentos que, no meu caso, eu respeito, mesmo tratando-se de "antigos inimigos" que combatemos, de armas na mão, tu, eu e todos nós, os que lá estivemos, integrados nas Forças Armadas Portuguesas...
Um Alfa Bravo. Luís Graça
Luis Graça, nunca me esqueço dessa data 14 de novº.
Nesse dia vi como um país se pode metamorfosear da noite para o dia com foi em Portugal no 25 de Abril, com os riscos dos abismos.
Vi o comportamento internacional, cheio de cinismo, principalmente soviético, que me alertou para muitas coisas que andavam a martelar nos pirolitos.
E alem de ouvir o pensamento dos guineenses, como português compreendi mais de África nesse dia, e do que se passava noutros paises africanos, do que aprendi em mais de vinte anos que levava pelos trópicos.
Por esses motivos e até profisionalmente essa data marcou a sério.
Antº Rosinha
Caro Luis,
não declarei que a morte da Sra D Titina tivesse sido usada como propaganda; declaro que a fotografia de um Amilcar Cabral com as meninas e armado de pistola metralhadora, parece sê-lo. Assim como sempre o foi, não só ali, a divulgação de muljheres na guerrilha - era um lugar comum, naquela época... e raramente correspondia a uma significativa acção das representadas.
Também declarei que as inúmeras referências a acções do inimigo de então podem, ainda hoje, ser entendidas como o respingar de uma admiração inexplicável por quem se nos opunha de um modo que, em muitos aspectos, nada tinha de admirável, tanto no plano social,como no político e, sobretudo, no para-militar.
Mais, embora não referido ao teu comentário, nenhuma destas posições se respalda num imobilismo de pensamento que impeça o entendimento dos factos nem, outrossim referido agora ao que dizes, o facto de o Sr Herbert exteriorizar o seu sentir invalida a dificuldade que tenho em ver propalados factos, referências e elegias relativos à acção do PAIGC que, pese a dignidade de Amilcar Cabral, não deixou de integrar, ordeiramente, um processo de expulsão dos portugueses de África, com ou sem justificação aceitável -não discuto- com a finalidade e resultados que hoje se podem constatar, especialmente em Angola, processo a que a Guiné era periférica vista a pobreza do território e vista a 'integração' na África francófona -um detalhe mal discutido- e apesar da importância então atribuída a CVerde (v/ acção de Senghor durante a guerra e v/ ulterior permanência de navios soviéticos e americanos, no porto da Praia).
SNogueira
Amigos & Camaradas
1 - Com todo o respeito que os nossos ex-inimigos nos possam merecer, não cabe a nós ex-combatentes relembrar os combatentes do PAIGC que foram elevados ou consagrados heróis enquanto combatentes da liberdade da sua pátria, embora compreenda o nosso tertuliano Nelson Herbert.
Pois fica-lhe muito bem exaltar os heróis do seu Pais. Está no seu direito.
2 - No entanto, eu também gostava de saber em detalhe e em que circunstâncias tombaram os mais de 4.000 camaradas meus sem excepção que pereceram na Guiné e porquê.
São factos históricos relevantes.
3 – Não sei quem seja o autor do título deste Post, mas presumo que seja da autoria do Luís e do Nelson.
4 – Apesar de não ter a haver nada com o assunto, pois não é a mim e nem a nós portugueses que cabe ter essa preocupação, não estou de acordo com o mesmo e acho que é infeliz, na medida em que, para mim, a mencionada heroína não está votada ao esquecimento, porquanto, resulta do próprio texto do post, que a data, a de 30 de Janeiro, foi consagrada feriado nacional na Guiné-Bissau.
Por outro lado os seus restos mortais repousam em paz no Memorial da Amura e até o Luís lhe fez uns versos, talvez se tivesse tido o azar, que felizmente não teve, como milhares de camaradas nossos que ficaram estropiados para toda a vida, não tivesse por esse motivo e esse gesto simpático….
5 – Além disso, lembro-me porque estava na Guiné, que quando a mãe de Titina faleceu em 1996 ou 1997, foi feriado na Guiné para possibilitar que o povo participasse no seu funeral e de facto tive a oportunidade de constatar que Mãe e Filha eram consideradas não só pelos governantes do País como também pelo povo.
6 – Acresce ainda informar, porque talvez o Hebert e o Luís desconheçam, existe também um Monumento em Farim em homenagem a Titina Silá [cujas fotos não anexo, porquanto não é possível inserir no comentário] e que diz, passo a citar:
“ Monumento em Memória da Heroína Nacional Titina Silá, tombada na Região do Oio no rio Farim [rio Cacheu] em 1973.
Erigido pelo Instituto da Mulher e Criança a 30 de Janeiro de 2003 [30 anos depois da sua morte]
Inaugurado por sua Excelência Senhor Mário dos Reis Pires – Primeiro Ministro da Guiné”
7 – Daí eu presumir, que Titina Silá não esteja votada ao esquecimento, como sugere o título do Post
Recebam um abraço amigo
Carlos Silva
Carlos Silva:
Obrigado pelas tuas achegas.
Mal ou bem, este blogue foi intencionalmente criado com o objectivo de construir, a pouco e pouco, uma "ponte" entre portugueses, guineenses, caboverdianos e até outros que combateram na Guiné, na chamada guerra colonial, do ultramar, de África ou de libertação (como se queira), entre 1961 e 1974...
É um blogue (lusófono) de combatentes onde se trocam memórias e emoções. Convenhamos que nem sempre é fácil e confortável a "acareação" e o "convívio"... (a começar pelos títulos dos postes, que em geral são da responsabilidade dos editores, procurando sempre respeitar "a letra e o espírito da mensagem" e tentando, ao mesmo tempo, não criar desconforto nem ao mensageiro nem aos receptores das mensagens, tarefa que nem sempre se afigura fácil, dada a complexidade da comunicação humana, e para mais em português).
Mas até nisso, nessa tentativa de criar uma ponte entre antigos inimigos, temos sido, se não originais, pelo menos diferentes. Os nossos camaradas, portugueses, estão aqui relativamente bem representados, e mesmo alguns dos 4 mil que morreram (tomo como boa a tua estimativa, que é superior em 25% aos números oficiais ou oficiosos), têm tido aqui vozes (de familiares e amigos) que os não deixam esquecidos.
Sem dúvida que é a nós que nos compete "não deixar morrer duas vezes" aqueles que lutaram e tombaram ao nosso lado...
Já quanto aos guineenses, de um lado e do outro (incluindo aqueles que consideramos nossos camaradas, os soldados do recrutamento local e os milícias que estiveram nas nossas fileiras), é muito mais complexa, problemática e delicada a sua representação... Por razões que são sobejamente conhecidas e que já temos exposto e analisado aqui...
Quanto ao monumento de homenagem à Titina, erigido em Farim, agradeço a tua sempre prestável e preciosa ajuda... De qualquer modo, há já uma foto, no blogue, com mais de três anos, que nos foi enviada pelo Fernando Inácio (*). Mas podes mandar a tua, pela via normal do e-mail.
Um Alfa Bravo do tamanho do Rio Cacheu. Luís
_________
(*) 3 de Julho de 2007
Guiné 63/74 - P1914: Tabanca Grande (21): Em Farim, em 2007, imaginando um Unimog com tropas portuguesas ao virar da esquina... (Fernando Inácio)
EU QUERIA DIZER ALGUMAS COISAS SOBRE ESTE TEXTO, MAS MAIS UMA VEZ TENHO RECEIO DE FERIR ALGUÉM COM AS MINHAS PALAVRAS, SÓ QUERIA DIZER AO SNOGUEIRA QUE SEJA MAIS SÉRIO NAQUILO QUE DIZ, NÃO FAÇA TROÇA COM OS TEXTOS DOS OUTROS, NÃO SEMEIO ÓDIOS, TODA A GENTE SABE QUE A TITINA
SILÁ ERA UMA GUERRILHEIRA TEMIDA POR NÓS, TODA A GENTE SABE QUE AS HK47 NÃO ERA DE BRINCADEIRA TANTO QUE NÃO ERAM QUE TIVEMOS MILHARES DE CAMARADA MORTOS NA GUINÉ, CAMARADA SNOGUEIRA, DEIXA-TE DE SACRAS-MOS, DE GOZAR COM A REALIDADE, A GUINÉ É INDEPENDENTE,
NÃO É TERRITÓRIO PORTUGUÊS, "A ÁFRICA É DO POVO AFRICANO NÓS SOMOS EUROPEUS". EU ADOREI O POSTE DO NELSON E DO LUÍS VÊ-SE QUE NÃO HÁ RANCORES NAS SUAS PALAVRAS, PORQUE HOJE AQUELES QUE FORAM NOSSOS INIMIGOS SÃO NOSSOS AMIGO DO PEITO E TEMOS QUE FAZER TUDO PARA OS AJUDAR A VIVEREM MELHOR E É ISTO QUE NÓS QUE LÁ TIVEMOS TEMOS QUE NOS CONVENCER A DAR-MOS O NOSSO MELHOR PARA QUE AQUELE POVO VIVA MELHOR.
UM ABRAÇO DO TAMANHO DA GUINÉ PARA TODA A TABANCA GRANDE
AMILCAR VENTURA EX-FURRIEL MILº MECÂNICO AUTO DA 1ªCCAV/BCAV 832PIRADA-BAJOCUNDA-COPÁ 73/74
"Também declarei que as inúmeras referências a acções do inimigo de então podem, ainda hoje, ser entendidas como o respingar de uma admiração inexplicável por quem se nos opunha de um modo que, em muitos aspectos, nada tinha de admirável, tanto no plano social,como no político e, sobretudo, no para-militar." (SNogueira)
Tembem eu, em crianca e adolescente ganhei o defeito de avaliar os bons e maus filmes da "coboiada" da epoca, pelo destino triunfante ou tragico reservado pelo realizador, ao "otor" -(o actor principal)-ao cair do pano !
Quantas vezes me senti defraudado e tentado a abandonar a sessao, sempre e quando o "otor", logo ao abrir do pano, caia fulminado por balas assassinas ? E falando de balas, nao e que sao todas assassinas, independentemente da cor, raca , religiao ou razao de quem a dispara.
Mas a vida e a maturacao ensinou-me pois a encarar os factos, a realidade e a historia,tal qual elas sao,independentemente das emocoes que nos possam suscitar...
E esta pois a razao do meu "alistamento voluntario" neste blog, a de contribuir ainda que modestamente para a reconstituicao de episodios de uma "historia" comum que a todos nos -em menor ou maior escala-acaba por razoes obvias,por dizer respeito !
E repare, Mr SNogueira, a razao da contenda aqui suscitada,foi pois uma guerra...um conflito a dois...mas de consequencias irreparaveis para toda uma geracao de guineenses de que faco parte...
Sem ter sido parte dela,ainda hoje arrasto comigo aqui a distancia,a mesma sina de muitos guineenses-a heranca de um pais em cacos..e quica no meu caso ...a de mais um guineense condenado ao "desterro",pelo futuro incerto da terra onde deixei enterrado o meu umbigo !
Portanto,por todo o respeito que me mereca a sua opiniao, como calcula para "roncos" ou exaltacoes ...nem uma restia de motivacao !
Mantenhas
Nelson Herbert
Washington DC,USA
Mais Velho Rosinha
Lembro-me perfeitamente aos meus 17 anos, dessa noite por sinal, a mais longa da minha vida...
Por varias razoes pessoais e familiares. Foi uma noite que enluta a minha familia...um orfao,um bebe de apenas um ano, para cuja educacao ..sem ressentimentos e odios...fui chamado a contribuir ja no exterior da Guine. Hoje um engenheiro licenciado aqui nos Estados Unidos, entretanto ha anos radicado na Suecia !
Tratar-se-ia pois do primeiro, de duas criancas, membros da minha familia, orfaos, vitimas das purgas internas do PAIGC.A segunda, uma jovem formada em Administracao de Empresas na Africa do Sul, hoje residente em Angola...
Portanto a noite de 14 de Novembro nao so alterou o curso da historia na Guine,como acabou por influir no destino e nos projectos da minha vida, como jovem...
Foi por sinal a noite em que o cine-teatro UDIB exibia o filme "Estado Sitio"...Se nao me falha a memoria, um filme retratando tambem ele um golpe de estado militar algures na America Latina..Antecipando a sessao, os primeiros tiroteios aconselhavam a um recolher obrigatorio...e sessao ficou adiada.. Sabe que ainda hoje algures nos meus arquivos pessoais da Guine, conservo o bilhete de cinema desse dia, na esperanca de um reembolso (Ah Ahhhh)? Aqui pelos States virou habito vasculhar os clubes de video americanos, em busca de uma copia do filme, que nao cheguei a assistir ?
Foi igualmente a noite, em que a escassos metros da minha casa...e como alvo uma residencia vizinha...um violento tiroteio e explosoes envolvendo disparos de tanques e de armas automaticas, punham fim a vida de Antonio Buscardini...o ex chefe da secreta do governo de Luis Cabral...
A noite mais longa..e de insonias !
Como na epoca era proibido contrariar os animos e os proprios argumentos justificativos do golpe militar (alias sobre este aspecto o meu conterraneo Tcherno Djalo referiu-se em tempos de forma precisa num post deste blog a entao unanimidade reinante entre os guineenses nessa materia)...entre o querer ficar mas ter que partir...havia uma opcao a ser feita !
Foi pois igualmente a noite determinante a minha decisao,de apesar de jovem,procurar outros rumos mais alem. Pra tal foi apenas necessario alguns meses de um compasso de espera, o tempo suficiente para a conclusao do ano lectivo e consequentemente do 2 ano do curso complementar (o antigo 7 ano dos Liceus)..
Na altura eu, um jovem professor integrante das entao brigadas "Chico Te"...a de jovens professores ao servico da massificacao da educacao e do ensino na Guine !
Portanto a todos os niveis..incluindo episodios que por enquanto prefiro manter reservado, a noite de 14 de Novembro de 1980 acabou por alterar nao apenas o rumo da Guine Bissau...mas tambem o meu proprio destino e projecto de vida ...
Mantenhas
Nelson Herbert
Washington DC,USA
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