1. Mensagem de José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 16 de Novembro de 2010:
Caros Camaradas e Amigos.
(Alguns considerandos muito intimistas sobre um" certo temperamento" que, aparentemente, tem vindo a surgir em algumas das nossas intervenções dos últimos tempos).
A maioria de nós já faz parte desta Tabanca Grande há alguns bons anos. Julgamos conhecermo-nos, pelos contactos sucessivos e quase diários com o blogue. Todos temos o que se pode considerar "umas boas idades", de muitas (boas e más) experiências feitas. A diferentes profissöes, diferentes níveis literários, diferentes áreas geográficas (com as suas pequenas, mas importantes, tradições culturais e de relacionamentos), diferentes, interesses, diferentes ideias políticas ou religiosas, diferentes situações familiares, e, (näo menos importantes nas nossas idades) diferentes situações de saúde... somam-se os nossos "temperamentos" adquiridos nas (quer se queira ou näo) difíceis experiências de uma guerra que tivemos que enfrentar, precisamente, nos nossos anos formativos.
Para quem, como eu, vive tão afastado do "centro geográfico" da nossa Tabanca, torna-se talvez mais fácil sentir que é com demasiada rapidez, facilidade e agressividade, que alguns reagem às opiniões, ou ideias, expressas por outros, sejam elas em postes, ou nos comentários aos mesmos. Aparentemente, a nossa maldição tradicional na dificuldade em aceitar que outros pensem de modo diferente. Por tudo e por nada, recorre-se a bandeiras agressivas, a patriotismos (por certo profundos e sentidos pela maioria de nós) mas que, francamente, não necessitam de ser atirados para a frente numa... guerra santa, mal um de nós tem a infelicidade de dizer alguma "bacorada"!
O nosso querido Portugal tem já uma longa História de patriotas exaltados que continuamente procuram ocupar palcos ecoantes, em vez dos diálogos abrangentes... hoje mais necessários que nunca. Talvez por ler este blogue à distância de toda uma Europa, em temperaturas abaixo dos trinta graus negativos, a mais de mil e quinhentos quilómetros ao norte de Estocolmo, e num verdadeiramente extremo... "Trás-Os-Montes", (onde se anda normalmente dentro de um círculo de 500 quilómetros sem se encontrar uma pessoa ou uma casa), me aperceba melhor como o "rastilho" da paciência de alguns está a tornar-se bastante curto. Ao acompanhar as notícias que vão chegando de Portugal, ou as que por esta Europa rica se referem a nós, compreende-se que os que aí vivem estejam preocupados enervados, irritados, mesmo que para alguns isso seja ainda a um nível menos consciente. Haverá desta situação tão séria, e subjacente a tudo, um reflexo no tal "curto rastilho"? Talvez. Ou... se me desculparem o meu "assuecamento"... serão unicamente reacções resultantes de temperamentos de "Primas Donas em Terceiras Idades avancadas"?
No Natal que täo rapidamente se aproxima... paz na terra aos ...
Um grande abraco amigo do
J.Belo.
Estocolmo/16 Nov/2010.
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 26 de Outubro de 2010 > Guiné 63/74 - P7176: (In)citações (20): Os verdadeiros filhos da Guiné (Cherno Baldé / José Belo)
Vd. último poste da série de 10 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7253: (Ex)citações (108): Transferência de soberania com dignidade ou rendição sem honra nem glória ? Quando se olha para trás, é que se enxerga tudo... (José Gonçalves)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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5 comentários:
José Belo
Escrevi um dia (já não sei a propósito de quê):"Pode ser letra de fado ou tema para meditação".
Apetecia-me colocar essa frase como título do teu texto.
Realço dele 5 pontos 5:
1 - As "diferenças" (tendo todos em comum a guerra na Guiné e, mesmo assim, nela com experiências, por vezes, bem diferentes)
2 - Aconteceu "...precisamente nos nossos anos formativos."
3 - Tens a oportunidade de... observar de longe
4 - Procura de "...palcos ecoantes em vez de diálogos abrangentes"
5 - A referência aos tempos que estamos a viver.
É uma boa análise. Meditemos.
Alberto Branquinho
Pois como se pode "matar dois coelhos com uma cajadada".
Ou seja:
Confundi e baralhei dois textos,frases ou comentários de ambos.
Alertaram-me e já devem ter recebido o justificativo.
O texto de um e o comentário de outro,vêm reforçar o que penso pois, com eles estou de acordo.
Acontece que não costumo desculpar, tão facilmente assim os meus erros.
Assim sendo uma paragem é necessária e meditemos.
José Belo,Alberto Branquinho, Tertulianos, daqui onde 4 graus é frio vos envio um abraço (até sempre?)
Torcato
Obrigado, Zé Belo.
Obrigado por "nos forçares a reflecção".
Realmente nesta época, apesar de próxima do Natal como referes, TODOS os elementos desta Tabanca - internos e esternos - temos que fazer uma introspewcção e reflectir sobre o amanhã.
Caro Amigo e Camarada José Belo
Que bela prosa para acalmar as hostes, que tanto estavamos a necessitar e de forma cristalina chega a todos.
Com um grande abraço deste Irmão Maioral.
Arménio Estorninho
Meu caro camarigo José Belo
Muito bem dito!
"Mai nada"!!!
E eu próprio enfio um pouco da carapuça, embora seja sujeito, (e perdoem-me o auto-elogio), que não guardo rancores e depois de desabafar me sequeço rapidamente de "qualquer coisinha" que não me tenha agradado!
Mas é verdade que por aqui as coisas não andam fáceis e a irritação cresce a "olhos vistos"!
Estava lembrar-me quando após o 25 de Abril o Chico Buarque cantava qualquer coisa como: "Esta terra...ainda vai tornar-se num imenso Portugal"!
Isto sem qualquer intuito politico ou "saudosismos", mas apenas constatando que estamos mesmo a bater no fundo!
Não é no fundo do barco, é no fundo do mar, porque do barco já fomos postos fora há muito!!!
E ninguém se pode colocar em situação de acusar ninguém, pois todos vamos concorrendo de uma forma ou outra, (activa ou passiva), para o "estado da nação"!
Manda frio, para arrefecer os ânimos, que por aqui o calor abunda!
Grande abraço
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