domingo, 26 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8472: Controvérsias (127): Ser ou não ser combatente ou ex-combatente (Henrique Cerqueira)

1. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira (ex-Fur Mil do 4.º GCOMB/3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74):

Caro Carlos Vinhal
Vou escrever um artigo de opinião, e como de costume deixo ao teu critério o interesse da publicação do mesmo.

Há alturas em que não consigo calar aquilo a que chamamos consciência adquirida com a experiência dos anitos. Vai daí escreve-se aquilo que nos vai na alma, ainda pelo facto de termos este nosso próprio local onde aceito as regras impostas.

Bom agora vou mesmo passar ao assunto e até lhe vou dar título.


EX-COMBATENTES

Caros Camaradas tertulianos,
Não era minha intenção de falar sobre este assunto de ser ou não Ex-Combatente pela "Pátria", mas não há como escapar, é que a minha consciência não pára de dizer: - Vá lá Henrique diz alguma coisa, não te cales...

O que se passa é que eu não me considero Ex-Combatente nem Combatente pela "Pátria" de então só pelo facto de ter ido à Guiné como militar e até ter estado envolvido em combates. Vou tentar explicar.

Quando embarquei para a Guiné no dia 19 de Junho de 1972, por acaso dia do meu aniversário, nenhum dos responsáveis do país, autoridades superiores ou seja ninguém me perguntou se queria ir defender a "Pátria", numa região de que eu nada sabia, nem entendia, região de onde nem eu ou meus familiares usufruíamos de algo. Aliás para toda a "nossa suposta África" sempre que se queria emigrar tinha de se ter Passaporte, Carta de Chamada, amigos na PIDE ou noutras organizações afins, etc., etc., etc.

Assim sendo e como estava a dizer, no dia do embarque eu jurei que iria tudo fazer para sobreviver e tudo fazer para voltar vivo e inteiro à "minha Pátria".
Daí todos os meus dias em dois anos foi sempre sobreviver... sobreviver.

Já escrevi antes que nunca fui bom militar, ou como quiserem Combatente, ou outra coisa qualquer que alguns gostam muito de se gabar. No entanto fui sempre que possível cumpridor das ordens hierárquicas, respeitador de colegas e civis, mas sempre que permitido eu vestia as minhas roupas civis. É que eu fui um dos milhares de entre os civis que foi obrigado a combater por algo que não era a nossa Pátria, o que se veio a demonstrar com as independências, não é?

Aproveito a onda para dizer que eu não apoio as caridadezinhas que se vêm fazendo um pouco por toda a Guiné. Cada um é como cada qual. No entanto penso na população a quem chegam algumas migalhas, que são enviadas de modo efémero, pois quando a nossa geração, que lá esteve, morrer toda, e já não falta muito, essas migalhas vão faltar, e os povos que entretanto foram castrados do seu poder reivindicativo, até se esqueceram porque quiseram a sua legitima independência. Mas isto foi um parêntesis, voltemos ao assunto.

Eu não quero nada da Pátria para me confortar os anos "inúteis" e arriscados que passei nessa Guiné da altura, por tal não sou ex-Combatente nem Combatente dessa causa, mesmo que tenha estado envolvido em combates, tiros, minas e essa treta toda que hoje em dia só serve para dar algum colorido às nossas fantásticas Histórias da Guiné. Só lamento os nossos camaradas mortos e estropiados, muitos dos quais infelizmente não conseguiram sobreviver, eles, tal como eu, combateram pela Pátria que não a deles.

Também não preciso que a Pátria eduque os meus descendentes dando exemplos de patriotismo passado. Não, não quero. Eu educo os meus seguindo os princípios da moral e bons costumes, sem ter de recorrer a caridadezinhas ou autorecriminações por numa época em que nada era decidido por nós próprios, mas sim imposto pelo medo e repressão.

Na minha modesta opinião, só considero Combatentes, os que combatem por uma causa, os profissionais e pouco mais, os restantes combateram mais para sobreviver aqueles dois anos obrigatórios, e salvo raras excepções, é que continuavam a "combater".

Quero reafirmar que tudo que escrevi é a minha opinião, e só a manifesto porque respeito integralmente as outras opiniões e tal como o Mexia Alves escrevo com a "caneta e o coração próximo da boca", daí que possa eventualmente ferir algumas pessoas de ideias contrárias.

Também é verdade que quem não é escritor se arrisca a ser mal entendido, mas paciência, pelo menos agora somos donos das nossas acções e por isto sim eu sou um fervoroso combatente.

O desabafo está para já terminado.
Um abraço a todos os tertulianos.
Henrique Cerqueira
____________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 6 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3848: As mulheres que, afinal, também foram à guerra (2): Eu, a NI e o Miguel em Biambe, para um almoço de batatas fritas (Henrique Cerqueira)

Vd. último poste da série de 23 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8467: Controvérsias (126): E no meio disto tudo isto... onde estão os combatentes, os tais que a Pátria devia contemplar? (Joaquim Mexia Alves)

19 comentários:

Eduardo J.M. Ribeiro disse...

Camaradas se querem ver o que são Combatentes ou ex-Combatentes, chamem-lhe o que quiserem, copiem o link a seguir e vejam:

http://www.youtube.com/watch?v=lUeZYt2iZug&feature=related

Em Portugal, com ajuda do actual Presidente da República deram-se uns passitos.

A cobardia de muitos, os complexos e traumas pessoais e políticos de outros, levam a nossa classe Combatente a esconder-se, a envergonhar-se e a acanhar-se de manifestações desta dignidade, afirmação e categoria.

Porque é que julgam muitos de nós, que somos tratados do modo que somos, pelo poder político e pelo próprio povo em geral?

Um abraço Amigo do Magalhães Ribeiro

Anónimo disse...

Caro Henrique Cerqueira.

Convenhamos que há textos complicados para comentar, e este para mim é um deles.

Houve de facto camaradas que passaram pela Guiné, e tiveram tanta sorte, que faziam a sua vida como se estivessem cá, basta ver as fotos que são publicadas no blogue a ilustrar certos textos, que eu duvido muitas vezes se não havia mais que uma Guiné.

Uma Guiné onde se combatia, outra onde existia a vida normal onde nada acontecia, nesta era mais fácil sobreviver.

Não os invejo de forma nenhuma, só não gosto daqueles que de forma mais ou menos encapotada aproveitam a mínima oportunidade para desancar nos ex-combatentes operacionais, dos quais tu te excluis, mesmo entrando em combates, é estranho.

Na tua afirmação “minas, tiros e essa treta toda que apenas serve hoje para dar colorido às nossas fantásticas histórias da guerra”, estás a por em causa relatos de camaradas que fizeram a tal Guerra que de facto existiu. Ou não?

Ultimamente já duvido da minha sanidade mental ao ler alguns textos aqui publicados.

Onde eu estive houve tiros, minas, emboscadas que semearam morte entre ambos os contendores, não havia lugar ao conforto visualizado em certas fotos.

É que para além dos tais tiros, minas, emboscadas que são escritos aqui no blogue, houve aquartelamentos feitos de raiz onde muitos dos nossos camaradas, viveram como ratos em condições perfeitamente irreais, longe das realidades das fotos, onde muitos de nós não se revêem.

Eu assumo com orgulho a minha condição de ex-combatente, e sabia para o que ia, esta é a minha postura face à guerra que travamos com muita dignidade, e não lamento, não peço nada, e também nunca pedirei desculpas por ter combatido.

Abraço

Manuel Marinho

Anónimo disse...

Caro Henrique Cerqueira

Em primeiro lugar o que é para ti a "pátria".
Ao ler o teu comentário parece-me que estás a confundir pátria com território...olha que os teus camaradas de armas.. (ou para ti serão o quê).. é que são a verdadeira "PÁTRIA".
Que eu saiba todos fomos para sobreviver,eu pelo menos não conheci nenhum suícida.
Dizes que estiveste em vários combates e se disparaste foi para quê.. não me digas que foi só para te defenderes a ti.
Dizes que respeitas os que morreram e os que ficaram estropiados... e se tivesses tido o azar de ficares estropiado (ainda bem que não aconteceu).. não querias as respectivas compensações a que terias direito.
Apesar de respeitar a tua opinião, lamento dizer-te, revelas uma grande confusão na tua cabeça, e até porque não dizê-lo um profundo egoismo...mas é a tua opinião.
Já agora, eu também não fui defender aquilo tu que julgas como pátria, e tinha perfeita consciência disso.
Eu nunca li neste blog que alguém se tenha gabado das suas façanhas guerreiras..
Ao comentar o teu comentário não pretendo julgar-te,apenas e só contrapor as tuas ideias com as minhas.
Se me consideras camarada recebe um alfa bravo.

C.Martins

Anónimo disse...

Caro Henrique Cerqueira

Em primeiro lugar o que é para ti a "pátria".
Ao ler o teu comentário parece-me que estás a confundir pátria com território...olha que os teus camaradas de armas.. (ou para ti serão o quê).. é que são a verdadeira "PÁTRIA".
Que eu saiba todos fomos para sobreviver,eu pelo menos não conheci nenhum suícida.
Dizes que estiveste em vários combates e se disparaste foi para quê.. não me digas que foi só para te defenderes a ti.
Dizes que respeitas os que morreram e os que ficaram estropiados... e se tivesses tido o azar de ficares estropiado (ainda bem que não aconteceu).. não querias as respectivas compensações a que terias direito.
Apesar de respeitar a tua opinião, lamento dizer-te, revelas uma grande confusão na tua cabeça, e até porque não dizê-lo um profundo egoismo...mas é a tua opinião.
Já agora, eu também não fui defender aquilo tu que julgas como pátria, e tinha perfeita consciência disso.
Eu nunca li neste blog que alguém se tenha gabado das suas façanhas guerreiras..
Ao comentar o teu comentário não pretendo julgar-te,apenas e só contrapor as tuas ideias com as minhas.
Se me consideras camarada recebe um alfa bravo.

C.Martins

Anónimo disse...

Um soldado em combate não pensa na pátria,família, amigos, território,namorada ou esposa... etc..etc..etc.. pensa apenas nele "em sobreviver" e depois nos camaradas de armas em seu redor.
General americano dixit.
Plenamente de acordo,mas acrescento eu, com excepção de "aventesmas fundamentalistas suícidas"
C.Martins

alma disse...

No dia 15 de Junho de 1968 fui incorporado no Exército Português.
Cerca de um ano depois mobilizado
para servir na Provincia da Guiné,
território Português.

Fui mercenário? Combati no Estrangeiro?

Jorge Cabral

Joaquim Mexia Alves disse...

Caro Henrique Cerqueira

Há coisas no teu texto que francamente não entendo, mas posso ser da minha interpretação, claro.

Começo por fazer uma "declaração de princípios"!

Eu, e julgo que a maioria dos combatentes que não sofreram, problemas ou ferimentos graves incapacitantes ou não, quando falamos das responsabilidades do Estado, da Pátria, (sem comas), referimo-nos às responsabilidades desse mesmo Estado perante aqueles a quem a guerra incapacitou, (seja de que forma for), a sua vida no dia-a-dia, bem como também, para aqueles que sendo população desses territórios, juraram bandeira como nós e lutaram connosco do mesmo lado e a quem Portugal abandonou à sua “sorte”.
Não pretendemos algo para nós, a não ser o respeito que merecem aqueles que em dada altura, (voluntariamente ou involuntariamente), deram a sua vida pela Pátria, porque a Pátria a isso os chamava, e sobretudo que esse respeito seja bem demonstrado perante aqueles que morreram ou de algum modo ficaram com a sua vida alterada por força dessa guerra.

Nenhum país que entre em guerra pergunta àqueles que fazem parte das Forças Armadas, (por vontade própria ou por força de mobilização), se querem ir para a guerra, a não ser em acções pontuais de curta duração, para que são pedidos, por vezes voluntários.

Depois, meu caro Henrique, ninguém vai para a guerra para morrer, mas todos sabem que a vida do seu camarada depende também da acção de combatente de cada um.

Depois e ainda, precisas de explicar o que queres dizer com isto:
«mesmo que tenha estado envolvido em combates, tiros, minas e essa treta toda que hoje em dia só serve para dar algum colorido às nossas fantásticas Histórias da Guiné».

Porque, das duas uma, ou é uma figura de retórica que não se entende, ou então estás a querer dizer mesmo o que dizes, e então estás a insultar, (tem paciência, mas é a palavra), os combatentes que escrevem neste espaço.

E acho “graça” a esta tua frase:
«ninguém me perguntou se queria ir defender a "Pátria", numa região de que eu nada sabia, nem entendia, região de onde nem eu ou meus familiares usufruíamos de algo.»

Então apenas devemos entender como Pátria, e como tal defende-la, (julgo eu), as regiões das quais, nós ou as nossas famílias usufruem alguma coisa???
Mas olha que estás enganado, porque apesar de tudo nós em Portugal usufruíamos de algumas coisas daqueles territórios naquele tempo e no passado de Portugal então, nem é preciso falar!

Curiosamente, eu só conheci o Algarve depois de ter vindo da Guiné.
Não me lembro de nenhuma coisa que a minha família ou eu tenhamos usufruído do Algarve, (que naquele tempo ainda não era grande destino turístico)?
Será que eu não deveria defender o Algarve se fosse necessário?
Sim, eu sei, que a comparação peca por exagerada, mas é apenas para se perceber que o teu argumento, não colhe.

Isto já vai longo, mas ainda gostava de te dizer que também compete ao Estado a educação dos jovens, e, claro, aos seus pais também.
Mas uma Nação que se preza ensina aos jovens a sua história e não denigre aqueles que deram a sua vida por ela, antes os respeita e dá como exemplo às gerações futuras, para que entendam que a Nação é um todo desde o seu início, com momentos bons e outros menos bons, mas que não deixa de ser uma Nação e um Povo.

E termino dizendo-te que eu fui porque quis, e não por “medo ou repressão”, e se não tivesse querido ir, ter-me-ia ido embora, como alguns fizeram, ou ter-me-ia negado a ir e arrostava com as consequências, como outros também fizeram.
Não fui o único, com certeza!
As generalizações devem evitar-se, para defender “pontos de vista”.

Dito isto, reafirmo que respeito a tua opinião, obviamente, como respeito a opinião de todos, desde que tenha principio, meio e fim.

Um abraço para ti e para todos

José Marcelino Martins disse...

Caro Henrique Cerqueira e demais camarigos

O texto é um "artigo de opinião" e, como tal, não vou comentar as ideias "explícitas" e "implícitas"

Para mim, certa ambiguidade está neste parágrafo:

“Eu não quero nada da Pátria para me confortar os anos "inúteis" e arriscados que passei nessa Guiné da altura, por tal não sou ex-Combatente nem Combatente dessa causa, mesmo que tenha estado envolvido em combates, tiros, minas e essa treta toda que hoje em dia só serve para dar algum colorido às nossas fantásticas Histórias da Guiné. Só lamento os nossos camaradas mortos e estropiados, muitos dos quais infelizmente não conseguiram sobreviver, eles, tal como eu, combateram pela Pátria que não a deles.”

A significação de PÁTRIA, ser COMBATENTE ou EX-COMBATENTE, são apenas termos que usamos mas, afinal, todos nós lamentamos: OS CAMARADAS MORTOS e ESTROPIADOS.

Por mim, e para afirmar o que muitos camaradas já sabem, intitulo-me COMBATENTE (sou membro da Liga dos Combatentes, não dos ex-combatentes), recordo os camaradas que tombaram em campanha e os que entretanto a lei da vida deixou partir, no designado Monumento aos Combatentes do Ultramar (não combatentes, os que caíram e ex-combatentes os que regressaram e, hoje, já partiram ou ainda estão vivos).

“Aquilo” por que eu combato, é que não se esqueça o sacrifício das gerações que nos antecederam, desde o limiar da nossa nacionalidade. Quer tenham tombado em campanha, quer tenham regressado “feridos no corpo e na alma”.
Quantos de nós, nossos amigos, vizinhos ou simplesmente conhecidos, vivem “apenas” no seu quarto de dormir em casa de um filho/familiar/instituição dita “de solidariedade social”, não tendo acesso a uma janela para a rua ou acesso ao “almoço quente”, porque podem deixar o gás ligado ou a janela aberta? Quantos???????????????????
E quantos vivem debaixo de uma “ponte ou beiral”, recusando “ajuda alimentar” porque perderam a confiança no seu próprio? Quantos????????????

Eu luto e combato/lutarei e combaterei, e tenho a ousadia de convidar toda a gente para ter igual postura, para que esta DESCRIMINAÇÃO seja erradicada.

A começar por quem??????

Obviamente por nós que fomos, somos e teremos de ser Combatentes na nossa Pátria, na nossa família, na nossa cidade ou no nosso país, para não ir mais longe!

Isto é o quê? A resposta é dada no nosso dia a dia!

Abraço fraterno

Henrique Cerqueira disse...

Caros Tertulianos
Eu bem avisei que a minha falta de jeito para a escrita iria criar diversas interpretações,no entanto eu só vou responder uma ou outra questão,porque o direito de opinião neste blog não deve ser confundido com ofensas verbais.
-Não sou Cobarde daí ter manifestado a minha opinião.
-Não tenho traumas nem Complexos
-Sou altamente exigente com a OBRIGATORIEDADE de Pagamento de direitos pecuniários e outros a todos os deficientes da Forças Armadas e familiares dos camaradas mortos em serviço.
-Não pactuo com falsos stress e afins(e eles existem)
-Não tenho vergonha de ter ido ao Ultramar(até porque fui obrigado)
-Estou consciente que muitos de nós estivemos em locais piores ou melhores,mas cada um viveu o seu problema segunda a dimensão que lhe atribui.
- Há um camarada que pergunta se dei e para que dei tiros.Claro que dei tiros,para quê?Não sei,por instinto,por medo,nem sei se atingi alguém.O que sei é que em 1974 tudo se provou nada ter valido a pena.Nem os tiros,nem os feridos,nem os mortos.Ou vossês são capazes de me dizer que valeu a pena.
Não penso que se deve esquecer essa parte da nossa História.Só que não sou obrigado a Concordar com ela.
Só mais um ponto que feriu a malta:
Quando me referi ao "colorido"dos tiros,minas e etc...eu pretendia que fosse no sentido figurado,pois que quase sempre acontece a malta ilustra os seus escritos com fotos mais ao prosaicas com ,armas ,canhões,eu sei até já vi publicadas partes humanas de camaradas nossos(felizmente nessa altura os nossos editores retiraram do blog as ditas fotos)
-Camarada Mexia a comparação do Algarve com a Guiné é um pouco forçada.No entanto a verdade é que os Ingleses descobriram e beneficiaram do Algarve primeiro que nós.Mas...Mas até aí eu saio em vantagem é que uma vês mais OBRIGATORIAMENTE tive estadia paga com banho nas salinas e ferias de campo no Caldeirão em Tavira.Aí sim era a minha Pátria até fui mal tratado e tudo e no que respeitou a aprendizagem militar,aprendi como sobreviver e até nos tiritos a tropa pouco ensinou,
Bom isto é dificil responder tudo que vai na alma e vou fazer duas afirmações-
Não estou GÁ...GÁ e continuo a afirmar Não sou EX Combatente e nada quero de reconhecimento da Pátria em relação ao passado.
Um abraço Apaziguaqdor a todos
Henrique Cerqueira

Anónimo disse...

Caro Henrique Cerqueira. Portanto, deste tiros...só não sabes se mataste. Olha: também dei tiros e sei que me estava a defender, não a matar propositadamente. Mas és Ex-combatente e isso não podes negar. És agora e sê-lo-ás sempre pois andaste aos tiros (coloridos ou não) e ao fazê-lo querias não morrer. A malta não ilustra as fotos com armas, camaradas feridos ou mortos. A malta fá-lo para que a memória futura possa recordar e não para gáudio duns. Mas eu compreendo-te: queres esquecer. Tentei fazê-lo durante 40 anos e estive errado. Antes falar nunca calar. Veríssimo Ferreira, Ex-combatente,Furriel Miliciano da CCaç 1422,Pelundo,Mansabá,K3,Bissau.

Anónimo disse...

Se este Henrique é o instruendo que conheci no 3º turno de 1971, nas Caldas da Raínha, pertencente ao meu pelotão de instrução (já não recordo qual), do qual tenho algures umas fotos que já não vejo há alguns anos, mas sei que existem, fotos essas de um pequeno grupo, que passava as horas de ócio no parque do casino, e da qual a maior parte foi parar a Tavira, incluso esse mesmo Henrique, repito se esse Henrique é o mesmo, então meus caros amigos esqueçam lá todos os "mal entendidos" ,"declarações de princípios", e quejandos, porque o que está em causa, talvez seja o que o próprio autor refere; alguma inabilidade para lidar com as palavras, porque como homem (jovem), foi do mais são que encontrei. Pacífico, leal, grande amigo.
Para ti Henrique se és quem eu penso, aqui vai o maior abraço do mundo, se és um qualquer outro Henrique um abraço também. Podem não estar de acordo, mas desabafaste, disseste o que pensavas, acho que todos temos esse direito e cada qual podendo e devendo ter a sua própria opinião, não pode ter a pretensão de ser dono de toda a verdade.
Também fui combatente, obrigado. Não me orgulho do facto per si, mas também não há nada que me envergonhe de o ter sido.
A história de um Povo, de uma Pátria, faz-se dos bons e dos maus momentos.
Um abraço para todos aqueles que não estão há espera de migalhas, mas do verdadeiro respeito que lhes è devido. Esses são os verdadeiros combatentes.

Antonio Almeida

Henrique Cerqueira disse...

Caro Antonio Almeida
Confirmo que era do 3ºTurno de 1971 e que quase de certeza era da 3ªCompanhia e lembro -me só do nome de um cabo.miliciano que era ELOI.
Só escrevo este comentário porque se fui teu instruendo fico grato por te teres manifestado.
Henrique Cerqueira

Luís Dias disse...

Camarigos

A OBRIGAÇÃO DE COMBATER: Não foi tanto a bandeira, a farda ou a autoridade hierárquica que nos fez estar ali, nos trilhos, nas picadas, nas bolanhas e no mato denso: foi, antes de mais, os camaradas que estavam a nosso lado, com quem contávamos e que esperavam de nós o mesmo comportamento.
"Minas, tiros e essa treta toda" pode ser para alguns, infelizmente para outros, foram as minas e os tiros que os mataram, que os estropiaram, que os incapacitaram para sempre.
Um abraço a todos
Luís Dias

Anónimo disse...

Camaradas,

Esta matéria não é fácil de interpretar, nem de descrever. Pode colidir com princípios em relação aos quais pode haver a maior subjectividade.
Digo assim, pegando em algumas afirmações do Henrique, e a diferentes interpretações de outros Camaradas.
Segundo um ditador português, que várias vezes se dirigiu aos militares no sentido de controlar a Ditadura, apesar da protecção e amizade de Carmona, "a Pátria não se discute". E chegava a mencionar a morte como probabilidade eminente da vida militar.
Ora, o que o Henrique parece revelar, é um profundo estado de estupefação perante os que se orgulham da condição militar e, simultaneamente, aplaudem e homenageiam o Movimento do 25 de Abril.
Parecem, de facto, conceitos contraditórios, e sê-lo-ão. No entanto, há que considerar os diferentes factores - que não cabem neste comentário, nem sou capaz de os esgotar - que conduziram os militares a uma atitude aparentemente traidora dos juramentos efectuados.
Quero dizer, a Pátria passou a discutir-se, como corolário da nossa incapacidade para gerir o problema do emancipalismo africano, dentro das regras estabelecidas pela Carta das Nações Unidas, provavelmente, também, por causa do ódio de estimação que aquele senhor governante nutria em relação à potência imperial - EUA. E o Movimento também não curou de fazer a revolução nos termos da Carta, nem nos termos inspiradores de "Portugal e o Futuro", deixando muitos portugueses enredados na angústia, versus muitos outros que irradiavam alegria imensa.
Trazendo o problema para a actualidade, parece-me que o Henrique diz não querer nada da Pátria, como manifestação de repúdio pelos que, detentores do poder, manifestam-se constantemente contra quem os "elegeu" e, dessa maneira, parece-me estar bem próximo da maioria dos atabancados.
Não sei se fui claro e acertivo, mas interpreto o Henrique como mais um que se sente impotente perante o estado de coisas, e espera por uma iniciativa nacional de carácter correctivo.
Abraços fraternos
JD

Anónimo disse...

Creio que todos estamos aqui a comentar..."estados d'alma".Mas,alguns factos também seräo de considerar.Como é por todos sabido,foi poucas décadas(!)antes de as guerras de África se terem iniciado que houve por parte do Governo de entäo mais um dos seus "provincianismos iluminados" transformando por decreto lei as colónias(assim denominadas com orgulho durante muitos séculos da nossa História)nas tais Províncias.Para satisfazer o estrangeiro?Se tal era a ideia falharam totalmente,e só acabaram por conseguir confundir os portugueses nascidos já no pós decreto lei colonial.A defenicäo legal,internacionalmente validada,continuou a ser:"Colónias sobre a responsabilidade da Administracäo Portuguesa".Há um Camarada que em comentário anterior refere as palavras "mercenário"e "combati no estrangeiro?".Ora um elemento de um Exército Nacional(para mais cumprindo o seu servico militar entäo obrigatório por lei)nunca poderá ser considerado um "mercenário",seja ele ENVIADO pelo seu Governo para onde quer que seja...guerras justas,ou injustas,colónias,províncias,Grande Guerra na Flandres, ou... Lapónia.Um grande abraco.

alma disse...

Estado,Governo,Pátria são realidades distintas.

Com a História não se Concorda nem se Discorda.

Ter combatido em Aljubarrota, em
Alcácer-Quibir ou na Guiné,foi
Combater..

alma disse...

Alma é Jorge Cabral,como sabem.

Anónimo disse...

Caro Camarada Jorge Cabral. Completamente de acordo quanto à História se näo discutir.Mas quanto a leituras da História? Quanto ao termo "Pátria",de tal modo profundo,e enraizado nas suas subjectividades,näo será mais interpretativo do que de-marcante?Apesar de todas as derrotas serem graves para Estados e Governos,uma derrota em Aljubarrota teria as mesmas consequências para a Pátria do que uma derrota na Guiné? Quanto ao combater, nos termos geográficos referidos,estamos em acordo absoluto. Um grande abraco.

Anónimo disse...

O termo pátria..significa a "terra onde se nasceu", só que com o evoluir dos tempos passou a ter um significado mais amplo.. isto é...território,lingua e usos e costumes comuns,mesmo povo, identidade cultural, etc...assim sendo a "PÁTRIA PORTUGUESA" são todos os portugueses incluindo os da diáspora, mesmo aqueles não nasceram em território nacional, e até um que vive na lapónia...brrr que frio.. cuidando de renas há trinta anos.. ou mais (não sei)...mas que é bloguista e gosta de bacalhau com batatas e couves.. bem se não gosta.. deve gostar de outra coisa bem portuguesa... concerteza...
Camarigos ser patriota é gostar de Fernando Pessoa ou Camões.. mas também de um cozido à portuguesa... de um queijo da serra, ou de outra coisa qualquer bem portuguesa.
Saudações chouriça....perdão patrióticas.

C.Martins