segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8712: Fotos à procura de... uma legenda (10): Mais outra foto-mistério, do álbum de Luís Graça


1. Quinta de Candoz, Candoz, Paredes de Viadores, Marco de Canaveses > 29 de Agosto de 2011 > Há coisas no campo que não nos passam pela cabeça na cidade... E vice-versa. Nada como estar de férias (sem ser "turista, estúpido em férias") e ter tempo para as pequenas coisas da natureza que são sempre pequenas grandes maravilhas...

Quando se está de férias, sem relógio, sem a pressão dos horários (logo sem o constrangimento do tempo, que é o principal factor de stresse na cidade grande), aguçam-se e usam-se os cinco sentidos: (i) vê-se o nascer do sol por trás da serra, (ii) ouve-se o chilrear dos pássaros (o melro, o rouxinol, o gavião, o corvo, a andorinha, o pombo bravo, o mocho...), (iii) cheira-se o perfume da terra que é diferente com as chuvas de verão, (iv) apalpa-se os dourados e opulentos cachos de uvas do vinho verde (com as suas diferentes castas: o pedernã, o azal, o avesso, o loureiro, que a primeira vindima é já 6ª feira próxima...), (v) degusta-se o pão de milho e o anho com arroz de forno (que os portugueses, injustamente, não quiseram eleger como uma das 7 maravilhas gastronómicas desta terra maravilhosa onde nascemos)... (LG)


Foto: © Luis Graça (2011). Todos os direitos reservados


1. Em vias de se esclarecer a foto-mistério do poste anterior (*), deixo-vos mais um desafio, no âmbito do nosso descomprometido passatempo de verão... Este é aparentemente mais fácil: Qual é a coisa qual é ela ? (Vide foto supra)...

Julgo que desta vez a resposta é mais fácil e rápida... Se o Kanguru Light (a minha internet móvel, passe a publicidade) for mais lesto (o que duvido) do que vocês, estarei à noite, ou amanhã de manhã, à espera dos vossos palpites...

Entretanto, ando a tentar descobrir por que raio é que o novo modo de edição de mensagens do Blogger não está a funcionar, impossibilitando-nos, a nós, pobres editores em férias, de manter o blogue actualizado como é habitual...

E tudo isto enquanto o serviço se vai acumulando, para desespero do Carlos Vinhal, e os leitores vão perdendo a paciência, habituados que estão a terem sempre entre 5 a 8 postes novos, fresquinhos, por dia... Desde Abril de 2004, este é o nº 8712...

Espero, enfim, que nos desculpem qualquer coisinha... Temos, além disso, livro de reclamações...E, já agora, se permitem, deixem-se "recitar" um dos meus textos poéticas, a que eu chamo as minhas "blogarias", escrito o ano passado em dia de namorados... Vem a propósito da aqui falada oposição campo/cidade... LG

2. História (de)vida: Vila, vida, com o mar em frente, entre cabeços

(Para a Alice, companheira de meia vida)
Luís Graça


A vida no campo não era vida,
Não era a vida a vila,
A cidade, o campo.
Nem as tuas leiras,
Os teus solcacos,
Os teus montes.
Não era a vida devida.
Querida,
Esperada,
Sonhada.

Mas o que é a vida,
Meu bem ?
Pensando bem,
A vida no campo até tem
Ou tinha
O seu lado terno,
Ma non troppo.
Eu gostava do campo,
Nas férias grandes,
Do ar puro dos pinhais e eucaliptais
Que faziam bem aos pulmões,
Dizia o João Semana
Lá na minha terra,
Bacharel de medicinas
E de ervas medicinais.
Em contrapartida,
Odiava a colher de pau,
O óleo de fígado de bacalhau.
E as bolas de carne em sangue
Enroladas em açúcar,
Metidas pela goela abaixo.
Lembrar-me-iam mais tarde a guerra,
E a anatomia dos corpos
E a fisiologia do horror.
Temia, sobretudo,
E temia que me pelava,
As bruxas, à noite,
Debaixo dos lençóis.

Ele há coisas na vida do campo
Que eu nunca saberia explicar.
A lufa-lufa, a freima,
Os grandes trabalhos colectivos,
A ceifa,
Os miasmas das doenças,
O trabalho de sol a sol,
Trabalhar que nem um mouro,
Trabalhar que nem um boi,
Trabalhar que nem um galego,
Trabalhar que nem preto.
Temia a pata dos poderosos.
E dos seus cavalos e dos seus mastins.

Não, nunca trabalhei no campo.
Mas gostava da vida no campo
Onde não vivi.
Nasci ao som dos moínhos de vento
E do gemido nas redes dos barcos à vela.
Gosto do campo,
Quando o sol nasce,
Quando o sol se põe.
Tenho um pensamento piedoso
Para a parteira que me aparou.
E para o padre que me baptizou.
E para a professora que me ensinou
A ler, escrever e contar.
E me levou a primeira vez
À cidade.
Grande.

Gosto do campo,
Não sendo camponês
Como tu foste camponesa.
O campo,
A vindima,
A colheita,
O riacho,
As pedras no leito do rio,
O inverno,
A invernia,
O cheiro a estrume,
As batatas com pele,
A febre dos fenos,
Os amores ardentes,
Os colchões de palha,
A lareira no inverno,
Os lençóis de linho,
As tamancas,
As sardas escaladas,
As miúdas de sardas
E ranho no nariz,
Os carapaus secos,
A raia cozida,
A esterqueira,
A neve que nunca vi,
A matança do porco…

Ah! A matança do porco do teu imaginário,
Que o melhor era a bexiga do porco
Para os putos que nada sabiam da vida,
Nem das suas sete partidas.
Nem da guerra anunciada.
Para os putos jogarem à bola,
Os pés descalços
No campo da debulhadora do trigo.
A dois quilómetros da vila.
No Nadrupe.
Na Quinta do Bolardo.

No fundo, o que sabias tu da vida ?
O que sabes ?
Não é preciso ser bem pensante,
Que a vida é mal passada,
Pensada,
Prensada,
Uff! Puxá vida!
Na cidade,
Na vila,
Ou na cidade e no campo
A vida, a vila, é apenas
A estratégia da aranha,
A cilada da morte.
Por tédio,
Asfixia,
Overdose,
Aflição,
Desassossego,
Insónia,
Erosão,
Irrisão,
Depressão da paisagem
Por montes e vales.
A via estreita da vida na vila no campo
Ou na cidade.
A erecção.
A evicção.
A força centrífuga da morte
Na curva da vida.

Mal pensada a coisa
Da vida indevida,
Vida de cão na cidade das sete vidas,
Sete Colinas,
Capital,
Capitólio,
Tudo somado igual
A sete fôlegos de gato
No sobe e desce do bairro,
Entre o pau e o fogo da lareira.

Trespassa-se a vida,
Traspassa-se o corpo,
Trapaça de vida,
Em vila sossegada com vista de mar.
Prensa prensada puxada
Bem parecida a vida na vila,
Apetecida,
No campo de cebolas do talho
Que se comiam em azeite e sem alho.
Na tua terra, Candoz.
Na terra de todos nós,
O Portugal de lés a lés.
Pensando nos parentes embarcados,
Nos Brasis, nas Terras Novas,
Ganhando o pão que o diabo amassava.
Ou nos filhos mobilizados,
Feitos soldados,
P'ras guerras do império.
Índia, Angola, Moçambique, Guiné…
A malga do vinho tinto verde
Entre os camponeses do norte.
O pão, o centeio, o milho,
A casa farta,
A mesa farta,
O presunto,
O salpicão,
A salgadeira que mata.
Alguém sabia lá da cartografia da morte
No Cacheu, ou no Oio, ou no Cantanhez ?!
O sal,
O colesterol,
A tensão essencial,
A vidinha.
Pior é a saudade que rói e que mata.

E agora que não há razões para pensar
Que a vida no campo é
O corpo de delito,
Eu grito
Que a vida está pela hora da morte
Vida, morte, ex-exaequo,
Tensão,
Macho e fêmea,
Misógina a cidade,
Macho, marialva, o campo
Ou o pré-conceito
da minha civilização judaico-cristã.

Saudades ?
A vida no campo era bem passada
Como o bife ao domingo,
Que tu ganhavas fazendo o pino
No Talho do Xico.
No tempo em que a vida no campo ou vila,
Que diferença!,
Era a tua infância.
Vida, vila com o mar em frente,
Entre cabeços.
As Berlengas ao fundo.
A eterna errância
Do mundo.
Foi lá que te vi,
Foi lá que te conheci.

Luís Graça > Blogpoesia (2010)


_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 27 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8710: Fotos à procura de... uma legenda (9): Foto-mistério, do álbum de Luís Graça

23 comentários:

zé manel cancela disse...

nao será um ninho de andorinha????

um abraçoLuis

Anónimo disse...

Não sendo dos mais espertos,eu arrisco em dizer que se trata da representação de um alentejano, digo de um caracol, com a respectiva antena parabólica.

Um Abraço Luís e continuação de boas férias.

Joaquim Sabido
Évora

Henrique Cerqueira disse...

Caro Luís
Desta vês não é mesmo um prato "Gourmet"atino mais para um ninho de abelha ou outro tipo de inseto.pois que normalmente as andorinhas fazem os ninhos em beirais ou reentrâncias das paredes de casas ou celeiros.A confusão está na bolha que se forma no seu topo.
Vai dando mais umas dicas que a malta agradece.
Um abraço
Henrique Cerqueira

Henrique Cerqueira disse...

Caro Luís
Quanto à suposta "bolha"que não é bolha mas sim uma lâmpada normal e o ninho foi feito envolvendo a lâmpada,daí ser um ninho de inseto é esta a minha convicção.
Um abraço
Henrique Cerqueira

Torcato Mendonca disse...

#Ninho de luz com poema de amor de vida#---------------------

e o que mais aí virá-------------------é o ultimo da série.

As bandeiras estão na popa e não na proa. Ob Carlos Cordeiro e vou ver.

Ab T.

Luís Graça disse...

Torcato: Gostei da tua legenda, originalíssima... "Ninho de luz com poema de amor de vida"... Já agora: Ninho de quê ?

Anónimo disse...

NÃO,Torcato. O que disse é que a bandeira francesa está (ou devia estar) na popa.
Gosto de te ver assim divertido.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Cesar Dias disse...

Lâmpada que não era usada, só assim "da luz se fez ninho".

Belo poema....

Um abraço
César Dias

Luís Graça disse...

Diz o Henrique: "(...) as andorinhas fazem os ninhos em beirais ou reentrâncias das paredes de casas ou celeiros" (...). Bem observado... Pelo menos, no sul, na minha terra,é assim...

Luís Graça disse...

Torcato: O navio está "de saída"... Logo o que vês é a proa... LG

Torcato Mendonca disse...

Não me parece de andorinha. Mas de quê então? Não sei. Parece um caracol com corninhos e tudo.
A cor é da qualidade do barro. A maneira de fazer sai um pouco da andorinha mas sem ser ela quem? Depois o atrevimento. Tenho uma foto de um ninho de andorinha tirado na pala de uma esplanada no Algarve. É lindo e todos gostam. O Fio eléctrico serviu de suporte.
Vou nelas...andorinha.AB T

Anónimo disse...

Näo é o rolo com o diploma de "doutoramento" em filosofia do Sr.Eng.Sócrates,ou a lampada estaria acesa!Näo é um Lapäo careca com uma camisola de lä mal parida.Näo é um Alentejano a fazer surf sentado.Näo sendo ninho do "Acor Voador"(desculpa Carlos Cordeiro mas näo há cedilha na Lapónia),e para rimar como outros poetas....só pode ser passarinha...PASSARINHA?!...de andor! Um grande abraco.

Torcato Mendonca disse...

ISO É QUE VAI AQUI UMA AÇORDA...

OH PÁ ESTOU A JOGAR EM VÁRIAS FRENTES E PROCURO A FOTO DO MEE NINHO DE ANDORINHA. bOLAS ISTO NÃO É GRITAR...É NÃO TER LEVANTADO A CARA.
Ab T

Luís Graça disse...

Camaradas: Agora há andorinhas do norte e do sul, com diferentes concepções arquitectónicas ? Esta casota, pouco ortodoxa, não será fruto das alterações climáticas ?

Pista: a tal "bolha" é uma lâmpada eléctrica à entrada de uma das casas da nossa Quinta de Candoz, a antiga casa de caseiro... Lâmpada que continua a funcionar... E a "casota" continua a ter inquilinos... Há vários anos...

Anónimo disse...

Meus amigos,
A confirmar-se ninho de andorinha, então eu acrescentaria "andorinha moderna, com stress e sem paciância para a construção do ninho" porque, os ninhos de andorinha que conheço e existem no beiral da minha casa, são maravilhosos e muito bem construídos.
Abraços
Filomena

Luís Graça disse...

Bingo, Zé Manel, Torcato, Filomena!!!... É mesmo um ninho de andorinho, uma construção algo insólita e pouco "canónica", com um "túnel de acesso" ao compartimento principal...

Foi de facto construído em redor da lâmpada exterior da porta de entrada de um das nossas casas (não habitadas) da Quinta de Candoz, a antiga vasa de caseiro...

O ninho foi feito há anos (três oui quatro), e continua a ser habitado a partir da primavera... todos os anos, por uma família que deve vir do norte de África... Ficam cá até tarde, mesmo depois das vindimas... Ainda vejo as andorinhas de Candoz a esvoaçar, em redor das nossas casas... O sítio é sossegado, isolado, rodeado de "montes" (floresta), e rico em água, em verde e em insectos...

Tenho, dos outros anos, fotos e vídeos das andorinhas a entrar e a sair... Uma ternura, um encanto... Prometo mostrar-vos... Xicorações. Luís

Luís Graça disse...

Zé Belo, passarão: Pode ser tudo o que tua imaginação alcançar, até o rolo com o diploma de doutoramento em filosofia de um político qualquer da nossa praça (nada de referir nomes que estamos "proibidos" de trazer a actualidade política para a nossa Tabanca Grande)... Pode ser o teu Lapäo careca com uma camisola de lä mal parida; pode ser um Alentejano a fazer surf sentado; pode até ser um ninho do "Açor Voador"(em homenagem ao acorianíssimo Carlos Cordeiro, nosso camarigo)... Enfim, até pode ser um ninho de passarinha!...

Um Alfa Bravo, de Candoz até à Lapónia!... Com toda a camarigagem do Luís...

Torcato Mendonca disse...

Luís recebeste a mina andorinha sulista no ninho? Foi para o J Belo (lá não há passarinhas destas) com CCO ao endereço do blogue...gmail.

A cor é diferente.

Boas férias e as andorinhas que gastem com moderação. Amanhã o IVA sobe de 6 para 23...viva o benfica!!!
Ab T

Luís Graça disse...

Torcato: Recebi,com muito carinho, a tua andorinha, e espero que ela chegue, sã e salva, às terras da Lapónia... Oportunamente irei mostrá-la ao pessoal da Tabanca Grande. Abração. Luis

Anónimo disse...

Caro Amigo Torcato. Obrigado pela andorinha que acabou por trazer saudades de alguns beirais da Lusitânia.É claro que,com as temperaturas que já por aqui estão,ao aterrar mais parecia um franguinho congelado.Mas,e como todos sabem, as passarinhas,mesmo as congeladas,depois de se lhes dar um esquentamento...voltam à vida.(Espero a Vossa compreensão e desculpas para este "assuecado-saloio" .O que queria dizer não seria...esquentamento...mas sim...aquecimento).Um grande abraço.

Torcato Mendonca disse...

Pois meu Caro J. Belo, nada de desculpas e segue-se o tratamento de há quarenta e tal anos atrás: - duas de um milhão de unidades...convém, após aplicação, massajar!

AB T

Anónimo disse...

Pergunta de Lapäo:Massajar a passarinha?Francamente. Há também criancas e... Senhores Coroneis Reformados a ler estes blogues!

Torcato Mendonca disse...

As nádegas, meu caro J.Belo
As de um milhão são injecções de "penicilina ou similar"para, não o esquentamento mas o esquecimento...ou vice-versa...

O que se massajavam eram as ditas, após a penetração e retirar da agulha, com o liquido a incomodar...

quanto á passarinha que envias, mais hermosa non?, do que a que enviei, gosto e prefiro. Traduzi o Sueco e nada tinha a ver com o pincel da hermosa Mikael...

Por aqui chove e as passarinhas (leia-se: andorinhas, devido a pérfidas interpretações) estão escondidas.
Parece Outono ou país do Norte...
AB T. -vou ver o teu blogue-