Capa do livro de Norberto Tavares de Carvalho, De campo a campo: conversas com o comandante Bobo Keita. Edição de autor, Porto, 2011, 303 pp. (Impresso na Uniarte Gráfica, SA; depósito legal nº 332552/11). Posfácio de António Marques Lopes.
1. Excerto do posfácio do nosso camarada e amigo A. Marques Lopes, ao
livro de Norberto Tavares de Carvalho (pp. 249-251)
(...) Muitos ex-combatentes portugueses da guerra colonial na Guiné têm retratado por escrito as suas vivências, a maior parte com visão pessoalista do que lá passaram, mas vários com a noção de enquadramento dessa experiência ingrata no contexto da vida e do regime vivido, então, em Portugal, e alguns até com notável cunho literário. Há muitos livros.
Também no ciberespaço se encontram muitos blogues individuais com relatos de situações, transcrição de histórias das companhias, blogues colectivos com relatos, opiniões, interpretações. Todos com montes de fotografias. Há quem diga que é a catarse das angústias e perplexidades que marcaram uma juventude, mas eu vejo mais que é, como disse Rui de Azevedo Teixeira, "tempo de maturidade e apaziguamento".
O certo é que, com horizontes mais restritos ou mais amplos, é a história contada pelos seus intervenientes. E a iniciativa do Norberto Tavares de Carvalho, e a aceitação dela por parte do Bobo Keita, abre um caminho muito pouco percorrido "pelo outro lado": serem os combatentes do PAIGC a contarem também o que fizeram, o que viram, o que viveram durante a guerra, darem-nos a sua visão dos factos e situações.
Luís Cabral escreveu, Pedro Pires também, mas foram dirigentes de topo com visão mais ampla, têm mérito como fautores e descritores da história sem dúvida. Mas o guerrilheiro e comandante no terreno Bobo Keita, habitante das matas e bases de guerrilha, parece-se mais com os portugueses que também calcorrearam as mesmas matas e foram atacados nos seus quartéis.
Era bom que houvesse mais outros a fazer o que ele fez. Muita da história ficará por contar, vai-se perder quando morrerem os velhos guerrilheiros. Em Abril de 2006 fui à Guiné-Bissau e, entre outras coisas, quis conhecer pessoalmente o comandante Lúcio. É que, era eu alferes, tínhamos andado os dois aos tiros, eu dum lado e ele do outro. Eu atacava a base dele em Sinchã Jobel e ele atacava os nossos destacamentos. Através de um amigo comum, o Pepito, consegui marcar um almoço com ele no Colete Encarnado em Bissau. Foi interessante,
Os dois maduros e apaziguados. Soubemos que eu tinha 21 anos e ele 23 quando lutámos nesse período da guerra. Também me disse que estava em Cabo Verde aquando do golpe do Nino Vieira em 1980, fiquei agora a saber que também sucedeu com Bobo Keita. "Estás a brincar. eu estou a escrever o meu livro!, disse-lhe este quando interrogou o Lúcio Soares sobre o apelido da Quinta da Costa, como vem na entrevista. Talvez tenha sido depois deste meu encontro no Colete Encarnado ... Se tivesse sido antes, pode ser que eu conseguisse o que lhe pedi: que me contasse a versão dele de situações em que estivemos os dois.
Não consegui, com pena minha.
Não é fácil. Os portugueses, salvo raras excepções, escreveram livros e textos sobre a guerra só depois do 25 de Abril, já sem pressões, condicionamentos ou receios. Na Guiné-Bissau, com todas as complicações e convulsões ainda não apaziguadas, infelizmente, creio que se mantêm os receios. Sinal disso, parece-me, são as reticências e palavras vagas nas respostas do Bobo Keita às perguntas sobre o Nino, menos quando fala das diferenças entre as chefias da Frente Sul e as da Frente Norte, os peitos vermelhos, porque é uma questão de orgulho pessoal.
Era bom que houvesse mais outros a fazer o que ele fez. Muita da história ficará por contar, vai-se perder quando morrerem os velhos guerrilheiros. Em Abril de 2006 fui à Guiné-Bissau e, entre outras coisas, quis conhecer pessoalmente o comandante Lúcio. É que, era eu alferes, tínhamos andado os dois aos tiros, eu dum lado e ele do outro. Eu atacava a base dele em Sinchã Jobel e ele atacava os nossos destacamentos. Através de um amigo comum, o Pepito, consegui marcar um almoço com ele no Colete Encarnado em Bissau. Foi interessante,
Os dois maduros e apaziguados. Soubemos que eu tinha 21 anos e ele 23 quando lutámos nesse período da guerra. Também me disse que estava em Cabo Verde aquando do golpe do Nino Vieira em 1980, fiquei agora a saber que também sucedeu com Bobo Keita. "Estás a brincar. eu estou a escrever o meu livro!, disse-lhe este quando interrogou o Lúcio Soares sobre o apelido da Quinta da Costa, como vem na entrevista. Talvez tenha sido depois deste meu encontro no Colete Encarnado ... Se tivesse sido antes, pode ser que eu conseguisse o que lhe pedi: que me contasse a versão dele de situações em que estivemos os dois.
Não consegui, com pena minha.
Não é fácil. Os portugueses, salvo raras excepções, escreveram livros e textos sobre a guerra só depois do 25 de Abril, já sem pressões, condicionamentos ou receios. Na Guiné-Bissau, com todas as complicações e convulsões ainda não apaziguadas, infelizmente, creio que se mantêm os receios. Sinal disso, parece-me, são as reticências e palavras vagas nas respostas do Bobo Keita às perguntas sobre o Nino, menos quando fala das diferenças entre as chefias da Frente Sul e as da Frente Norte, os peitos vermelhos, porque é uma questão de orgulho pessoal.
Mas há outra razão, é claro: a tradição oral da generalidade do povo guineense, nomeadamente os mais velhos. O colonialismo, desprezando a educação dos gentios, contribuiu para a continuação dessa generalização e para que, agora, só as camadas mais intelectualizadas, mais jovens sobretudo, possuam outros meios de expressão. Nestas circunstâncias, de louvar o que fez o Norberto Tavares de Carvalho: ganhar-lhes a confiança e, de gravador na mão, ouvi-los falar. Quanto a Lúcio Soares, tenho esperança que a filha dele, que é formada em comunicação social, se disponha a fazer isso.
Para quem, durante a guerra colonial, lutou "do outro lado", a leitura destas memórias do Bobo Keita tem um interesse muito especial. Porque estive em Cantacunda, em Banjara e na "base do Gazela" (que substituiu em Sinchã Jobel o Lúcio Soares quando este foi para o Morés), porque estive em Barro, na zona norte, entre Ingoré e Bigene. Revejo-me em muitas situações por ele contadas, pois passou também por esses locais. (...)
Porto > UNICEPE, Cooperativa Livreira de Estudantes > 24 de Setembro de 2011 > Norberto Tavares de Carvalho, na sessão de lançamento do seu livro. Foto: Cortesia de Coisas da Guiné, blogue de A. Marques Lopes.
2. Quem é ou quem foi o comandante Bobo Keita (1939-2009) ?
O próprio Norberto Tavares de Carvalho, "o Cote, guineense, filho da diáspora (vive na Suiça, desde há 3 dezenas de anos), já o tinha apresentado sumariamente, no blogue no Didinho, em 4 de Fevereiro de 2009, nestes termos:
(i) Filho de Fofana Keita, descendente do Mali, de confissão muçulmana, nascido na Guiné-
Conacri, tabanca de Dabis, região de Boké e de N’balia Turé, de origem Susso da parte
paterna e Pepel de Safim da ala materna;
(ii) Bobo Keita nasceu em Bissau no dia 24 de« Setembro de 1939;
(iii) O pai, alfaiate, preparou-o para seguir a profissão que, na época, era ambulante;
(iv) Nasceu do bairro do Pilão, onde desde cedo mostrou habilidade para jogar à bola;
(v) "Um belo dia, na Granja de Pessubé, cruzou-se com um homem que todos chamavam 'Sr. Engenheiro e que tinha uma mulher branca'. O homem, divertido com a sua engenhosidade, ofereceu-lhe uma bola";
(vi) Joga pelo Benfica ded Bissau e um dia é convocado para a selecção nacional da então Guiné Portuguesa para disputar um torneio de futebol na República do Ghana, ex-colónia inglesa que proclamara a sua independência no dia 6 de Março de 1957;
(vii) No Ghana, aos 17 anos, conheceu o Presidente Kwame N’krumah, herói da independência; o discurso de abertura do torneio, proferido no jardim
do palácio presidencial, teve o condão de despertar o jovem Bobo para a política;
(viii) Entra na clandestinadade, ao abandonar Bissau, no dia 26 de Dezembro de 1960, sob a orientação de Rafael Barbosa, dirigente do PAIGC, e rumar em direção a Conacri, onde o esperava Amílcar Cabral;
(ix) "Uma formação de base político-ideológica sob o patrocínio do 'Engenheiro' e uma outra de cunho militar no ex-Leste Europeu, foram suficientes para galvanizar o espírito combativo do jovem alfaiate";
(x) Depois disso, tornou-se um guerrilheiro, puro e duro, palmilhou a Guiné de lés a lés, foi ferido duas vezes em combate, até se tornar Comandante da Frente Leste;
(xi) "Último chefe de guerrilha que se entrevistou com Amílcar Cabral poucas horas antes do seu assassinato em Conacri, estaria presente em Boké aquando da captura de um dos
assassinos e a descoberta e libertação de Aristides Pereira, Secretário-Geral Adjunto do
PAIGC, amarrado no fundo do barco por Inocêncio Kani, que o transportava, disposto a
entregá-lo às autoridades portuguesas";
(xii) Membro do Conselho Superiro de Luta, desde Junho de 1973, fez parte da delegação do PAIGC que, depois do 25 de Abril, participou nas negociações de Londres e de Argel, com a delegação portuguesa;
(xiii) Vindo do leste à frente das suas tropas, foi o primeiro comandante do PAIGC a entrar em Bissau, em 8 de Setembro de 1974;
(xiv) Foi também ele quem escoltou, até ao avião, o último governador da Guiné, Carlos Fabião;
(xv) "O golpe de estado de 14 de Novembro de 1980 surpreendê-lo-ia numa missão de serviço em Cabo Verde, na cidade da Praia";
(xvi) Não aceitando o golpe de estado de Nino, adaptou Cabo Verde como a sua segunda pátria;
(xvii) Morreu, em Portugal [, julgo que no Hospital Amadora-Sintra], a 29 de Janeiro de 2009, vítima de doença prolongada; o seu corpo foi traslado para Cabo Verde.
[Excertos selecionados e adaptados por L.G, que irá publicar, nos próximos dias, algumas notas de leitura, com referência às conversas com este antigo comandante e dirigente do PAIGC, pouco ou nada conhecido entre nós].
3. Quanto ao autor, Norberto Tavares de Carvalho, o Cote [, foto a seguir, com um grupo de camaradas nossos], reproduzimos aqui uma nota autobiográfica, publicada no blogue da Tabanca de Matosinhos, em tempos (31 de Março de 2009), em poste editado por A. Marques Lopes:
(i) Nasceu em Taliuará, também
conhecida pelo nome de Ponta do Nhu Kôte, perto de Xime, arredores de Bambadinca, no leste da Guiné, no dia 6 de Junho de 1952;
(ii) Ainda jovem, engajou-se na luta política, primeiramente nas fileiras do PAIGC como militante clandestino, e mais tarde nos meios intelectuais;
(iii) "Ainda sob o regime colonial foi preso em 1972 por ordem expressa do General Spínola, então Governador da Guiné, por ter liderado um levantamento estudantil em Bissau";
(iv) Preso de novo em 1973, por pertencer à rede clandestina do PAIGC, foi condenado a 3 anos de trabalhos forçados na Ilha das Galinhas, tendo sido libertado após o 25 de Abril;
_________________
Nota do editor:
Último poste da série > 21 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8935: Notas de leitura (289): Ultramar - 1968: Quando Américo Thomaz percorreu livremente a Guiné (Mário Beja Santos)
Para quem, durante a guerra colonial, lutou "do outro lado", a leitura destas memórias do Bobo Keita tem um interesse muito especial. Porque estive em Cantacunda, em Banjara e na "base do Gazela" (que substituiu em Sinchã Jobel o Lúcio Soares quando este foi para o Morés), porque estive em Barro, na zona norte, entre Ingoré e Bigene. Revejo-me em muitas situações por ele contadas, pois passou também por esses locais. (...)
Porto > UNICEPE, Cooperativa Livreira de Estudantes > 24 de Setembro de 2011 > Norberto Tavares de Carvalho, na sessão de lançamento do seu livro. Foto: Cortesia de Coisas da Guiné, blogue de A. Marques Lopes.
2. Quem é ou quem foi o comandante Bobo Keita (1939-2009) ?
O próprio Norberto Tavares de Carvalho, "o Cote, guineense, filho da diáspora (vive na Suiça, desde há 3 dezenas de anos), já o tinha apresentado sumariamente, no blogue no Didinho, em 4 de Fevereiro de 2009, nestes termos:
(i) Filho de Fofana Keita, descendente do Mali, de confissão muçulmana, nascido na Guiné-
Conacri, tabanca de Dabis, região de Boké e de N’balia Turé, de origem Susso da parte
paterna e Pepel de Safim da ala materna;
(ii) Bobo Keita nasceu em Bissau no dia 24 de« Setembro de 1939;
(iii) O pai, alfaiate, preparou-o para seguir a profissão que, na época, era ambulante;
(iv) Nasceu do bairro do Pilão, onde desde cedo mostrou habilidade para jogar à bola;
(v) "Um belo dia, na Granja de Pessubé, cruzou-se com um homem que todos chamavam 'Sr. Engenheiro e que tinha uma mulher branca'. O homem, divertido com a sua engenhosidade, ofereceu-lhe uma bola";
(vi) Joga pelo Benfica ded Bissau e um dia é convocado para a selecção nacional da então Guiné Portuguesa para disputar um torneio de futebol na República do Ghana, ex-colónia inglesa que proclamara a sua independência no dia 6 de Março de 1957;
(vii) No Ghana, aos 17 anos, conheceu o Presidente Kwame N’krumah, herói da independência; o discurso de abertura do torneio, proferido no jardim
do palácio presidencial, teve o condão de despertar o jovem Bobo para a política;
(viii) Entra na clandestinadade, ao abandonar Bissau, no dia 26 de Dezembro de 1960, sob a orientação de Rafael Barbosa, dirigente do PAIGC, e rumar em direção a Conacri, onde o esperava Amílcar Cabral;
(ix) "Uma formação de base político-ideológica sob o patrocínio do 'Engenheiro' e uma outra de cunho militar no ex-Leste Europeu, foram suficientes para galvanizar o espírito combativo do jovem alfaiate";
(x) Depois disso, tornou-se um guerrilheiro, puro e duro, palmilhou a Guiné de lés a lés, foi ferido duas vezes em combate, até se tornar Comandante da Frente Leste;
(xi) "Último chefe de guerrilha que se entrevistou com Amílcar Cabral poucas horas antes do seu assassinato em Conacri, estaria presente em Boké aquando da captura de um dos
assassinos e a descoberta e libertação de Aristides Pereira, Secretário-Geral Adjunto do
PAIGC, amarrado no fundo do barco por Inocêncio Kani, que o transportava, disposto a
entregá-lo às autoridades portuguesas";
(xii) Membro do Conselho Superiro de Luta, desde Junho de 1973, fez parte da delegação do PAIGC que, depois do 25 de Abril, participou nas negociações de Londres e de Argel, com a delegação portuguesa;
(xiii) Vindo do leste à frente das suas tropas, foi o primeiro comandante do PAIGC a entrar em Bissau, em 8 de Setembro de 1974;
(xiv) Foi também ele quem escoltou, até ao avião, o último governador da Guiné, Carlos Fabião;
(xv) "O golpe de estado de 14 de Novembro de 1980 surpreendê-lo-ia numa missão de serviço em Cabo Verde, na cidade da Praia";
(xvi) Não aceitando o golpe de estado de Nino, adaptou Cabo Verde como a sua segunda pátria;
(xvii) Morreu, em Portugal [, julgo que no Hospital Amadora-Sintra], a 29 de Janeiro de 2009, vítima de doença prolongada; o seu corpo foi traslado para Cabo Verde.
[Excertos selecionados e adaptados por L.G, que irá publicar, nos próximos dias, algumas notas de leitura, com referência às conversas com este antigo comandante e dirigente do PAIGC, pouco ou nada conhecido entre nós].
3. Quanto ao autor, Norberto Tavares de Carvalho, o Cote [, foto a seguir, com um grupo de camaradas nossos], reproduzimos aqui uma nota autobiográfica, publicada no blogue da Tabanca de Matosinhos, em tempos (31 de Março de 2009), em poste editado por A. Marques Lopes:
(i) Nasceu em Taliuará, também
conhecida pelo nome de Ponta do Nhu Kôte, perto de Xime, arredores de Bambadinca, no leste da Guiné, no dia 6 de Junho de 1952;
(ii) Ainda jovem, engajou-se na luta política, primeiramente nas fileiras do PAIGC como militante clandestino, e mais tarde nos meios intelectuais;
(iii) "Ainda sob o regime colonial foi preso em 1972 por ordem expressa do General Spínola, então Governador da Guiné, por ter liderado um levantamento estudantil em Bissau";
(iv) Preso de novo em 1973, por pertencer à rede clandestina do PAIGC, foi condenado a 3 anos de trabalhos forçados na Ilha das Galinhas, tendo sido libertado após o 25 de Abril;
(v) Com a independência, e após o golpe de estado do 14 de Novembro de 1980, foi preso por ter pertencido às forças da segurança como chefe dos serviços da migração;
(vi) Após a sua libertação, em Maio de 1983, e sendo um opositor de 'Nino' Vieira, refugiou-se na Suíça;
(vii) Nesse país, "formou-se nas Altas Escolas Especializadas do domínio das ciências sociais. Em 1998, fez o seu Brevet Federal de Formador de Adultos na Universidade Operária de Genebra. É titular do Master Europeu em Mediação pelo Instituto Universitário Kurt Bösch, tendo consagrado a sua tese de diploma na reflexão de um dos problemas de maior importância dos nossos dias : a prevenção e a gestão de conflitos. A sua contribuição liga-se à volta dos métodos tradicionais africanos de gestão de conflitos e de reconciliação nos mecanismos nacionais e internacionais da mediação. Faz parte da lista dos Mediadores Civis do Estado de Genebra".
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Nota do editor:
Último poste da série > 21 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8935: Notas de leitura (289): Ultramar - 1968: Quando Américo Thomaz percorreu livremente a Guiné (Mário Beja Santos)
4 comentários:
É bom que homens como o Bobo Keita tenham dado o exemplo, antes de morrerem, confiando as suas memórias ao papel... Neste caso, através do Norberto Tavares de Carvalho, que é de outra geração, e tem outra preparação académica...
Bobo Keita pertence a grupo de dirigentes do PAIGC mais discretos, "low profile", mas com uma experiência humana e operacional não menos rica que a dos nomes mais sonantes (a maior parte, de resto, já mortos, do Amílcar Cabral ao 'Nino' Vieira).
É bom que homens como o Bobo Keita tenham dado o exemplo, antes de morrerem, confiando as suas memórias ao papel... Neste caso, através do Norberto Tavares de Carvalho, que é de outra geração, e tem outra preparação académica...
Bobo Keita pertence a um grupo de dirigentes do PAIGC mais discretos, "low profile", mas com uma experiência humana, operacional e política não menos rica que a dos nomes mais sonantes (a maior parte, de resto, já mortos, do Amílcar Cabral ao 'Nino' Vieira).
Mas seria também bom recolher o testemunho dessa mulher grande que me parece ser uma extraordinária figura, a Carminda Pereira (conhecia em Bissau, em 2008).
"Bobo Keita pertence a um grupo de dirigentes do PAIGC mais discretos, "low profile", mas com uma experiência humana, operacional e política não menos rica que a dos nomes mais sonantes ..."
E nem imagina o homem de trato facil, de modestia mas de conviccoes que era este outrora guerrilheiro !
Conheci Bobo na Guine, tive o privilegio de conviver com ele durante a fase de seu exilio em Cabo Verde (pais que acabou entretanto por adoptar e onde quis que os seus restos mortais repousassem) ja que tal como fazia questao de (a brincar), sublinhar...afinal faziamos parte da "geracao dos desterrados" pelo golpe de 14 de Novembro de 1980 !
Ao Norberto Carvalho,uma palavra de apreco e de reconhecimento por este valioso contributo a historia da nossa Guine !
Mantenhas
Nelson Herbert
1. Sobre Norberto Tavares de Carvalho, descobri que temos para aí poste antigo... Recorde-se que ele floi também militante do PAIGC, preso no tempo do Spínola e de novo preso, no seu país, na sequência do golpe de Estado de 'Nino' Vieira:
vd. o poste de 10 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3125: História de vida (14): Norberto Tavares de Carvalho, O Cote: do PAIGC ao exílio (A. Marques Lopes)
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2008/08/guin-6374-p3125-histrias-de-vida-15.html
2. Donde lhe advem a alcunha "O COte" ? Ele já explicou ao nosso blogue:
(...) Excelente, gostei do meu curriculum. Só um pequeno pormenor, pois devo ter-me explicado mal, ou pouco: os meus pais não trabalharam para um alemão, não. É que eles moravam em Xime e, nesse dia 6 de Junho de 1952, data do meu nascimento, resolveram ir para Bambadinca onde haviam parteiras que podiam melhor ajudar no parto. Só que, chegados na "Ponta do Sr. Côte", uma horta a alguns quilómetros de Xime, para quem vai para Bambadinca, o bébé já estava aí! Tiveram que fazer uma alta e a mulher, assistida pela esposa do dono da horta, teve o seu bébé aí mesmo.
"O Sr. Côte, dono da horta, de origem alemã (e libanesa), ouvindo finalmente o bébé chorar, foi bater à porta do quarto onde o parto se desenrolava e perguntou à sua mulher, (num crioulo sem falhas):
- É rapaz ou rapariga?
Como a resposta foi "rapaz!", o agricultor decidiu que se chamaria Côte, como ele. Não foi lá muito democrático para o recém-nascido, mas enfim, o patrónimo foi respeitado até hoje" (...)
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