sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8959: (In)citações (35): Ainda a Mutilação Genital Feminina (MGF), Excisão ou Fanado Feminino (J. Pardete Ferreira)



S/l > s/d > "Esta é uma imagem do 'peditório' para ajudar o 'ronco' do fanado. Neste caso masculino". [Imagem possivelmente retirada do livro Le noir d'Afrique, 1943].






Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto ou Canchungo > 1969 > "Nha manjaco arfero Mil Médico José Pardete Ferreira com mininos pró fanado fora do arame farpado"


Fotos (e legendas): © J. Pardete Ferreira (2011). Todos os direitos reservados.

1. Sobre o tema  candente, atualíssimo, da Mutilação Genital Feminina - problema de grande conflitualidade teórico-etnológica, de saúde pública, de direito penal e de direitos humanos - , já aqui abordado diversas vezes no nosso blogue, recebemos ontem, 27, o seguinte texto do nosso camarada, médico, reformado, José Pardete Ferreira (ex- Alf Mil Med, CAOP, Teixeira Pinto; HM241, Bissau, 1969/71):


Assunto - Ainda sobre a  MGF

A MGF [, Mutilação Genital Feminina], por vezes chamada de Excisão e mais raramente Fanado Feminino, pese embora o facto de, nos tempos que correm, ser uma verdadeira barbaridade, na sua origem foi uma necessidade fisiológica.


Assim, [apontam] os estudos antropológicos dos médicos do Serviço de Saúde das Colónias, quase todos, se não mesmo todos médicos, médicos do exército francês. 

Este texto é apenas uma súmula extraída do livro Le noir d’Afrique, anthropo-biologie et raciologie, escrito pelo Dr. G. Lefrou, Médico Chefe de 1ª classe do Corpo de Saúde Colonial, distinguido pelo Instituto e pela Academia das Ciências Coloniais. O livro foi publicado em 1943 pelo editor Payot, Paris [429 pp.], vd. páginas 235/236. [, foto da capa à esquerda].

Quanto ao citado, encontramos o facto de, na Abissínia, Somália e certas regiões do Sudão, as mulheres terem um clítoris de tal maneira desenvolvido que fazia lembrar a dos indivíduos hermafroditas. No coito, tal anomalia tornava extremamente difícil a penetração do pénis na vagina, com todas as consequências que tal situação implica, nomeadamente a propagação da espécie, pelo que a MGF se tornou uma necessidade.

Vem descrito por Loth, publicado por Hyrtl em 1881,  que quando o cristianismo foi introduzido na Abissínia [, hoje Etiópia,] , a Igreja proibiu esta mutilação, o que provocou a revolta dos homens e teve como consequência o envio pelo Papa de uma missão especial que inquiriu e acabou por aprovar a necessidade de tal operação.

Assim, o que foi uma necessidade fisiológica, rapidamente se espalhou por toda a África, passando a aplicar-se a torto e a direito, de forma indiscriminada, nalguns casos por espírito de imitação, eventualmente tornado religioso, entre as etnias animistas e algumas muçulmanas (esta última citação é minha e não vem no texto).

José Pardete Ferreira

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro camarada e colega Pardete

Os estudos antropológicos feitos por médicos nos séculos xix e até xx,nomeadamente franceses e alemães,tinham muitas vezes outras intenções que não a verdade científica.
Então esta da excisão clitoriana ser devido à hipertrofia do clitóris, tenho muitas dúvidas.
Seria mesmo assim ?
Haveria tantas mulheres com um clitóris de tal forma hipertrofiado que impedissem a penetração ?

C.Martins

Anónimo disse...

PS

Segundo julgo saber a MGF já era prática comum na Ásia Médio-Oriente e África em séculos anteriores.

C.Martins

Anónimo disse...

Mensagem, de ontem, que nos chegou á caixa do correio:

Eu limitei-me, como escrevi, a transmitir algo que tinha lido já há alguns anos.

Lembro, no entanto o Carlos Martins, cujo email não encontro, talvez por distracção, se esqueça do "os penis", quase constante no cão e presente, embora muito raramente, no homem. Igualmente, e sem querer ofebder ninguém, o gorila fêmea tem, igualmente, muitas vezes, o clitoris calcificado.

Deixando Darwin de fora, e não querendo entrar em polémicas, reconhecendo que a dúvida cartesiana e científica do meu estimado colega é válida, não me custa acreditar no que vem escrito, inclusive porque todo o texto de Antropologia Comparada me parece bastante bem elaborado.

Há tantas coisas que desconhecemos...

Com um abraço colectivo e incluindo o Carlos Martins, bem entendido.

O Pardete Ferreira