Caro Juvenal:
Foram efectivamente três os natais que passámos na Guiné (**). Três épocas de Natal, que nos retiraram das nossas famílias. Foi este o brinde que calhou ao nosso BCAÇ 3872:
(i) O primeiro foi passado no Cumeré, chegadinhos nesse dia 24 de Dezembro de 1971;
(...) "Desembarcámos do navio Angra do Heroísmo, no Cais de Pidjiquiti, fardados de camuflado e com um calor e humidade que o colavam à nossa pele e ouvindo as bocas de periquito vai para o mato, dos estivadores negros e de quem assistia aos primeiros passos daqueles jovens em terras de África, saídos poucos dias antes da Metrópole e roubados ao sossego das suas vidas. Seguimos em viaturas civis para oCumeré, onde o Batalhão ficaria instalado para o IAO e passaria aquela primeira noite" (...) (**).
(ii) Depois o segundo já o passei no Dulombi;
(...) "Em Dezembro de 1972, depois de ter frequentado o Estágio das Unidades Africanas em Bolama e S. João, sob o Comando do então Major Coutinho e Lima, pessoa que me pareceu um excelente militar e um excelente ser humano, consegui regressar à minha Companhia, a tempo de passar o Natal com o meu pessoal, no nosso Dulombi. (...) Foi a festa possível, com cânticos e algumas lágrimas de saudade. Estávamos também em alerta, dado que no princípio desse mês o IN atacara fortemente a sede do batalhão (Galomaro). Comemos o famoso bacalhau liofilizado, mas com a esperança – por sinal errada – que seria o último que passaríamos na Guiné e que em 1973 estaríamos no seio das nossas famílias" (...) (**)
Foram efectivamente três os natais que passámos na Guiné (**). Três épocas de Natal, que nos retiraram das nossas famílias. Foi este o brinde que calhou ao nosso BCAÇ 3872:
(i) O primeiro foi passado no Cumeré, chegadinhos nesse dia 24 de Dezembro de 1971;
(...) "Desembarcámos do navio Angra do Heroísmo, no Cais de Pidjiquiti, fardados de camuflado e com um calor e humidade que o colavam à nossa pele e ouvindo as bocas de periquito vai para o mato, dos estivadores negros e de quem assistia aos primeiros passos daqueles jovens em terras de África, saídos poucos dias antes da Metrópole e roubados ao sossego das suas vidas. Seguimos em viaturas civis para oCumeré, onde o Batalhão ficaria instalado para o IAO e passaria aquela primeira noite" (...) (**).
(ii) Depois o segundo já o passei no Dulombi;
(...) "Em Dezembro de 1972, depois de ter frequentado o Estágio das Unidades Africanas em Bolama e S. João, sob o Comando do então Major Coutinho e Lima, pessoa que me pareceu um excelente militar e um excelente ser humano, consegui regressar à minha Companhia, a tempo de passar o Natal com o meu pessoal, no nosso Dulombi. (...) Foi a festa possível, com cânticos e algumas lágrimas de saudade. Estávamos também em alerta, dado que no princípio desse mês o IN atacara fortemente a sede do batalhão (Galomaro). Comemos o famoso bacalhau liofilizado, mas com a esperança – por sinal errada – que seria o último que passaríamos na Guiné e que em 1973 estaríamos no seio das nossas famílias" (...) (**)
(iii) Mas o terceiro, passei-o uma parte em Nova Lamego (onde o meu Gr Comb estava de intervenção) e depois da meia-noite no mato circundante daquela cidade, em emboscada nocturna.
(...) "Um Natal nestas condições, com o sonho desfeito de voltarmos a casa no tempo previsto, com 24 meses de Guiné já cumpridos e estando fora da Companhia, foram difíceis de gerir e de digerir e os sentimentos que lavravam entre todos nós, eram um misto de revolta e de raiva. Lembro-me que, após a ceia de Natal em Nova Lamego, o Grupo de Combate, pela meia-noite, foi para o mato, substituir outros camaradas que estavam desde o fim da tarde emboscados, para que eles pudessem também vir comer a ceia. Ali ficámos a fazer segurança até ao alvorecer, cada um a pensar, com certeza, na importância de mais um Natal afastado da sua terra, da sua família, dos entes queridos. (....) (**)
A época de Natal foi sempre a altura que mais me custou na Guiné, muito em especial a primeira e a terceira (dado que pensávamos que a passaríamos já em família, pois o tempo da comissão tinha terminado em Outubro).
Se pudéssemos juntar todos os camaradas, as nossas famílias e envolvê-los no Natal que alegria seria! (***)
Obrigado e parabéns pelo que escreveste, pela tua filha e pelo seu aniversário.
Um abraço.
Luís Dias
__________________
Notas do editor:
(**) Vd. poste de 18 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3650: O meu Natal no Mato (16): Os meus Natais na Guiné (Luís Dias)
(***) Último poste da série > 8 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9160: (Ex)citações (162): Confesso que estou profundamente chocado com a posição de alguns camaradas acerca da política seguida pelo nosso blogue (José Teixeira)
1 comentário:
Sou irmão de um ex-combatente na Guiné,o ex-1º Cabo Avelino Martins,da 3491(1971-74).Meu irmão foi um militar do ex Alferes Luís Dias que relembra todo o percurso desse grupo de homens em Dulombi.
Tive a felicidade de encontrar na net o blog do Luís Dias e aprendi mais sobre a guerra colonial do que sobre muitas coisas que fui lendo e já tenho 52 anos.
Através do Luís Dias,meu irmão divertiu-se com os camaradas que já não via desde 5 de Abril de 74.
Honra vos seja feita camaradas,e eu que também fui militar sem a Guerra,na FAP,faço e continuarei a fazer a minha vénia a todos vós e continuarei a perceber porque meu irmão e outros vieram diferentes da guerra,mas com uma grande vontade de viver e um grande sentido de família.
Em nome de meu irmão,um grande abraço para os "velhinhos"!
Augusto Martins
ex 1ºCabo/MMT FAP(OTA)
irmão do v camarada:
Avelino Martins
ex 1º Cabo atirador Guiné 71-74
CC 3491
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