Guine´> Região do Cacheu > Jolmete > Outubro de 1972 > CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73) > Vista parcial da nova tabanca. Foto do álbum de Augusto Silva Santos (ex-fur mil, da CCAÇ 3306).
Foto (e legenda): © Augusto Silva Santos (2012). Todos os direitos reservados.
1. Mensasgem do nosso editor L.G., enviada hoje de manghã à Tabanca Grande através do correio interno:
Camaradas:
Sei que o tema é delicado...Mas a guerra acabou há 40 anos e na nossa Tabanca Grande não há (ou não deveria haver) tabus, isto é, assuntos intocáveis... Falamos uns com os outros sobre tudo ou quase tudo... Falamos tanto da guerra como da paz, tanto de operações militares como do nosso quotidiano. Falamos sobre nós e sobre aqueles contra quem combatemos. E escrevemos sobre tudo ou quase tudo, incluindo "segredos" guardados estes anos todos... Foi, por exemplo, o que aconteceu com o António Medina, camarada de 1964/66 que vive hoje na América, e que veio partilhar aqui, no nosso blogue, factos, alegadamente ocorridos em Jolmete, no "chão manjaco", na sequência de uma emboscada em 24 de junho de 1964... Esses facto, a serem verdade, parecem configurar aquilo a que técnica e juridicamente se poderia chamar uma "execução sumária" de duas dezenas de homens da tabanca de Jolmete, incluindo o régulo e o seu neto Celestino. (*)
Até á data não há nenhuma outra versão desses alegados acontecimentos, em parte vividos pelo António Medina, e cuja boa fé não podemos pôr em causa até prova em contrário.
E a este propósito, está a decorrer um sondagem sobre eventuais "execuções sumárias" praticadas na Guiné, pelas NT (mas também pela PIDE/DGS, milícias, polícia administrativa), antes e depois de 1963, início oficial da guerra... Estamos a falar de "eventuais" casos, não estamos a falar de casos concretos que tenham ocorrido, se é que ocorreram.
A acreditar nas versões de alguns camaradas nossos, em conversas tidas "off record" ao longo destes anos, ou até mesmo durante a nossa comissão de serviço, terá havido "casos pontiuais" que, inclusive, chegaram à justiça militar, no tempo do gen Spínola. De qualquer modo, em caso algum vamos julgar nem muito condenar ninguém, já que esse é um dos "princípios sagrados" do nosso blogue...
Em eventuais postes sobre este delicadíssimo assunto, omitiremos sempre nomes de pessoas, só nos interessam os factos, o que aconteceu, onde e quando.... Como sabem, em Portugal não havia, no nosso tempo, pena de morte...Nem nenhum de nós foi preparado, durante a instrução militar, para executar "penas capitais"... Éramos combatentes, não éramos carrascos.
Queremos conhecer a vossa opinião sincera e frontal sobre este tema que deve ser encarado com serenidade, autenticidade, seriedade, rigor, e honestidade, intelectual e moral. Isto quer dizer que não especulamos, não inventamos, nem muito menos fazemos acusações gratuitas.
Respondam à nossa sondagem, mandem textos e comentários... Não deixemos que sejam os outros a contar a nossa história por nós...
Até ao início desta manhã tinham respondido 32 camaradas. Ainda temos 3 dias para participar. Um alfabravo fraterno, Luís Graça
PS - Respondam "on line!", diretamente no blogue (votando na caixa respetiva, colocada no canto superior esquerdo). Há 7 hipóteses de resposta, mas só podem escolher uma...
2. SONDAGEM: "SOBRE EVENTUAIS EXECUÇÕES SUMÁRIAS DE ELEMENTOS
IN, POR PARTE DAS NT, NO CTIG"...
Resultados preliminares (n=32)
1. Nunca participei
6 (18%)
2. Nunca assisti
1 (3%)
3. Nunca ouvi falar
18 (56%)
4. Participei
0 (0%)
5. Assisti
1 (3%)
6. Ouvi falar
6 (18%)
7. Não sei ou não me lembro
0 (0%
__________________
Nota do editor:
(*) Vd. poste de;
26 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13333: (Ex)citações (234): Comentários ao poste do António Medina sobre os acontecimentos de 1964 em Jolmete: Vasco Pires, António Graça de Abreu, Manuel Carvalho, Joaquim Luís Fernandes, Júlio Abreu, Manuel Luís Lomba, António Rosinha e António Medina
31 comentários:
Rui vIeira Coelho
30 jun 2014 13:07
Caro Luis
Nunca ouvi falar ,nunca assisti ,nem ouvi qualquer rumor acerca de semelhante coisa.
Execuções ouvi falar das nossas tropas africanas no tempo do presidente Luis Cabral
Um Alfa Bravo do Rui Vieira Coelho.
Enviado do meu iPad
Quando saiu no g-mail eu respondi assim:
#Torcato Mendonca
14:13 (Há 1 hora)
para Luís
Claro que há tabús e perguntas desnecessárias, dispensáveis, Luís Graça.
Esta é uma delas. Respondi á "sondagem" e sinceramente nunca ouvi falar nessa aberração. Como eu muitos outros pensarão assim. Fuzilamentos houve por parte do Paigc, era natural. Passem os anos que passarem há assuntos que não interessa, não devem ser trazidos aqui para discução. Penso assim,
Ab,T. ##
Agora aqui, neste Poste, comento fazendo copY/paste.
É o qe penso, o que sinto e o que parcialmente sou levado a comentar.
Li posteriormente noutro Poste um comentário sobre o assunto.
As Forças Armadas Portuguesas tiveram excelente desempenho sempre que foram chamadas para qualquer missão.
Ab,T.
Tal como escrevi noutro comentário no blog sou frontalmente contra esta sondagem, por todas as razões e mais uma, como se costuma dizer.
Ouvir falar???
Repugna-me e ofende-me.
Não quero colaborar com isto!
Cândido Morais
30 jun 2014 14:44
Caro amigo:
Concordo contigo, o tema não é apenas delicado, é muito delicado...
Na verdade, na nossa instrução, nunca ninguém nos disse que tal coisa era para se fazer. Por isso, toda a responsabilidade dum eventual acto desses nos cabe inteiramente, primeiro aos comandantes e depois aos executantes.
Pessoalmente, respondi que nunca ouvi falar. E isso significa que nem participei, nem assisti. E ainda hoje sentiria imensa vergonha e arrependimento se tal tivesse sucedido. Se houvesse capturas efectuadas pela minha Companhia, os prisioneiros seriam remetidos para Nova Lamego (chegamos lá a ver um, depois, a trabalhar nas obras, e o homem ainda nos veio pedir cigarros...).
Opinião pessoal, se acontecesse uma barbaridade dessas: simplesmente hediondo.
Um grande abraço
Cândido Morais
Rui Santos
30 jun 2014 13:41 (
Amigo Luís
Li ... mas pessoalmente não acredito, nem nunca acreditei no "ouvi dizer", sou da mesma opinião do António Graça Abreu.
É bom recordar apenas o que cada um viveu, viu com os próprios olhos, gosto muito de histórias verídicas da guerra.
Também ouvi dizer algumas barbaridades, mas ... ouvi de "gente" que :- Vistes?, "não não vi ouviu dizer...." para mim, está tudo dito.
Desculpem Luís e António Medina, eu não vi ...
Abraço
Rui Santos
Rui Santos
30 jun 2014 16:00 (
Luis
Claro que sim [, que te dou a minha autorização para pubkicares o meu comentáerio anterior], como já sabes sou sempre pela rectidão, embora tenha visto escritos de diversos autores "combatentes" que contam de ouvir dizer e por sua vez também acrescentam sempre um ponto, um dia quando nos encontrarmos falar-te-ei pessoalmente de diversos casos que tenho lido em livros sobre a guerra e episódios semelhantes (que me têm dado familiares e alguns como o do Antº Graça Abreu que mo enviou directamente).
Bom amigo,
Abraço
Rui S
Cândido Morais
30 jun 2014 16:32
Caro amigo:Ç
Obviamente que podes [publicar o meu comentário anterior].
Eu não estudei nem me preocupei em ler os acordos de Genebra ou tudo o mais que a tal matéria diga respeito, mas não seria necessário. A nossa condição humana é que no-lo exige.
E digo mais, ao acrescentar que fortaleci grandes laços de amizade com os meus camaradas da CCAÇ por saber que também seriam incapazes de enveredar por esse caminho.
Um grande abraço.
Cândido Morais
Torcato Mendonca
30 jun 20104 16:21
Já fiz copy/paste [do meu comentário anterior ,Luís Graça.
Não ponho em causa o militar que está nos USA. As nossas Forças Armadas são diferentes das do país onde ele está - nem melhores, nem piores, diferentes.
Abração, Torcato
Meus caros camaradas
Algum de vós viu o PAIGC a assassinar algum nosso camarada africano?Não viram no entanto dizem e eu também digo que eles mataram muitos.Eu só me sinto com moral para falar das coisas erradas do PAIGC se falar também das nossas foi assim que me ensinaram desde pequeno.E era o que faltava se agora com quse setenta me vinham dizer o que eu devo falar.
Um abraço
Manuel Carvalho
António José Pereira da Costa
30 jun 2014 16:52
Camarada
Este tema é frouxo.
Pode ter acontecido mas... se tivesse acontecido já tínhamos falado dele.
Claro que a guerra começou em 1963 e por isso podem ter acontecido execuções ou mortes por tortura como sempre sucederam e sucedem.
Contudo, também nunca ouvi sequer falar que tivessem acontecido e, como te recordas, qualquer de nós falava com muita gente (de todas as idades e sexos) em todas as tabancas por onde andámos. Talvez o camarada que levantou a questão pudesse dar mais elemento, nomeadamente no que se refere aos executantes (unidade polícia ou militares). Depois da guerra começada este procedimento é contraproducente. Talvez o camarada que levantou a questão pudesse dar mais pormenores.
E um inquérito!?
Um Ab. para ti do
TZ [Tó Zé]
António José Pereira da Costa
30 jun 2014 17:27
Podes [publicar o comenta´rio anterior].
Se to enviei numa de "secreto" foi porque achei mais aconselhável.
Porém, se assim o entenderes, passa de imediato a "não classificado".
À consideração superior.
Um Ab.
TZ [Tó Zé]
Esta matéria pode encerrar grandes e preocupantes melindres.
Pessoalmente, não soube (de saber genuíno), não ouvi falar com precisão, nem participei, obviamente. Mas sei e ouvi falar, de me terem contado difusamente.
Não participei, porque seria hediondo, como muito bem refere o Cândido Morais, um grande amigo e camarada de Companhia. E não o dizemos para branquear alguma asneira cometida.
Já aqui referi uma estória tonta sobre a prisão de um estranho em Bajocunda, e dá para rir, recordá-la.
Também contei como uma ocasião, foi um membro da própria população que empunhando uma faca se dirigia aos corpos de inimigos abatidos em combate. Sei lá se queria aproveitar botões, mas pu-lo a andar dali e dei instruções inflexíveis. Tal como, também referi uma situação bizarra ocorrida no leste profundo, de se terem mandado umas obusadas para o outro lado, na sequência da apreensão de vacas e de dois pastores que as conduziam, alegadamente para o PAIGC, cujos resultados não soube de facto, e só imprecisamente tive conhecimento deles.
Por estas razões vou responder que sim, ouvi, sem relatos concretos.
Abraços fraternos
JD
Camaradas:
Se pesquisarem nos diversos arquivos disponíveis no portal "Casa Comum", incluindo o Arquivo Amílcar Cabral, não há nenhuma referência a nenhum massacre singular como o de Jolmete ou outro, devidamente datado, localizado, etc., tirando obviamente o "massacre do Pidjiguiti" (3 de agosto de 1959) que o PAIGC explorou até à exaustão e cujo aniversário assinalava todos os anos...
Em meados de 1964, o PAIGC já estava suficientemente organizado para que um acontecimento, como aquele que terá ocorrido em Jolmete, lhe tivesse escapado e não tivesse vindo a público... Amílcar Cabral iria por certo aproveitá-lo para fins de propaganda (interna e sobretudo externa)...
Ora até, agora, e explorando o seu arquivo (onde haverá lacunas de documentos), ainda não consegui encontrar nenhuma referência a Jolmete, no "chão manjaco", associado à palavra ou descritor "massacre"...
Procurem aqui, em pesquisa avançado, pesquisando por ASSUNTO e "massacre"... com aspas ou sem aspas...
http://casacomum.org/cc/pesqArquivo?termo=Assunto:%22Massacre%22&pag=10&nResult=20
Camaradas
O portal "Casa Comum" vale o que vale. Já tivemos aqui várias imprecisões que nele estão contidas...
Um Ab.
António Costa
camarigos,
Independentemente da verdade ou falta dela,parece-me a todos os títulos de mau gosto procurar-se quarenta anos depois do fim da guerra em que laços de afinidade se criam no quotidiano de todos nós, vir a terreiro com sondagens (a própria palavra tem uma conotação infeliz...)para se reacenderem ódios sem justificação plausível. Abraço a todos.
Repesco um comentário meu sobre o tema:
Neste caso dos "fuzilamentos" dos homens grandes do Jolmete,será de considerar que no entendimento político, revolucionário, propagandístico dos homens do PAIGC tais fuzilamentos jamais são referidos.
O que é muito estranho. Seriam, se verdadeiros, uma bandeira, a levantar bem alto.
Em que mundo
é que vivemos?
Terão de ser os portugueses a falar dos nossos fuzilamentos?
Os que existiram e os que inventámos? Quando sabemos que de fuzilamentos (Cassacá, aos traidores
à luta, fuzilamentos durante o conflito, assassínio aos milhares de muitos homens que estiveram a nosso lado durante a guerra e que depois do 25 de Abril foram, sem piedade, vergonhosamente fuzilados e lançados para valas comuns), de fuzilamentos em massa de gente culpada, boa e inocente, quem muito sabe é o PAIGC?
Quem foram os mestres em fuzilamentos e assassinios em massa?
Em que mundo, 2014, vivemos?
Sem descartar, nenhuma responsabilidade de muito crime cometido por gente da ditosa pátria,( e de tantas outras potências colonizadoras!) de lágrima ao canto do olho e faca ou pistola na axila.
Um abraço,
António Graça de Abreu
De: Augusto Silva Santos
Para: Luís Graça
Caro Luís,
Como é do teu conhecimento, eu estive em Jolmete durante todo o ano de 1972, incorporado na CCaç.3306 / BCaç.3833.
Apesar da distância temporal entre os factos relatados e a minha presença em Jolmete, nunca senti da parte da população da tabanca, qualquer animosidade para com as NT relacionadas com essa possível ocorrência, nem nunca ouvi falar desse eventual massacre. Sem querer pôr em causa o que relatou o nosso camarada António Medina, julgo que se tal acontecimento tivesse de facto ocorrido, o mesmo seria por certo perpetuado ao longo dos tempos, até por implicar morte de familiares. Gostaria ainda de salientar que, na altura da minha passagem por Jolmete, o filho do então régulo era o Cajan, que pertencia ao Pelotão de Caçadores Nativos, e com o qual eu tinha um relacionamento próximo e com quem falava com alguma frequência sobre os mais variados assuntos, e nunca o ouvi mencionar fosse o que fosse sobre semelhante ocorrência, embora tenhamos por exemplo falado sobre a morte dos oficiais portugueses ocorrida na estrada Pelundo / Jolmete. O Cajan, como sucessor legítimo por morte do pai, é ainda hoje o régulo de Jolmete, apesar de ter colaborado com as NT. Porque me poderia na altura ter escapado alguma informação sobre este possível caso, e para não estar aqui a relatar algo incorrecto, entrei em contacto com ex-camaradas meus daquela CCaç., um dos quais muito próximo do comando da Comp.ª, e todos eles foram unânimes em afirmar que não ouviram falar sobre semelhante situação.
Talvez o camarada António Medina esteja na posse de mais elementos que possam esclarecer melhor o que de facto ocorreu.
Um forte abraço.
Caro Luis,
Parabéns, por tua ousadia de enfrentar tabus.
Eu cheguei à Guiné em 70 já nos tempos do "Imperador e Cavaleiro do monóculo", e nunca ouvi falar em nada desse tipo.
Todos sabemos que o ser humano em situações extremas e com algum poder é capaz de coisas incríveis, contudo, as políticas do Comandante em Chefe, eram no sentido inverso, ou seja de profundo respeito pela integridade das populações locais, bem como por seus usos e costumes.
forte abraço a todos
Vasco Pires
Contra alguma unanimidade de alguns eu quero dar os parabéns à coragem e objectividade do Manuel Carvalho.
Camarada tu continuas a ser um rijo Carvalho ibérico.
Eu confesso que não participei, não vi, mas um dia estava eu no bar do quartel, seria Buba Ou Mansabá, e regressou de heli um major que vinha duma operação muito apoiada pela aviação e armas pesadas. de comandos africanos e disse-me textualmente que vinha enojado e disse-me também que não tinha visto guerrilheiros inimigos.
Um grande abraço a todos os camaradas
Francisco Baptista
Para que não haja equívocos, eu sem nunca ter visto, acredito nos fuzilamentos e execuções sumárias praticadas pelo PAIGC contra militares africanos que lutaram ao nosso lado. E condeno a falta de solidariedade e cobardia de muitos dos nossos politicos e chefes militares que os abandonaram a uma sorte que provavelmente seria macabra.
Abraço
Francisco Baptista
Do Diário de Inácio Maria Gois companhia de caçadores 674 1964-1966
“O combate terminou pelas 11 da manhã. Os guerrilheiros puseram-se em fuga mas mostraram que estavam ali para o que desse e viesse. Tentaram ver a nossa reação ou a nossa fraqueza, mas viram que nós não fraquejámos”. No dia seguinte um civil de etnia fula capturou um suposto guerrilheiro que o comandante de companhia submeteu a interrogatório. O soldado Inácio Góis diz ter presenciado um crime horrível: “A pouco mais de 300 metros do aquartelamento ele foi obrigado a pegar numa pá e abrir a sua própria sepultura; não compreendi a razão do que estava a fazer ao jovem guerrilheiro, já indefeso, de mãos atadas e com uma corda ao pescoço”. E depois descreve a execução do jovem guerrilheiro que tombou sobre a sua própria sepultura.
Caro amigo Francisco
Totalmente de acordo contigo quanto ao fuzilamento dos nossos camaradas africanos e sempre disse isso e direi até morrer mas da mesma maneira também acho mal se nós fizemos a mesma coisa e acho que o assunto não deve ser calado como alguns pretendem.E relativamente a Jolmete continuo a dizer estive lá um ano e não ouvi nada mas pode haver quem tenha ouvido alguma coisa mais.E uma coisa sei a Tabanca por essa altura foi abandonada completamente por algum motivo foi.Para já foco por aqui mas quando me apetecer falar falo.
Manuel Carvalho
Preocupações sobre a Sondagem
Depois de ver os resultados da Sondagem do Blogue “Sobre eventuais execuções sumárias de elementos do IN, por parte das NT, no CTIG”, fico deveras magoado:
a) Existe um número escasso de participações a colaborar, e estavam tantos no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real
b) Os camaradas presentes e ausentes, decerto que não estiveram aquartelados sem condições; não estiveram privados de correio com notícias das mulheres, noivas e namoradas, e com certeza da família e dos amigos; não passaram fome e sede; não pisaram as matas e bolanhas; não montaram nem desmontaram minas e armadilhas; não fizeram Operações e Patrulhas quase diárias; não assistiram à morte de camaradas e a inúmeros camaradas evacuados; tinham jovens que eram contactos sexuais com brancas. Em suma: “Estiveram num paraíso, em África a passar férias!
Afirmo: - "EXISTIRAM EXECUÇÕES SUMÁRIAS DE ELEMENTOS DO "IN", POR PARTE DAS NT, NO CTIG"!. E se existe quem não tem a coragem de o afirmar, decerto que não esteve na Guiné... Há que assumir, agora ficar quedo e calado não é nada. Não me venham dizer agora que o napalm não existiu na Guiné!...
Estou deveras amargurado, porque o que este estado de coisas nos dá, é um Estado que nos esquece. Isto plagiando a famosa frase de Salgueiro Maia na madrugada do 25 de Abril de 1974. E aqui ou acolá inaugura Monumentos com os nomes dos mortos e coloca vagamente o nome de uma rua o nome de um filho da terra que morreu na guerra.
Vou transcrever um texto escrito por mim no Jornal APOIAR, jornal da APOIAR – Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas de Stress de Guerra. Era na altura Vice-Presidente e Diretor do Jornal. Posteriormente fui durante seis anos Presidente da Associação, sendo fundador da mesma e igualmente do Jornal. Aqui segue o artigo:
“A APOIAR realizou em Beja dois Colóquios, dias 14 e 15 de Abril de 1997, com a colaboração da Câmara Municipal com o tema: “Ciclo Guerra Colonial/Memória Silenciada”. Simultaneamente esteve exposta uma Exposição Fotográfica.
No primeiro dia, Dra. Dalila Aguiar, Psicóloga Clínica da APOIAR, disse: “Não existem só consultas para os ex-combatentes, mas também para as mulheres e os filhos dos mesmos, que também sofrem com a guerra”.
A Dra. Fani Lopes, Psicóloga Clínica, referiu: “Quem luta contrariado na guerra fica mais vulnerável à doença”.
Dr. Trigo de Sousa, Psiquiatra em Évora, referiu “A deficiência é de injustiçado”.
Dr. Paradela de Oliveira, Psiquiatra em Beja, afirmou: “A Guerra Colonial é escondida da sociedade com fecho éclair”.
Mário Inácio, Membro do Conselho Fiscal da ADFA, disse: “Efetivamente, só tem stress de guerra quem andou na guerra”.
O Eng.º Agrónomo de Beja, referiu: “A APOIAR teve a coragem de mostrar a cara e falar dos seus problemas”.
No segundo dia, o Vice Presidente Nacional da APOIAR, Mário Gaspar referiu: “(…)… a verdade é que a doença existe. Assim como a guerra… Pena é que se tente escondê-la, como por ação de uma borracha de apaga lápis, dos nossos filhos, já que nós, ex-combatentes, não tivemos a coragem de a narrar. Os Compêndios ou Manuais Escolares, que traziam duas a três linhas sobre a Guerra Colonial portuguesa, essas linhas foram vítimas do lápis azul da censura”. Uma professora do Ensino Secundário afirmou: “sou filha de um ex-combatente e, quando estudante, o professor de História não quis dar o capítulo que na altura existia sobre a Guerra colonial, dizendo que esse mesmo capítulo era para rasgar, e que era uma página negra da nossa História”.
A História da Guerra Colonial tem de ser contada”.”
Mário Vitorino Gaspar
Como ciência e arte humana de matar em escala, a guerra contém de tudo - até crimes.
Em 1964/65, o Comando-chefe (gen.A. Schulz) lançou-nos como tropa de intervenção pelo norte, centro e sul da Guiné, em missões de emboscadas, batidas e "cerco, assalto, busca e destruição" às tabancas onde as populações já estariam para o PAIGC como a água para o peixe. E era o medo que nos impelia a metralhar instintivamente tudo o que bulisse, folha, bicho ou gente. E assim fomos colhendo algumas eliminações, mais de populares que do In, que não serão a mesma coisa que execuções premeditadas, aqui invocadas como sumárias - crimes abomináveis.
Fomos lançados na guerra da Guiné não como criminosos, mas como soldados. Os combates foram recorrentes, durante toda a nossa comissão e foi o seu contexto que nos formou a consciência e a ética de realizar as missões subordinados ao seu primado.
Aconteceram episódios de execução, de prisioneiros sob custódia, em pequeníssima escala, não pelo código de guerra das nossas FA, mas pela multiplicidade das idiossincrasias dos seus membros. Fiz público o conhecimento dum caso e da sua generalizada reprovação.
Se Amílcar Cabral mandasse entregar à tropa os seus correlegionários que condenou à morte, no I Congresso de Cassacá, em Fevereiro de 1964, por crimes de delito comum, eles teriam escapado à execução dessa pena, porque seriam tratados não como cidadãos bissau-guineenses, mas como cidadãos portugueses. Sob a bandeira de Portugal, a Guiné funcionava como Estado; o Estado que aquele líder acabava de criar nesse congresso não passaria da ficção.
A partir da execução por enforcamento do famigerado Vegueiro, no século XIX, jamais haverá em Portugal julgamentos ou condenações à morte.
Amílcar Cabral coexistiu em Bissau e Fá com o governador e com a PIDE e os fundadores do MLG, provocadores do "massacre" do Pidjiquiti e do terrorismo em Susana e Varela e os principais quadros do PAIGCV que a PIDE prendeu, com a ajuda do Exército, foram sujeitos a julgamento judicial, uns absolvidos e outros condenados a prisão, que cumpriram em Bissau ou no Tarrafal.
Esses acontecimentos serão coevos ao "massacre de Jolmete".
Manuel Luís Lomba
Caros amigos ex-Combatentes,
Acho que assistimos a um debate importante e muito interessante sob todos os pontos de vista que, de certo modo, confirma uma das forcas do pensamento europeu e occidental, que he a forca da contradicao.
Gostei do comentario de Manuel Carvalho, tao directo e profundo que faz recordar os classicos da filosofia grega.
Prestei especial atencao ao texto do amigo Manuel l. Lomba que resume a situacao e acaba com o vazio das duvidas que podiam existir.
Facto relevante e uma possivel pista a explorer sobre o episodio da emboscada em Jolmete pode estar relacionado com o MLG que tinha um contencioso, no meio de grandes
rivalidades, com o PAI de Amilcar Cabral (ver o livro de Juliao Soares). Assim, os homens da tal emboscada podiam pertencer a um outro movimento que nao o PAIGC. Eh uma mera hipotese que podera explicar o desconhecimento ou o silencio por parte do PAIGC sobre este tragico acontecimento.
Eu acredito na versao do A. Medina que, a meu ver, nao tem nenhum interesse em denegrir a imagem de Portugal e das forcas armadas que o proprio serviu na juventude.
Precisamos he reflectir, sem tabus, sobre as causas que poderiam ter levado a tais excessos. Nao he segredo nenhum se se disser que a colonizacao sempre se fez com base na utilizacao da repressao, logo da violencia, a mesma que serviu de pretexto, aos nacionalistas, para a Guerra de "libertacao" que acabou por nos prender nas malhas da tirania que hoje conhecemos.
Com um abraco amigo,
Cherno Balde
Na questão nº5.Há 3% de camaradas nossos que dizem terem assistido a FUZILAMENTOS. Ora quanto a mim quem assiste também participa, quanto mais não seja como observador seja ele por "imposição" ou "voluntária".
Então como é ? Só o Medina é que "diz que lhe disseram " ?.
não esquecer que no texto dele até narra como foi armadilhada a vala onde foram enterrados os " FUZILADOS". Anda por aí muito comentário...mas continuo na mesma. Certezas??? Nem as do Medina...
Henrique Cerqueira
Em relação ao meu comentário anterior.
Talvez os 3% de "ASSISTENTES A FUZILAMENTOS" nos possam clarificar um pouco mais este assunto.
Henrique Cerqueira
A propósito do comentário do camarada Cerqueira e para que não haja equívocos sou contra tabus e a favor do debate dos assuntos e de falarmos dos nossos erros se também falamos dos do PAIGC, mas nunca da denúncia dos nossos camaradas.
Agora percebo melhor alguns comentários como o do camarada Torcato.
Um abraço para todos
Manuel Carvalho
A guerra é bestialidade..horror...repugnância.
Mata-se para não morrer
Não há bons..somos todos maus.
Quanto ao tema de execuções sumárias..julgo que se alguém as fez..não as vai contar..pelo menos em público
Quanto ao ouvir dizer..vale o que vale..isto é..nada.
Imaginem a seguinte situação...
Um dia houve vários mortos e feridos devido ao rebentamento de uma mina anti-carro,quando a viatura, onde seguiam esses militares, a accionou.
A picada onde foi colocada a mina situava-se junto de uma povoação e como tal deduziu-se que quem a tinha colocado seria algum elemento da população.
Montou-se uma emboscada nesse sitio e não é que ao raiar de aurora verificam que uma mulher se dirige para um lugar próximo do rebentamento da 1.ª mina transportando uma criança às costas e um volume na cabeça.
Começa a escavar e nisto um soldado mais impaciente salta para a picada e dá-lhe ordem de parar.
A mulher assustada começa a correr..o soldado dispara..matando a mulher e a criança.
VÁ LÁ.. JULGUEM ESTE SOLDADO.
Nota..não é ficção..foi mesmo real.
C.Martins
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