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Vídeos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.
1. Estava na hora do almoço quando ao fim de uma manhã soalheirenta, ouvi, lá fora, um som que me era familiar, o som caraterístico e inconfundível de um helicóptero... Saío logo de casa, a correr, levando a máquina fotográfica, e vou ao nosso miradouro da quinta, contíguo à casa, para ver o que se passava...
A noroeste, a escassos dois quilómetros de Candoz, em linha reta, havia um incêncio nos "montes", em pleno coração do território da nossa freguesia, para os lados da ermida de Nossa Senhora do Socorro. É o primeiro incêndio, felizmente, que sinalizo este ano por estas bandas... (Noutros anos já tenho aqui filmado os impressionantes Kamov em ação).
Um heli dirigia-se ao Rio Douro, que fica a escassos cinco quilómetreos em linha reta, para se abastecer de água... Foi e veio três vezes. Daqui vejo uma parte da albufeira, síta em Porto Antigo,,, Estou a 250/300 metros do nivel do mar,,, e rodeado de floresta.
Desta vez, o incêndio foi rapidamenmte extinto. Mas o raio do som do heli ficou a mexer comigo até agora... Velhas recordações da Guiné, dos anos de 1969/71... Daí ter feito, "a quente", este poste... que vai sair com data de amanhã, porque não sei se no sábado terei Net,,,
2. O heli era uma "máquina de terror" para os homens que combatíamos na Guiné, sobretudo o helicanhão (ou "lobo mau", na gíria da malta da FAP). Para nós, estava associado a cobertura aérea das NT, helioperações (com os páras), mortos e feridos, evacuações Y (ipsilon) ou, na melhor das hipóteses, uma visita de um "cão grande"... Ainda hoje, para mim, o som do heli é como o tinonim do ambulância do 112: ambos pressagiam desgraça... emboira eu saiba que o heli hoje têm múltiplas aplicações civis (desde
passear turistas a transportar executivios) e militares (para além da guerra)...
Falando agora de "cães grandes" (que eram os nossos "executivos", sem ofensa para ninguém)...Em boa verdade, quem andava de heli, no meu tempo, quem se podia dar o luxo de andar de heli (e fazia gala disso) era o gen Spínola, governador-geral e comandante-chefe...
O heli era tembém o terror dos comandantes de batalhão... O seu custo era de 12 contos por hora (lia-se nos relatórios)... Doze contos (hoje 60 euros...) era "manga de patacão": dava para comprar cerca de 250 garrafas de uísque novo... ou para ir ao restaurante cerca de 500 vezes... ou para ir ao Pilão ou ao Bataclã todas semanas durante uma comissão... (LG)
Um heli dirigia-se ao Rio Douro, que fica a escassos cinco quilómetreos em linha reta, para se abastecer de água... Foi e veio três vezes. Daqui vejo uma parte da albufeira, síta em Porto Antigo,,, Estou a 250/300 metros do nivel do mar,,, e rodeado de floresta.
Desta vez, o incêndio foi rapidamenmte extinto. Mas o raio do som do heli ficou a mexer comigo até agora... Velhas recordações da Guiné, dos anos de 1969/71... Daí ter feito, "a quente", este poste... que vai sair com data de amanhã, porque não sei se no sábado terei Net,,,
2. O heli era uma "máquina de terror" para os homens que combatíamos na Guiné, sobretudo o helicanhão (ou "lobo mau", na gíria da malta da FAP). Para nós, estava associado a cobertura aérea das NT, helioperações (com os páras), mortos e feridos, evacuações Y (ipsilon) ou, na melhor das hipóteses, uma visita de um "cão grande"... Ainda hoje, para mim, o som do heli é como o tinonim do ambulância do 112: ambos pressagiam desgraça... emboira eu saiba que o heli hoje têm múltiplas aplicações civis (desde
passear turistas a transportar executivios) e militares (para além da guerra)...
Falando agora de "cães grandes" (que eram os nossos "executivos", sem ofensa para ninguém)...Em boa verdade, quem andava de heli, no meu tempo, quem se podia dar o luxo de andar de heli (e fazia gala disso) era o gen Spínola, governador-geral e comandante-chefe...
O heli era tembém o terror dos comandantes de batalhão... O seu custo era de 12 contos por hora (lia-se nos relatórios)... Doze contos (hoje 60 euros...) era "manga de patacão": dava para comprar cerca de 250 garrafas de uísque novo... ou para ir ao restaurante cerca de 500 vezes... ou para ir ao Pilão ou ao Bataclã todas semanas durante uma comissão... (LG)
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Nota do editor:
Último poste da série > 26 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13535: Blogoterapia (260): A minha toca (Ernesto Duarte, ex-Fur Mil da CCAÇ 1421)
8 comentários:
Caro Luis
Estive por mero acaso no Marco na passada semana, julgo que estarias tu ainda pela Lourinhã, agora estamos trocados tu lá e eu pelo Cadaval, mas um dia destes (repetirtivamente) o acaso há-de juntar-nos, num abraço.
Quanto a este som, igual a transumancia, "ontem" um Alouette sobre o Geba em Babadinca ou Bissau, hoje um Bell (julgo) no Douro em Candoz, a destacar a acção humanitária que este som(que sempre me faz olhar para cima, nesses tempos o meu lugar habitual)e o aparelho emissor sempre representam independentemente dos "fogos" que o solicitem.
Abração companheiro e continuação de bom descanso
Jorge Narciso
Só uma pequena, mas importante correcção: Bambadinca
Pelo ar lento que aquece
Um Pássaro de ferro e aço,
Leva um morto que apodrece
Na boca mais um Abraço.
......Do Poema "O Helicóptero " aí já publicado.
Abraço.
J.Cabral
Aqui belo o belo poema do Jorge Cabral:
O HELICÓPTERO
Pelo ar lento que aquece
Um pássaro de ferro e aço
Leva o morto que apodrece
Na boca mais um abraço
A gente fica a pensar
Mas mais um morto que interessa
Já vêm mais pelo mar
Vêm muitos e depressa
A gente pensa
Mas fica com o dedo no gatilho
Na garganta um nó que pica
Na preta o ventre com o filho.
Jorge Cabral – Missirá, Guiné – 1970
In Jornal “Apoiar”. 23 (Jan/Mar 2002)
Vd. poste publicado na I Série do nosso blogue:
17 Dezembro 2005
Guiné 63/74 - CCCLXXXII: Vocês não tenham medo, não fujam, sou o Cabral (Fá, 1969/71)
http://blogueforanada.blogspot.pt/2005/12/guin-6374-ccclxxxii-vocs-no-tenham.html
Jorge, recordo agora o que escrevi a teu respeito,em 17/12/2005:
(...) 1. Através do Humberto Reis, reencontrei o Jorge Cabral que é do nosso tempo de Guiné. Falei com ele pelo telefone, soube do crescente interesse com que ele tem acompanhado o desenvolvimento da nossa tertúlia e lido as nossas estórias...
O Jorge era, para mim, o mais paisano dos militares que eu conheci na Guiné: alferes miliciano, foi o comandante do Pel Caç Nat 63, afecto ao Sector L1 (Bambadinca) da Zona Leste, tendo estado em Fá Mandinga e em Missirá (1969/71).
Em Fá não se limitava a ser um heterodoxo representante do exército colonial, actor e crítico ao mesmo tempo. Era também homem grande, pai, patrão, chefe de tabanca, conselheiro, amigo do PAIGC, poeta, antropólogo, feiticeiro, cherno, médico, sexólogo, advogado e não sei que mais. Um verdadeiro Lawrence da Guiné.
Alguns dos seus amigos e companheiros de Bambadinca (aonde ele ia com frequência matar a sede) chegaram a recear que ele ficasse completamente cafrealizado!...
Até ao dia em que chegou o circo dos Comandos Africanos: montaram tenda em Fá Mandinga e daí só zarparam para a misteriosa Op Mar Verde ... Vendo o caso mal parado, e não querendo correr o risco de ser enforcado num candeeiro público em Conacri, o Jorge lá conseguiu mexer os seus pauzinhos e ser destacado para a Missirá, mais a norte, embora se tratasse de um destacamento mais exposto às morteiradas e roquetadas dos camaradas do PAIGC... O que para o Jorge não era problema, já que era o único de todos nós a quem o PAIGG tinha respeito. Desde o famoso dia em que foi atrás deles, na bolanha, a apaziguá-los e a tranquilizá-los:
- Vocês não tenham medo, não fujam, sou o Cabral!
Ele um dia há-de contar essa estória para gáudio (e cultura militar) da nossa tertúlia... O convite está feito e ele irá aparecer por aqui, um belo dia destes... Mais: irá explicar-nos como é que foi parar, já em finais de comissão, em 1971, a Madina/Belel, sem ter sido convidado... Julgo que lá foi beber uns copos com os camaradas do PAIGC, aproveitando uma boleia dos paraquedistas!...
(...)
Jorge, os "piras" ainda vão pensar que eras um "agente duplo"... Desconmfia dos amigos que só sabem cantar loas...
Um abaraço, daqui da Tabanca de Candoz, em fim de férias.. Luís
... Bom, desculpa essa do (a)baraço... Gralhas malditas...
~
LG
É evidente que é Bambadinca... O Jorge Narciso aprendeu a geografia da Guiné, a ferro e fogo...
Em fim de férias nortenhas (uma semna e pouco), envio para o Jorge uma grande abraço camarigo. Luis
Eu e seguramente outros Jorges te saudamos.
Este poema, que não conhecia, do meu homonimo Cabral, é para mim uma referencia simplesmente sublime.
Abração e bom regresso
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