Lourinhã, Praia de Vale de Frades, com o forte de Paimogo (séc- XVII) à vista > 20 de agosto de 2014.
Fotos: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG)
por Luís Graça
Sou objeto de desejo,
Logo corpo de delito,
Ou tão só mero ensejo
Para cadáver ex-quesito.
Quesito nº 1 do corpo
É manter-se bem temperado,
Sem a palidez do morto,
Nem na morgue congelado.
A pátria me requisita
O corpo onde eu habito,
Corpo morto não levita,
Nem eu, soldado, já grito.
Há o corpo de doutrina
E o corpo do relatório,
O libelo acusatório
E os detalhes da chacina.
Execução sumária ?
Conto apenas um morto,
Vítima de qualquer malária,
Entre a praia e o horto.
Há o corpo mal dormente
E a figura de corpo presente,
Que ninguém fique para semente,
Ordena o nosso tenente.
Onde acaba o raio do louco
E começa o tal demente ?
Se queres conhecer o teu corpo,
Mata e abre o teu porco.
Se és do corpo de polícia,
Não tens malícia no corpo.
Quem já nasce feio e torto,
Vai engrossar a milícia.
Há o corpo proativo
E o corpo amnésico,
Mais vale ser protésico
Do que triste radioativo.
Há a elite do corpo médico
Bem como o milagre ortopédico,
Há os crentes e os ateus
E ainda o corpo de deus.
A guerra é um circo trágico
Onde há o palhaço faz-tudo,
O herói é o mágico
E o homem-bala um sortudo.
Sangue, suor e lágrimas,
Lágrimas, suor e sangue,
Diz o braço tatuado
No corpo do zé soldado.
Pobre do corpo encapuçado,
Logo vai ser decapitado,
Ou então enforcado
Ou se calhar fuzilado.
Também há o corpo adhoc,
De peito feito às balas,
Contra a tropa de choque
Erguem-se os mortos das valas.
Mal de ti que foste á guerra
Sem voltar à tua terra,
Teu corpo, morto, não grita,
E, se não grita, não levita.
Nem eu, soldado, já grito.
Há o corpo de doutrina
E o corpo do relatório,
O libelo acusatório
E os detalhes da chacina.
Execução sumária ?
Conto apenas um morto,
Vítima de qualquer malária,
Entre a praia e o horto.
Há o corpo mal dormente
E a figura de corpo presente,
Que ninguém fique para semente,
Ordena o nosso tenente.
Onde acaba o raio do louco
E começa o tal demente ?
Se queres conhecer o teu corpo,
Mata e abre o teu porco.
Se és do corpo de polícia,
Não tens malícia no corpo.
Quem já nasce feio e torto,
Vai engrossar a milícia.
Há o corpo proativo
E o corpo amnésico,
Mais vale ser protésico
Do que triste radioativo.
Há a elite do corpo médico
Bem como o milagre ortopédico,
Há os crentes e os ateus
E ainda o corpo de deus.
A guerra é um circo trágico
Onde há o palhaço faz-tudo,
O herói é o mágico
E o homem-bala um sortudo.
Sangue, suor e lágrimas,
Lágrimas, suor e sangue,
Diz o braço tatuado
No corpo do zé soldado.
Pobre do corpo encapuçado,
Logo vai ser decapitado,
Ou então enforcado
Ou se calhar fuzilado.
Também há o corpo adhoc,
De peito feito às balas,
Contra a tropa de choque
Erguem-se os mortos das valas.
Mal de ti que foste á guerra
Sem voltar à tua terra,
Teu corpo, morto, não grita,
E, se não grita, não levita.
Lourinhã, 19/8/2014
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Nota do editor:
Último poste da série > 8 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13475: Manuscrito(s) (Luís Graça) (39): A felicidade ? É onde nós a pomos e onde nós estamos...
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Nota do editor:
Último poste da série > 8 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13475: Manuscrito(s) (Luís Graça) (39): A felicidade ? É onde nós a pomos e onde nós estamos...
11 comentários:
Salvé Luis,
Cordiais saudações.
Seja benvindo.
Belas fotos!!!
Olha o que o mar fez com essas pedras, e connosco, após mais de seis séculos ao mar?
Pois é, nós fomos à guerra e voltamos...
Incompreendidos?
Injustiçados?
Inocentes úteis?
Será que isso importa "nesta altura do campeonato"?
Aqui estamos, mais de quarenta anos passados, tentando dar a nossa versão dos factos.
Será que alguém nos lê?
Quem sabe, bem mais tarde, algum antropólogo curioso, sem o ranço ideológico ainda vigente, vai nos citar nalgum daqueles "calhamaços" imensos que só eles leem.
forte abraço
VP
Salvé Luis,
Cordiais saudações.
Seja benvindo.
Belas fotos!!!
Olha o que o mar fez com essas pedras, e connosco, após mais de seis séculos ao mar?
Pois é, nós fomos à guerra e voltamos...
Incompreendidos?
Injustiçados?
Inocentes úteis?
Será que isso importa "nesta altura do campeonato"?
Aqui estamos, mais de quarenta anos passados, tentando dar a nossa versão dos factos.
Será que alguém nos lê?
Quem sabe, bem mais tarde, algum antropólogo curioso, sem o ranço ideológico ainda vigente, vai nos citar nalgum daqueles "calhamaços" imensos que só eles leem.
forte abraço
VP
Luís
Gosto das tuas quadras, são uma realidade passada por quase todos nós e para alguns nada.
As fotos dos teus dinossauros são belas como só na tua terra é possível.
Há dias passei pela Lourinhã a correr como têm sido sempre a minha vida.
As cicatrizes internas já sararam?
Um alfa bravo para ti Lima Golfe.
ASantos
SPM 2558
Belas fotos, belo poema! Duas facetas artisticas que combinas bem.
Pelo poema perpassa a memória de outros tempos e outras impressões de agressões barbaras que no dia a dia nos entram em casa através dos media.
A poesia é uma arte louca, irracional,concisa,sintetica,nobre, esclarecida, essencial que só algumas pessoas eleitas conseguem exprimir. Essas pessoas são as que conseguem navegar por todas as regiões da mente sem ficarem loucas nem estupidamente racionais. Quando se consegue navegar dessa forma atingem-se picos de grande beleza e de grande desolação também. O momento poetico é esse equilibrio dificil entre a razão e a loucura.
Eu imagino, mas tu Luís que és poeta e por vezes atinges grandes alturas, é que me poderás explicar melhor.
Um grande abraço
Francisco Baptista
Que beleza não sei de qual gostei mais se da poema do Luís, se da prosa do comentário do Francisco Baptista.
Cada um no seu contexto acho que merecem nota máxima.
Um abraço
Colaço.
Õbrugado, amigos, pelos vossos comentários... È sempre importante para os poetas o "feedback" do leitor... Convenhamos que a poesia, neste país de poetas, não é matéria "fácil"... Precisamos de mais "literacia" em poesia... Acho que se publica mais do que se lê...
Sobre o título deste poema, irónico... "Habeas corpus", etimologicamente falando, significa, em latinório, "que tenhas o teu corpo"...
Obrugado também pela vosso apreço pelas minhas fotos...
Com um abraço, aqui de Candoz. LG
Habeas Corpus era a pergunta dirigida aos carcereiros,para saber se havia alguém preso, a aguardar
a execução.Hoje é uma providência contra qualquer prisão ilegal.
Abraço
J.Cabral
Olá Camarada
Assim, já gosto mais.´
Tás a melhorar!
Agora é não desistir...
Um Ab
António Costa
Tó Zé [António J. Pereira da Costa): nãop sei se, no teu elogio, te queres referir à forma ou ao conteúdo...
Já há largos que faço quadras populares (de sete sílabas métriocas. com rima, tudo dentro dos cânones)... Devo ter para aí umas mil quadras... Faço quadras por encomenda: janeiras, casamentos, batisados, óbitos, aniversários, jubilações, efemérides...
Mas onde me sinto mais livre é na chamada poesia livre... De qualquer modo, ainda eu dia hei.de escrever um soneto ao poilão da Tabanca Grande...
De Candoz, com um alfabravo, Luís
Obrighado, Jorge, pelo teu esclarecimento sobre essa fiugura jurídica que é o "habeas corpus"...
Francisco, o teu comentário podia ou pode ser o início (brilhante) de um ensaio sobre a poesia e a arte poética...
Aqui inventámos um termo que é a blogpoesia (mas tmabém blogoterapia)... Eu procuro fazer um pouco das duas coisas... E às vezes não sei onde começa e acaba uma e outra... Mas tudo isto é muito trabalhado, não é carregar num botão... Tenho poemas que já vão na versão 10, 20., 30... por este andar, nunjca mais tenho pronta a úiltioma (e definita) versão do livro "Amor(es), guerra(s), lugar(es)" que me propus publicar... este ano, por ocasião dos 30 anos do meu filho (que já lá vão)..
Um xicoração, aqui da fronteira do Douro Litoral com Trás-os-Montes... Aqui, de Camdoz, com as serras do Marão, Aboboreira e Montemuro à volta...e a linha do Douro e o Rio Douro ao fundo...
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