Aos 43 segundos vê-se uma andorinha entrar no ninho levando insetos para alimentar as crias, e 10 segundos depois a sair para mais uma "caçada" na (e ao redor da) Quinta de Candoz, que é rica em insectos... O ninho tinha sido recentemente reconstruído. As andorinhas caçam em círculo, num raio de 500 metros do ninho.
Vídeo (1' 07''): © Luís Graça (2012). Alojado em Luís Graça : You Tube
2. Em Candoz temos andorinhas. Todos os anos nidificam lá. Em vinte e tal, talvez até trinta anos, já devem ter nascido muitas. Morrido algumas.Emigrado todas. Quantas, ao fim destes todos ? Não sei. Só conheço um ninho.
As andorinhas funcionam como nós, se acordo com aos ciclos da natureza. No nosso caso, podemos dividir o no em dois solstícios, o do inverno e o do veráo. Afetam a maneira como vestimos, nois alimentamos, trabalhamos, vivemos, passeamos, etc. As andorinhas são, como toda a gente sabe, um dos sinais mais alegres, para nós seres humanos, da chegada da primavera e do outono (neste caso, um sinal de tristeza, com a sua partida para outras paragens, o longínquo Sul, a África subsariana).
As andorinhas começam a chegar a Portugal em fevereiro e março. Nascidas as crias, partem durante o mês de setembro (na sua grande maioria), Daí a expressáo popular: “És como a andorinha: vens e vais com as estações.”
Em Portugal nidificam em Portugal, incluindo no Norte, na Quinta de Candoz. Migram depois viajam para África subsariana onde passam o inverno.
Claro que não chegtam de uma só vez, em bando. A sua chegada prolonga.se por várias semanas."Uma andorinha não faz a primavera", diz o provérbio. "Nem por morrer uma andorinha se acaba a primavera".
As primeiras a chegar podem ser logo observadas no sul do país, no Algarve, por finais de janeiro e ao longo do o mês de fevereiro. Como diz o ditado, : "Pelo São Brás (3 de fevereiro), a andorinha verás".
À medida que o tempo aquece e a disponibilidade de insetos (que são o seu alimento) aumenta, elas progridem para Norte. Na nossa Quinta de Candoz, é vè-las, a começar a andar à volta do ninho partir de março/abril. Quase todos os anos, há trabalhos de manutenão/reconstrução. Que podem levar mais de uma semana,,,
Elas vêm até nós para nidificar. O clima ameno da primavera e do verão no suld a Europa oferece as condições ideais: abundância de insetos, dias mais compridos para alimentar as suas crias, etc.
As aves insetívoras, especialmente as que têm um voo tão ativo e acrobático como as andorinhas, possuem um metabolismo muito elevado e precisam de consumir uma grande quantidade de alimento para obter energia. A regra geral para muitas aves pequenas e ativas é que consomem uma quantidade de alimento próxima do seu próprio peso corporal por dia.
Com base em estudos de ornitologia e no metabolismo destas aves, um valor razoável para o consumo diário de uma única andorinha adulta é: entre 10 a 22 gramas de insetos por dia.
Este valor corresponde, aproximadamente, a 70-100% do seu peso corporal, o que é um feito energético extraordinário, mas biologicamente plausível.
confrontámos a nossa assistente de IA com este "dislate" ou "disparate"... A resposta, diplomática, veio logo a a sguir: "Onde a confusão pode ter surgido é ao considerar não o consumo individual, mas o esforço de caça de um casal para alimentar as suas crias"...
É aqui que os números disparam:
(i) um casal: duas andorinhas adultas já consomem, juntas, entre 20 a 40 gramas de insetos por dia só para si;
(ii) as crias: uma ninhada típica tem entre 4 a 6 crias; nos primeiros dias de vida, as crias crescem a um ritmo alucinante e precisam de ser alimentadas constantemente; cada cria, essa sim, pode consumir uma quantidade de insetos equivalente ao seu próprio peso em desenvolvimento;
(iii) o esforço total: um casal de andorinhas tem de caçar o suficiente para se alimentar a si próprio de para alimentar as 4-6 crias famintas no ninho; o esforço de caça do casal pode resultar na captura de uma massa total de insetos que pode facilmente ultrapassar as 80 ou 100 gramas por dia.
Este esforço de caça traduz-se em centenas, ou mesmo milhares, de insetos (mosquitos, moscas, afídeos, etc.) capturados diariamente, o que faz das andorinhas um elemento fundamental e gratuito no controlo de populações de insetos e de eventuais pragas para o agricultor.
Este comportamento gregário é uma estratégia de sobrevivência. Voar em grandes grupos oferece também proteção contra predadores e facilita a localização de áreas com maior concentração de alimento. Durante a própria migração, estes bandos fazem paragens estratégicas para descansar e reabastecer as suas reservas energéticas, continuando a sua jornada em busca de climas mais quentes e de alimento abundante.
A maioria destes bandos inicia a sua longa viagem para Sul durante o mês de setembro. Algumas aves podem partir um pouco mais tarde, mas em outubro já não vemos andorinhas em Candoz.É uma autêntica odisseia. É uma viagem duríssima e cheias de riscos. de milhares de quilómetros. É feita duas vezes por ano!...São guiadas pelo campo magnético da Terra, pela posição do sol e por outros instintos que a ciência ainda tenta compreender por completo.
Quanto à sua alimentação....Claro, são insetos. E quanto comem em média ? Não há estudos concludentes sobre a quantidade média de gramas de insetos que uma andorinha come por dia em Portugal. No entanto, estudos gerais indicam que andorinhas, sendo aves insetívoras, consomem diariamente uma quantidade significativa de insetos para suprir suas necessidades energéticas, o que normalmente pode variar entre alguns gramas até cerca de 10 a 20 gramas de insetos por dia, dependendo do tamanho da ave, espécie e disponibilidade de alimento.
Para uma andorinha típica (que pesa entre 16 a 20 gramas), o consumo diário de insetos geralmente representa uma alta proporção do seu peso corporal, aproximadamente entre 10% a 20% do seu peso corporal diário, o que poderia equivaler, grosso modo, a cerca de 2 a 4 gramas de insetos por dia, em média.
Este valor é uma estimativa baseada em dados gerais de consumo alimentar de aves insetívoras de tamanho semelhante
(...) "Originalmente, a andorinha-dos-beirais [ 'Delichon urbicum'] construía os seus ninhos em falésias e cavernas. Ainda são encontradas algumas colónias em falésias, com o ninho construído sob uma rocha saliente, mas atualmente esta espécie usa sobretudo estruturas feitas pelo homem, como edifícios e pontes, de preferência junto à água.
"Regressa à Europa para nidificar entre abril e maio, e a construção dos ninhos ocorre entre o fim de março (no norte de África) e o meio de junho (na Lapónia). O ninho tem a forma de uma taça fechada com uma abertura estreita no topo e é feito com pedaços de lama colados com saliva, e forrado com palha, ervas, penas ou outros materiais macios. A sua construção demora até 10 dias e é levada a cabo tanto pelo pela fêmeacomo pelo macho.
"A andorinha-dos-beirais é mais gregária do que a andorinha-das-chaminés ['Hirundo rustica'] estando habituada a viver e a migrar em bando, e tende a nidificar em colónias numerosas. Os ninhos podem inclusive ser construídos em contacto uns com os outros. Tipicamente, estas colónias têm menos de dez ninhos, mas há registos de colónias com milhares de ninhos. Cada postura possui habitualmente quatro ou cinco ovos brancos, com um tamanho médio de 1,9 x 1,33 cm e um peso médio de 1,7 g. A incubação dura geralmente de 14 a 16 dias, e é feita essencialmente pela fêmea. As crias recém-eclodidas são altriciais e necessitam de 22 a 32 dias, dependendo das condições atmosféricas, para abandonar o ninho" (...) (Fonte: Wikipédia)
4. Nenhuma assistente de IA (ChatGPT, Perplexity, Gemini...) conseguiu dizer-me com segurança de que espécie era o ninho mostrado nas imagens e descrito na perguntei que lhes submeti.
- Andorinha-das-chaminés (Hirundo rustica): costuma nidificar em locais abrigados como estábulos, garagens ou beirais, construindo ninhos de barro semicirculares abertos, normalmente apoiados numa saliência.
- Andorinha-dáurica (Cecropis daurica): nidifica frequentemente em estruturas humanas, como alpendres, mas o seu ninho tem forma de cabaça ou garrafa, com um longo túnel de entrada, como se observa nas imagens acima; utiliza barro misturado com saliva e prefere locais protegidos, frequentemente em habitações rurais pouco usadas (como é o caso do alpendre, na Quinat de Candoz).
Reconstrução anual
Ambas as espécies costumam reconstruir e reutilizar os ninhos de barro todos os anos, especialmente se estes se mantêm estruturais e protegidos das intempéries e predadores. Mais recentemente verifiquei que o ninho de Quinta de Candoz tinha sido "vandalizado" por um "ocupa", mais provavelmente uma "boeira" ou ""lavandisca".
Com base na estrutura do ninho nas imagens, na localização (alpendre de casa não habitada) e no facto de ser reconstruído anualmente há quase 30 anos, trata-se muito provavelmente de um ninho de andorinha-dáurica (Cecropis daurica), espécie que tem vindo a expandir-se em Portugal nas últimas décadas, diferenciando-se da andorinha-das-chaminés pelo formato distintivo do ninho com túnel de entrada.
Pesquisa: LG + assistente de IA / ChatGPT, Perplexity, Gemini
Condensação, revisão / fixação de texto, negritos: LG
há mais de uma década,
parecem ser felizes.
São inteligentes, as andorinhas,
e fazem análises de custo-benefício,
como qualquer economista.
Passam todo o santo dia a caçar insetos
num raio de 500 metros à volta do ninho
que fizeram no alpendre de uma das casas
em redor do fio da lâmpada exterior.
É uma insólita construção,
herdada de geração em geração
e todos os anos retocada ou reconstruída.
Eu acho que já não voltam para o norte de África,
ficam por cá,
as andorinhas de Candoz.
Se calhar fogem de Alá,
do alvoroço do povo
e dos tiros das Kalash.
Afinal, a felicidade está onde nós a pomos,
mas nós nunca a pomos onde nós estamos.
(...) Circadiana, a vida!...
E, se Deus quiser, a primavera há de chegar,
e com ela as cerejeiras em flor,
e os melros que vão pôr os seus ovos
nos arbustos de alecrim no caminho para a leira cimeira,
e as andorinhas que irão reconstruir o seu ninho
na varanda da casa de cima.
E trazem histórias de coragem,
as tuas andorinhas de torna-viagem,
vêm do norte de África, quiçá da Guiné,
e não precisam de passaporte,
nem de GPS, nem de código postal, nem de carimbo das alfândegas.
São heroínas, sobreviveram a mais um ano,
fogem da guerra, e das alterações climáticas,
sem o aval nem a ajuda do alto comissário para os refugiados,
ou a benção dos imãs
e dos demais representantes de Deus na terra.(...)
Último poste da série > 31 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27367: Manuscrito(s) (Luís Graça) (276): "A Rua Suspensa dos Olhos", de Ábio de Lápara, pseudónimo literário de José António Bóia Paradela (1937-2023), ilhavense, urbanista, arquiteto e escritor - Parte I



5 comentários:
As lavandiscas!!!!!!!
Já há 70 anos ou mais, que não me lembrava desta espécie que pairava lá nos campos da nossa casa do Porto, de lavradores todos ricos, fica o Viaduto do Amial.
Em miudo, eu e o meu falecido irmão, à falta de melhor, Eramosa caçadores de fisga, e também caçávamos com uma engenhoca, com cola ou nem sei, mas apanhávamos a passarada. Idade inocente ou maldosa, passávamos algum tempo à caça dos passarinhos (não passarinhas) com as famosas fisgas feitas por mim, arco e flexa feitas por mim, com varetas velhas de guarda chuvas, e as famosas ratoeiras com visgo, espalhadas por aqueles campos lá para os lados da Arca d´Agua, onde o nosso querido camarada Helder Valério andou por lá nas Transmissões, no RE2. Hoje a Escola Pratica de Transmissões, fica no antigo RI6 da Senhora da Hora, local que quando recebi a medalha das campanhas, foi ali que se fez a cerimónia.
Lavandisca, este nome transportou-me 70 ou mais anos para trás a minha memória, acho que se não tivesse visto e lido o poste nunca mais me lembrava de tal nome.
As andorinhas apareciam e o nosso passatempo era quem encontrava os ninhos das ditas, e maldade de criança (que Deus nos perdoe) tirávamos do sitio e depois eram os Trunfos de uma guerra mais suja do que a nossa.
Mas, e agora vem a lembrança, parecido com as andorinhas havia as tais lavandiscas, lembro-me também do nome, mas não sei distinguir, nem sei se ainda andam por aí.
Por estranho que pareça, vivo num grande empreendimento com 200 habitações, não em torres mas com 4 pisos apenas, era o antigo estádio do Rio Ave Futebol Club, chamado na época de Estádio da Avenida.
Vivo num Bloco Central no 3º andar com o 4º por cima. São as chamadas Varandas do Ave, assim ao lado da minha varanda, cerca de 3 metros, no apartamento ao lado, num canto da varanda da Vizinha, está lá um ninho de andorinhas e vejo as aterragens delas para levar a comida aos filhotes, e já nada estranho.
Nunca fui ver o Ninho, apenas vejo um bocado, abrindo a janela e metendo a cabeça fora, nem fotos temos, acho que os moradores nunca ligaram àquilo pois nada afecta.
E assim todos os anos, como bm está escrito no Poste passa-se o mesmo aqui. Eu abro a janela do quarto, e vejo uma nesga.
Mas havia mais para comentar, mas tenho de ler o poste outra vez, mas antes tenho que publicar este, antes que se apague.
Virgilio Teixeira
Quando falei de andar à CAÇA, refiro me aquilo que chamamos de ir aos pardais, nome genérico à passarada de diversos tipos.
Não era para comer era um desporto bárbaro como hoje os amantes caça e pesca praticam.
Nunca persegui andorinhas, até pela velocidade que voam.
Vt
Camarada Virgílio Teixeira,
Aqui no Porto as pequenas lavandiscas são muito comuns, sobretudo as da espécie alvéola-branca: https://pt.wikipedia.org/wiki/Alv%C3%A9ola-branca
As lavandiscas ou alvéolas contam-se entre os pássaros mais comuns na cidade do Porto, a par dos pardais, dos melros e das andorinhas (que já se foram embora, para passarem o inverno em paragens mais quentes). É muito frequente vermos uma lavandisca num espaço ajardinado ou até no meio da rua, com o seu característico rabo de penas compridas "aos saltos", ritmicamente para cima e para baixo, para cima e para baixo, para cima e para baixo... Quando não fogem voando, fazem súbitas corridas, para se manterem afastadas de algum potencial perigo. Sobretudo no inverno, que é quando as praias estão desertas, é possível ver um numeroso grupo de lavandiscas pousadas no areal molhado, quando a maré está baixa, certamente para comerem os pequenos bicharocos escondidos na areia. Mas não se misturam com as gaivotas, que são muito maiores do que elas. Podem ver-se bandos de lavandiscas, por exemplo, na Praia dos Ingleses ou na do Homem do Leme. Se alguém se aproximar delas, fogem subitamente todas juntas, numa corrida sincronizada.
Na "nossa" zona (já vou a Candoz há 50 anos...), a alvéola ou lavandisca chamava-se/chama-se "boeira"...
Estamos no limite da Região de Entre Douro e Minho, com o rio Douro (barragem do Carrapatelo) ao fundo e as serras da Aboboreira e Montemuro ao fundo,e mais ao longe o Marão... As boeiras são assim chamadas por estarem aasociadas aos bois de trabalho... Quando se lavrava, com o arado puxado por uma junta de bois, a boeira aparecia imediatamente para apanhar, da terra revolvida, os insetos com que se alimenta... As boieiras tal como outras aves residem por aqui, fazem aqui os seus ninhos... Em qualquer buraco...Um ninho tosco. Acasalam no fim do inverno.
Não inclui a boeira numa poema que há tempos escrevi sobre as aves da Tabanca de Candoz... Não sou onitólogo, mas reparei há tempos nessa injustiça, o meu pecado de omissão...
Desaparecidas as juntas de bois, a boeira associa o trator ao seu alimento preferido: os insetos que vivem debaixo da terra... Basta revolver a terra e estrumá-la, para que a boieira venha logo tomar o seu lugar à mesa da mãe natureza...
15 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14261: Fotos à procura de... uma legenda (52): a boeira, de Candoz, também conhecida por alvéola ou lavandisca, noutros sítios (Luís Graça)
Cá está o poema em que omiti, por lapso, as "boeiras", em 2014... Escrevi agora na agenda: "Tenho que o rever, um dia, se ainda for a tempo... Que o tempo urge. Sinto que estou a envelhever desde que nasci (o que é biologicamente correto). E na Guiné perdi mais do que 22 meses...
Acabei de riscar o que escrevi na agenda. E decidi reescrever o poema. Enquanto é tempo. E houver andorinhas e boeiras na minha terra. Na nossa terra. Todos os anos migram, nos dois sentidos, Europa/ África, África / Europa, 20 a 40 milhões de andorinhas. Li e fixei este número na Net. Não cuidei de ver se as fontes são válidas e fiáveis. Mas, que importa ? !... Mais andorinha menos andorinha, diz a minha vizinha.
Não sei se as aves do paraíso são felizes…
por Luís Graça
Não sei se as aves do paraíso são felizes.
Mas em Candoz poderiam sê-lo.
Não há aves do paraíso em Candoz
porque Candoz fica no hemisfério norte,
longe dos trópicos e longe do paraíso
(se é que ele existe).
Dizem que as aves do paraíso
são as criaturas mais lindas do mundo.
Em Candoz, há outras aves, outros pássaros,
daqueles que rasgam os céus e nidificam na terra:
não há perdizes,
ou, se existem, são poucas e loucas;
mas há verdes pombos bravos dos pinhais
(aqui diz-se "montes"),
e rolas, de outras paragens,
alegres pintassilgos,
ruidosos pardais do telhado,
andorinhas, no vaivem das suas viagens,
mas também toutinegras, popas, verdilhões.
Há coros de rouxinóis,
outras aves canoras e canastrões,
e passarões (sempre os houve, os passarões),
melros de bico amarelo
que fazem seus ninhos nas ramagens
das videiras do vinho verde.
E boeiras, que andam tristes,
porque já não têm as juntas de bois a lavrar a terra com o arado de ferro.
Não há guarda-rios, de azuis e rubras plumagens,
à cota trezentos, com o rio Douro ao fundo do vale,
a serra de Montemuro em frente.
Eça de Queiroz, e o príncipe Jacinto, meu vizinhos, da Quinta de Tormes,
deveriam ter gostado de conhecer a Quinta de Candoz
onde os pássaros são mais livres do que em Paris,
e, se são mais livres, logo serão mais felizes.
Pelo menos têm grandes espaços para voar,
os pássaros de Candoz.
Claro que há os predadores,
o gaio, o corvo, o búteo, o mocho, o milhafre…
A liberdade é a primeira condição da felicidade.
Triste é o melro na gaiola,
mesmo que esta seja forrada a ouro.
A outra condição é a equidade
(ou era, que o conceito foi metido na gaveta).
E tu aqui presumias
que houvesse igualdade de oportunidades
na busca de alimentos,
de sítios para nidificar
e de parceiros para acasalar.
Uma treta, até a natureza agora é madrasta,
As andorinhas, pensavas tu, há uns largos atrás,
por cá ficavam cada vez mais tempo,
parecendo até ser livres e felizes.
Dizias que elas eram inteligentes, as andorinhas,
e faziam análises de custo-benefício,
como qualquer economista.
Passavam todo o santo dia a caçar insetos
num raio de 500 metros à volta do ninho
que fizeram no alpendre de uma das casas abandonadas da quinta,
em redor do fio da lâmpada exterior.
Era insólita construção, o ninho,
herdada de geração em geração
e todos os anos retocada ou reconstruída.
Tu até achavas que elas já não voltavam para a África subsariana,
que ficavam por cá,
as andorinhas de Candoz.
Por causa das alterações climáticas.
E, se calhar. também para fugirem de Alá,
do alvoroço do povo
e dos tiros das Kalash.
Mas, não, este país qualquer dia já não é para as andorinhas,
que são migrantes.
Há passarões com voz grossa
que as mandam para a sua terra.
E elas ficam confusas,
com o GPS avariado,
já não sabem de que terra são.
Afinal, a felicidade já não está onde nós a punhamos,
deixámos de a poder pôr onde nós estávamos.
Lourinhã, 7/8/2014. Revisto, 2/11/2025.
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