terça-feira, 9 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3188: A guerra estava militarmente perdida? (28): René Pélissier, uma crítica, uma adenda, um ponto final (António Graça de Abreu)

Guiné >Região de Tombali > Cufar> O António Graça de Abreu, com o Miguel Champalimaud, no aeroporto de Cufar, Janeiro de 1974

Guiné > Região do Oio > Teixeira Pinto >O António Graça de Abreu, Setembro de 1972.

Guiné > O António Graça de Abreu, "na LDG Alfange com os meus soldados, a caminho de Cufar, Junho de 1973".

Guiné > Região do Oio > O António Graça de Abreu, na estrada Mansoa-Porto Gole.

Guiné > Região Oio > Teixeira Pinto > Meninos em Teixeira Pinto a caminho da escola

Fotos e legendas: António Graça de Abreu

Editor: Virgínio Briote



1. Mensagem do António Graça de Abreu, de 4 de Setembro último:

Meu caros Luís Graça, Briote e Vinhal

Estamos no início de Setembro, 2008. Creio que a poeira das polémicas assentou.
Compreendo que tenham congelado os meus dois textos anteriores, subjacentes a alguma dessa polémica. Não é essa, natural e inteligentemente, a orientação do blogue que vocês com tanto esforço e dedicação têm posto de pé.

Mas peço-vos, por favor, que publiquem agora o meu texto abaixo transcrito. Quanto ao conteúdo, não difere muito das duas versões anteriores que enviei em Julho e vocês, por bem, decidiram não publicar. Na prosa que agora envio, limei todas as arestas que podiam ferir quem quer que fosse. Está um texto escorreito e limpo.

Creiam-me, sempre amigo e disponível,

António Graça de Abreu

2. René Pélissier, uma crítica, uma adenda, um texto final


por António Graça de Abreu (ex-Alf Mil, CAOP 1,Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar
1972/74)


Para a história colonial portuguesa basta consultar os autores de língua inglesa. Há séculos que a maior parte a denuncia como negreira, arcaica, brutal e incapaz: a quinta essência do ultracolonialismo sob os trópicos.

René Pélissier, em entrevista a Lena Figueiredo, publicada no jornal Diário de Notícias, Artes, de 02.04.07

O meu filho João tem vinte anos e é mais inteligente do que o pai. Quando envio os meus textos para o blogue do Luís Graça, uso o seu computador e o João costuma lê-los. Ele é curioso, procura saber os porquês das coisas da vida. Foi, aos dezoito anos, o meu primeiro leitor do Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura, Lisboa, Guerra e Paz Editores, 2007, então ainda só na memória do processador de texto.

O meu filho João, tal como os outros filhos, tem tentado entender o que aconteceu ao pai durante a passagem, 1972/74, pelas terras africanas da Guiné Portuguesa/Guiné- Bissau.

Ao enviar o meu último texto para o blogue do Luís Graça, o meu filho João disse-me mais ao menos as seguintes palavras:

“Porque é que tu te continuas a preocupar e a perder tempo com esses gajos da Guiné? Os gajos contam mais de sessenta anos, têm ideias feitas, não é agora que os vais esclarecer ou fazer mudar de opinião.”

O meu João sabe. Por isso me apetece um absoluto silêncio e deixar fluir, longe de mim, algum do desconcerto do mundo.

Mas nas veias, nas artérias, no tutano corre-me sangue e osso português. Se já sou capaz de me sentar, sereno, diante de uma flor de lótus ou de um majestoso pôr-do-sol, a Guiné ainda bole comigo.

Por isso alinho estas palavras.

No nosso blogue Poste 3050, o nosso amigo A. Marques Lopes, diz, como muitos outros camaradas, que pensa em voz alta (I) e assegura “Não entro nessa polémica…” no que à guerra militarmente perdida diz respeito. Depois no Poste 3057, publica uma extensa prosa (II), algo exaltante em relação ao PAIGC, que o Marques Lopes foi buscar, a várias proveniências, mas sobretudo, creio, a textos de 1992 (no blogue aparece Editorial Notícias, 1972 ???), que deram origem à obra inicialmente publicada em fascículos no jornal Diário de Notícias por Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes. Tudo bem.

Desculpem-me, mas neste longo texto cronológico, no que aos anos de 1972/74 diz respeito, não consegui descortinar a derrota militar dos portugueses. Mas há referências a mais três Fiats, que caíram (abatidos pelos mísseis Strella ?) que gostava de ver melhor explicadas. Apenas sabia da queda de um Fiat perto do Morés, em Setembro de 1973 (estava convencido de que por avaria técnica) e sabia que o piloto foi recuperado por dois helicópteros que viram o pára-quedas no ar e o foram buscar ao solo. Está no meu Diário da Guiné, pag. 144.

No primeiro poste do nosso amigo Marques Lopes o visado sou eu, António Graça de Abreu, por isso, peço aos editores do nosso blogue que me concedam o direito de resposta e publiquem este texto que tem tudo menos a intenção de ofender quem quer que seja.

Vamos começar por mim, embora estas coisas sejam menos pessoais do que, à primeira vista, possa parecer.

De início, o A. Marques Lopes, por quem tenho todo o respeito, afirma: “Tenho lido o terçar de razões sobre se a guerra estava perdida ou se podia ser ganha.”

“A guerra perdida”? A guerra que “podia ser ganha”?

A guerra no que à sua natureza política diz respeito? A guerra no que ao político-militar diz respeito? A guerra no que à essência militar do conflito diz respeito? Simplesmente, a guerra? Eu digo e repito:

Nunca escrevi que a guerra podia ser ganha, jamais acreditei que com Spínola e a política da “Guiné melhor” a guerra podia ser ganha. A guerra na Guiné estava politicamente perdida desde o primeiro dia, desde a flagelação a Tite, Janeiro de 1963. A guerra na Guiné também não podia ser militarmente ganha, uma guerra de guerrilha num território como o da Guiné, e com todo o enquadramento geo-político e estratégico que a rodeava, nunca podia ser ganha.

A questão fundamental não é esta, é a “guerra militarmente perdida” em 1973/73, perdida por todos nós, militares, que lá estávamos, no terreno, é a debilidade, a “derrota” das tropas portuguesas, “irremediavelmente batidas” em 1973/74, é o “colapso” das tropas portuguesas na Guiné em 1973/74, é a “superioridade” em armamento do PAIGC, e consequentemente a “inferioridade” e “incapacidade” militar das tropas portuguesas na Guiné 1973/74. Esta é que é a questão fundamental, repito.

No poste 3077, o camarada e amigo A. Marques Lopes acrescenta mais um extenso texto e conclui:

“Eles (PAIGC) continuavam a ter apoios para a sua sobrevivência, em população, alimentação e armamento. E nós não. Acho que não íamos ganhar aquela guerra.”

Concordo com o Marques Lopes quando diz que “não íamos ganhar aquela guerra”, mas não posso deixar de manifestar um certo espanto quando um camarada de armas escreve em Julho de 2008, que em 1971, nos anos do fim da guerra, nós (tropa portuguesa) não tínhamos apoios para a nossa sobrevivência, em população, alimentação e armamento. Até o Aristides Pereira, dirigente do PAIGC, já afirmou em entrevista ao Leopoldo Amado que em 1974 a logística das tropas portuguesa era superior à dos guerrilheiros que faziam das fraquezas forças e então lutavam como heróis.

É por estas razões, por diferentes entendimentos de uma mesma realidade que se têm terçado razões no nosso blogue.

Deixemos a política, a “quinta essência do ultracolonialismo” português do René Pélissier para outros debates. Estamos a falar do que realmente acontecia, da verdade dos factos, ponto VIII do código de conduta do nosso blogue. Aceito naturalmente que muitos dos nossos amigos tertulianos tenham opinião diferente da minha, continuarei a ter-lhes todo o respeito como camaradas de armas. Mas alguns dos argumentos a favor da “guerra militarmente perdida” partem de ideias feitas, desinformação, futurologia e equívocos. Eu sei que não é essa a intenção mas alguns desses argumentos servem para denegrir e rebaixar as tropas portuguesas - todos nós, 1973/74 -, que aguentaram firme, sofreram enormidades e morreram na fase final do conflito na Guiné. E tem sido por estas razões, a verdade dos factos, e não porque acreditasse alguma vez que Portugal ia ganhar aquela guerra, que tenho escrito os meus textos.

No meu Diário da Guiné, pag. 98, escrevi em Mansoa, a 17 de Maio de 1973:

Cresce em mim o respeito pelo sacrifício que os homens da minha geração, e também os mais velhos, oficiais e sargentos do QP, fazem nestas guerras de África. Não aprovo uma linha da política ultramarina de Salazar e Caetano que nos conduziu a estes dilacerantes becos sem saída, a guerra está errada, não é justa, não existe solução militar para o conflito na Guiné. Mas estamos cá, temos de sobreviver. No meio destes homens fardados, oriundos um pouco de todo o Portugal, conheço melhor o meu povo. E amo a terra onde nasci.

Voltemos ao primeiro texto do A. Marques Lopes. Diz o nosso camarada:

"Este livro do António Graça de Abreu, 'Diário da Guiné – Lama, Sangue e Água Pura' é um livro notável.

(…) Acho que o René Pélissier tem razão quando diz dele:

Um assunto verdadeiramente angustiante é tratado num excelente livro do género ‘memórias de uma derrota anunciada’. Este Diário da Guiné é a via-sacra, a derrota lúcida e frouxa de um exército desmoralizado e ultrapassado. O autor, alferes de Junho de 1972 a Abril de 1974 redigiu a sua obra a partir do seu diário pessoal e dos aerogramas que enviou à família.

"Teixeira Pinto, Mansoa, Cufar (no sudeste) foram as etapas desta derrocada, à qual assiste sem no entanto participar nas operações pois pertencia à sacrossanta Administração Militar. Graça de Abreu observa a política contestada de Spínola e permanece duvidoso quanto às pretensões do PAIGC em dominar todo o território. (…) Apesar da calma na zona de Teixeira Pinto, as emboscadas na estrada de Bissau intensificam-se. A partir de Fevereiro de 1973, quando chega ao chão balanta, os guerrilheiros encontram-se a 4 ou 5 quilómetros. Os guerrilheiros e o exército português bombardeiam-se à distância mas acotovelam-se no cinema local.

(…) "Em Junho uma parte do batalhão é transferida para Cufar (nas rias do sul), reconquistado por Spínola. À medida que a data da desmobilização se aproxima, a indisciplina dos soldados aumenta. No final de 1973, Cufar e todas as guarnições em redor são bombardeadas pelos 122, 'órgãos de Estaline' do PAICG.”

Fiquemos por aqui na citação do texto de René Péllissier que eu desconhecia, o amigo Marques Lopes leu e agora fez o favor de transcrever, publicado sob o título “Soldados, gorilas, diplomatas e outros literatos” nas páginas 1107 e 1108 da revista Análise Social, vol. XLII (185), 2007.

Primeiro tenho de agradecer quer ao Marques Lopes quer ao Pélissier o juízo de valor sobre o meu Diário da Guiné, “um livro notável” para o primeiro, “um excelente livro” para o segundo.

Vamos ao historiador francês Pélissier. Fala do meu livro como “memórias de uma derrota anunciada”, “a derrota lúcida e frouxa de um exército desmoralizado e ultrapassado.”

O meu Diário da Guiné não é um livro de memórias mas um diário de guerra e nele jamais defendo a tese da derrota militar das tropas portuguesas, porque esta tese era falsa em 1973/74, é falsa em 2008. O que escrevi é que, no final da guerra, a situação no sul da Guiné era complicada e muito difícil para todos nós. O abandono de Guileje possibilitou aos guerrilheiros entrarem e saírem para a Guiné-Conacry com muito mais facilidade e, por exemplo, pela primeira vez, já em Março e Abril de 1974, chegarem até perto de Bedanda com blindados (?) e com viaturas carregadas com toneladas de material de guerra que despejavam sobre os aquartelamentos portugueses na zona. Cadique, Jemberém, Chugué, Cobumba, Bedanda transformaram-se num verdadeiro inferno.

Quer isto dizer que a guerra estava militarmente perdida? Sabem o que é uma guerra, meus amigos e camaradas, sabem qual é a diferença entre a guerra e uma batalha, ou uma sucessão de batalhas? Acho que sim, todos passámos por lá. Mas é natural entendermos uma mesma realidade de modo diferente. Alguns de nós estavam na Guiné, na altura, 1972/74, outros já tinham regressado a Portugal e viviam a guerra à distância, num país de ditadura mole, mas ditadura, onde havia censura, onde éramos mal informados e onde era proibido emitir opiniões sobre o tabu das guerras de África. Por isso eu compreendo os defensores de teses diferentes da minha.

Querem exemplos da importância do abandono de Guileje e da desinformação que em Portugal corria? Leiam o meu Diário da Guiné, em Mansoa, a 28 de Maio de 1973, pag. 106:

“Guileje é um precedente grave. Diz-se por aqui que depois de Guileje outros aquartelamentos se seguirão, irão sendo abandonados, tipo bola de neve e já se fala em começarmos todos a preparar a trouxa para marcharmos para Bissau, a caminho de casa. Não acredito.

(…) "De Lisboa, chegam bocas, deformações, notícias fantásticas: um quartel a vinte quilómetros de Bissau tomado pelo PAIGC, centenas de mortos. Valha-nos Deus!”



No meu Diário da Guiné, ainda em Mansoa, a 18 de Junho de 1973, eu escrevia:

“Um alferes da 38ª. de Comandos regressou agora de férias de Portugal e contou-me que em algumas paredes de Coimbra, a sua terra, aparecera escrito: 'Se tem o seu filho na Guiné, considere-o morto.' Uma frase tremenda. Mas os meus pais, e os pais de quase todos nós, vão ter os filhos vivos de regresso a Portugal.”

No meu Diário da Guiné, já em Cufar, a 27 de Junho de 1973, eu escrevia:

“De Lisboa, contam-me as “bocas” que por lá correm. E “bocas” falsas.

"Fala-se em evacuar da Guiné mulheres e crianças. Mas onde e porquê? É verdade que a população nativa, os africanos das aldeias de Guidage, Guileje e Gadamael, abandonou essas tabancas por causa do perigo nas flagelações constantes do IN. Mas não houve nenhuma evacuação nem sei se tal está previsto pela nossa tropa. Também é verdade que muitos milhares de habitantes da Guiné Portuguesa procuraram fugir à guerra e refugiaram-se quer no Senegal quer na Guiné-Conacry, no entanto esta procura de um lugar mais pacífico para habitar não é novidade, começou há já alguns anos com o agravamento do conflito armado.

"De Lisboa, dizem-me também que o Eng. Vaz Pinto se demitiu de presidente da TAP por causa de um ultimato do PAIGC, mais ou menos nestes termos: se os aviões da TAP voarem para a Guiné, serão abatidos, se transportarem militares dentro da Guiné, também serão atingidos pelos mísseis terra-ar. Ora isto nada tem a ver com as realidades que aqui vivemos. Deve ser invenção.

"Os aviões da TAP vindos de Lisboa e de Cabo Verde entram e saem da Guiné voando sobre as ilhas dos Bijagós e a chamada ilha de Bissau. Com 99,9% de certeza posso garantir que os guerrilheiros não controlam nem têm efectivos militares nessas regiões. São as zonas mais seguras de toda a Guiné. Os aviões da TAP também não fazem qualquer transporte de tropas dentro da Guiné. Os transportes via aérea são assegurados pelos três Nordatlas e pelos dois DC 3 da Força Aérea. Nada têm a ver com a TAP, nem sequer quanto à manutenção. Depois, creio que os homens do PAIGC não estão interessados em atacar aviões civis, grandes ou pequenos. Não atacam os TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) e vão atacar a TAP?... Os TAGP são a linha civil, comercial da Guiné. Têm quatro avionetas Auster de cinco lugares e transportam sobretudo civis. Em Abril e Maio, no período crítico a seguir à queda das cinco aeronaves militares, os TAGP ajudaram na evacuação de feridos porque a Força Aérea Portuguesa não voava. Os pilotos dos TAGP não são suicidas, também voam ou muito alto ou muito baixo, mas as suas avionetas vermelhas e brancas, mais pequenas do que as DOs, são facilmente referenciáveis cá de baixo. Quem sabe se os TAGP, mesmo colaborando com as NT, não são também úteis ao IN?


"Agora em Cufar, volto a lidar diariamente com os pilotos, almoçam comigo, conversamos bastante. Creio estar bem informado do que se passa na Guiné, em termos de aviões.

"Em Portugal, as 'bocas', os boatos são galopantes. Pela ponta de um dedo, toma-se o braço todo."

Depois deste pequeno interregno, regressemos ao fluir da guerra.

Quase todos os mortos e feridos dos dez ou doze aquartelamentos do Tombali e Cantanhez, e das operações militares, tinham de passar pelo aeroporto de Cufar a fim de serem evacuados para Bissau. Em 1973/74 eu assumi muitas vezes o papel de os ir buscar ao porto de Impungueda, no rio Cumbijã, aos hélis, de os levar para a enfermaria de Cufar, de transportar os cadáveres para a capela. Leiam as páginas 199 a 211 do meu livro, está lá tudo bem documentado. Há dois anos, quando passei estas páginas ao computador, os olhos encheram-se-me de lágrimas. A emoção, a raiva, a dor. Era uma guerra injusta a dilacerar o corpo e a alma de todos nós.

Significa isto que a guerra estava militarmente perdida, no terreno, no espaço onde nos movimentávamos? Nesta altura, 73/74 (e nas outras!), apesar do seu razoável poder militar, quantos aquartelamentos conquistou o PAICG no sul da Guiné? Nenhum. E nós entrámos em colapso, deixámos de nos defender e de lutar? Claro que não.

Então mas Guidage e Gadamael, em 1973, não sofreram tormentos, não se contou um extenso rol de mortos? Com certeza, mas não houve uma derrota militar. Apesar dos canhões M-30, dos morteiros 120, -- armas superiores às que possuíamos – mas disparadas a partir de um país estrangeiro, a Guiné-Conacry, quem perdeu a batalha por Guidage e por Gadamael foram os guerrilheiros do PAIGC, que não conseguiram conquistar os aquartelamentos ou forçar o seu abandono, como sucedera em Guileje. Isto apesar do auxílio militar do exército de um país estrangeiro, o da Guiné-Conacry. É esta ou não a verdade dos factos?

Entendem porque é que eu fui buscar as palavras de António Lobo Antunes que diz que os nossos soldados, além de excepcionais “camaradas” eram “duros”? E porque citei Camões “um fraco rei faz fraca a forte gente”. O meu amigo, forte general Manuel Monge, sabe.

Quanto ao “exército desmoralizado e ultrapassado” leiam o que eu escrevi no meu Diário da Guiné, pag. 101, em Mansoa, a 22 de Maio de 1973, já depois de Guidage e dos aviões abatidos pelos mísseis Strella:

“O que tem abalado os portugueses neste último mês é a quase ausência da nossa aviação, o armamento cada vez melhor, em maior quantidade e melhor utilizado pelos guerrilheiros e, acima de tudo, o estado anímico e psíquico da tropa portuguesa. No entanto, continuo a acreditar que esta guerra está longe de se resolver no campo militar e terá, só Deus sabe quando, uma solução negociada, política.

"Creio que continuamos em vantagem sobre os guerrilheiros, dominamos os centros urbanos e as maiores povoações da Guiné, existem aquartelamentos espalhados por todo o território e temos muitos mais militares do que eles.”

Na altura eu já reconhecia que a desmoralização era real, mas não suficiente para perdermos militarmente a guerra.

O Marques Lopes diz no Poste 3050:

“O que me espanta é que, agora, a mais de trinta anos de distância, ele (António Graça de Abreu) tenha as certezas que então não tinha.”

Meu caro A. Marques Lopes, lê o que escrevi no meu Diário da Guiné, pag. 32 e 33, em Teixeira Pinto, a 26 de Julho de 1972:

“Sinto que em Portugal é que o PAIGC vai ganhar a guerra, aqui não a perde e no terreno não a consegue ganhar.
"As NT, as nossas tropas são constituídas por cerca de 35.000 homens, incluindo os negros que combatem do nosso lado. Pensa-se que o IN, o inimigo, os guerrilheiros do PAIGC, conta com cinco a sete mil homens.

"Quem controla todos os centros urbanos, vilas, estradas, aeroportos, rios principais e ilhas da Guiné são os portugueses. O território é pequeno, pouco maior do que o Alentejo e os guerrilheiros nunca estão longe. Têm capacidade para lançar ataques, flagelações, emboscadas, colocar minas um pouco por todo lado, não é difícil movimentarem-se por entre a malha do dispositivo militar português. Todavia é um exagero afirmar-se que dois terços da Guiné estão nas mãos do PAIGC. Só controlam as aldeias escondidas nas florestas, quase sem estradas, onde não existe luz eléctrica, não têm viaturas para se movimentar, não dispõem de meios aéreos, nem de barcos, a não ser canoas. As suas principais bases militares situam-se do outro lado da fronteira, no Senegal e na Guiné-Conacry. Daí partem muitas vezes em acções militares e, cumprido o plano, para lá regressam. As zonas libertadas de que falam corresponderão em termos reais talvez a um terço do território da Guiné. São as tais florestas quase impenetráveis, às vezes circundadas por rios onde só costuma entrar a nossa tropa especial e há logo escaramuças, contactos de fogo. Trata-se de regiões mártires sujeitas a frequentes bombardeamentos da aviação portuguesa. Aí o IN controla a população, há pequenas aldeias, escolas e hospitais, tudo muito primitivo. Algumas das zonas libertadas próximas dos nossos aquartelamentos estão também sujeitas a ser flageladas pela artilharia das NT, temos os obuses 14, uns canhões já antigos (do tempo da 2ª. Guerra Mundial?) que disparam uns projécteis de todo o tamanho, por exemplo, sobre a Caboiana, a zona libertada aqui a norte onde os guerrilheiros instalaram uma das suas maiores bases dentro da Guiné, com defesas montadas em quadrado, cerca de trezentos combatentes e três mil elementos da população. Os canhões têm um alcance de dez a doze quilómetros, os nossos artilheiros calculam o local onde se abrigam os elementos IN e bombardeiam em diferentes períodos do dia. Do Bachile são disparados em média quinze tiros sobre a Caboiana, diariamente, do Cacheu são disparados outros quinze. Cada projéctil pesa cinquenta quilos e custa dois contos e quinhentos, o salário normal de um mês de trabalho de um cidadão em Portugal.
"As populações das zonas libertadas vivem em condições deploráveis, numa insegurança constante, os tiros de canhão, os bombardeamentos aéreos acertam por vezes nas suas aldeias".

A 2 de Agosto de 1972, em Teixeira Pinto, eu escrevia no Diário, pag. 36.

"Quase ainda não saí para o mato mas já deu para entender, no local, que bastam quatro ou cinco negros armados de bazuca, lança-granadas ou coisa parecida, escondidos atrás de umas palmeiras para, com pontaria e sorte, fazerem estragos numa coluna das NT. Uma dúzia de guerrilheiros é suficiente para lançar umas bazucadas e granadas de morteiro 60 ou 80 sobre um aquartelamento nosso e, com sorte e mira afinada, provocar estragos. Também não seria muito difícil colocar bombas em Canchungo (Teixeira Pinto) ou em Bissau, como na nossa terra fazem a ARA e as Brigadas Revolucionárias. Ainda não acontece, poderá vir a acontecer.
"Será que os homens do PAIGC estão cansados, após anos e anos de privações de toda a espécie? No chão manjaco e noutras zonas da Guiné, o controle – sempre relativo -- das populações e muitas das iniciativas de operações pertencem aos portugueses. Os guerrilheiros, às vezes pelo fresquinho da noite, vêm por aí abaixo e lançam um original fogo de artifício sobre os nossos aquartelamentos, raramente provocam baixas nas NT. Depois regressam, lestos e lampeiros, às zonas libertadas.
"Em termos militares, não têm força para ganhar a guerra, isto é um conflito prolongado com uma solução militar tão a longo prazo que o mais valente – IN ou NT – desanima".

O que escrevi há trinta e seis anos atrás não difere quase nada do que tenho escrito e defendido neste blogue nos últimos meses. E segundo Marques Lopes e René Pélissier, o meu Diário da Guiné é “um livro notável, um “excelente livro”. Onde é que está no meu livro aquilo a que Pélissier chama “derrota anunciada”, a “derrota lúcida e frouxa de um exército”?

Regressemos ao texto do René Pélissier.

Diz o francês que eu assisti à “derrocada”, sem participar nas operações porque “pertencia à sacrossanta Administração Militar.” É verdade que eu tinha uma secretaria num Comando de Operações e, por bênção de Deus, nunca precisei de disparar contra os meus irmãos negros do PAICG. Quanto ao resto, basta ler o meu Diário, “um excelente livro” - segundo Pélissier - , basta ler os textos sobre os meus últimos onze meses em Cufar, 73/74, para entender a que “sacrossanta Administração Militar” eu pertencia.

Depois Pélissier diz que eu permaneço “duvidoso quanto às pretensões do PAIGC em dominar todo o território.” Na altura eu não tinha muitas dúvidas, hoje tenho ainda menos, o PAIGC nunca controlou mais do que um terço do território da Guiné, controlavam uma população que nunca ultrapassou as 50.000 almas, enquanto na restante Guiné, à sombra da bandeira portuguesa (gostemos ou não, era assim que acontecia!) viviam quase 500.000 guineenses. Até os relatórios da CIA, os serviços secretos norte-americanos, já em 73/74, comprovam o que acabo de afirmar. Esta é a verdade, por muitos mapas coloridos que agora nos queiram mostrar.
Depois, também fiquei a saber pelo texto do francês Pélissier que “na zona de Teixeira Pinto as emboscadas na estrada para Bissau intensificam-se”. Não leu isto no meu Diário, limitou-se a inventar. René Pelissier é autor de uma História da Guiné, antes da luta de libertação e de vários trabalhos sobre o ultramar português. Deveria ter mais respeito pela História que se constrói com a verdade dos factos.

O que descrevi no meu livro, “excelente”, segundo Pélissier, na pag. 62, foi a emboscada de 31 de Outubro de 1972, entre Pelundo e Có. A coluna entre Teixeira Pinto e Bissau, com uma média de sessenta viaturas, realizava-se todas as terças e sextas e não era atacada há quase dois anos. Corrijam-me se estou enganado. Tanto quanto sei, depois de 1972, não foi mais atacada. E já agora, para os meus caros amigos tertulianos terem uma ideia de como é fácil inverter por completo os factos e daí falsificar a História, nessa emboscada, centrada em apenas cinco viaturas num total de cinquenta, houve alguns feridos NT, mas não morreu ninguém. Rapidamente chegaram os helicópteros de Bissau, o hélicanhão perseguiu e metralhou os guerrilheiros provocando-lhes meia dúzia de mortos. Nestas “emboscadas na estrada para Bissau (que) se intensificaram”, segundo afirma Pélissier que apenas conhece uma, a que descrevo no meu livro, os derrotados foram os combatentes do PAIGC.

Estão ou não estão a ver, meus caros amigos e tertulianos como é fácil falsificar a História, virando os factos ao contrário, colocando-os de pernas para o ar?

A propósito desta emboscada, no meu Diário, na mesma página 62, digo:

“ Foi então abatido um guerrilheiro que veio de heli para aqui (Teixeira Pinto). Eu sabia que havia feridos e lá estava na pista. O fuzileiro do PAIGC chegou ainda vivo, com o uniforme azul manchado de sangue e um estilhaço na cabeça, de bala de helicanhão. O médico e um furriel enfermeiro fizeram-lhe massagens no coração que de nada valeram, o homem morreu ali. Foi o primeiro guerrilheiro que vi, e logo agonizando numa maca de lona.”

Agora também fui informado pelo René Pélissier, de que em Mansoa, em 1973, “guerrilheiros e exército português bombardeiam-se à distância, mas acotovelam-se no cinema local.” Vivi em Mansoa entre Fevereiro de 1973 e Junho de 1973, durante esses meses nunca tive o prazer de ser bombardeado pelos guerrilheiros – a vila não sofreu nenhuma flagelação -- e tive o desprazer de ver, e sobretudo ouvir, centenas e centenas de granadas de obus 14 (tínhamos três obuses no aquartelamento!) a serem, dia após dia, disparadas sobre o Morés e zonas em redor. Quanto a acotovelarmo-nos mutuamente no cinema, Pélissier também está enganado. O cinema de Mansoa era um espaço ao ar livre, num rinque de patinagem com bancadas à volta. Sobravam sempre imensos lugares, ninguém acotovelava ninguém. Não garanto que um qualquer guerrilheiro anónimo, à civil, não aparecesse lá pelo cinema. No Morés, no Oio, no Sara que filmes é que eles viam?

René Pélissier também explica no seu texto que “em Junho (de 1973), uma parte do batalhão do autor (António Graça de Abreu) é tranferida para Cufar nas rias do sul, reconquistado por Spínola.” Ora eu pertencia a um Comando de Operações, éramos trinta e poucos homens, no total. Qual batalhão? Para o sul, Cufar, fomos transferidos o major Mário Malaquias, eu próprio, o furriel Vitor Henriques e mais quinze soldados. Pélissier aproveita ainda para mostrar os seus conhecimentos e afirma que “Cufar (…) foi reconquistado por Spínola”. Cada cavadela, cada minhoca, cada frase, cada incorrecção. Cufar foi um importante aquartelamento no sul, criado em 1964. Desde então, sempre teve tropas portuguesas em permanência. O nosso Mário Fitas esteve lá em 1965/66, sabe muito sobre Cufar.

Já estou cansado de desmontar o texto do historiador francês, a prosa que agradou ao nosso Marques Lopes que afirma, no poste 3050 “Acho que o René Pélissier tem razão.” Com todo o respeito pelo Marques Lopes, eu, António Graça de Abreu, acho que o Pélissier não tem razão.

Para concluir, uma última adenda.

No seu comentário ao meu Diário da Guiné, Pélissier diz: “No final de 1973, Cufar e todas as guarnições em redor são bombardeadas pelos 122, ‘órgãos Estaline’”.

“No final de 1973”? Pélissier não sabe que, no total, foram disparados centenas e centenas de foguetões 122 sobre os aquartelamentos do sul, ao longo de todos os meses de 1972, de todos os meses de 1973, até Abril de 1974, quase sempre sem consequências para as nossas tropas? É preciso render justiça aos guerrilheiros do PAIGC. Lutaram, combateram heroicamente, morreram pela sua Pátria, a Guiné-Bissau.

Só Cufar, entre 23 de Outubro de 1972 e 23 de Dezembro de 1972, ou seja no espaço de dois meses, foi flagelada 26 (vinte seis!) vezes. Deveriam ter arrasado tudo. Não, não só não arrasaram nada como, para além de alguns incêndios em tabancas, não morreu ninguém. Já expliquei aqui que a companhia de caçadores 4740, em Cufar 1972/1974, não teve um único morto em combate, em flagelações, emboscadas, minas. E passaram por tudo isso. Tiveram muita sorte, é verdade, mas também é muito verdade que o poder militar e a eficácia dos guerrilheiros do PAIGC era muito menor do que defendem hoje algumas pessoas.
De registar, por fim, a confusão que Pélissier também faz entre foguetões 122 e os “órgãos Estaline”. Eram armas diferentes.

Creio que é a última vez que me debruço sobre estes temas. Isto não é uma polémica infindável, do género cada cabeça, cada sentença. Como diz o meu filho João “esses gajos da Guiné contam mais de sessenta anos, têm ideias feitas, não é agora que os vais esclarecer ou fazer mudar de opinião.”

Que cada um fique com as suas verdades. A mim, testemunha e actor nesses anos de 73/74, num comando de operações em três regiões diferentes (Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar) no norte, centro e sul da Guiné, interessa-me a verdade dos factos. É isso que creio, também deve interessar a todos nós. Para saber quem fomos, para saber quem somos.

De resto, repito, a norma de conduta número VIII, do nosso blogue é “o respeito absoluto pela verdade dos factos.”

Os portugueses não foram militarmente derrotados, não se registou nenhum colapso militar, não saímos da Guiné de calças na mão.

S. Miguel de Alcainça, 30 de Agosto de 2008
Ano do Rato

António Graça de Abreu


3. Comentário de L.G.:

Meu caro António:

Li, com atenção e vagar, o teu texto, já publicado depois de receber o OK do Virgínio Briote, que é quem esta(va) com este pelouro, e a quem está atribuído o tratamento das tuas últimas mensagens... Fiz questão de apor esta pequena nota, pessoal, uma vez que o fundador e editor do blogue, Luís Graça, andou aparentemente alheado desta polémica que foi muito rica, calorosa, às vezes quente, mas quase sempre intelectualmente elevada...

Com referência a esta tua "versão final", agradeço muito a tua compreensão, e sobretudo o teu bom senso e bom gosto, a tua capacidade de entender e aplicar, com superior qualidade, as nossas dez regras do bom viver... De facto, não precisamos de aniquilar, destruir, ridicularizar ou achincalhar os outros para impor o nosso ponto de vista... Nem sequer precisamos de impor o nosso ponto de vista... Basta-nos saber defendê-lo, com galhardia, coragem e inteligência... Creio que foi o que fizeste... e bem.

Quanto ao resto, estou de acordo com o teu filho: Estes gajos (os velhos camaradas da Guiné, com as suas ideias feitas, as seus pesadelos, os seus sentimentos e ressentimentos...) já não mudam, já não estão em idade de mudar... E sabes porquê ? Por que toda a mudança é dolorosa, implica desaprender (o que é velho e aparentemente errado...) e aprender algo de novo (que pode ser uma outra versão da realidade, outros conceitos, outros conteúdos e continentes)...

Por outro lado, nenhum de nós, nem tu nem eu nem os restantes camaradas, temos o monopólio da verdade, muito menos o monopólio das memórias da guerra que fizemos no TO da Guiné. muito menos ainda o monopólio dos afectos por Portugal e a Guiné, países que, embora estando nossos corações, não nos pertencem... pelo menos em exclusivo.

Vimos e vivemos a guerra com os "óculos", as grelhas de leitura da época. Alguns de nós estavam mais infomados, mais lidos, tinham o privilégio da cultura, eram mais críticos, etc.. Mas todos eramos sensíveis à guerra, com os seus horrores, com o seu rol de destruição, morte, dor e sofrimento, de parte a parte... Nenhum de nós, individualmente, estava disposto a morrer por uma pátria que dificilmente reconhecíamos no chão fula, no chão balanta, no chão manjaco, etc., ou seja, nessa manta de retalhos e nesse território artificial, disputado e desenhado a régua e esquadro pelas potências coloniais europeias, que era a então província portuguesa da Guiné... Todos contámos, dia a dia, risco a risco, pauzinho a pauzinho, o tempo que nos faltava para a peluda... Não se infira daqui que eu defendo a tese de a guerra estava militarmente perdida... Posta sob a forma interrogativa, acho que é uma falsa questão... E eu, que ensino metodologia de investigação, costumo dizer aos meus alunos que nada pior do que uma má pergunta, por que só pode dar origem a uma má resposta...

Hoje estamos a (re)ver e a (re)viver essa dura realidade, também já com outros olhos, outros "óculos", outras grelhas de leitura do real... Ganhámos todos em sabedoria, tolerância, distância afectiva, humanidade... Onde estão os feros guerreiros de então ? Onde estão as certezas da nossa juventude ? Tudo mudou, nós mudámos... Hoje somos pais e avôs babados...

Devemos defender as nossas convicções... e não podemos deixar cair a nossa autoestima... Eu percebo que é duro, para nós, antigos antigos combantes, ler alguém que nos vem dizer que os nossos dois anos na Guiné foram um sacrifício completamente inútil e inglório, que a guerra estava irremediavelmente perdida, etc., etc. Mesmo que isso fosse verdade (e não é), seria sempre duro de engolir. Daí a onda de reacções em cadeia que esta polémica assumiu...

Só tenho pena que tenhamos caído, uma vez por outra, na tentação (fratricida) de, no calor da luta, puxar pela G3... Ainda houve alguns estilhaços que feriram - espero que ligeiramente - alguns de nós... Num caso ou noutro pisámos o risco, ultrapassámos a marca, excedemo-nos, não nos comportaámos como camaradas... Mas no final, ganhámos todos com a experiência deste debate... Sobrevivemos e reforçámos os laços que nos unem na Tabanca Grande.

Não considero (e, muito menos, declaro) encerrado o debate (até por que o Virgínio Briote ainda tem um ou outro texto pendente, a começar pelo resto do escrito do A. Marques Lopes), mas eu preferiria que o nosso blogue fosse mais de experiências, vivências, histórias de vida, de recolha de dados, de pesquisa, do que de opiniões, de análises históricas, de temas e debates, de polémicas, por muito interessantes, respeitáveis e necessárias que elas sejam... Aliás, poder-se-á criar um blogue só para esse efeito: a blogosfera está recheada de blogues que cultivam a polémica, o confronto (viril) de pontos de vista, e em muitos casos até o pugilato, a traulitada, etc. Mas não foi essa a minha intenção ao criar o nosso blogue, que começou por se chamar Blogueforanada e depois blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...

António: Desejo-te a continuação de um Bom Ano do Rato. Dá os parabéns ao teu rapaz. Um abraço caloroso do Luís Graça e dos seus queridos co-editores, CV e VB.
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Notas de vb:

(*) Vd. últimos postes desta série:



21 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3077: A Guerra estava militarmente perdida (27)? Reacções a nível internacional. Os efectivos das NT (A. Marques Lopes)
13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3057: A Guerra estava militarmente perdida? A situação político-militar na Guiné (26) (A. Marques Lopes)
12 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3050: A Guerra estava militarmente perdida? (25). Vou pensando em voz alta (I) (A. Marques Lopes)
9 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3042: A Guerra estava militarmente perdida? (24). Comentário do J. Mexia Alves.
30 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P3002: A Guerra estava militarmente perdida? (23). Comentário do Cor Amaro Bernardo.
19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2966: A guerra estava militarmente perdida? (22): Comentário de um Quadro Guineense no Exterior (Anónimo)
19 de Junho de 2008> Guiné 63/74 - P2964: A guerra estava militarmente perdida? (21): A Guerra estava militarmente perdida. Por mim, final da polémica (Mário Beja Santos)
19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2962: A guerra estava militarmente perdida? (20):Um Fraco Rei Faz Fraca a Forte Gente (António Graça de Abreu)

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3187: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (16): Instrutor de milícias em Bambadinca (Out 1971)

Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (16)


Texto e fotos do Paulo Santiago
ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 53
Saltinho 1970/72


Página do manual de instrução AS MILÍCIAS NA CONSTRUÇÃO DE UMA ''GUINÉ MELHOR'



Instrução de Milícias em Bambadinca

Foquei na última memória a minha ida para Bambadinca, para comandar uma Companhia de Instrução de Milícias. Vão hoje mais algumas lembranças dessa fase.

A instrução de tiro é daquelas que mais me aviva a memória, fazendo-me pensar que, possivelmente, estávamos meios loucos, melhor, estávamos completamente apanhados.
A carreira de tiro, desaterro efectuado quando da construção da estrada Xime-Bambadinca, situava-se aí entre 500 a 1000 metros da ponte do rio Udunduma, para quem seguia em direcção ao Xime.

A zona, para quem se lembra, era perigosa, mas sempre fomos na maior das calmas, como se não houvesse guerra nas imediações. Ia um pelotão de cada vez, em viaturas até à carreira de tiro, quer fosse dia ou noite, porque também havia instrução de tiro nocturno. Se de dia era arriscado, imaginem à noite.

O oficial de tiro, já dito na memória anterior, era o Vacas de Carvalho, depois substituído pelo Vilaça, talvez no início de Dezembro de 1971, nestas funções e também no comando do Pelotão Daimler.

Na instrução nocturna, o Fur Mil instrutor e o monitor levavam umas granadas e uns dilagramas, sendo esta a segurança acrescida. Claro que eu levava a G3, quer de dia ou de noite.

Em Fevereiro de 2005, quando estive no quartel de Bambadinca, contei esta cena ao comandante, respondendo ele..."tiveram sorte".


Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > No dia de encerramento da instrução, junto da carreira de tiro.


Tensão arterial baixa

Aí por início de Dezembro de 71, ia eu numa instrução de Educação Física (E.F.), correndo com os instruendos na estrada Bambadinca-Bafatá, falando em termos militares, fazia um trabalho de estrada, quando comecei a transpirar em abundância, espalhando-me de imediato no asfalto.

Passados uns segundos, recobrei, regressando apoiado ao quartel, indo de seguida ao
posto médico expor ao Dr Vilar (mais conhecido por Drácula) o episódio. Aplica-me no braço o aparelho de medir a tensão arterial, dizendo-me após verificação:
- Ó caralho, estás mal, tens a merda da tensão a 4,5-7,5.
- Que medicamento tens aí para tomar?, pergunto eu.
- Qual medicamento, vais mas é começar a beber whisky logo de manhã, não te embebedas só à noite, ao meio-dia tens de estar borracho; se seguires estas indicações a tensão arterial normaliza - foi esta a receita prescrita pelo médico.

Resultou, apesar de não estar bêbado ao almoço. Durante uns tempos caminhava para essa fase a passos largos, comecei mesmo a beber uns whiskies logo pela manhã.
Estava tudo doido, começando pelo médico.

Foto tirada na ponte de Udunduma com o Celo ao meu lado esquerdo. Os restantes são militares do destacamento (talvez da CCAÇ 12). Foi tirada num Domingo em que fui ao Xime beber copos...Maluqueiras!

As meninas de Bafatá

Habituei-me a ir às meninas. Ao sábado não havia instrução, andava em pulgas para que chegasse este dia. Chegava à sexta-feira, começava a funcionar a "cabeça perfurante" sem ligar à "cabeça pensante" e no sábado lá ia com o Vacas, de Daimler, para Bafatá.

O Zé Luís conhecia uma série de meninas, havia duas que trabalhavam ou tinham trabalhado no Fontória em Lisboa. Era uma rebaldaria. Depois do serviço, vá de comer e beber uns copos naqueles restaurantes de Bafatá.

Após o Vacas de Carvalho ter regressado, andei uns tempos sem companhia para vir à cidade, mas já quando formava a 2ª Companhia de Milícias consegui convencer, ou desviar, o Fur Mil Dinis para me acompanhar nos desvarios da carne.

__________

Notas de vb:

(*) Vd. artigos anteriores da série, em

13 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3053: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (15): Instrutor de milícias em Bambadinca (Out 1971) e

25 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2302: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (14): Ilustres visitantes no Saltinho

Guiné 63/74 - P3186: Estórias do Jorge Fontinha (2): Estrada de Teixeira Pinto-Cacheu (Jorge Fontinha)


1. Mensagem, com data de 3 de Setembro de 2008, do nosso camarada Jorge Fontinha, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2791, (Bula e Teixeira Pinto, 1970/72) (1), com a segunda de muitas estórias prometidas.

Conforme prometido, ai vai mais uma História.
Esta terá o título: Estrada de Teixeira Pinto - Cacheu

Um abraço do camarada.
Jorge Fontinha


2. Estrada Teixeira Pinto-Cacheu
Por Jorge Fontinha

Em Outubro de 1971, a CCAÇ, reforçada com um Grupo de Combate da CCAÇ 3308 atinge CAPÓ, onde fica instalada de maneira a dar todo o apoio e protecção aos trabalhos da estrada Teixeira Pinto – Cacheu.

Crachá da CCAÇ 2791

A Sub - unidade chega a uma zona onde nada há. O mato é rasgado, para no mais breve possível ser construído um aquartelamento improvisado que possa servir de abrigo ao pessoal militar e a cerca de 500 trabalhadores nativos que colaboram na desmatação da área por onde vai passar a futura estrada. O período de permanência neste aquartelamento, prolonga-se pelo mês de Novembro, terminando apenas a 6 de Dezembro, perfazendo um total de cerca de 48 longos dias de desterro…

Durante todo este mês a actividade da Companhia multiplica-se na protecção aos desmatadores, picagem de troços de estrada, protecção e defesa dos trabalhadores e máquinas, segurança aos trabalhos topográficos e de máquinas de Engenharia em movimento constante. É uma actividade que dura 24 horas por dia e considerando as condições precárias de vida, torna-se esgotante.

Não tendo havido quaiquer danos pessoais nas NT, não deixou todavia de ter havido contacto com o IN. Nomeadamente quando um grupo de Combatentes do PAIGC tentou no mesmo dia, varias aproximações ao aquartelamento com lançamento de Morteiros e Roquetes. Valeu-nos também o valioso apoio dos meios aéreos e dos Carros de Combate de Bula, superiormente comandadas pelo saudoso Capitão Salgueiro Maia.

Nas minhas histórias não podia esquecer este período por ter sido tão complicado e penoso e porque no decurso dos quais assinalei os meus 23 anos, onde até não faltou o bom Whisky e a quente cerveja.

Foto 1 > Trabalhadores nativos

Foto 2 > Comemorando os meus 23 anos

Como já referido, naquele lugar nada havia a não ser terra e poeira constante pelo ar, fruto dos trabalhos das máquinas e a temperatura era aterradora, provocando transpiração constante, que se misturava com a poeira…

A água era trazida em autotanques atrelados às viaturas militares, todavia, era racionada e mal chegava para a cozinha e para beber. Para a higiene pessoal, cada um desenrascava-se. Imagine-se o aspecto de cada elemento, desde o Capitão até ao trabalhador nativo que trabalhava na desmatação.

Situações hilariantes aconteciam com frequência, com pequenos episódios aqui e ali.

A quando do contacto já descrito, um soldado que havia, não se sabe como, arranjado alguma água tinha acabado de se lavar e estando todo nu, junto à barraca onde pernoitava e se preparava para fazer a barba, conforme ouve o primeiro disparo, atira-se em voo para a barricada que tinha sido construída para nossa protecção, pelas máquinas da Engenharia e de tanto se rebolar, ficou para gozo dos companheiros, como bolo de bacalhau, pronto a ser frito.

O Alferes Freitas Pereira, comandante interino nesse dia, por ausência do capitão que se tinha deslocado a Teixeira Pinto, estava de tal forma exaltado, que de tanto gritar ordens acabou o dia, ficando completamente afónico.

Se não bastasse, o meu bom amigo furriel Sampaio Faria, viria a ser o único ferido, igualmente quando saltava para a barricada, tendo torcido um dedo, suponho que da mão direita... Durante toda a comissão, foi felizmente o seu único ferimento!

Foto 3 > Destacamento temporário

Foto 4 > Máquina da Engenharia

O moral de qualquer um de nós nunca tinha chegado a níveis tão baixos, tais as condições de vivência. Qualquer coisa de novo que surgisse era motivo para relaxar e dar asas aos 23 anos da média de todos nós. Bastava um simples postal ilustrado com uma qualquer beldade da época para nos animar. Até podia não ser nenhuma beldade, bastava que fosse mulher e sobretudo branca…

De repente, até isso nos caiu do Céu…

Todo nervoso, o Freitas Pereira recebe, via rádio um comunicado do CAOP de Teixeira Pinto, que daí a alguns minutos receberíamos uma visita aerotransportada, de uma equipa de Televisão Americana, que andava a fazer várias reportagens de Guerra. Na semana anterior haviam feito o mesmo, no Vietname.

Houve uma pequena revolução no aquartelamento, mas tudo foi feito para que nada impressionasse mal as nossas visitas. Até o Alferes Freitas Pereira que para além de ser o Comandante interino, era também o único que arranhava mais ou menos o inglês. Eu e mais alguns, apenas percebíamos por alto o que se dizia.

E chega a hora.

Três helicópteros roncam nos céus de Capó, dois deles helicanhão e um outro de cores civis. Este último aterra e logo que as hélices o permitem, uma comitiva onde me incluo, vai ao seu encontro. Primeiro, sai o homem da câmara e de seguida a repórter…

Podia até nem ser bonita, mas era uma loira cujos cabelos esvoaçavam ainda, com os cada vez mais lentos movimentos das hélices do helicóptero. Uma visão do outro mundo! Do mundo que estava lá fora.

Foi recebida, confesso que com alguma gula, pela maioria de todos nós, pelo menos daqueles que de mais perto privaram.

De imediato, porque o tempo urgia, o Freitas Pereira fez as honras da casa e com ela entabulou uma breve troca de impressões, que nós íamos seguindo com alguma dificuldade, pois o nosso Inglês resumia-se ao pouco que tínhamos aprendido no Liceu.

Mas basicamente e duma forma resumida, ela contou que 8 dias antes havia estado no Vietname. O que mais a impressionou lá, foi o facto de ter estado debaixo de fogo pesado e que tinha assistido a algumas baixas mortais por parte das tropas Americanas, que a haviam abalado bastante. Ao dizer isto, ia olhando detalhadamente para cada um de nós e começou a notar-se que cada vez estava mais perturbada, ao ponto de desabafar:

- Meus amigos, prefiro voltar para lá do que ficar aqui, por mais uma hora que seja. O vosso aspecto e as vossas condições de alojamento não lembram sequer ao diabo. É aterrador!

E lá se foi a nossa visão angelical!...

Prometo mais histórias.

Um abraço para a Tertúlia
Jorge Fontinha
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Nota de CV

(1) - Vd. postes de

18 de Agosto de 2008 >
Guiné 63/74 - P3139: Estórias do Jorge Fontinha (1): O meu batismo de fogo e da CCAÇ 2791 (Jorge Fontinha)

20 de Agosto de 2008 >
Guiné 63/74 - P3142: História de Vida (15): Para que se faça história (Jorge Fontinha)

Guiné 63/74 - P3185: Notícias e fotos de José Maria Gonçalves Dias, ex-Alf Mil (Guiné 1971/73) (Miguel Ribeiro de Almeida)

Em 25 de Novembro de 2020:

Texto e imagens removidas deste poste conforme o solicitado pelo autor dos mesmos em mensagem de 25 de Novembro de 2020 que se reproduz:

De: MRA
Date: quarta, 25/11/2020 à(s) 00:29
Subject: Remoção de fotos/texto
To:


Caro Dr. Luís Graça e co-editores do blogue:
Esperando que se encontrem de saúde, venho por este meio pedir-vos que, por motivos de ordem pessoal, sejam removidos do vosso blogue fotos e texto que eu próprio vos enviei há alguns anos. O link para as fotos/texto é este:
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search?q=gon%C3%A7alves+dias
Agradecendo desde já a vossa compreensão pelo meu pedido, envio-vos os meus melhores cumprimentos, votos de saúde e a continuação do sucesso do vosso blogue - que continuarei a seguir e a apreciar.

Atentamente,
Miguel Ribeiro de Almeida

_________________

Nota de CV

(1) - Vd. postes de

3 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3016: Em busca de... (32): Margarida Dahaba, professora, filha do 2º Sargento Fodé Dahaba (M. Ribeiro de Almeida / J.M. Gonçalves Dias)

de 10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3043: Em busca de ... (33): Memórias do príncipe Abdulai Jamanca, irmão do meu tio Gonçalves Dias (Miguel Ribeiro de Almeida)

de 19 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3074: Tabanca Grande (79): Miguel Ribeiro de Almeida

domingo, 7 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3184: Pensamento do dia (15) : Paz à Nossa Alma (Anónimo)

1. Um nosso camarada, que se assina simplesmente como "1º Cabo Sousa da Formação", deixou o seguinte comentário, anónimo (e sem endereço de e-mail), ao poste do nosso blogue, I Série, de 9 Fevereiro 2006 > Guiné 63/74 - DIX: As baixas da CART 2339 (Mansambo, 1968/69) [Carlos Marques Santos]



Um neto perguntou-me onde tinha eu andado na guerra. Respondi: na Guiné. No Hospital Militar 241. De 1966/68. Esqueci-me de lhe dizer quantos mortos vesti... Eu próprio já não me recordo... Foi há muito tempo. Lembro-me, sim, que queimei a agenda onde tinha tomado nota dos primeiros três meses.. Paz à nossa Alma.

1º Cabo Sousa da Formação.


2. Por sua vez, o nosso camarada Carlos Marques dos Marques, que foi Fur Mil da CART 2339 (Mansambo, 1968/69), deixou este comentário ao poste supracitado:

Este comentário é de Carlos Marques dos Santos, CART 2339 - Mansambo. Caros companheiros: É no mínimo estranho alguém dizer que esteve na Guiné no HM241, afirmando que vestiu muitos mortos e assinar 1.º Cabo Sousa da Formação (CART 2339 ?????).

Efectivamente tivemos um morto, de nome Sousa, 1.º Cabo Enf., em 24 de Julho de 1968. A nossa Companhia esteve na Guiné entre Jan/68 e DEz/69.CMS. No mínimo é estranha esta intervenção anónima. CMS

9/07/2008 7:22 PM

Guiné 63/74 - P3183: Tabanca Grande (85): João Manuel Félix Dias, ex-Fur Mil SAM, CCAV 2539, 2540 e CCAÇ 3, Guiné 1969/71


João Manuel Félix Dias
ex-Fur Mil SAM
CCAV 2539/CCAV 2540/BCAV 2876 e CCAÇ 3
Guiné, 1869/71


1. Mensagem com data de 5 de Setembro de 2008 do nosso novo camarada João Manuel Félix Dias, ex-Fur Mil SAM que pertenceu às CCAV 2539 e 2540/BCAV 2876 e à CCAÇ 3, Guiné 1969/71.

Curriculum Vitae

1968 - RI5 Caldas da Raínha CSM;

1969 - BC8 Elvas, instrutor de 2 recrutas;

1969 - RC3 Formação BCAV 2876;

A 19 de Julho segui no "Uíge" como Furriel Graduado SAM para S. Domingos Sector Ingoré.

Poucos meses (3/4 ?) depois fui substituído e fiquei à ordem do Comando.

A 13 de Novembro de 1969 na estrada de S. Domingos-Susana indo eu na GMC "rebenta-minas" apenas com o condutor Oliveira (Vasculho), próximo de Nhambalã aconteceu que a 3.ª viatura, Unimog, em que seguia o ex-Alf Nelson Gonçalves, do Pel Caç Nat 60, accionou uma mina anti-carro que o feriu gravemente; como consequência sofreu amputação de uma perna e ferimentos em todo o corpo.
Além de outros, foi o acontecimento que mais me marcou durante os dois anos, e que profundamente marcou o meu comportamento desde então. Costumo pensar que se não foi daquela, vai ser difícil ser doutra.

Recordo que Armstrong, Aldrin e Collins a bordo da Apolo 11 chegaram mais rápido e primeiro à Lua, a 21 de Julho, que o 'Uíge' a Bissau, a 24 do mesmo mês.

Transferido para a CCAÇ 3 em 1970.

Regressei a 2 de Agosto de 1971.

Nome: João Manuel Félix Dias
Posto/Espec.: Fur Mil Grad SAM
Unidades: CCAV 2539/2540/BCAV 2876 e CCAÇ 3
Zona: S. Domingos, Canjandi (Ingoré) Binta e Guidage
Comissão: 1969 a Agosto de 1971
Morada: S. Francisco - Alcochete


2. Comentário de CV

Caro Félix Dias

Estás apresentado à tertúlia como julgo seria o teu desejo.

Esperamos que nos contes agora as tuas estórias, que não serão poucas, uma vez que andaste de Unidade em Unidade e de terra em terra pelo Norte da Guiné. Se tiveres fotos, podes ilustrar as estórias que nos mandares, com elas.

Por meu intermédio, recebe um abraço de boas vindas de toda a tertúlia.
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE SETEMBRO DE 2008 > Guiné 63/74 - P3180: Tabanca Grande (84): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil, Guiné, 1968/70

Guiné 63/74 - P3182: Em busca de... (38): Causas da morte do Alf Mil Manuel Sobreiro (Mampatá, 1968) Parte II (José Martins)

Continuação da mensagem do nosso camarada José Martins, ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5 - Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70, de 2 de Setembro de 2008
Assunto: Alferes Sobreiro (1)

Por mim, e em jeito de homenagem, transcrevo o que tenho em arquivo sobre o Batalhão de Artilharia n.º 1896 e as Companhias que o compunham, assim como os militares que deram o máximo que se lhes podia pedir: a própria vida!

Elementos retirados do 7.º e 8.º volumes da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974)

Batalhão de Artilharia n.º 1896

Unidade Mobilizadora: Regimento de Artilharia Pesada 2 (RAP2) – Vila Nova de Gaia

Comandante: Ten Cor Art Celestino da Cunha Rodrigues

2.º Comandante: Maj Art José de Carvalho Pereira

Of Inf Op/Adjunto: Cap Grad Artur Olímpio de Sá Nunes

Cap Art Rui Manuel Viana de Andrade Cardoso

Comandantes de Companhia:

CCS: Cap SGE Manuel Américo David
Cap SGE Joaquim José Garcia
Cap Mil Art Eduardo de Oliveira e Silva
CART 1612 - Cap Art Oliveira Ventura de Mendonça
CART 1613 - Alf Art do QP, graduado em Capitão Fausto Manteigas da Fonseca Ferraz (a)
Cap Art Eurico de Deus Corvacho
CART 1614 - Cap Art Luís João Ferreira Marques Jorge

Divisa: “Bravos e Sempre Leais”

Partida: Embarque em 12 de Novembro de 1966; desembarque em 18 de Novembro de 1966

Regresso: Embarque em 18 de Agosto de 1968

Síntese da Actividade Operacional

Inicialmente ficou colocado em Bissau na situação de reserva do Comando-Chefe, até 29 de Março de 1967, data em que seguiu para Buba, tendo as suas subunidades sido atribuídas em reforço de outros batalhões em quadrícula.

Em 5 de Abril de 1967, rendendo o BCAÇ 1861, assumiu a responsabilidade do Sector S2, com sede em Buba e englobando os subsectores de Sangonhá, Gadamael, Camecande, Guilege, Aldeia Formosa e Buba e ainda uma Companhia em Mejo, até 28 de Maio de 1968, para actuação continuada no corredor do Guilege. Em 9 de Abril de 1968, foi criado o subsector de Gandembel, e, em 12 de Junho de 1968, a sua zona de acção foi reduzida da área de Aldeia Formosa, que foi atribuída à responsabilidade do COSAF [Comando Operacional do Sector de Aldeia Formosa], então criado.

Desenvolveu intensa actividade operacional, exercendo o esforço sobre o corredor do Guilege e região de Forreá, planeando e controlando a execução de continuadas acções de vigilância da fronteira, de intercepção de colunas de reabastecimento e de grupos inimigos, de protecção e segurança de itinerários e ainda de recuperação das populações. Pelos resultados obtidos e pelo esforço desenvolvido e meios utilizados, destacam-se as operações “Bola de Fogo”, “Rembrant”, “Pôr Termo”, “Novo Rumo”, e “Nora”, entre outras.

Dentre o material capturado mais significativo, salienta-se: 2 metralhadoras ligeiras, 2 pistolas metralhadoras, 2 espingardas, 1 lança granadas foguete, 37 minas antipessoal e anticarro e 106 granadas de armas pesadas.

Em 25 de Junho de 1968, foi rendido no sector de Buba pelo BCAÇ 2834, recolhendo a Bissau, a fim de aguardar embarque de regresso.

A CART 1612 seguiu em 13 de Dezembro de 1966 para Bissorã, a fim de efectuar a segurança protecção dos trabalhos de reabertura do itinerário Bissorã-Bula, ficando na situação de reforço do BCAÇ 790 e depois do BCAÇ 1876, tendo ainda efectuado diversas operações nas regiões de Insumeté, Insantaque e Iusse, entre outras.

Após substituição em Bissorã, pela CART 1746, rendeu, em 27 de Julho de 1967, a CCAÇ 1488 na função de intervenção e reserva do sector do seu batalhão, instalando-se em Buba, sendo empenhada em diversas operações nas regiões de Nhala, Darsalame e Buba Tombo, entre outras e destacado ainda, por períodos variáveis, pelotões para reforço temporário de outras subunidades do sector.

Em 18 de Novembro de 1967, por rotação com a CCAÇ 1591, assumiu a responsabilidade do subsector de Aldeia Formosa, no mesmo sector, tendo destacado pelotões para instalação, por períodos variados, em Colibuia, Chamarra e Porto Balana.

Em 13 de Julho de 1968, foi substituída no subsector de Aldeia Formosa pela CCAÇ 2382 e recolheu a Bissau, onde permaneceu na situação de reserva de Comando-Chefe até ao embarque de regresso.

* * *

A CART 1613 seguiu em 3 de Dezembro de 1966 para a região de S. João, onde permaneceu até 15 de Janeiro de 1967, a fim de efectuar uma instrução de adaptação operacional sob orientação do BCAÇ 1860 e tomar parte em operações realizadas naquela área.

Em 2 de Fevereiro de 1967, seguiu para Teixeira Pinto, tendo sido atribuída em reforço do BCAV 1905, instalando-se, de 8 a 13 de Fevereiro de 1967, em Jolmete com vista à realização de uma operação naquela zona de acção, após o que recolheu a Bissau; em 5 de Março de 1967, seguiu novamente para o sector do BCAV 1905 a fim de efectuar operações na região do Jol, até 28 de Maio de 1967.

Em 30 de Abril de 1967, seguiu para Buba, a fim de reforçar o dispositivo do seu batalhão com vista à intensificação do esforça da região do Forreá e actuar sobre a linha de infiltração do Guilege, com um pelotão destacado em Cumbijã, em reforço da guarnição local; em 2 de Maio de 1967, mantendo o pelotão em Cumbijã, foi instalada em Colibuia, dentro da mesma missão anterior e onde substituiu um pelotão da CCAÇ 1622.

Em 30 de Junho de 1967, foi transferida para Guilege, para onde já se deslocara o pelotão de Cumbijã, em 17 de Junho de 1967, rendendo naquele subsector a CCAÇ 1477; em 13 e 28 de Maio de 1968, após substituição da CCAÇ 2316, foi transferida para Buba, a fim de colmatar a saída anterior da CCAÇ 1591 na missão de subunidade de intervenção e reserva do sector e destacando um pelotão para guarnecer Nhala.

Em 14 de Julho de 1968, vindo a ser substituída mais tarde pela CCAÇ 2381, seguiu para Bissau, onde colaborou na segurança e protecção das instalações e das populações da área, em reforço dos efectivos da BCAÇ 2834 até ao seu embarque de regresso.

* * *

A CART 1614 seguiu em 9 de Dezembro de 1966 para Bula, onde permaneceu até 15 de Janeiro de 1967, a fim de efectuar uma instrução de adaptação operacional sob orientação do BCAV 790 e tomar parte em operações nas regiões de Ponta Ponate, Encherte e Choquemone.

Em 27 de Janeiro de 1967, seguiu para Ingoré a fim de reforçar o BCAÇ 1894 e realizar uma operação na região de Sano, após o que recolheu a Bissau em 31 de Janeiro de 1967; em 19 de Fevereiro de 1967, reforçou o BCAV 1897 em operação realizada ena região de Changalana até 25 de Fevereiro de 1967.

Em 30 de Maio de 1967, foi deslocada para Cabedú, a fim de assumir a responsabilidade do respectivo subsector, em substituição da CCAÇ 1427, ficando integrada no dispositivo de manobra da BART 1913.

Em 6 de Janeiro de 1968, foi substituída, transitoriamente, pela CART 1689 até à chegada da CCAÇ 1788, tendo seguido para o subsector de Nhacra, com destacamentos em Safim e Dugal, a fim de render a CART 1648 no dispositivo de manobra do BART 1904 e depois do BCAÇ 2834 e ainda do BART 1911.

Em 2 de Agosto de 1968, após ser substituída no subsector de Nhacra pela CART 1682, recolheu a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

Mortos em Campanha

CCS


JOÃO GOMES, Soldado Atirador com o NM 82120664, pertencente ao recrutamento da província e colocado no BART 1896, mobilizado no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era casado com Clara Gomes, filho de Vicente Gomes e Clara Gomes, sendo natural da freguesia de Calequissé e concelho de Cacheus.
Vítima de acidente (outros motivos) ocorrido em Buba quando transportava um garrafão de água destilada, ferindo-se com os cacos de vidro, faleceu em 16 de Junho de 1967 no Hospital Militar 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério Bissau.

MALAN BALDÉ, Soldado Atirador com o NM 82097364, pertencente ao recrutamento da província e colocado no BART 1896, mobilizado no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era casado com Taco Ainé, filho de Nhaco Balde e Sali Só, sendo natural de lugar de Tumaná de Cima, freguesia de Santa Isabel e concelho de Gabú.
Vítima de acidente com arma de fogo ocorrido em Buba entre as tabancas de Mampantá e Uame, faleceu em 04 de Fevereiro de 1968 no Hospital Militar Principal em Lisboa. Foi inumado no Cemitério do Alto de São João em Lisboa.

ANTÓNIO PEREIRA NUNES, 1.º Cabo Escriturário com o NM 18370666, pertencente ao BART 1896, mobilizado no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de António Nunes Brito e Aldina Pereira Antunes, sendo natural da freguesia de Pinheiro de Coja e concelho de Tábua.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido em Buba no ataque ao aquartelamento em 11 de Maio de 1968, faleceu em 12 de Maio de 1968 no Hospital Militar 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Pinheiro da Coja.

CART 1612

MANUEL DE JESUS VIGÁRIO, Soldado Atirador com o NM 05351166, pertencente à CART 1612/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de Álvaro Batista e Matia de Jesus Vigário, sendo natural da freguesia de Guiães e concelho de Vila Real.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido no itinerário de Nhacobá - Cumbijã, faleceu em 01 de Dezembro de 1967. Foi inumado no Cemitério de Guiães.

MANUEL DE JESUS RODRIGUES SOBREIRO, Alf Mil Art com o NM 0022363, pertencente à CART 1612/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de Manuel Rodrigues Sobreiro e Maria de Jesus, sendo natural da freguesia de Souto da Carpalhosa e concelho de Leiria.
Vítima de acidente com arma de fogo ocorrido em Liroiel na verificação de uma armadilha das NT, faleceu em 24 de Fevereiro de 1968. Foi inumado no Cemitério de Souto da Carpalhosa.

EDUARDO GUILHERME TEIXEIRA MONTEIRO, Alf Mil Art com o NM 08979964, pertencente à CART 1612/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de Eduardo António Monteiro e Maria Julieta Monteiro, sendo natural da freguesia de Longonjo e concelho de Caala - Angola.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido no itinerário de Aldeia Formosa – Guileje motivado por fornilho activado por tracção, faleceu em 15 de Maio de 1968. O corpo não foi recuperado.

APARICIO DE SOUSA MIRANDA, Sol Apont Met com o NM 9203866, pertencente à CART 1612/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de Mário Miranda e Maria de Jesus Sousa, sendo natural da freguesia de Maximinos e concelho de Braga.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido pelo rebentamento de mina anticarro seguida de emboscada na estrada de Mampatá – Uare , faleceu em 20 de Maio de 1968. Foi inumado no Cemitério Municipal de Braga.

JOÃO ANTÓNIO MACEDO DA ROCHA, Sold At com o NM 05222566, pertencente à CART 1612/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de Augusto Rocha e Preciosa Alves Macedo, sendo natural da freguesia de S. Pedro e concelho de Vila Real.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido pelo rebentamento de mina anticarro seguida de emboscada na estrada de Mampatá – Uare , faleceu em 20 de Maio de 1968. Foi inumado no Cemitério de Santa Iria – Vila Real.

MÁRIO GONÇALVES MACHADO, Sold At com o NM 4950766, pertencente à CART 1612/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de Manuel Joaquim Gonçalves e Celeste Gonçalves Fontes, sendo natural de lugar de Macieira, freguesia de Limões e concelho de Ribeira de Pena.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido pelo rebentamento de mina anticarro seguida de emboscada na estrada de Mampatá – Uare , faleceu em 20 de Maio de 1968. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Macieira.

UMARU JULDÉ DJALÓ, Sold At com o NM 82060167, pertencente à CART 1612/BART 1896, mobilizado no CTIG.
Era solteiro, filho de Mamajam Djaló e Achatu Djaló, sendo natural de lugar de Bedanda, freguesia de Nossa Senhora de Fátima e concelho de Catió.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido pelo rebentamento de mina anticarro seguida de emboscada na estrada de Mampatá – Uare , faleceu em 20 de Maio de 1968. Foi inumado no Cemitério de Aldeia Formosa - Guiné.

CART 1613

FAUSTO MANTEIGAS DE FONSECA FERRAZ, Cap Mil Art com o NM 1036/C, pertencente à CART 1613/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era casado com Maria Fernanda Ferreira da Costa, filho de Manuel Fonseca Ferraz e Ana Rosa Manteigas, sendo natural da freguesia de Pousofoles e concelho de Sabugal.
Vítima de acidente com arma de fogo ocorrido no aquartelamento de S. João - Cachil, faleceu em 24 de Dezembro de 1966 no Hospital Militar 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério da Conchada em Coimbra.

ANTÓNIO DE SOUSA OLIVEIRA, Sold At com o NM 6399965, pertencente à CART 1613/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de Casimiro Lopes Oliveira e Delfina Sousa, sendo natural de lugar da freguesia de Ribas e concelho de Celorico de Basto.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido em Guileje na lala do rio Tenheje, faleceu em 28 de Dezembro de 1967. Foi inumado no Cemitério de Vale do Douro em Celorico de Basto.

NUNO DA COSTA TAVARES MACHADO, Alf Mil Art com o NM 07349365, pertencente à CART 1613/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de Deolindo de Sousa Machado e Alzira Assis Teixeira da Costa Tavares Machado, sendo natural da freguesia de Sé Nova e concelho de Coimbra.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido em Guileje na lala do rio Tenheje, faleceu em 28 de Dezembro de 1967. Foi inumado no Cemitério de Agramonte no Porto

SEBASTIÃO DA COSTA DIONISIO, Fur Mil At com o NM 03686865, pertencente ao Pel Caç Nati 51 do CTIG, mobilizado na metrópole e adido à CART 1613/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de Vítor Dionísio e Maria da Glória da Costa, sendo natural da freguesia de São Vicente e concelho de Braga.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido no itinerário entre Guileje e Gandembel, faleceu em 11 de Abril de 1968. Foi inumado no Cemitério Municipal de Braga.

JOSÉ AUGUSTO DA SILVA LEAL, 1.º Cabo Ati com o NM 8915866, pertencente à CART 1613/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de Armindo Ferreira Leal e Margarida Caetano da Silva, sendo natural da freguesia de Vandoma e concelho de Paredes.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido em Guileje, faleceu em 24 de Abril de 1968 no Hospital Militar 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Vandoma.

FERNANDO BOTELHO, Soldado Atirador com o NM 06671166, pertencente à CART 1613/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era casado com Maria Isabel Pinto, filho de José Botelho e Laurindo da Conceição, sendo natural da freguesia de Gestaçô e concelho de Baião.
Vítima de acidente ocorrido por afogamento no rio Grande de Bula, faleceu em 26 de Junho de 1968 em Bula. Foi inumado no Cemitério Paroquial de Tresoura em Baião.

CART 1614

ILIDIO RODRIGUES GOMES, Sol Apont Met com o NM 8969966, pertencente à CART 1614/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de António Fernandes Gomes e Glória Rodrigues, sendo natural de lugar de Quintães, freguesia de Padroso e concelho de Arcos de Valdevez.
Vítima de ferimentos recebidos em combate ocorrido na protecção à abertura de uma picada, faleceu em 01 de Março de 1967 no Hospital Militar 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério Padroso.

FRANCISCO FILIPE DOS SANTOS ENCARNAÇÃO, Fur Mil At com o NM 3590064, pertencente à CART 1614/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era casado com Maria Isabel de Jesus Rodrigues da Conceição, filho de Joaquim dos Santos Encarnação d Maria José Filipe dos Santos Encarnação, sendo natural da freguesia de Salvador e concelho de Beja.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido na operação “Nora”, faleceu em 06 de Março de 1967 no Hospital Militar 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério de Rio de Mouro, Sintra.

REBE CUMATCHA, Sold At com o NM 82008461, pertencente à CART 1614/BART 1896, mobilizado no CTIG.
Era solteiro, filho de Nhanque Chalá e Iaca Quombancha, sendo natural de lugar da freguesia de Mansoa e concelho de Bissorã.
Vítima de ferimentos em combate ocorrido no accionamento de uma mina antipessoal em Cabedú, na estrada depois do aquartelamento, faleceu em 03 de Maio de 1967 no Hospital Militar 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério de Bissau na Guiné.

TOMÉ SOARES DA GAMA, 1.º Cabo At com o NM 82067566, pertencente à CART 1614/BART 1896, mobilizado no CTIG.
Era solteiro, filho de Francisco Soares da Gama e Juliana Lopes Crato, sendo natural da freguesia de Nossa Senhora da Candelária e concelho de Bissau.
Vítima de acidente de viação ocorrido no transporte de água, faleceu em 04 de Fevereiro de 1968 no Hospital Militar 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério Bissau - Guiné.

FORTUNATO DA SILVA GONÇALVES, Sold Cond Auto/Trms com o NM 00261366, pertencente à CART 1614/BART 1896, mobilizada no RAP2 – Vila Nova de Gaia.
Era solteiro, filho de António José Gonçalves e Maria da Silva Azevedo, sendo natural de lugar de Carreira Chã, freguesia de Santa Eulália de Barrosas e concelho de Lousada.
Vítima de acidente de viação ocorrido em 8 de Maio de 1968 a 5Km de Safim, vindo a falecer em 10 de Maio de 1968 no Hospital Militar 241 em Bissau. Foi inumado no Cemitério de Santa Eulália de Barrosas.

José Martins
2 de Setembro de 2008

Comentário de CV

Não podemos deixar de agradecer ao nosso camarada José Martins o seu trabalho de pesquisa e compilação dos dados recolhidos, tornando-os acessíveis a toda a gente.

A par deste trabalho, desenvolve outros, quase no anonimato, que são de muita utilidade para o nosso Blogue e para quem, como é exemplo o caso vertente, procura descobrir elementos relacionados com militares seus familiares.
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(a) - Em tempo

Alterado de acordo com o comentário neste próprio poste, feito pelo senhor Coronel Morais Silva

FAUSTO MANTEIGAS DE FONSECA FERRAZ, Cap Mil Art

Corrija-se para Alferes do QP de Artilharia, graduado em Capitão.
Frequentou a AM como capitão miliciano associado ao meu curso que terminou no final de 1966, data em que partimos para África.
Um camarada amigo a quem a sorte não sorriu.

Cumprimentos
Morais Silva
Coronel
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Nota de CV

Vd. poste de 5 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3174: Em busca de... (38): Causas da morte do Alf Mil Manuel Sobreiro (Mampatá, 1968) I Parte (José Martins)

Guiné 63/74 - P3181: História de vida (16): A falsa Mariama, mandinga de Bambadinca, a sua filha, e o seu amigo... (Alberto Nascimento)

1. Texto enviado em 6 de Setembro, pelo Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63) (1):

Amigo Luís Graça:

Esta história faz parte de várias que apenas se destinam às minhas recordações e, por ser pessoal, nunca tive a intenção de a enviar. A leitura do caso da Cadi e do seu filho (2) fez-me mudar de ideia e associar as possíveis dificuldades vividas pela Mariama e a filha ao longo de todos estes anos, se é que conseguiram resistir...

Não sei se cabem, nas regras da publicação dos postes, algumas observações que faço, mas, embora comedidamente, tinha que as fazer. É o único contributo que me é possível dar face a tanta insensibilidade dos governos da Guiné.

Se entenderes que pode ser publicado, força. Se não, também estás à vontade.

Um Alfa Bravo,

Alberto


2. Mariama,
por Alberto Nascimento


Fim de Novembro ou princípio de Dezembro de 1962, após o destacamento em Piche, primeiros dias em Bambadinca.

Nova terra, novas gentes e, à noite, as visitas à tabanca para os contactos com a população com quem sempre me senti à vontade nas diversas povoações onde estive destacado. De uma das moranças à entrada da tabanca veio um boa noite, que me fez aproximar. Eram duas mulheres ainda jovens com quem acabei por ficar a falar no meu péssimo crioulo. Uma delas foi acudir ao choro de uma criança no interior da casa.

Perguntei o nome à que ficou:
- Mariama... e tu?

Atirei com um nome que sabia que ela não aceitava como verdadeiro.
- Sou Mamadu Baldé - Rimos-nos, falou-me da origem do nome Mamadu e eu acabei por lhe dizer o meu nome verdadeiro.


Guiné > Zona Leste > Bambadinca > CCAÇ 84 (1961/63) > O Sold Cond Auto Alberto Nascimento, em convívio com a população mandinga de Bambadinca.
Foto: © Alberto Nascimento (2008). Direitos reservados.


Passei no dia seguinte pela casa e vi-a acompanhada por uma menina com cerca de um ano, sua filha, e tive oportunidade de ver que a Mariama era uma mulher bonita, fora do comum, mesmo na sua etnia, a Mandinga, cujas mulheres em geral são bonitas.

Passei a parar para a cumprimentar quando ia à aldeia onde já tinha feito amigos e algumas vezes demorei mais a conversar com ela e a brincar com a pequenita que rapidamente se afeiçoou a mim, tanto como eu a ela, depois poucas vezes passei da casa dela onde ficávamos a conversar sobre os costumes da sua etnia, costumes de que ela discordava em algumas práticas, e no que tinha o meu total apoio.

Um dia surpreendeu-me ao dizer com ar comprometido que não se chamava Mariama, que dava este nome a pessoas que não conhecia e com quem não queria muita confiança. Disse-me o nome verdadeiro. Falou da sua vida, do seu casamento contratado pelo pai com um indivíduo que nem sequer era guineense. Mais tarde o marido resolvera voltar para o seu país mas ela, alegando ter de tratar do pai já muito doente, recusou-se a acompanhá-lo. Preocupava-a a atitude que ia ter o irmão que, após a morte do pai, podia, se houvesse outro pretendente, voltar a “vendê-la”.

Foi uma amizade que me ajudou a alhear do que se passava na outra vida a que era obrigado, a das normas militares, das fardas, das armas, da violência que começava a desenhar-se e já se previa para um futuro próximo e do valor ideológico que me mandara para a Guiné.

Os dias passavam lentos na contagem decrescente para o regresso à metrópole e as nossas conversas convergiam sempre para o futuro. Parecia adivinhar que os dias de calma que vivera desde criança tinham acabado e se avizinhavam tempos difíceis, mas ainda estava longe, tal como eu, do que seria a realidade.

Soubera, do muito comentado entre a população, caso do padre Grillo (3), e tinha ouvido falar do que se passara em Samba Silate, em Poindom e também se apercebera dos prisioneiros que os militares tinham feito nestas povoações, sem uma única crítica, somente uma grande preocupação pela segurança e futuro da filha, e sem deixar transparecer simpatia por qualquer das partes já em conflito, ou eu não quis ou não consegui entender...

Alguns dias antes da partida de Bambadinca para Bissau, a Mariama disse-me que tivera conhecimento que um rapaz de quem era amiga, e já não via há bastante tempo, estava preso em Bafatá “por ser contra os brancos”. Pediu-me que se parasse em Bafatá falasse com ele para lhe dar cumprimentos. Não sabia se era possível ter acesso à zona onde estavam os prisioneiros, mas prometi que faria o possível.

No dia da partida fizemos realmente uma paragem em Bafatá e um camarada indicou-me a prisão e até me elucidou, julgo que com verdade, sobre o destino dos presos que tinham um trapo atado ao pescoço, a marca dos que foram considerados mais activos nas acções contra colonialismo e, por conseguinte, sujeitos a maior pressão nos interrogatórios, que podiam determinar o seu fim.

Frente à grade da cela, como não o conhecia, pronunciei o seu nome. Aproximou-se e transmiti-lhe o recado que ouviu com um sorriso e agradeceu. Ele tinha o trapo no pescoço.

Afastei-me e tomámos o caminho de Bissau.

Sentia uma sensação de alívio, não por ter dado o recado, mas por saber que não voltava a Bambadinca e assim não tinha que, olhos nos olhos, dar tão má notícia à Mariama, ou ocultá-la, o que não me faria sentir melhor.

Se ao tal rapaz aconteceu o pior, tal como o camarada de Bafatá havia dito, talvez a Mariama tenha tomado partido.

Ainda trocámos uma carta alguns meses depois da minha chegada a Lisboa, depois, com as alterações que a guerra deve ter provocado na vida daquela povoação e daquela gente, preferi, sem nunca esquecer estas duas amigas nem o tempo passado em Bambadinca, guardar a recordação num daqueles arquivos que todos temos na mente, para só serem consultados em certos momentos.

Este foi o momento.

Escrevi esta história há bastante tempo, mas sempre tive dúvidas do interesse que teria para o blogue, dado relatar uma situação muito pessoal, e certamente por essa razão, nunca a enviaria.

A leitura do poste 3167 – Morreu o Nuninho da Cadi, de paludismo, de abandono (2) – e as palavras dedicadas pelo Luís Graça aos amigos da Cadi, tocaram-me profundamente e mais uma vez dei comigo a pensar na Mariama, na sua filha e nas muitas mulheres e crianças que vão sobrevivendo na Guiné.

Se a guerra as poupou, será que a Mariama conseguiu vencer as muitas doenças que afectam os guineenses e contra as quais só podem contar com o apoio de algumas ONG e instituições religiosas? Será que tem a “sorte” de se encontrar no grupo dos 3% da população que consegue viver mais de 65 anos? A filha terá conseguido chegar à idade adulta ou aconteceu-lhe o mesmo que ao Nuninho?

Perguntas que doem e não se justificariam se os diversos governantes que dirigiram o destino da Guiné desde a independência tivessem como principal preocupação o seu povo, se fossem honestamente e bem geridas as verbas cedidas ao abrigo de acordos de cooperação com a Suécia, Dinamarca, Alemanha, França, Portugal e outros países, verbas destinadas a manter activa a assistência à saúde (paludismo, sono, cegueira da mosca, lepra, etc.), mas que nunca eram utilizadas totalmente para esse fim, sendo em alguns casos simplesmente desperdiçadas, talvez porque era dinheiro que não custava a ganhar.

Como diz o Luís Graça, a “Cadi vai lutar por um país, que sonhou e por que lutou o seu pai. Não tens outro jeito, Cadi”.

A minha solidariedade para com a Cadi e as muitas Cadis da Guiné.

O meu lamento pelo destino do Nuninho e de todos os Nuninhos, diariamente vítimas da insensibilidade e ganância dos adultos que dirigiram e dirigem o destino do povo guineense e não perceberam ainda que as crianças que hoje deixam morrer, seriam o futuro da Guiné. Os governantes de hoje já estão a perder o país de amanhã, a não ser que pretendam que a futura população da Guiné seja no futuro constituída pelos seus descendentes, aqueles que, pelo estatuto dos pais, tiveram direito a tudo o que os outros não tiveram.

Alberto Nascimento
3. Comentário de L.G.:
Decidiste em consciência, e decidiste bem. Podias levar esta história para a cova contigo, quando chegasse a tua vez (que dobres pelo menos o cabo da centena, são os votos que eu te faço...). Mas, não. Quiseste, finalmente, partilhá-lha com os camaradas e amigos da Guiné e os demais leitores do nosso blogue. Fico sensibilizado e agradeço-te.
A nossa história está intrinsecamente ligada à história dos homens e das mulheres da Guiné do nosso tempo, qualquer que tenha sido a sua posição e o seu papel durante os anos da guerra colonial (ou de luta de libertação, na terminologia nacionalista do partido fundado e liderado por Amílcar Cabral). Obrigado também pela solidariedade e sensibilidade. Espero que, a pouco e pouco, o dique da tua resistência ou relutância em falar destas coisas mais pessoais ou intimistas, se já desvanecendo...
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Notas de L.G.:

(1) Vd. postes de:

10 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3044: Estórias avulsas (16): Os cães de Bambadinca (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)

14 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3059: Memórias dos lugares ( 9): Bambadinca , 1963 (Alberto Nascimento, CCAÇ 84, 1961/63)
(2) Sobre o caso da Cadi, vd. postes de:
3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3167: Ser solidário (19): Morreu o Nuninho, da Cadi. De paludismo. De abandono (Luís Graça)
3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3168: Ser solidário (20): Bissau: O triste caso da Cadi e a ajuda extraordinária do Tino, que trabalha na AD (Nuno Rubim)
(3) Vd. poste de 11 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2930: Bambadinca, 1963: Terror em Samba Silate e Poindom (Alberto Nascimento, ex-Sold Cond Auto, CCAÇ 84, 1961/63