sábado, 7 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13254: Bom ou mau tempo na bolanha (59): O Alferes Miliciano Bobone (Tony Borié)

Quinquagésimo nono episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Eu estava bastante triste, tinha acabado de chorar, possivelmente usei aquele lenço branco, de pano cru, igual às duas toalhas do mesmo pano que nos foram distribuídas e faziam parte do nosso “espólio”.
Com o desespero devia ter tossido, cuspido no chão, talvez pensando que com esse gesto limpava a garganta e aliviava a dor da despedida de Portugal, da família, dos “primos de Lisboa”, que “banhados em lágrimas”, estavam lá e subiram comigo a bordo do navio “Ana Mafalda”.

Ninguém reparava em mim, quase todos os presentes só tinham “olhos” para os seus familiares, era um jovem e ninguém falava em meu favor, não havia as televisões ou os jornais, procurando notícias sensacionais para abrirem os noticiários, éramos um “monte” de militares que devíamos ir unidos, mas naquele momento éramos um “monte” de pequenos grupos, abraçados, cabeça baixa, porque se a levantássemos podíamos ver algumas pessoas, cá em baixo no cais, com os tais lenços ou farrapos brancos, acenando, despedindo-se, destes militares que iam para África.


Naquela altura penso também que a minha mente devia de ter ficado bloqueada ao ouvir o apito do navio a dar o sinal para os familiares o abandonarem. Eu não sabia nada do que ia ser a minha experiência na então província da Guiné, só sabia que ia para lá. A sensação de aventura, que quase todos nós sentíamos quando íamos para a guerra em África, só isso e mais nada, nos dava alguma força para lutar, pois ninguém ama a guerra, todos nós a odiamos.

Hoje, cinquenta anos depois, sinto algum orgulho da coragem de um jovem que eu era, pois quando servimos a nação e, essa nação tem problemas, nós como cidadãos somos vistos como parte desse mesmo problema, e também sinto alguma fúria e tristeza, se por acaso pratiquei alguma acção menos digna, daquelas, que em cenário de guerra, aparecem com muita frequência.


Companheiros, em cima dizia eu, “subiram comigo a bordo do navio Ana Mafalda”. É uma coisa um pouco estranha, civis a bordo, a despedirem-se dos militares. Pois é verdade, isso aconteceu. O causador desse momento invulgar, que devia fazer parte da história da guerra colonial, foi um companheiro do meu Agrupamento 16, o único que consegui “descobrir”, nas minhas constantes buscas, “o meu alferes Bobone”, que hoje com muita simpatia trato por Alexandre, que na altura não gostava que lhe prestassem a respectiva saudação e, como militar mais graduado era o comandante militar do navio, transformado durante aqueles cinco ou seis dias em “base militar”, era mais um companheiro, viajou connosco. Muito cedo começou a ganhar a simpatia e respeito de todos os militares, pois era simples no trato, comunicativo e frontal. Desembarcámos em Bissau, esteve connosco, primeiro num acampamento junto ao porto de desembarque, agregados a uma companhia de infantaria, portanto militares de acção, tal como quase todos nós, foi picado pelos mosquitos, dormiu em barracas, calcou a lama do acampamento, bebeu aquela água turva e quente e, como quase todos nós sabemos, naquela parte de África, a humidade e o calor nos primeiros dias “matavam”!.


Já aquartelados em Mansoa, onde a princípio, os militares usavam um edifício que diziam que era uma antiga missão de padres de uma congregação francesa, passado uns tempos, já com o aquartelamento em construção, a sua esposa veio juntar-se a ele. Era uma “lufada de ar fresco” que veio para aquela vila, onde não havia nenhuma senhora europeia. Também ouviu os tiros e rebentamentos na altura dos ataques ao aquartelamento, esteve sujeita à ementa do “arroz e peixe da bolanha”, vinham refugiar-se nos abrigos que se iam construindo, etc.
Quando o alferes Bobone foi de férias a Portugal, visitou a família dos militares que estavam sob o seu comando, levou um filme, com imagens a preto e branco, com os familiares a falarem, a rirem-se ou chorarem, a casa onde nasceram, a vila ou aldeia, com a placa de sinalização da localidade de onde eram oriundos. Nas circunstâncias em que vivíamos, valia mais aquelas imagens, do que toda a “fortuna do mundo” e, talvez sem o imaginarem, com estes gestos simples, ajudaram e motivaram mais os militares do que todas as medalhas ou louvores que eram frequentes em cenário de guerra.


Com muita alegria, hoje, passados cinquenta anos, trocamos frequentes mensagens, e um dia destes ao abrir o computador veio esta, a lembrar aquele dia que nos vai acompanhar pelo resto da nossa vida.

Faz hoje (dia 23 de Maio de 2014) 50 anos que, no “Ana Mafalda”, partimos para a Guiné Portuguesa. 
E o mais curioso é ter sido eu (um simples Alferes Miliciano de 21 anos), por - imagine-se - ser o mais graduado, ter ficado como responsável militar pelo navio, então “transformado” em base militar. 
E o ainda mais curioso, porque julgo ter sido caso único em todos os embarques para o Ultramar, foi a permissão, graças à minha posição de responsável militar e ao meu sogro (Oficial da Marinha), para que todos os membros familiares dos militares que iam partir em missão de soberania, terem podido entrar no navio e despedirem-se, in loco, de cada um de nós.


E esta, hem!!!
E agora digam lá, não é no mínimo saudável, ouvir estas palavras, hoje, passados cinquenta anos!

Maio de 2014.
Tony Borie
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Nota do editor

Último poste da série de 31 DE MAIO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13219: Bom ou mau tempo na bolanha (58): Las Vegas, Las Vegas (2) (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P13253: Documentos (28): PAIGC Actualités (António Barbosa) (2): O nº 56, de Dezembro de 1973, dedicado à admissão da Guiné como 42º Estado Membro da O.U.A.


 1. O nosso Camarada António Barbosa (ex-Alf Mil Op Esp/RANGER do 1º Pelotão da 2.ª CART do BART 6523, Cabuca, 1973/74, enviou-nos a seguinte mensagem:


Camaradas,

No meu arquivo particular tenho alguns documentos propagandísticos do PAIGC que haviam sido apreendidos pela PIDE, em Cabuca (cadernos e panfletos), e iam ficar abandonados no quartel em 1974, aquando da nossa saída definitiva daquele território.

Hoje envio-vos a segunda digitalização referente ao panfleto PAIGC actualités nº 56, datado de Dezembro de 1973, dedicado à admissão da Guiné como 42º Estado Membro da O.U.A. 

Brevemente enviarei mais algumas digitalizações para publicação, enquanto pensar ser interessante para o blogue este tipo de “material”. 





Cumprimentos
António Barbosa
Alf Mil Op Esp/RANGER do 1º Pel. da 2ª CART/BART 6523.

Imagens: © António Barbosa (2013). Direitos reservados.
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2010). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: 

Guiné 63/74 - P13252: E as Nossas Palmas Vão para... (7): José Carmino Azevedo, autarca de Vila Frechoso, Vila Flor, que quis doar à Tabanca Grande 0,5% do seu IRS de 2013... Que gesto magnânimo!!!... Infelizmente não temos estatuto jurídico...nem sequer número de identificação fiscal (NIF) e, como tal, não existimos face ao Estado Português...




Página da junta de freguesia de Vale Frechoso, concelho de Vila Flor, distrito de Vila Real... O presidente da junta de freguesia é o nosso camarada, membro da Tabanca Grande desde 2009, José Carmino Videira Azevedo. (*)


1. Telefonou-me, em 20 de maio último, o nosso grã-tabanqueiro José Carmino Azevedo que, antes de ser autarca, foi soldado condutor auto rodas da CCAV 2487 / BCAV 2868 (Bula, 1969/71).

Em 28 de junho vai haver o convívio do BCAV 2868 que esteve em Bula (1969/71), evento esse que fica aqui registado para divulgação. Pedi ao nosso camarada que nos mandasse o programa do encontro para a divulgação.

Mas o motivo do telefonema não foi esse: o nosso camarada queria saber o NIF (nº fiscal) da Tabanca Grande. Ía apresentar a declaração de IRS 2013 e queria preencher o quadro 9 do Anexo H, com o nome e o NIF da Tabanca...

Fiquei  muito sensibilizado com o seu gesto (**), mas disse-lhe que, feliz ou infelizmente, a Tabanca Grande não é uma "Instituições Particular de Solidariedade Social (IPSS)" ou uma "Pessoa Coletiva de Utilidade Pública", não tendo por isso NIF nem sendo elegível para efeitos deste benefício fiscal. Mas transmito-lhe em nome de toda a Tabanca Grande o nosso apreço pela sua generosidade e camaradagem.

Com muita pena, e assim sendo, o nosso camarada iria voltar a entregar os 0,5 do seu IRS à Liga dos Combatentes... Sugeria-lhe outras instituições ligadas aos ex-combatentes como a APOIAR.

Também me disse que desta vez não viria ao nosso IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, no dia 14, mas que mandava um alfabravo a todos os participantes. (Ele esteve connosco, pelo menos uma vez, no V Encontro Nacional, em 2010, em Monte Real). Fica aqui o convite dele para o visitarmos em Vale Rechoso, Vila Flor, terra de que ele tem muito orgulho mas que fica "longe do mundo"... Lembrei-lhe que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande, mesmo que a senhora ministra das finanças nunca tenha ouvido falar em nós... (LG)



Foto de José Carmino Azevedo na  bolanha de Biombo
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Notas do editor


(...) Participei na [Op]  Ostra Amarga, Operação onde estava presente a televisão Francesa, convivi de perto com os malogrados Capela e Henrique e, presenciei a infeliz ideia do Spínola de mandar para a morte os Majores Passos Ramos, Pereira da Silva, Osório, Alferes Mosca e os nativos Mamadu Sisse e Carlos Patrão.

Fui incumbido de fazer o transporte de géneros para abastecer PCA do Batalhão. Fiz o percurso Bula/Bissau/Bula, atravessei varias vezes o rio Mansoa, onde caiu o helicóptero que transportava deputado[s] à ex-Assembleia Nacional, Pinto Leite, se bem me lembro, {e outros]..

Quando estive na guerra colonial, cheguei a João Landim num dia de muito calor. Como tinha que esperar para encher a jangada, disse ao marinheiro, que era preto, que ia mergulhar para refrescar. Estavam quase 60 graus ao sol e ali não havia sombra. Quando mergulhei nas águas do Mansoa, o marinheira bateu a colatra da arma. Fiquei assustado, saí e perguntei o porquê daquela atitude, mas ele não me respondeu. No dia seguinte, quando atravessei o rio, o marinheiro chamou-me e disse:
- Vês o porquê da minha atitude? Ontem estava ali um jacaré bébé que pesava cerca de 80 quilos.

Obrigado, meu amigo, onde quer que estejas. (...)

Guiné 63/74 - P13251: IX Encontro Nacional da Tabanca Grande (15): no final de ontem, 6ª feira, tínhamos 121 inscritos: 89% provenientes de distritos do litoral, 2/3 são camaradas (n=80), 41% dos quais vêm acompanhados... As inscrições terminam 2ª feira, dia 9, às 11h





Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)


Lista dos inscritos no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, ao fim da tarde de ontem,  6ª feira [Observ.: Miguel e Giselda Pessoa são um casal, o único de camaradas]:

  1. Agostinho Gaspar (Leiria) 
  2. Alcídio Marinho e Rosa (Porto) 
  3. Almiro Gonçalves e Amélia (Vieira de Leiria / Marinha Grande) 
  4. António Faneco e Tina (Montijo / Setúbal) 
  5. António Fernando Marques e Gina (Cascais) 
  6. Antonio Garcez Costa /Lisboa() 
  7. António José Pereira da Costa e Isabel (Mem Martins / Sintra) 
  8. António Manuel Sucena Rodrigues + Rosa Pato, António e Ana Brandão (Oliveira do Bairo) 
  9. António Maria Silva (Cacém / Sintra) 
  10. António Martins de Matos (Lisboa) 
  11. António Rebelo (Massamá / Lisboa) 
  12. António Sampaio & Clara (Leça da Palmeira / Matosinhos) 
  13. António Santos, Graciela & mais 7 do clã (Caneças / Odivelas) 
  14. António Sousa Bonito (Carapinheira / Montemor-o-Velho) 
  15. Arlindo Farinha (Alvaiazzre) 
  16. Armando Pires (Algés / Oeiras) 
  17. Arménio Santos (Lisboa) 
  18. Augusto Pacheco (Maia) 
  19. C. Martins (Penamacor) 
  20. Carlos Alberto Pinto e Maria Rosa (Reboleira / Amadora) 
  21. Carlos Coropos e Ricardina (Carcavelos / Cascais) 
  22. Carlos Vinhal & Dina (Leça da Palmeira / Matosinhos) 
  23. David Guimarães & Lígia (Espinho) 
  24. Delfim Rodrigues (Coimbra) 
  25. Diamantino Varrasquinha e Manuel (Ervidel / Algustrel) 
  26. Eduardo Campos (Maia) 
  27. Eduardo Jorge Ferreira (Vimeiro / Lourinhã) 
  28. Ernestino Caniço (Tomar) 
  29. Fernandino Leite (Maia) 
  30. Fernando Súcio (Campeã / Vila Real) 
  31. Francisco (Xico) Allen (Vila Nova de Gaia) 
  32. Francisco Baptista e Fátima Anjos (Aldoar / Porto) 
  33. Francisco Palma (Estoril / Cascais) 
  34. Francisco Silva e Elisabete (Porto Salvo / Oeiras) 
  35. Helder Sousa (Setúbal) 
  36. Humberto Reis e Joana (Alfragide / Amadora) 
  37. Idálio Reis (Sete-Fontes / Cantanhede) 
  38. Joao Alves Martins (Lisboa) 
  39. Joao Moura (S Marinho do Porto / Alcobaça) 
  40. Joaquim Almeida (Maia) 
  41. Joaquim Gomes Soares e Maria Laura (Porto) 
  42. Joaquim Luís Fernandes (Maceira / Leiria) 
  43. Joaquim Mexia Alves (Monte Real / Leiria) 
  44. Joaquim Nunes Sequeira e Mariete (Colares / Sintra) 
  45. Joaquim da Silva Jorge (Ferrel / Peniche) 
  46. Jorge Cabral (Lisboa) 
  47. Jorge Canhão & Maria de Lurdes (Oeiras) 
  48. Jorge Loureiro Pinto (Agualva / Sintra) 
  49. Jorge Picado (Ilhavo) 
  50. Jorge Rosales (Monte Estoril / Cascais) 
  51. José Barros Rocha (Penafiel) 
  52. José Casimiro Carvalho (Maia) 
  53. José Louro (Algueirão / Sintra) 
  54. José Manuel Cancela e Carminda (Penafiel) 
  55. José Ramos Romão e Emília (Alcobaça) 
  56. Julio Costa Abreu e Richard (Holanda) 
  57. Juvenal Amado (Fátima / Ourém) 
  58. Luís Encarnação (Cascais) 
  59. Luís Graça & Alice (Alfragide /Amadora) 
  60. Luís Moreira (Mem Martins / Sintra) 
  61. Manuel António (Maia) 
  62. Manuel Augusto Reis (Aveiro) 
  63. Manuel Joaquim (Agualva / Sintra) 
  64. Manuel Lima Santos e Maria de Fátima (Viseu)
  65. Manuel Luís Lomba (Faria / Barcelos) 
  66. Manuel Resende, Isaura e Palmira Serra (Cascais) 
  67. Manuel da Conceição Neves e Maria da Estrela (França) 
  68. Manuel dos Santos Gonçalves e Maria de Fátima (Carcavelos / Cascais) 
  69. Mateus Mendes (Figueira da Foz) 
  70. Mateus Oliveira e Florinda (Boston / EUA) 
  71. Miguel Pessoa & Giselda (Lisboa) 
  72. Mário Gaspar (Lisboa) 
  73. Raul Albino e Rolina (Vila Nogueira de Azeitão / Setúbal) 
  74. Ricardo Figueiredo (Porto) 
  75. Rui Silva e Regina Teresa (Sta Maria Feira) 
  76. Simeão Ferreira (Guia / Monte Real / Leiria) 
  77. Vasco Ferreira (Vila  Nova de.Gaia) 
  78. Vasco da Gama (Buarcos / Figueira da Foz) 
  79. Virgínio Briote e Irene (Lisboa)
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Nota do editor:

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Guiné 63/74 - P13250: Efemérides (161): Lisboa / Belém, 10 de Junho de 2014 - Homenagem Nacional aos Combatentes, integrada no Dia de Portugal

1. Convite e programa para a Homenagem Nacional aos Combatentes, integrada, como é hábito, nas comemorações do Dia de Portugal, Lisboa / Belém, 10 de Junho de 2014.


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Nota do editor

Último poste da série de 6 DE JUNHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13247: Efemérides (160): O nosso camarada luso-americano João Crisóstomo reedita iniciativa de 2004: o próximo 17 de junho será o Dia da Consciência, em homenagem a Aristides de Sousa Mendes, no 60º aniversário da sua morte.

Guiné 63/74 - P13249: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (16): A Carta de Condução

1. Mensagem do nosso camarada Hélder Sousa (ex-Fur Mil de TRMS TSF, Piche e Bissau, 1970/72), com data de 25 de Maio de 2014:

Caros camaradas Editores
Em anexo envio uma pequena história que se passou comigo sendo realmente uma "Histórias em Tempos de Guerra".
Envio também em anexo documentos e fotos que podem ajudar a ilustrar o texto que, naturalmente, terá o destino que melhor entenderem.

Abraços
Hélder Sousa


HISTÓRIAS EM TEMPO DE GUERRA




16 - A CARTA DE CONDUÇÃO

Caros camaradas, amigos e outros…
Aqui vai uma pequena história que vou partilhar convosco esperando que seja suficientemente ‘leve’ para vos provocar um sorriso compreensivo. Certamente muitos de vós ainda se devem lembrar de uma expressão, agora já caída em desuso, e que era “eh pá, parece que tiraste a carta na tropa!”, quando alguém cometia erros de condução ou mesmo condução perigosa ou “pé pesado”. Isso era assim porque se dizia que ‘na tropa’ se tirava a carta com muita facilidade, sem rigor, sem exigências, tudo muito facilitado. Acho que havia aqui algum exagero de julgamento mas que esta expressão era um tanto corrente, lá isso era.

Tirei a minha carta de condução automóvel durante o ‘tempo da tropa’. Foi em Bissau, em Novembro de 1971.

Numa escola de condução ‘civil’, a “Escola de Condução Manuel Saad Herdeiros, Lda,” que se situava na Rua Tenente Marques Gualdes. À séria, com aulas de código e de condução pelas ruas de Bissau e também, já nas últimas lições, na estrada até ao aeroporto. O mais difícil era arranjar local para fazer “ponto de embraiagem”….

Quase tudo plano, havia três ou quatro sítios onde isso se fazia. Ensaiava-se em todos esses locais e um deles calhava de certeza no exame. A mim foi na pequena rampa de acesso à então “Praça do Império”, vindo do lado do aeroporto. Foi a última manobra e após isso, ficando aprovado, lá se foi comer uma ‘sanduiche’ de queijo da serra na “Pastelaria Império”. Com o examinador, claro!

Para comprovar, junto cópia do “cartão da escola”, do talão do pagamento de 610$00 e também da “requisição de carta”, com todos os elementos identificadores necessários e confirmados pelo Comandante do Agrupamento de Transmissões onde eu estava incorporado, Major João Silva Ramos (o “Raminhos”, como lhe chamávamos, devido à sua pequena altura) e pelo então Chefe da 1ª Rep., Tenente-Coronel Augusto Silveira Reis.

Talão de Caixa no valor de 610$00 (Pesos)

Boletim de inspecção

Até aqui, nada de especial, apenas o facto de ainda não ter visto no Blogue nenhum relato semelhante, embora tenham havido referências a problemas e acidentes de condução. O que tem de mais curioso é que esta questão de tirar a carta não era, para mim, naquele tempo, naquela época, nenhuma obsessão, ainda não havia a ‘pressão social’ de se ter que ter um carro para ‘melhorar’ o seu estatuto social. Recordo mesmo que naqueles momentos de folga, entre turnos de serviço “Escuta”, tinha já, uma vez ou outra, conversado com o meu amigo e camarada de curso e serviço, Nelson Batalha, de que já aqui falei e que é meu padrinho de casamento, da vantagem de tirar a carta numa escola de condução que pudesse ministrar formação mais rigorosa. Lembro-me de se ter concluído que seria essa a decisão que ambos tomaríamos e que de facto aconteceu.

Foto da esplanada do Ronda. (Publicada por Francisco Carrola,  Facebook.)


Vista exterior da esplanada do Ronda. (Publicada por Francisco Carrola, Facebook.)

A parte caricata tem a ver com uma situação que ocorreu talvez em Setembro de 1971, na esplanada da Pensão/Café Ronda, de que junto umas fotos que retirei da ‘net’, apresentadas no “Facebook” por Francisco Carrola. Não me recordo como tudo começou mas a certa altura estávamos para aí uns catorze ou quinze em várias mesas juntas, com muita cerveja e algumas coisas para comer, sendo que quem estava ali era o amigo do amigo do amigo, de que apenas conhecia dois ou três deles.
A certa altura, também já não me lembro a que propósito, a conversa chegou até à parte dos “exames de condução” e de “tirar a carta na tropa”. Foram-se dando opiniões, palpites, etc. e tal, e quando me perguntaram o que é que achava, em vez de ser assertivo e dizer o que realmente pensava, que estava determinado a fazer e que realmente fiz, entrei numa de “maria-vai-com-as-outras” entrando na onda do tom geral das observações que se faziam e disse mais ou menos isto:
- “Eh pá, eu também tinha pensado em tirar a carta na tropa mas parece que há por lá no Serviço de Transportes um Alferes que dizem ser um grande filho “da mãe” que tem a mania que é rigoroso e anda a ‘chumbar’ a malta toda e não estou para isso”….

Nessa ocasião, o camarada ‘à civil’ que estava ao meu lado esquerdo “amigo do amigo do amigo”, disse:
- “Olha lá, esse Alferes sou eu e achas que faço mal?”

Acreditam que ia jurar que me pareceu que alguma coisa ‘caiu aos pés’? Claro que tratei de ensaiar uma ‘retirada estratégica’, balbuciando umas tretas, do tipo de “não era bem isso que queria dizer”, “realmente tens razão”, “é verdade que é preciso evitar que o pessoal vá para a vida civil mal preparado” (afinal tudo o que na verdade acreditava) e outras coisas do género.

Não aconteceu mais nada de especial. Houve compreensão, ficámos amigos e cerca de mês depois estava de facto a frequentar a Escola de Condução.

Sempre que sou tentado em rodear uma questão em vez de a enfrentar de forma séria lembro-me deste episódio, que me marcou verdadeiramente. Até por ter sido uma situação desnecessária.

Um abraço para toda a Tabanca!
Hélder Sousa
Fur. Mil.
Transmissões TSF
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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12957: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (15): O meu amigo Fur Mil Bento Luís, ou a amizade através dos tempos

Guiné 63/74 - P13248: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (13): T/T Uíge: ementa dos sargentos no dia 2 de novembro de 1968, e o filme "Negócio à italiana" com o Alberto Sordi




Ementa no paquete Uíge no Regresso, 2 de novembro de 1968… mas para Sargentos! No porão, os valentes militares bebiam, jogavam à lerpa, ao abafa e vomitavam as tripas…

Já à noite, pelas 21,15 horas, todos tinham “O Negócio à Italiana” – com o iconfundível Alberto Sordi – os que não vomitavam, claro. (*)

No dia 5 de Novembro de 1968, à tarde chegámos à barra. Ficámos até de manhã esperando ordens para desembarcar no dia seguinte… O Uíge tombava todo para terra, virados para a linha do Estoril e ninguém dormiu. Eu tomei um duche de água fria para refrescar as ideias e fumei 7 maços de tabaco.

Foto (e legenda): © Mário Gaspar (2014). Todos os direitos reservados [Edição: L.G.]


1. Mensagem do Mário Gaspar, com data de hoje

Assunto: T/T Uíge: Ementa dos Sargentos no dia 2 de novembro de 1968

Camarada e Amigo

Envio uma ementa ferrugenta, e até assinada por alguns Furriéis Milicianos da CART 1659 , "Zorba", de uma refeição no UÍge na viagem de regresso.

Ao encontrar estas relíquias, perdidas por entre papelada que guardo, verifico que muito ficou por contar no Livro "O Corredor da Morte". Não deveria ter omitido umas tantas situações, e tive a oportunidade de as denunciar.

Daquilo que vou conhecendo da guerra - e daquela porque eu passei em particular - e de toda a experiência de quase 11 anos a conversar com combatentes enquanto um dos dirigentes da APOIAR, quero frisar que o soldado português é o melhor de todos os soldados. O soldado acostumado à enxada, a cavar desde o nascer do sol ao pôr do sol, que habitava por entre pedras, longe da civilização; o soldado que nunca vira o mar, nem sequer o comboio; o soldado que palmilhava quilómetros a pé e por vezes descalço, não
necessitava de treino físico.

Dei várias recrutas; uma Especialidade e até uma de Minas e
 Armadilhas a uma Companhia que estava como a minha em Penafiel, e já com o destino marcado, conheci de perto os melhores dos melhores. E temos direito a quê?  Uma estátua plantada numa praça de uma cidade ou vila, e os mortes poucos possuem o seu nome numa rua.

A Guerra Colonial encontra-se na gaveta, e foi a razão que me levou a escrever o livro. Curioso que entrei em contacto com as três freguesias de onde eram oriundos os que morreram da minha Companhia, e até hoje continuo à espera de uma resposta. Convidei os Presidentes das mesmas a se fazerem representar no lançamento do livro.

Em relação à vila de Abitureiras, do concelho e distrito de Santarém, que tem uma rua com o nome do meu grande amigo Furriel Miliciano Vítor José Correia Pestana, curioso a rua onde está instalada a Junta de Freguesia de Abitureiras, consegui falar via telemóvel com o presidente, respondeu-me após lhe ter enviado uma foto do Pestana, e também uma outra tirada no Monumento dito Combatentes do Ultramar, em Belém, onde no Memorial consta o seu nome. E o que me disse o senhor presidente? Simplesmente que lhe enviasse o livro em PDF. Logo pense, e resolvi não o fazer. Se pretendesse o livro que o fosse buscar, até o dava.

E é desta maneira que nos tratam. Mas a questão não vai ficar por aqui. Tenho o curso de Minas e Armadilhas - é uma forma de me expressar - e vou tratar à minha maneira do assunto. Aliás é o que tenho feito nesta minha caminhada que é a vida.

Isto foi escrito por um artista de circo, talvez um trapezista, e sem rede. Como saiu,  saiu.

Em anexo  segue "A Ementa do Uíge para Sargentos" (**)

Um abraço
Mário Vitorino Gaspar

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Notas do editor:

(*) Negócio à Italiana [título original., Il boom]. Comédia, 97 m, 1963. Estreado em Portugakl em 1963. Filme iirigido por diirigido por Vittorio di Sicca, com,os atores Alberto Sordi, Gianna Maria Canale and Ettore Geri Runtime. Argumento: Cesare Zavattini. Produtor: Dino di Laurentiis. 

Sinopse: Giovanni Alberti é um pequneno homem de negócios com uma série de problemas financeiros s que gosta muito de sua esposa. Estamos em pleno "milagre económico italiano" ("il boom"), que vai do in+icio dos anos de 1950 a princípios de 1970.. O problema ce Giovanii é que a esposa ama tanto o luxo e a boa vida que Giovanni precisa de cada vez mais dinheiro para satisfazer seus caprichos e manter um nível de vida para o qual não tem fontes de rendimento... Até que surge uma oferta aparentemente irrecusável....
 (**) Último poste da série > 28 de abril de 2014 >  Guiné 63/74 - P13056: Recordações de um "Zorba" (Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68) (12): O inferno de Ganturé, Sangonhá e Gadamael Porto... e as fotos para enganar a família

Guiné 63/74 - P13247: Efemérides (160): O nosso camarada luso-americano João Crisóstomo reedita iniciativa de 2004: o próximo 17 de junho será o Dia da Consciência, em homenagem a Aristides de Sousa Mendes, no 60º aniversário da sua morte.


Cabeçalho do jornal Açores9, no respetivo "site"...  Reproduz-se a seguir a peça da agência Lusa, publicada aqui, em 1 de junho de 2014.

Reproduzido com a devida vénia, por sugestão do João Crisóstomo, nosso camarada da Guiné e membro da nossa Tabanca Grande (*)

(i) é natural de A-dos-Cunhados, Torres Vedras; (ii) foi alf mil, na CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/66); (iii) vive em Nova Iorque desde 1975; (iv) é um mediático ativista comunitário, tendo estado ligado à defesa de três causas que tiveram repercussão internacional e que nos dizem muito, a nós, portugueses (gravuras de Foz Coa, independência de Timor Leste e memória de Aristides Sousa Mendes); e, não menos importante, (v) integra a nossa Tabanca Grande desde 26 de julho de 2010.


Aristides Sousa Mendes homenageado em igrejas e sinagogas à volta do mundo


O diplomata português Aristides de Sousa Mendes será homenageado em igrejas e sinagogas de todo o mundo no dia 17 de junho, lembrando os seus esforços de salvar milhares de judeus do regime nazi.

A iniciativa para o dia em que se celebram 60 anos após a morte do diplomata e 70 anos do holocausto judeu é de João Crisóstomo, um português residente em Nova Iorque que organizou uma iniciativa semelhante em 2004.

[Foto à direita, João Crisóstomo, na sua terra natal, Paradas, A-dos-Cunhados, Torres Vedras, em 15 de outubro de  2013;  foto de L.G.]

Nesse ano, foram celebradas 34 missas e celebrações em sinagogas em 22 países, da África do Sul ao Canadá e à Venezuela.

As homenagens acontecem nos dias 17, 20 e 22 de junho e vão celebrar também Luís Martins de Sousa Dantas, um diplomata brasileiro que salvou cerca de 800 pessoas.

“Decidi celebrar o 17 de junho, a que chamo o Dia da Consciência, porque acho que as pessoas devem ser celebradas por aquilo que de bom fizeram em vida e não pelo dia em que nasceram ou morreram”, disse João Crisóstomo.

Os prelados do Rio de Janeiro, Vaticano, Bordéus e Luxemburgo já confirmaram a sua participação. João Crisóstomo diz já ter contatado vários outros países, como África do Sul e Bélgica.

Nos EUA, estão agendadas missas em Newark, Long Island e Yonkers, perto de centros de comunidades imigrantes portuguesas.

Em Portugal, o Patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, já confirmou a sua participação, bem como as Dioceses de Braga, Viseu, Bragança, Setúbal e Beja.

“O bispo das Forças Armadas, a Ordem Franciscana, a Comunidade de Sto. Egídio e as comunidades israelitas de Lisboa e Porto também já responderam afirmativamente”, disse João Crisóstomo.

O português está a tentar agora o apoio do próprio Papa Francisco.

“Escrevi-lhe uma carta, na esperança de uma reação que valorizasse o ato de consciência do cônsul. Já falei com D. Renato Martino (prefeito emérito do Pontifício Conselho Justiça e Paz) e também com o Cardeal Saraiva Martins (prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos). Continuo a acreditar que sua Santidade possa liderar a iniciativa”, disse João Crisóstomo.

Quanto à participação das sinagogas na homenagem, o trabalho está a ser coordenado pela Fundação Raul Vallenberg, de que João Crisóstomo é vice-presidente.

Em 1940, o cônsul português de Bordéus terá salvo milhares de judeus e outros refugiados de guerra, visando vistos sem autorização do Ministério dos Negócios Estrangeiros português, facto que levou à sua punição disciplinar. (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13246: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (84): De Nova Iorque, o nosso camarigo João Crisóstomo, não virá ao nosso IX Encontro Nacional, em Monte Real, a 14 de junho, mas pede-nos para nos associarmos à sua iniciativa, o "17 de junho, Dia da Consciência", em homenagem ao Aristides Sousa Mendes (Eduardo Jorge Ferreira / Luís Graça)

(**) Último poste da série > 28 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13204: Efemérides (159): Foi há 45 anos, o ataque a Bambadinca, dois meses depois da Op Lança Afiada... Parágrafo lacónico na história do BCAÇ 2852: "Em 28 [de Maio de 1969], às 00H25, um Gr IN de mais de 100 elementos flagelou com 3 Can s/r, Mort 82, LGF, ML, MP e PM, durante cerca de 40 minutos, o aquartelamento de Bambadinca, causando 2 feridos ligeiros"

Guiné 63/74 - P13246: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (84): De Nova Iorque, o nosso camarigo João Crisóstomo, não virá ao nosso IX Encontro Nacional, em Monte Real, a 14 de junho, mas pede-nos para nos associarmos à sua iniciativa, o "17 de junho, Dia da Consciência", em homenagem ao Aristides Sousa Mendes (Eduardo Jorge Ferreira / Luís Graça)



Recorte do Correio da Manhã, 2/6/2014



1. Mensagem de ontem, do nosso camarada Eduardo Jorge Ferreira [, meu conterrâneo, (, natural do Vimeiro, Lourinhã, residente em A-dos-Cunhados, Torres Vedras),  professor de educação física reformado, ex- alf mil da Polícia Aérea, Bissalanca, BA 12, 1973/74]

Assunto - O nosso camarigo João Crisóstomo continua a dar que falar

Meu caro Luís:
Mão amiga fez-me chegar esta página 22 do Correio da Manhã,  da última segunda-feira dia 02, que digitalizei e te envio para que tu ou qualquer elemento da equipa de coeditores possa dar-lhe o destaque que merece no nosso blogue. 

Trata-se de mais uma iniciativa do nosso amigo e camarada da Guiné João Crisóstomo - este "jovem" não pára - que visa homenagear de novo Aristides de Sousa Mendes, o grande humanista português que salvou das garras nazis milhares de judeus. 

Pena que a notícia seja tão lacónica e que infelizmente passe despercebida. Desconheço se entretanto já foi divulgada a iniciativa em qualquer outro órgão da comunicação social.

Um grande abraço e a continuação de boas melhoras.
Eduardo

2. Comentário de L.G.:

Eduardo, obrigado pela notícia do CM. O João telefonou-me há dias de Nova Iorque, a propósito desta iniciativa. Junto te envio, por email, a mensagem que ele me remeteu e que vou publicar oportunamente. Ele pede-me para divulgar no nosso blogue a iniciativa "17 de junho, Dia da Consciência", em homenagem a Aristides Sousa Mendes mas também a outro diplomata, de língua portuguesa, o brasileiro Luís Martins de Sousa Dantas, que tem um percurso em tudo semelhante ao nosso Aristides.

Aqui vai um excerto:


João Crisóstomo, o nosso grã-tabanqueiro
que vive em Nova Iorque desde 1975,
 e é um conhecido defensor de grandes
causas (Gravuras de Foz Coa,
Timor Leste, Aristides Sousa Mendes...)

Foto: Luís Graça (2013)
João Crisóstomo, 1/6/2014

Assunto  - Missas "Dia da Consciência"


Caro Luís Graça,
Estou a tentar dar a minha contribuição para que 17 de Junho, o "Dia de Consciência" - o dia em que o nosso grande humanista português Aristides de Sousa Mendes tomou a corajosa decisão de fazer o que fez logo no início da II Guerra Mundial -  seja devidamente lembrado.  

Nesta homenagens eu associo sempre o brasileiro Luís Martins de Sousa Dantas pelo muito que tem em comum com o nosso herói português: (i) eram ambos diplomatas; (ii) ambos de língua portuguesa; (iii) ambos em França no início da II Guerra Mundial; (iv) ambos procederam da mesma maneira corajosa em salvar refugiados; (v) ambos sofreram acções disciplinares;  e (vi) ambos foram castigados por isso; e (vii)  até  na morte tiveram algo de comum, falecendo ambos no mesmo mês e no mesmo ano ( 1954). E (viii)  ambos foram depois reconhecidos pelo Yad Vashem em Jerusalém.

Se puderes pôr no teu blogue algo sobre isso seria muito bom, pois isso vai fazer chegar a muitos que talvez doutra maneira não tenham conhecimento. 

E, se me permites, com um grande abraço a todos os meus amigos, camaradas da Guiné, sugere que participem nesses acontecimentos: Missas nas sés catedrais, na maioria dos casos, não só em Portugal como em outros países,  nessa semana. (...)

Eduardo, vemo-nos em Monte Real, no dia 14 de junho, se não for antes na Lourinhã.
Um abraço fraterno.
Luís

PS - Outra coisa: vê se confirmas a vinda do Joaquim Jorge a Monte Real... Ele disse-me que vinha e inscreveu-se... E mais: vê se lhe sacas uma foto do tempo de "vellhinho"... Eu quero apresentá-lo à Tabanca Grande e ele ainda não me mandou a foto da praxe...

O Jorge Pinto [, natural de Alcobaça, ] trouxe mais dois camaradas da guerra dele, em Fulacunda... O bedandense (e nosso vizinho do Cadaval) Pinto de Carvalho não poderá vir mas está a recuperar do seu problema de saúde...... Telefonei-lhe no fim de semana, estava mais animado.
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Nota do editor:

Último poste da série > 13 de março de 2014 > Guiné 63/74 - P12833: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (83): Recebi notícias do último CMDT do Glorioso GA 7, Coronel de Artilharia Faia Correia (Vasco Pires)

Guiné 63/74- P13245: Notas de leitura (598): "Quem Semeia o Vento Colhe Tempestade!", publicação da Direção-Geral da Cultura da Guiné-Bissau (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Dezembro de 2013:

Queridos amigos,
Oxalá que os nossos confrades guineenses nos elucidem sobre esta história que tem texto e desenho de Luciano da Veiga, publicação da Direção-Geral da Cultura. Parece bizarro que fosse utilizada como material escolar e mesmo que tenha sido concebida como livro de histórias para crianças o seu ecletismo é assombroso na mistura de culturas, no palavrório, será difícil imaginar uma criança guineense entender-se com uma cidade com arranha-céus, soldados napoleónicos e uma criança-herói, Zé Dobrada a banquetear-se com um assado de cachorro… verdadeiramente, a quem se destinava esta história moralizante “Quem semeia o vento colhe a tempestade!”?

Um abraço do
Mário


Quem semeia o vento colhe tempestade!

Beja Santos

Oxalá os nossos confrades guineenses possam ajudar a interpretar esta obra e em que contexto ela era versada na terceira classe, pelo menos nos anos de 1980. O título é vibrante e a imagem da capa tem algo de oriental em contexto africano. A publicação é da editora NIMBA da Direcção-Geral da Cultura, Luciano da Veiga, Bissau 1988. Trata-se de mais uma escavação na Feira da Ladra, o indivíduo acocora-se em frente a um caixote pejado de folhetos, brochuras, programas de ópera, até ementas de lautos jantares e surge o achado desta história do Zé Dobrada, sétimo e último filho de um casal de pobres camponeses. É uma história moralizante, sente-se que há uma adaptação da BD, o ritmo é bom e a mensagem destinada a crianças passa escorreitamente.

Zé Dobrada tem sonhos, quer melhor destino de que viver na Tabanca Djemberem. Órfão de pai, pede à mãe que o deixe partir para explorar o mundo. A mãe nega-se, Zé Dobrada insiste, põe-se ao caminho até chegar à cidade de Balimbote. Pergunta a alguém onde é que pode arranjar emprego, que o adverte: “Amigo, se tens amor à tua vida, aconselho-te a abandonar esta cidade. Aqui não existe respeito pela vida humana, com esse rei no poder ninguém está seguro".

Zé Dobrada está confiante de que há lugar para ele, dirige-se ao palácio do rei, é recebido em audiência, começam os seus tormentos, primeiro vai para o campo às seis da manhã com o cão, tinha que disputar uma corrida com o cão, só havia comida para um, naturalmente que o cão ganhava sempre; com a barriga a apertar de fome, maquinou matar o canídeo e comeu-o; regressou ao palácio e deu ao rei uma falsa explicação sobre a morte do cão; o rei atribuiu-lhe nova tarefa, pastorear dez mil cabeças de gado, Zé Dobrada resolveu oferecer toda a manada à população, chegado à presença do rei disse-lhe que o povo tinha ficado grato por tanta bondade; temendo a fúria do povo, o rei Telamina nomeou-o administrador de um grande armazém cheio de mercadorias, Zé Dobrada ofereceu todo o recheio do armazém ao povo, passada uma semana o rei veio visitá-lo para saber do andamento do negócio e ordenou-lhe que preparasse duas caixas de munições para no dia seguinte caçarem juntos. Zé Dobrada vestiu-se a preceito e lá foi com o rei numa carruagem, pelo caminho viu dois caçadores e deu-lhes os dois caixotes de munições. Quando chegaram ao local onde iriam caçar, Zé Dobrada disse ao rei que tinha oferecido as munições. Encolerizado, o rei manda-o ao castelo para trazer novas munições, Zé Dobrada apresenta-se à rainha e diz-lhe que o rei ordenara que ele casasse imediatamente com a filha Fabíola. A rainha vacila, o rei já tinha prometido a mão da filha ao duque, mas Zé Dobrada prontamente responde que esse casamento estava anulado e que a ordem do casamento com Zé Dobrada era para cumprir imediatamente.

Estava-se na festança, uma boda repleta de gente e saborosos comes e bebes quando apareceu, derreado o rei que fizera o caminho a pé e encontrou sentinela embriagado. O rei perdeu as estribeiras, vai de espada em riste à procura de Zé Dobrada. Segue-se o duelo, Zé Dobrado fere-o, o povo ovaciona-o, Zé Dobrada determina que o rei tirano deverá morrer na forca. E reza o texto: “E assim Zé Dobrada tornou-se rei de Balimbote a pedido do povo, retificou todas as lei ditatoriais restaurando a paz, o sossego e a liberdade de expressão ao povo de Balimbote. Uma semana depois de ter subido ao trono, mandou uma escolta buscar a mãe. Doente se encontrava a mãe, sem comida e já sem forças de ficar em pé, ninguém na tabanca tão-pouco lhe ligava”.

Zé Dobrada manda Zé Claviculo ir buscar a mãe, a escolta parte, a mãe recusa partir mas depois de muita insistência e vendo o lindo vestido que lhe tinham trazido, “deixou-se cair pesadamente aos pés do oficial”. Escorriam-lhe lágrimas de felicidade, tombou para o chão e disse: “Deixai-me morrer aqui, soldados, digam ao meu filho que fiquei contente por saber que conseguiu realizar o seu sonho, mas não posso, o céu clama a minha alma, digam-lhe que morri feliz, ao lado do meu marido e dos seus irmãos e que no céu velaria pela sua vida, dia e noite”. E entregou a alma ao criador. O povo de Balimbote soube sepultar calorosamente a mãe de Zé Dobrada na tabanca de Djemberem, ela era a mãe do salvador daquele povo.

Se é livro de estudo, suscitam-se bastantes interrogações: os soldados trajam indumentária do tempo de Napoleão, o enterro é feito com uma carreta para um cemitério pomposo; há turbantes e calções árabes à mistura com indumentária europeia e africana; vemos cubatas, Balimbote tem arranha-céus e o palácio real lembra o Louvre. Tudo somado, é material errático se acaso se pretende a sua utilização escolar. Além disso o rei zangado chama filho da… a Zé Dobrada, chama-lhe bastardo, porco e percevejo. Seria interessante que os nossos confrades guineenses trouxessem esclarecimento para esta história “Quem semeia o vento colhe tempestade!”.

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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE JUNHO DE 2014 > Guiné 63/74- P13230: Notas de leitura (597): Excerto do livro de Mário Gaspar, "O Corredor da Morte", cap 19: desmontando minas e armadilhas nos últimos dias de Gadamael, outubro de 1968

Guiné 63/74 - P13244: Agenda cultural (322): Lançamento do livro "Guiné-Bissau, um país adiado - Crónicas na pátria de Cabral", de Manuel Vitorino, dia 12 de Junho de 2014, pelas 18h00 na Biblioteca Florbela Espanca, em Matosinhos.

Lançamento do livro "Guiné-Bissau, um país adiado - Crónicas na pátria de Cabral", do jornalista Manuel Vitorino*, dia 12 de Junho de 2014, pelas 18h00 na Biblioteca Florbela Espanca, na Rua Alfredo Cunha, em Matosinhos.



(*) - Manuel Vitorino foi Fur Mil na 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4518/73, Cancolim, 1973/74.
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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE JUNHO DE 2014 > Guiné 63/74 - P13229: Agenda cultural (321): "Corredor da morte", de Mário Gaspar: a sessão de lançamento foi no passado dia 22, na presença de muitos amigos e de antigos combatentes... O autor irá promover o seu livro também no IX Encontro Nacional da Tabanca Grande, em Monte Real, no próximo dia 14

Guiné 63/74 - P13243: Convívios (604): 24º convívio da CART 2479 / CART 11, os Lacraus (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71), no passado 31 de maio, em Canas de Senhorim, Nelas (Abílio Duarte)



Nelas > Canas de Senhorim > 31 de maio de 2014 > 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > Foto nº 923 > Nesta foto, à esquerda, o nosso Chef Michelin 5 Estrelas, ao centro o Leonel cripto, e um condutor, de quem agora não recordo o nome pelo que peço as minhas desculpas.



Nelas > Canas de Senhorim > 31 de maio de 2014 > 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > Foto nº 940 > ​Nesta foto, da esquerda para a direita, o Valdemar Queiroz, eu, e o Aurélio Duarte,  de Coimbra. Grande seita!



Nelas > Canas de Senhorim > 31 de maio de 2014 > 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > Foto nº 943 > Nesta,  os nossos cabos milicianos, Valdemar, Abílio Pinto, eu, o Aurélio e o Macias.



Nelas > Canas de Senhorim > 31 de maio de 2014 > 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > Foto nº 946 > ​A referir nesta foto o 4º. Pelotão, com o Alf Pina Cabral sentado, mais o Valdemar; à esquerda o Cabo At Altino, mais os anteriores acima referidos (o Macias, o Abílio Pinto, o Aurélio) e a ainda o Cabo Mil de Trms Silva ( Obs: nunca gostei do nome Furriel!)



Nelas > Canas de Senhorim > 31 de maio de 2014 > 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > Foto nº 954 > Nesta deves reconhecer o Cândido Cunha, acompanhado do ex-Alf. Martins, comandante do nosso Pelotão, meu e do Cunha.



Nelas > Canas de Senhorim > 31 de maio de 2014 > 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > Foto nº 968 > Foto tirada junto a um monumento referente às Guerras do Ultramar (1)



Nelas > Canas de Senhorim > 31 de maio de 2014 > 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71) > Foto nº 970 > Foto tirada junto a um monumento referente às Guerras do Ultramar (2)

Fotos ( e legendas): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. (Editadas por L.G.)

1. Mensagem de hoje do nosso camarada Abílio Duarte [ex-fur mil art, CART 2479 (que em janeiro de 1970 deu origem à CART 11, Os Lacraus, que por sua vez em junho de 1972 passou a designar-se CCAÇ 11), Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70]:


Olá Luis,

Tomo a liberdade de te enviar algumas fotos do nosso convivio em Canas de Senhorim, no passado dia 31 de Maio (*) .Os meus agradecimentos pela tua disponibilidade.

Um grande abraço em nome de todos Os Lacraus. (**)
Abílio Duarte
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13093: Convívios (590): 24º convívio da CART 2479 / CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/71), 31 de maio, em Canas de Senhorim, Nelas (Abílio Duarte)