segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15241: Notas de leitura (766): "Botânica", por Vasco Araújo, editado pela Sistema Solar, 2014 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Dezembro de 2014:

Queridos amigos,
Terá sido uma exposição extraordinária, o livro é belíssimo, um apetite para bibliófilos, ainda por cima a preço decente.
Um jovem nascido em 1975, já com larga carreira nacional e internacional, entusiasma-se pelo exótico da cultura colonial dos séculos XIX e XX, vê-se que está atraído pela força deste império no imaginário nacional. Encontrou soluções expeditas, recorrendo a imagens de arquivo e intercalando-as com botânica. Está ali o colonial a obrigar-nos a pensar o pós-colonial, são imagens polémicas, geram aturdimento, lançam, no silêncio de uma exposição, os sinais de um incêndio que ainda não se apagou: como queremos lidar com o Outro, após séculos de dominação, de missão civilizadora?

Um abraço do
Mário


A Guiné numa exposição de Vasco Araújo

Beja Santos

Vasco Araújo, nascido em 1975, em Lisboa, tem participado em diversas exposições individuais e coletivas, em contexto nacional e internacional. O seu trabalho está publicado em vários livros e catálogos e representado em várias coleções públicas e privadas como no Centre Pompidou, Museu da Arte Moderna (França); Museu Coleção Berardo; Fundação Calouste Gulbenkian; Museo Nacional Reina Sofia (Espanha); Fundação de Serralves; Museum of Fine Arts (Houston); Pinacoteca do Estado de São Paulo. O livro Botânica tem a ver com a exposição com igual título, que ele concebeu para o Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, e agora dado à estampa pela Sistema Solar, 2014, numa lindíssima edição. O texto é de Emília Tavares, que assim apresenta a exposição: “O artista apresenta em Botânica 12 esculturas, constituídas por mesas sobre as quais são apresentadas fotografias emolduradas. O conteúdo das imagens confronta o natural com o cultural: imagens de espécies botânicas dos jardins tropicais do Porto, Coimbra e Lisboa convivem com fotografias de arquivo produzidas durante o longo período colonial português e internacional. Alegoricamente, as imagens das espécies botânicas enraízam-se através da mesa, num confronto direto com a apresentação mais decorativa e burguesa das chocantes imagens de arquivo que representam a ideologia da colonização. Ao estarem emolduradas, as imagens ensaiam solenidade; e dispõem-se sobre uma mesa, objeto que remete desde logo para muitos referentes, desde os políticos aos de intimidade”. Emília Tavares discreteia sobre o preto e o branco, a colonização e a descolonização, a ideia do exótico, do civilizado e do primitivo que precisa de ser civilizado, recorda as exposições coloniais, rituais de afirmação imperial e destaca a Exposição Colonial do Porto, em 1934, exposição que serviria para reforçar uma ideia histórica de nação colonizadora, tudo foi organizado para ser uma lição viva. Um artista como Eduardo Malta foi atraído por esta gente exótica, desenhou e pintou, um dos painéis alusivos à exposição mostra o régulo Mamadu Sissé, um dos lugares-tenentes de Teixeira Pinto. Uma guineense, Rosinha, foi premiada como a grande beleza da exposição, mereceu desenho e fotografias, era o símbolo da beleza nativa.

Vasco Araújo força-nos a refletir sobre o colonialismo português, se era genuína aquela ideia de tolerância rácica, se havia mesmo brandura na relação com o Outro. O artista pertence a uma geração que pode estudar o colonial e o pós-colonial sem preconceitos e questionar o silêncio destas décadas, silêncio embaraçoso, uma bruma que começa a dissipar-se com a nova historiografia pós-colonial, que procura superar a ignorância do passado confrontado a nossa história colonial num contexto amplo onde cabem a imigração, os bairros problemáticos, o multiculturalismo fruste e até esta lusofonia em que não nos apercebemos inteiramente se é de aproximação sem reservas ou se foi despertada pelos interesses económicos e estratégicos.

Vasco Araújo montou estas esculturas entre a serenidade e o aturdimento, os elementos vegetais, inequivocamente africanos aparecem recheados de pigmeus, o zoológico humano, o imaginário das aventuras desses pioneiros tipo Serpa Pinto, ternurentas Bijagós, criancinhas-mulheres de candura extrema, Gungunhana, rei de Gaza, exibido nas ruas de Ponta Delgada, num cortejo comemorativo da sua captura, uma Manjaca bem tatuada, Rosinha captada numa intensa luminosidade erótica e Mamadu Sissé em posse soberana cercado de indígenas policromos. E uma vez mais a palavra em Emília Tavares: “Botânica é uma série incómoda, desafiante da nossa habitual modorra perante um passado comprometedor. As imagens com que o artista nos confronta, são ainda hoje, polémicas: muitas foram resguardadas do olhar das gerações que se seguiram ao império e à guerra colonial, como forma de desresponsabilizar consciências e introduzir semânticas opacas do luso-tropicalismo e lusofonia”.

Uma edição lindíssima, tendencialmente a ser acerrimamente disputada por bibliófilos de arte.

Rosinha fotografada por Domingos Alvão

Régulo Mamadu Sissé, pintura de Eduardo Malta

Militar português a abraçar guineense
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15224: Notas de leitura (765): “Les Luso-Africains de Sénégambie”, de Jean Boulègue, Instituto de Investigação Científica Tropical, Lisboa, 1989 (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15240: Inquérito "on line" (5): Resultados provisórios, num total de 117 respostas: parece haver uma sobrerrepresentação dos "spinolistas" (75%), em relação aos "schulzistas" (5%) e aos "bettencourtistas" (5%)... Comentários de José Colaço, Raúl Azevedo, Veríssimo Ferreira e Francisco Galveia

Com-chefe, gen inf Arnaldo Schulz
(1964/68): tem 32 referências no nosso blogue
A. Inquérito "on line", no nosso blogue, iniciado em 9 do corrente e que se prolonga até 15, 5ª feira (*): 


"Dos 3 últimos com-chefes do CTIG, aquele de que tenho melhor opinião é... Arnaldo Schulz (1964/68), António de Spínola (1968/73) ou Bettencourt Rodrigues (1973/74) ?"...


Respostas provisórias (n=117)


1. Arnaldo Schulz (1964/68)  > 7 (5%)



2. António de Spínola (1968/73)  > 88 (75%)




3. Bettencourt Rodrigues (1973/74)  > 7 (5%)


4. Nenhum deles  > 9 (7%)


5. Não sei / não tenho opinião  > 6 (5%)



Respostas recebidas [diretamente, no blogue, "on line",sob a forma de "voto" no canto superior esquerdo]:

117 [até às 19h00 do dia 11/10/2015, domingo]

Dias que restam para responder:

3 [até 15/10/2015, 5ª feira, 15h32]

Com-chefe, gen cav António Spínola (1968/73): 
tem mais de 200 referências no nosso blogue


B. Alguns comentários curtos deixados pelos nossos camaradas que nos leem (*):


José [Botelho] Colaço [ex-sold trms,  CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65]:


(...) Inquérito só aos últimos três governadores,  Shulz, Spínola e Bettencourt? E porque não aos últimos quatro, o comandante Vasco António Martinez Rodrigues,  penso eu,  não pode ser ignorado e sair incólume, pois foi no seu mandato de governador da Guiné 1962/64,  que a guerra da Guiné se "declarou". Bem se sabe que o Vasco Rodrigues, governador geral,  não tinha o tanta responsabilidade a nível militar como os seus sucessores,  devido as chefias militares estarem a cargo de um chefe militar, na altura o brigadeiro Fernando Louro de Sousa,  e segundo se consta deu origem à exoneração de ambos. (...)



Raúl [Manuel Bivar de ] Azevedo [ex-cap mil, 2ª C / BART 6522, Susana, 1972/74]


(...) O meu voto vai para António de Spínola (**), baseado em experiência pessoal, visitou a minha Companhia variadas vezes. Um militar exemplar. (...)


Omis Syrev Ferreira  [, 1º nome escrito ao contrário do Veríssimo Ferreira, é o seu "user name"  no Blogger; ex-Fur Mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67]


Com-chefe, gen inf [José Manuel]
Bettencourt Rodrigues (1973/74):
rem cerca de 3 dezenas de referências 
no nosso blogue


(...) Aquele que conheci e atendeu justos pedidos, que a Secção de Funerais e Registo de Sepulturas fez, foi o Sr Gen. Schulz. Ouviu o que tínhamos para dizer, concordou e nem uma vírgula acrescentou. E foi a partir daí que às famílias dos militares falecidos deixou de ser pedida qualquer contribuição (6 mil escudos) à época. (...) 


Francisco [Monteiro] Galveia [ex-1º cabo cripto, CCAÇ 616 (Empada, 1964/66)9


(...) A minha resposta é 1 - Arnaldo schulz (1964/1966)

Visitou-nos (à CCaç 616) em Empada e Ualada (batizada por nós por Rancho da Ponderosa), onde estava permanentemente um pelotão nosso. Aguém dos presentes lhe disse que
ali tudo era feito a braços, não havendo também lá mulheres... Ele teve
esta expressão: "Então aqui é tudo feito à mão". (...) 

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Notas do editor:




(**) Vd. 11 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15236: O Spínola que eu conheci (32): A primeira vez que comi caviar, foi com ele, em Bambadinca (Jaime Machado); um militar que eu admirava (João Alberto Coelho); em Antotinha, formámos o pelotão e batemos-lhe a pala no campo de futebol, em tronco nu: estávamos a jogar à bola, quando chegou de heli (Carlos Sousa)

Guiné 63/74 - P15239: Parabéns a você (974): Cátia Félix, Amiga Grã-Tabanqueira

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Nota do editor

Último poste da série > 11 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15232: Parabéns a você (973): Benito Neves, ex-Fur Mil Cav da CCAV 1484 (Guiné, 1965/67) e Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Guiné, 1972/74)

domingo, 11 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15238: Efemérides (201): Hoje faz anos o Catroga, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCS do BCAÇ 3872 (Juvenal Amado)

1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 11 de Outubro de 2015:


Hoje faz anos o Catroga

Natural do Rossio ao Sul do Tejo em Abrantes, foi cabo enfermeiro em Galomaro integrado na CCS do 3872 e por lá se tornou numa pessoa em que se confiava quer nos doesse a cabeça, precisássemos de tratar algum escarepe1, estivéssemos com ataques de paludismo ou simplesmente alcoolizados ao ponto de perdermos a consciência, o que acontecia com alguma frequência e não falo só de praças.
Podíamos contar com ele sempre e não estou a dizer com isto, que não se pudesse contar com o restante pessoal do serviço de saúde, mas hoje falo Catroga, da forma como ele me aliviou as dores, da preocupação que vi na cara dele quando os primeiros três dias estive na enfermaria com um violento ataque de paludismo, que me acometeu pela primeira vez.
Passadas que foram as febres e tremores, já livre de perigo fui acometido de dores de cabeça que não davam descanso noite e dia. Sem conseguir dormir, percebi que a minha evacuação seria o próximo passo. Assim ditavam os semblantes do Dr Pereira Coelho e do Catroga, que falavam a meia voz à porta da enfermaria. Mas as dores foram amainando, só ficava assim por resolver o não dormir, que em mim é um sintoma grave, pois eu era capaz de dormir em cima de monde de pedras.
Nessa altura o Catroga deu-me então um Valium 10 e francamente o que eu senti a seguir foi um flutuar sobre nuvens e um agradável mergulhar na inconsciência. No outro dia quando acordei, estava o Catroga junto da minha cama, possivelmente a ver com eu estava pois dormi sem dar sinal de mim, mais de doze horas.

Catroga e Jamba, que sem sabermos era o responsável do PAIGC

Nada de mais dirá ele, mas para nós que saíamos nas colunas, ou para o mato, o corpo médico dava-nos segurança. Sabíamos que o maqueiro que ia connosco tudo faria até com desprezo da própria vida para acudir a algum camarada ferido, e quando chegássemos ao quartel, o médico estaria lá para fazer os impossíveis para nos salvar.

O Catroga quando regressou, inexplicavelmente não seguiu enfermagem, emigrou e por lá ficou. Perdeu-se assim nas palavras do Dr Rui Coelho um excelente profissional de saúde.
Quando perguntava por ele nos almoços ninguém sabia dizer-me nada, até que há quatro anos o encontrei no almoço da Companhia em Marvão. Tinha regressado de vez, ia começar um negócio em Abrantes. O negócio não correu bem, infelizmente, e durante tês anos não voltei a saber dele até no ultimo almoço na Mealhada. Voltou a aparecer, visivelmente mais magro e a recuperar de problemas de saúde mais ao menos graves. Sei que não consegue a reforma pois disseram-lhe que terá de esperar até fazer 66 anos. É trágico, mas é a forma como são tratados alguns neste país.

 Catroga e esposa

Hoje faz 65 e o meu desejo é que passe um dia feliz junto dos seus e que a vida lhe sorria daqui para a frente para variar. A dívida de gratidão que tenho para com ele nunca a conseguirei pagar.

Parabéns Catroga.

Nota:
1 - Calão para Doença Venéria
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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15235: Efemérides (200): A freguesia de Guifões (no Concelho de Matosinhos) tem desde ontem um Memorial de homenagem a todos os Combatentes da Guerra do Ultramar da União de Freguesias de Custóias, Leça do Balio e Guifões (Carlos Vinhal / Albano Costa)

Guiné 63/74 - P15237: (In)citações (77): Cor inf 'comando' Raul Folques condecorado com Colar de Grande Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, em cerimónia no Regimento de Comandos (Carregueira), no passado dia 9 (Virgínio Briote)


Sintra > Carregueira > Quartel do Regimento de Comandos > 9 de outubro de 2015 >  O cor inf cmd Raul Folques, condecorado pelo Presidente da República com a Ordem Militar da Torre e Espada  (1)


Sintra > Carregueira > Quartel do Regimento de Comandos > 9 de outubro de 2015 > O cor inf cmd Raul Folques, condecorado pelo Presidente da República com a Ordem Militar da Torre e Espada  (2)



1. Mensagem do nosso coeditor Virgínio Briote [, ex-alf mil comando, Brá, 1965/67]:

Data: 10 de outubro de 2015 às 14:15

Assunto: Cerimónia no Regimento de Comandos (Carregueira)

Olá,  Luís,

Estive lá no meio de cerca de cinco centenas de espectadores, para aí, [ no Regimento de Comandos, quartel da Carregueira, dia 9 do corrente].

Estiveram presentes numerosos camaradas e amigos do cor inf cmd Raul Folques. Para além das entidades oficiais, CEME e CEMFA entre outras, vi os generais Ramalho Eanes, Rocha Vieira, Almeida Bruno, Garcia dos Santos, Pinto Ramalho, coronéis Matos Gomes, Manuel Bernardo, Roberto Durão, Vítor Caldeira (um dos meus camaradas nos Cmds da Guiné), Rui Rodrigues (um dos mais importantes operacionais do 25 de abril: veio de Mafra tomar conta do aeroporto e foi a Monsanto, horas depois, transportar várias entidades militares ligadas ao anterior regime para a Pontinha).

Destacaram-se entre os presentes um razoável número de antigos comandos africanos que fizeram questão de serem fotografados com o seu antigo comandante de BCmdsAfr.

Foi uma cerimónia simples, bem ao gosto do cor cmd Raul Folques, ele também um homem simples, dedicado aos seus homens, que lhe retribuíram estando presentes e que se sentiram condecorados quando o seu antigo camarada e comandante recebia o grau Oficial, com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

Gostei de lá ter estado e de ter abraçado antigos camaradas que já não via há tempos. Não tirei fotos. No Facebook do Paulo Pedro [https://www.facebook.com/paulo.pedro.129] estão cerca de 300 fotos de excelente qualidade que, estou certo, não levantará objecções na utilização, desde que a fonte seja citada, claro.

Um abraço e bom fim de semana.
VBriote

PS1 - Há fotos e um vídeo (11' 46'') desta cerimónia militar na página oficial da Presidência da República.

Eis a notícia que consta na página do PR:

O Presidente da República condecorou com o grau Oficial, com Palma, da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, o Coronel de Infantaria “Comando" Raúl Miguel Socorro Folques.

A cerimónia de condecoração decorreu no Regimento de Comandos, na Carregueira, em cuja parada estavam formadas companhias do Colégio Militar, da Academia Militar e militares dos “Comandos”, e à qual assistiram cidadãos civis e militares agraciados com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.

O Ministro da Defesa Nacional, o Presidente da Câmara Municipal de Sintra, os Chefes do Estado-Maior General das Forças Armadas e do Estado-Maior do Exército, Marinha e Força Aérea, bem como outras altas entidades civis e militares estiveram presentes na cerimónia.

Antes da imposição das insígnias ao condecorado, o Presidente Aníbal Cavaco Silva proferiu uma intervenção
. (...)
PS2 -  Luís, para fazer um resumo da actividade militar do cor Folques necessito de alguns dias, Luís. [Raúl Folques é algarvio, natural de Vila Real de Santo António, de onde saiu aos 13 anos para frequentar o 3.º ano do Colégio Militar... Faz quatro comissões, três em Angola e uma na Guiné, onde foi ferido em combate... Outras funções que desempenhou: comandante do Regimento de Comandos, professor do Instituto de Altos Estudos Militares e Chefe do Estado-Maior do Governo Militar de Lisboa].


Lisboa > 2009 > Da esquerda para a direita, o coronel inf 'comando' ref Raul Folques e o ten general 'comando' ref Almeida Bruno (os dois primeiros comandantes do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné) e o saudoso grã-tabanqueiro Amadu Jaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015).

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P15236: O Spínola que eu conheci (32): A primeira vez que comi caviar, foi com ele, em Bambadinca (Jaime Machado); um militar que eu admirava (João Alberto Coelho); em Antotinha, formámos o pelotão e batemos-lhe a pala no campo de futebol, em tronco nu: estávamos a jogar à bola, quando chegou de heli (Carlos Sousa)



Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > 29 de maio de 1969 > Comando e CCS/BCAÇ 2852 (1968/70) > Visita do gen Spínola, acompanhado do cor Hélio Felgas, cmdt do Agrupamento de Bafatá. À esquerda, de pé, o ten cor Pimentel Bastos.


Foto (e legenda) : © Jaime Machado  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



Guiné > Região de Cacheu > CCAÇ 1801 (Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha, 1968/69) > Carlos Sousa e o gen Spínola no destacamento de Antotinha (que pertencia a Ingoré)

Foto (e legenda) : © Carlos Sousa  (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]



Três comentários ao poste P15227 (*)


1. Jaime Machado [ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852)] (*):

9 out 2015 17:34

Caro Luis

A propósito do inquérito sobre os últimos três comandantes.-chefes no TO da Guiné (*)... Só conheci o gen Spinola que,  tal como eu, prestou serviço militar na Guiné entre 1968/1970.

Vi-o em Bambadinca,  uma ou duas vezes.

Recordo perfeitamente que o vi na manhã seguinte ao ataque a Bambadinca [, 28 de maio de 1969,] e que causou mossa no Comandante, segundo comandante e comandante da CCS do BCAÇ 2852.

Julgo que visitou Bambadinca num outro momento em que lhe foi servido um lanche no qual comi caviar (!) pela primeira vez na vida, (embora fosse de conserva).

Segue foto de uma das visitas. Na foto Spinola, Hélio Felgas [. comandante do CAgrup , Pimentel Bastos [, cmdt do BCAÇ 2852]. O piloto era o Honório [não vísível na foto].



2. João Alberto Coelho (ex-alf mil opp esp/ranger da 1.ª CART do BART 6522, S. Domingos , 1972/74)

9 out 2015 19:39

Olá, camarada Luis

Fiz toda a minha comissão de serviço (21 meses) em S. Domingos.

Tivemos a visita dos dois últimos [, António de Spínola e Bettencourt Rodrigues], que estiveram connosco quase uma manhã inteira,  estando eu a comandar a companhia aquando da visita do gen Spínola.

Tive a oportunidade de constatar do enorme interesse do general Spínola em relação à "segurança" e ao bem estar dos combatentes, especialmente dos não graduados. Gostaria de ter trabalhado diretamente com ele, pois era um militar que eu admirava.

Em relação ao blogue, só peço que não desistas, pois faz-me muito bem relembrar o que se passou, para mim há mais de 40 anos... já é muito tempo!

Um alfabravo para todos
João Alberto Coelho


3. Carlos Sousa [, ex-alf mil op esp /ranger, CCAÇ 1801, Ingoré, Bissum-Naga, S. Domingos, Cacheu e Antotinha (destacamento de Ingoré) 1968/69]


9 out 2015 18:00 

Caro Luís,

Não localizei onde se podem enviar fotos (neste caso do então General António Spínola).

Envio-te uma foto do general em visita de fim de ano.

Como todas das fotografias, esta também tem uma história.

Eu era alferes miliciano, comandante do destacamento de Antotinha (CCaç 1801, de Ingoré). No último dia de 1968 apareceu um helicóptero que aterrou no meio do quartel de mato. Nessa altura disputava-se um desafio de futebol entre os que vestiam camisola e os que estavam em tronco nu. É claro que o jogo parou: o campo estava agora ocupado pelo helicóptero de onde saiu, austero como sempre, o nosso general. 

Tal como estava, eu fui receber o nosso ilustre visitante, que saudou as tropas e desejou um bom ano novo.

A foto foi tirada quando, após formar a tropa (sem que alguém tivesse uma peça de farda vestida) eu acompanhava Spínola onde ele falou aos muitos habitantes do aldeamento,  que entretanto tinham aparecido no quartel.

Termino com uma referência à minha grande admiração pelo comandante militar António Spínola! (**)

O meu abraço,

Carlos Fernando da Conceição Sousa

Guiné 63/74 - P15235: Efemérides (200): A freguesia de Guifões (no Concelho de Matosinhos) tem desde ontem um Memorial de homenagem a todos os Combatentes da Guerra do Ultramar da União de Freguesias de Custóias, Leça do Balio e Guifões (Carlos Vinhal / Albano Costa)

Neste sábado, dia 10 de Outubro de 2015, na Freguesia de Guifões, do Concelho de Matosinhos, numa cerimónia simples mas tocante, foi descerrado um pequeno Memorial em granito, iniciativa dos Combatentes da Guiné desta localidade, que homenageia todos aqueles que, em Angola, na Guiné ou em Moçambique, participaram na Guerra do Ultramar.

A peça fica localizada em local privilegiado, junto à Igreja Matriz e à Junta de Freguesia. Cremos que um pequeno arranjo na zona envolvente lhe dará ainda mais dignidade.

Os nossos parabéns ao nosso camarada Albano Costa, um dos elementos da comissão que levou a bom termo esta iniciativa.

CV


 Momentos que antecederam a cerimónia do descerramento do Memorial.

A cerimónia começou com a actuação do Coro do Núcleo de Matosinhos que interpretou o Hino da Liga dos Combatentes...

...acompanhado pelos presentes ao acto.

O Coro do Núcleo de Matosinhos da LC, dirigido pelo Maestro SAj Luís Manuel Ribeiro.

Momento em que os representantes da União de Freguesias de Custóias, Leça do Balio e Matosinhos, juntamente com o Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC, procediam ao descerramento do Memorial. 

Um aspecto da assistência

Momento em que o Presidente da União de Freguesias, senhor Pedro Miguel Almeida Gonçalves, se dirigia aos presentes.

Uma pequena Guarda de Honra composta por Combatentea de Matosinhos. Como Porta-Estandarte o nosso camarada e velho amigo João Moreira, natural de Guifões.

Este é o Memorial, iniciativa dos Combatentes da Guiné da freguesia de Guifões, que perpetua a memória de todos os guifonenses que participaram na Guerra do Ultramar.


Fotos: © Albano Costa
Legendas: Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15208: Efemérides (199): Dia do Combatente do Concelho de Gondomar, 11 de Outubro de 2015. Início das Cerimónias às 10h00 com exposição de material militar (Carlos Silva)

Guiné 63/74 - P15234: Libertando-me (Tony Borié) (38): A nossa farda amarela

Trigésimo oitavo episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 29 de Setembro de 2015.




A Nossa Farda Amarela

A nossa vizinha, que também veio lá do norte, anda pela nossa idade, quando vem cá fora, buscar o jornal pela manhã, às vezes encontramo-nos, e ela, mostrando um “sorriso amarelo”, pois ainda não cuidou de si, fazendo a higiene matinal, levanta a mão, dizendo “Olá”.

O amarelo é a cor do ouro, da manteiga e dos limões maduros, entre outras coisas, mas no espectro de luz visível e, na roda da cor tradicional usada por pintores, a cor amarela encontra-se mais ou menos entre a cor verde e laranja. É uma cor primária, usada na impressão a cores, juntamente com a cor azul, magenta ou preto, também entre outras.
No nosso tempo de jovens, se alguma rapariga, quando frequentava aqueles bailes, ao som daquelas máquinas modernas a que chamávamos “toca-discos”, queria sobressair, bastava levar um vestido “amarelo”, pois passava logo a ser a mais popular, passava a ser “a rapariga do vestido amarelo”.

De acordo com algumas pesquisas, a cor amarela é a cor mais frequentemente associada com diversão, optimismo, bondade, espontaneidade, mas também com uma duplicidade, a inveja, o ciúme, a avareza, ou mesmo com covardia e, na cultura asiática, particularmente na China, desempenha um papel importante onde é vista como a cor da felicidade, glória, sabedoria, harmonia e cultura.
Se um casal, muito honrado e trabalhador, conhecido como “os Silvas”, construir uma casa e lhe der a pintura final na cor “amarela”, essa casa, nesse momento deixa de ser a casa dos “Silvas”, para ser a “Casa Amarela”.

Ufa..., chega de exemplos da cor “amarela”, vamos falar de nós, do nosso uniforme militar, com que fomos combater para África, que era “amarelo”, portanto, o nosso moral era triste, alegre, assim-assim, mas a certeza era que íamos “amarelos”, dentro daquela vestimenta padronizada e regulamentada, usada por alguns de nós, membros das forças armadas, contribuindo para a elevação e auto-estima, potencializada pela manifestação de força com que nos educaram no treino específico de recruta, convencidos de que éramos a força de combate mais letal do mundo, onde, além de lutar e matar o inimigo em combate, íamos transmitir a tal manifestação de força, mas talvez sem os responsáveis pelo governo de então, lá em Portugal saberem, era potencializada por um ideal de igualdade, com que fomos quase todos nós, independentemente de origem ou condição, educados no nosso lar, em nossas casas, transmitidos por nossa família.





Não sabemos quem foi o “designer” de moda popular, que projectou tanto a “farda cinzenta”, feita de pano grosso, tal qual um cobertor ou tapete, que se usava no então Continente, lá na Europa, ou a “farda amarela”, demasiado quente para climas tropicais, que na altura era usada por militares de alguns países, principalmente os envolvidos em conflitos, mas francamente, combater em África, uma região quente e húmida entre outras anomalias climatéricas, naquela “ganga amarela”, onde a princípio, antes de ser lavada, uma, duas, três, talvez só à quarta vez, largava aquela “goma”, parecia “cola” e, quando isso acontecia, pouco mais durava, começando o tecido a desfazer-se, principalmente na zona onde a transpiração mais se fazia notar.


Não sabemos ao certo, mas cremos que talvez pelos anos de 1965/66, o Exército trocou de uniforme, começou a usar um tecido de cor verde azeitona, creio que tanto na Europa como no então Ultramar, mais leve, mais aconselhado ao clima, ao combate tropical, começaram a aparecer lá por Mansoa, um tipo de uniforme, onde o militar se sentia mais confortável, onde os padrões básicos do uniforme se adaptavam melhor ao combate, com bolsos de abas largas, mais resistentes, nalgumas áreas com botões cobertos a pano, para não se agarrarem ao terreno daquelas savanas africanas, onde o Curvas, alto e refilão, do tempo da “farda amarela”, junto de seus companheiros, percorria quase todos os dias, com um uniforme roto, umas botas de lona, também rotas, sem meias, com os dedos a verem-se, atadas por um fio qualquer, só nos últimos dois buracos.

Quando esses novos uniformes chegaram, éramos, pelo menos no aquartelamento de Mansoa, uns militares com uniformes multicolores, havia a “farda amarela” e a “farda verde azeitona”, que podia ser usada com calções verdes e camisa amarela, ou camisa verde e calções amarelos, com o inconveniente de a nossa lavadeira trocar as camisas ou os calções do Curvas, alto refilão, que há muito não tinham forro nos bolsos, pelos calções dum qualquer “periquito”, que era um militar da companhia nova, que tinha chegado a Mansoa há pouco mais de um mês.

Só mais um pormenor, temos orgulho, os nossos companheiros continuam a sacrificar-se, continuam a erguer estátuas e monumentos, lembrando a maldita guerra que lá vivemos, podia, talvez, lembrando quem nos trazia mais ou menos “limpos”, quem nos tratava da “farda amarela”, tal como a “farda verde azeitona”, a um canto, em baixo, mesmo num local quase invisível, uma simples e eterna dedicatória “à nossa lavadeira”.

Tony Borie, Setembro de 2015.
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Nota do editor

Último poste da série de 4 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15199: Libertando-me (Tony Borié) (37): Tirar férias na guerra

Guiné 63/74 - P15233: Memória dos lugares (322): Porto Gole: mulheres balantas apanhando "cacri", na bolanha, junto ao rio Geba. O "cacri" (espécie de bocas) era, também para nós, um petisco saboroso que acompanhávamos com a célebre cerveja São Jorge (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, 1966/68)


Foto nº 1


Foito nº 1 A

Foto nº 2


Foto nº 2 A 


Foto nº 3 


Foto nº 3 A


Foto nº 4 


Foto nº 4 A


Foto nº 4 B


Foto nº 5


Foto nº 5 A


Foto nº 6


Foto nº 6 A


Foto nº 6 B

Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Pel Caç Nat 54 (1966/68)  > Bajudas balantas na apanha do "cacri".

Fotos (e legendas) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]


1. Mensagem, enviada em 9 de outubro, às 22h15, José António Viegas, nosso grã-tabanqueiro, algarvio, ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Mansabá, Enxalé, Missirá, Porto Gole e Ilha das Galinhas, 1966/68):

A
ssunto: memórias de Porto Gole, 1966/68

Luís:
 
Em resposta ao teu pedido ("Manda mais fotos do teu álbum, com resolução 600 dpi, rapa lá bem esse baú"...), aqui vão mais umas, do meu tempo de Porto Gole: mulheres balantas na bolanha,  junto ao rio Geba,  apanhando cacri (espécie de bocas) para fazerem a bianda, (*)

Como isto era muito saboroso, servia de petisco para a cerveja da tarde, a célebre S. Jorge. (**)

Um abraço,
José António Viegas
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 8 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15218: Memórias dos lugares (321): Porto Gole, fevereiro de 1967: visita do Gen Arnaldo Schulz (José António Viegas, ex-fur mil, Pel Caç Nat 54, 1966/68)

(**) Vd. blogue Cerveja em Portugal e Espanha / Beer in Portugal and Spain > 28 de julho de 2006 >  Cerveja S. Jorge

(...) Uma das mais emblemáticas marcas de Cerveja de Lisboa, a Cerveja S. Jorge teve o seu auge nos inicios dos anos 60. A Primeira lata "cone Top" Portuguesa foi da Cerveja S.Jorge.

Actualmente a Central de Cervejas continua a produzir a marca para exportação (Primeiro preço). É Vendida em Espanha nas versões com e Sem Álcool. (...)

Guiné 63/74 - P15232: Parabéns a você (973): Benito Neves, ex-Fur Mil Cav da CCAV 1484 (Guiné, 1965/67) e Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série > 10 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15228: Parabéns a você (972): Manuel Resende, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2585 (Guiné, 1969/71)