segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23590: Notas de leitura (1489): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte VII: A incrível história do soldado 25, cabo-verdiano, aliciado pela amante, uma "mulher do mato" de Cobumba, para cometer um acto de alta traição: tomar o quartel e matar todos os tugas...



Guiné > Região de Tombali > Bedanda > 4ª CCAÇ (1965/67) > s/d > "Mulheres do mato. Ao centro está o alferes Oliveira." 

Fonte: Manuel Andrezo . "Panteras à Solta", edição de autor, s/l, 2010, pág. 398 (Com a devida vénia...).



O gen Arnaldo Schulz em visita à 4ª CCAÇ em Bedanfa, s/d (c. 1964/67). Foto do Arquivo Histórico Militar, reproduzida por CECA (2014), p. 257.


Fonte: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro I; 1.ª Edição; Lisboa (2014), pág. 257
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1. Continuação da leitura do livro "Panteras à solta: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal", de Manuel Andrezo, edição de autor, s/l, s/d [c. 2010], 399 pp. il, disponível em formato pdf, na Bibilioteca Digital do Exército). [ Manuel Andrezo é o pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade, ex-cap inf, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6, Bedanda, jul 1965/jul 67] (*)

No livro "Panteras à solta" (que cobre o período que vai de julho de 1965 a julho de 1967, em que o cap inf Aurélio Manuel Trindade esteve à frente da 4ª CCAÇ e depois CCAÇ 6, em Bedanda),  há várias referências ao "comandante militar" e/ou "brigadeiro comandante militar" sem nunca o autor o nomear.  Também não há qualquer referência ao com-chefe e governador da Guiné, desse tempo, o brigadeiro e depois general Arnaldo Schulz...

Rcorde-se que desde o início da guerra,  era comandante-chefe o coronel tirocinado do CEM, Fernando Louro de Sousa (nomedo em 19mar63). Irá exercer as funções cumulativamente com as de comandante Militar, tendo substituído no cargo o coronel do CEM João Augusto da Silva Bessa. Promovido a brigadeiro (em 9jul63),  terminaria a comissão em 20mai64, altura em que  seria  substituído,no dia seguinte, pelo brigadeiro Arnaldo Schultz, que por sua vez acumularia as funções com as de governador da província. Promovido a general em 20abr65, Schulz cessaria funções em 23maio968. A partir de 7set66, há um novo comandante militar, o brigadeiro António M. Malheiro Reymão Nogueira.  Para os leigos, nem sempre é clara a distinção entre comandante militar e comandante-chefe...
 
Uma das preocupações iniciais do cap inf Cristo ("alter ego" do autor), quando chega a Bedanda,em rendição individual, em julho de 1965, para comandar a herogénea 4ª CCAÇ, é o reforço da coesão,  do espírito de corpo, da disciplina e da lealdade dos seus homens. 

Tanto Bissau como o comando de sector,  o S3, em Catió (onde estava sediado o BCAÇ 619, 1964/66, rendido depois pelo BCAÇ 1858) tinha  reservas em relação a esta companhia de guarnição normal, por alguns incidentes de natureza disciplinar. Era considerada uma boa companhia, do ponto de vista operacional, mas com altos e baixos, e a passar em meados de 1965 por um "mau momento"... 

Havia, ao que parece, por parte de Bissau (onde na época o governador geral e com-chefe já era o gen Arnaldo Schulz que nunca é mencionado no livro) um preconceito, fundamentalmente racista, em relação aos "caçadores nativos" (e em especial aos "cabo-verdianos"). A perceção de que os principais dirigentes do PAIGC eram cabo-verdianos ou de origem cabo-verdiana (a começar pelos irmãos Cabral) pode ter alimentado e agravado a desconfiança em relação os militares das NT, cabo-verdianos ou de origem cabo-verdiana.

Aiás, só tarde, e devido à persistência do cap Cristo, os "soldados nativos" passaram a ter a novíssima G3 em lugar da velhinha Mauser, da II Guerra Mundial... E combatiam um inimigo dotado de armamento superior (a começar pelas armas automáticas, como a Kalash). Diz o tenente-coronel que vem de Bissau, mandado pelo "brigadeiro omandante militar":

(...) "Você tem que compreender que comanda uma companhia de negros em quem não confiamos totalmente. Já houve aqui uma tentativa de revolta e ninguém nos diz que não possa haver outra, e era muito aborrecido se eles fugissem para o mato com as G3. (...) (pág. 124).

A situação deveria ser semelhante nas outras duas companhias de "caçadores nativos", de guarnição normal: a 1ª CCAÇ, que estava em Farim (e que deu origem à CCAÇ 3); e a 3ª CCAÇ (que estava em Nova Lamego) e que deu origem à CCAÇ 5.  O nosso colaborador permanente José Martins, ex-fur mil trms dos "Gatos Pretos" (CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70) recorda-se que que na sua secção, no seu tempo,  havia 6 mausers e 6 G3...
 
2. Por volta de finais de 1964 ou princípios de 1965, tinha havido, na 4ª CCAÇ, um incidente grave que poderia ter  tido consequências trágicas,  Recorremos a alguns excertos do livro que estamos a ler, "Panteras à Solta":

(...) "─ Eu também queria dizer algo meu capitão ─ disse o 1º Sargento. ─ Há alguns meses atrás, antes de eu vir para a companhia, houve qualquer coisa com alguns soldados negros, principalmente cabo-verdianos, que fez com fossem conduzidos ao Comando do Batalhão, em Catió, onde ficaram detidos. São soldados da companhia que ainda lá permanecem presos. Não sei o que se passou mas a companhia tem necessidade de resolver este assunto. (...) (pp- 31/32)

(..) ─ Obrigado ─ disse o capitão. ─ Algum dos senhores sabe alguma coisa mais que me queira dizer sobre os soldados da companhia presos em Catió?
─ Eu, meu capitão ─ disse o Alferes Ribeiro. ─ Eu já estava na companhia quando
isso aconteceu. Não falei antes porque julguei que em Bissau, quando por lá passou, o nosso capitão Xáxa ou alguém lhe tivesse falado nisso. 

O alferes Ribeiro descreveu, então, os antecedentes da situação.  Um dia, ao cair da noite, estavam para sair para uma operação e dispunham de um prisioneiro, capturado na operação anterior que ia servir de guia. Aconteceu que o alferes Cordeiro encontrou o prisioneiro, fora da prisão, a sair calmamente do quartel. Prendeu-o novamente e interrogou-o para saber como tinha conseguido sair da prisão, tanto mais que havia um soldado a guardá-lo à vista. 

Inicialmente o prisioneiro não queria falar mas com a habilidade do alferes Cordeiro ele acabou por confessar que tinha sido solto pelo soldado 25 e que se dirigia para o seu acampamento, em Cobumba

Chamado o soldado 25, outro cabo-verdiano, foi o mesmo posto perante os factos. Negou, a princípio, qualquer interferência, mas perante as evidências acabou por confessar. A declaração dos motivos foi bem mais difícil de obter. Mas o alferes Cordeiro, perito na arte do interrogatório, conseguiu que o soldado 25 confessasse os motivos da sua acção.

Tinha uma amante, mulher do mato da zona de Cobumba. Todos as semanas a mulher vinha à povoação comercial vender arroz e comprar cana e tabaco, e dormia uma noite com o soldado. Na cama, ela ia procurando saber coisas da companhia.

Tantas vezes dormiram juntos, tanto falaram da companhia, que a mulher lhe prometeu o comando de Bedanda se ele a ajudasse a tomar o quartel. As promessas eram tão aliciantes que ele aceitou ajudar desde que lhe dissessem o que tinha de fazer e lhe comunicassem o momento de agir. Fez ligações com outros soldados do seu pelotão, na maioria cabo-verdianos, e estabeleceram um plano de acção que, na sua essência, apontava para a tomada do quartel pelas força. 

Na noite aprazada para o ataque, os cabo-verdianos, ao tempo do pelotão do alferes Barata, facilitariam a entrada dos guerrilheiros, matando nos quartos todos os brancos, oficiais e sargentos e alguns cabos especialistas. Durante o ataque, o pelotão dos revoltosos e mais alguns soldados negros que aderissem ao movimento, liquidariam todos os soldados que não quisessem juntar-se aos guerrilheiros. 

Conquistado o quartel e feita a limpeza de militares e de civis que não aderissem, o 25 passaria a comandar toda a área de Bedanda. Como tudo se veio a saber por confissão do soldado 25, todos os militares implicados foram presos e enviados para Catió onde seu deu início aos autos. Nessa noite, ninguém saiu para o mato, refizeram-se os pelotões até que se recebessem novos efectivos em praças. 

A partir dessa data passou a exercer-se um controle apertado de entradas e saídas das mulheres do mato, para se averiguar as que dormiam em Bedanda, onde e com quem.

─Meu capitão, nós todos, oficiais e sargentos, ficámos convencidos de que estávamos sentados num barril de pólvora. Se dessa vez tivemos sorte ao descobrir a tempo a conspiração, na próxima poderemos não ter, pelo que todos temos  de ficar atentos e permanentemente vigilantes. " (...) (pp. 32/33).

Ficamos sem saber se os militares sediciosos da 4ª CCAÇ, tal como soldado 25, maioritariamente "cabo-verdianos" (sic), eram nascidos em Cabo Verde ou na Guiné. Sendo do recrutamento local, era mais provável que fossem guineenses, de origem cabo-verdiana...
 
3. Ficamos, todavia,  a saber que, ao tempo da 4ª CCAÇ (e mesmo depois, com a CCAÇ 6), havia um sistema de livre trânsito em Bedanda, para as "mulheres do mato", que iam à "povoação comercial" vender os seus produtos e comprar outros que lhes faziam falta. 

Em geral, eram mulheres, mães, filhas  ou parentes de guerrileiros.   Eram oriundas "de Cobumba, de Pericuto, de Chugué. (...) (pág. 116), ou seja, de povoações que ficavam a escassos   quilómetros,  em redor de Bedanda.

As mulheres vinham de zonas onde havias boas bolanhas, e que continuavam a ser cultivadas. O arroz (e outros produtos, como a mandioca) era suficiente para as necessidades dos guerrilheiros e da população sob o  seu controlo. Em contrapartida, havia falta de arroz (e produtos frescos) em Bedanda.

Sabe-se que populações balantas emigraram, nos anos 20/30, para a região de Tombali e ali desenvolveram a cultura do arroz. No sul, os balantas (mas também biafadas, mandingas, nalus, sossos...)  são aliciados pelo PAIGC.  A economia da região fica totalmente desarticulada. Bedanda, em pleo chão balanta, é agora ocupada maioritariamente por fulas fugidos do Cantanhez e doutras partes.

(...) "O capitão não aceitava que a população sob o controlo das suas tropas vivesse pior do que a população controlada pelos guerrilheiros. Do lado deles não havia falta de arroz, mancarra, mandioca e óleo. Do lado da tropa tinham apenas cana, tabaco e panos que os comerciantes traziam de Bissau, e o arroz que compravam às mulheres dos guerrilheiros.  

Fazia-se um intercâmbio grande entre a população comercial e as mulheres do mato. Traziam arroz, mancarra e óleo, e voltavam com tabaco, cana e panos para elas e para os homens. Se era difícil para os militares compreender a sua posição como um elo na cadeia logística dos guerrilheiros, mais difícil era verificar que os outros tinham mais comida do que a população que a tropa controlava. O capitão ia reagir a esta situação de uma forma pouco usual. (...) (pp. 76/77).

Em suma, a tropa facilitava a entradas das "mulheres do mato" em Bedanda por onde circulavam livremente (exceto nas intalações militares), havendo todavia sido criado, para o efeito, um mecanismo de controlo (que não vem descrito em detalhe no livro): 

(...) Dado estar autorizada a entrada das mulheres do mato na povoação comercial, existe um sistema de controlo que permite ao coma companhia saber quantas mulheres entraram e donde vieram. Muitas vezes as mulheres trazem galinhas e ovos para vender, e o próprio capitão tem comprado algumas, pondo-as numa capoeira no pelotão da cantina. Normalmente tem lá três ou quatro galinhas.

 O capitão, acompanhado do Lassen, desloca-se muitas vezes aos acessos a Bedanda, de manhã cedo, para falar com as mulheres do mato e aproveita para mandar a sua mensagem. Quando quer saber informações de determinadas áreas, o capitão utiliza várias pessoas que vão desde comerciantes a soldados ou aos homens grandes da tabanca, nomeadamente soldados da milícia. Quando isso acontece, o capitão autoriza que se façam despesas nas casas comerciais, em tabaco e em cana, para se criar um clima de confiança. Por vezes é um trabalho demorado mas permite ao capitão ficar a saber o que se passa na mata à sua volta. (...) (pág. 102)-

Chegaram a estar em Bedanda, num só dia,  uma centena de "mulheres do mato" que o cap Cristo também usava para fazer a sua "psico" e obter informações sobre o que se passava do lado de lá, ao mesmo tempo que aproveitava para  transmitir "recados" aos "homens do mato", e em última análise ao 'Nino' Vieira:

(...) "No dia seguinte, às onze e meia da manhã, mais de 100 mulheres estavam
concentradas no pelotão da cantina. O capitão tinha mandado recolher aos abrigos todos os soldados. Além disso, tinha avisado a tabanca, o administrador e todos os comandantes de pelotão de que a artilharia iria fazer fogo ao meio-dia". (...) (pág. 272).

Segundo o cap Cristo, o 'Nino' teria estatado inicualmente na tropa portuguesa, dizia-se. E tinha estado justamente em Bedanda. Razão por que Bedanda era um "espinho encracado" na sua garganta (pág. 269). Daí a tentativa, gorada, de um dia tentar conquistar, ocupar e ou destruir Bedanda. Falava-se num força de 800 homens. (Vd. capáitulos "Os 800 do Nino", pp. 269-273).

(...) Utilizando o cabo Francisco o capitão dirigiu-se às mulheres.
─ Soube que os vossos maridos e filhos se preparam para atacar Bedanda para matar o nosso capitão. Mas nosso capitão não tem medo nem que venham mil guerrilheiros. Nosso capitão sabe que Nino só ainda tem 800 para o vir atacar. Digam-lhe que é pouco. Para entrar em Bedanda e matarem nosso capitão precisa de muito mais gente. Nosso capitão não foge suma galinha. Quem foge suma galinha são os vossos maridos, são os guerrilheiro do Nino. Traduz para elas." (...) (pág. 272)

Mas, como vimos com a história do soldado 25, o sistema também funcionava a favor do PAIGC. Digamos que havia um "modus vivendi" que agradava a todos, por muito insólito que isso possa parecer hoje aos olhos dos nossos leitores que não conheceram o sector S3... Noutros sectores como o L1 (Bambadinca), que eu cnheci (em 1969/71) as coisas não funcionavam assim: as "mulheres do mato" arriscavam ser emboscadas, presas ou mortas, quando se dirigiam a Nhabijões e a Bambadinca, cambando o rio Geba,  para visitar os parentes e/ou fazer compras...

(Continua)
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Notas do editor:

Guiné 61/74 - P23589: Notas de leitura (1488): "Sinais de Vida, cartas da guerra 1961-1974", por Joana Pontes; Tinta-da-China, 2020 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Janeiro de 2020:

Queridos amigos,
O livro de Joana Pontes lê-se com fervor, é percetível, do princípio ao fim, a singularidade do projeto, tomar a correspondência trocada para ir assinalando a mudança dos homens e a mudança da época em Portugal. As conclusões da autora são para ter em consideração, já que estão envolvidos todos os anos da guerra: a ânsia em regressar, a alegria de receber a tropa que nos vem render, informar a família de que tudo se faz para que o tempo passe sem incidentes, a ausência de compreensão de um grande ecrã em que se situe toda a questão colonial, fala-se de um período de tempo, de um local, ninguém assume que é o todo, porque não se conhece o todo; e com o passar dos anos o sacrifício que é exigido para defender a pátria esbate-se e contesta-se intimamente. Se alguma lacuna significativa encontro neste belo trabalho é exatamente a desproporção no tratamento dos três teatros de guerra: a Guiné tem a porção menor, quase residual, quando se sabe que nada foi assim, a despeito do acervo de correspondência talvez seja minguado quanto às terras de bolanha e tarrafo. Paciência.

Um abraço do
Mário



A correspondência da guerra colonial: uma amostra de mudanças em Portugal (2)

Mário Beja Santos

Como se disse no texto anterior, trata-se de um belíssimo trabalho, de uma fecunda investigação, é uma das obras mais originais que até hoje se produziu em torno dos olhares sobre a guerra colonial, documento a partir de agora indispensável: Sinais de Vida, cartas da guerra 1961-1974, por Joana Pontes, Tinta-da-China, 2020. Joana Pontes é doutora em História na especialidade de Impérios, Colonialismo e Pós-Colonialismo, tem currículo firmado no jornalismo televisivo e foi membro da Direção da Liga dos Amigos do Arquivo Histórico Militar. Colaboradora no Projeto Recolha, destinado a evitar o desaparecimento da memória escrita da guerra, acompanhou de perto a chegada de um arquivo fecundíssimo, pois foram contabilizadas cerca de 4400 cartas e aerogramas, aproximadamente 11300 páginas, operação que decorreu entre 2003 e 2010.

No seguimento da recruta e da especialidade, em que os militares traziam produtos de fumeiro, queijos, vinho e aguardente, mimos com valor identitário, provas de zelo dos pais, já que corria fama universal que a comida da tropa não era muito atrativa, os cuidados agora, em que há uma separação de milhares de quilómetros, mudam de registo: quem está na guerra fala nos mosquitos, nos perigos da bicharada, nos enlatados das rações de combate, na dobrada liofilizada, no esparguete com salsicha. As mães, mulheres e namoradas não se esquecem de transmitir essa preocupação: Também estou ralada que passes mal de comer. Mas dão conselhos de outro género: Não te deites com a roupa molhada; agasalha-te bem para não te constipares; não tires o soustento ao teu corpo vaite alimentando que tu aí não tens quem olhe por ti. Há de facto a lavadeira e costureiros, mas o grau de dependência destes jovens militares reduz-se significativamente, um deles escreve à mãe: Quando for para aí, serei um outro homem talvez um pouco mais bruto, mas muito mais homem. Se eu tivesse sempre debaixo das suas saias seria menino, e hoje não o sou. Estamos dentro do paradigma de que a tropa ensina a ser homem. As doenças não são esquecidas e os animais perigosos muito menos, fala-se em febres, formigas que mordem, paludismo, clima doentio. Há quem confesse à mulher que está a tomar Librium, para tratar a ansiedade.

As informações sobre a vida nas colónias é uma constante: Luanda é muito cara, o dinheiro desaparece rapidamente, entre amigos há comentários sobre as belas mulheres que circulam nas ruas ou nas praias. Surge um novo léxico, e explica-se para a metrópole o que é ser maçarico, o significado de “checas”, “peluda”, “puto”, “jinguba”, “mainato”, “alfaiates”, “maningue”, “cacimbado”, “água de Lisboa”. Há a descrição das belezas naturais, do que é o Ramadão, fala-se dos filmes que é possível ver, estrangeiros e internacionais. Pedem-se livros às famílias, mas também se podem comprar nas cidades. Nota curiosa que registo de Bissau: na livraria da 5.ª Repartição (Café Bento) podiam ser adquiridos livros recolhidos pela censura na metrópole.

Como observa Joana Pontes, o facto de a situação de guerra ter levado a um corte abrupto com a vida anterior, os ingredientes da narrativa também mudaram de registo e ganham ênfase com o passar dos meses. Mas os episódios mais brutais não são contados às famílias de um modo geral, escolhem-se os amigos para falar de emboscadas, de rebentamentos, de evacuações por helicóptero, das destruições dentro do aquartelamento por obra das flagelações. Mas há casos em que não falta pejo para dar notícias às famílias sobre os episódios da guerra: eu matei um Turra com dois tiros na cabeça e um nas costas e não tive medo nem nonjo. Há quem apele, do lado de cá, para a prudência, do género: Vê se te resguardas. Cumpre o teu dever mas nada de heroísmos mas sim salvar a pele, que é o que mais precioso temos; Fiquei muito contente por saber que ultimamente não tens saído para o mato. Deus queira que isso não aconteça nestes tempos mais próximos, nem nunca mais se possível fosse.

Conta-se o tempo, põem-se cruzes em cada dia do calendário. Do lado de cá, dão-se novidades sobre as mudanças, e não se esconde que se leva uma vida dura: me doi as pernas de Domingo ter ido para o rio da manga lavar estava habituada a lavar na arca-d’água as pedras são mais altas e por esse motivo é que me custa a andar. As transformações são lentas mas sentidas a olhos vistos. A autora recorda que em 1963 o valor da produção industrial se tornou superior ao da produção agrícola. O produto interno bruto português era no final da década de 1950, o mais baixo dos países da OCDE. A abertura económica ao exterior, as poupanças que os emigrantes enviavam para Portugal e as receitas do turismo que, nessa altura, chegava finalmente em massa a Portugal, contribuíam de forma clara para que as taxas de crescimento da economia portuguesa fossem superiores à média da Europa Ocidental. Surgiu a contestação universitária, crescia a presença feminina nos estudos universitários, apareceu o planeamento familiar, o ideal da esposa doméstica deixou de ser um objetivo em si para a maioria das mulheres, expandiu-se a escolaridade, a telescola arrancou em 1965, as cidades cresciam, os campos iam ficando ao abandono. Esta transição insinua-se claramente na correspondência de cá para lá.

Na segunda parte da obra, a vivência da guerra propriamente dita, Joana Pontes repertoria os acontecimentos em Angola, 1961-1963 e 1963-1965, depois Moçambique 1964-1966, voltamos a Angola, agora 1966-1967, e também Angola-Moçambique 1966-1968 (correspondência de um paraquedista que se alistou como voluntário aos 18 anos), o único testemunho da Guiné é referente ao período 1967-1970; segue-se Angola 1967-1969 e vem a seguir Moçambique 1970-1972; caminhamos para o fim, temos agora correspondência em Angola, 1973-1974. A autora tira conclusões sobre a evolução do pensamento dos militares ao longo destes anos de guerra: a vontade expressa de regressar à metrópole, a ânsia permanente; a vontade de não arriscar e fazer o possível para que o tempo passe sem incidentes, procurar só fazer o estritamente necessário; a manifesta falta de compreensão, em sentido lato, da questão colonial; a observação de que a crença na virtude do sacrifício exigido a todos para defender a Pátria se vai esbatendo ao longo da guerra; a ausência de entendimento geral da evolução do conflito, os relatos dos militares assinalam episódios pontuais, podem dar informações privilegiadas, mas nada mais; a insistência em falar no modo de vida precário e falta de condições, a dureza das operações e mesmo a saturação que se atingiu; a descrição do inimigo e do equipamento, à medida que o tempo passa diz-se que os guerrilheiros se apresentam bem armados e enquadrados; e temos ainda a constante da vivência monótona e com diferentes matizes a confissão de estar só, independentemente dos vínculos da camaradagem.

Em termos de epílogo, a autora regista que falta um trabalho de integração destas memórias na narrativa histórica da guerra. “A não existir esta integração, haverá condições mais favoráveis para o aparecimento de uma reelaboração e reinterpretação histórica enviesada, porque desligada de contexto e da realidade social da época”.

Imagem da guerra, retirada do blogue Galeria dos Goeses Ilustres, com a devida vénia
Gil Manuel Pereira Francisco, combatente na Guiné, imagem retirada do site do Instituto Politécnico de Viseu, onde ele foi entrevistado, com a devida vénia
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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23578: Notas de leitura (1487): "Sinais de Vida, cartas da guerra 1961-1974", por Joana Pontes; Tinta-da-China, 2020 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P23588: Parabéns a você (2099): José Marcelino Martins, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23584: Parabéns a você (2098): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 488/BCAV 490 (Mansoa, Bafatá e Jumbembém, 1963/65) e José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Mata dos Madeiros, Bassarel e Tite (1971/73)

domingo, 4 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23587: (Ex)citações (414): Um "presente envenenado": a minha transferência da CCAÇ 1621 para a CCAÇ 6, em 1/7/1967, em substituição do alferes miliciano acusado de roubar o arroz às "mulheres do mato" (Hugo Moura Ferreira)



Nota de 11 de julho de 1967, da 1ª Rep/QG/CTIG, com a ordem de transferência do alf mil Hugo Fernando Moura Ferreira, da CCAÇ 1621 para a CCAÇ 6.

Foto ( e legenda): © Hugo Moura Ferreira (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, de hoje, às 9h36,  do nosso amigo e camarada, um histórico da Tabanca Grande (de que é membro desde 22/12/2005), Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil CCAÇ 1621, Cufar, CCAÇ 6, Bedanda, e 1º Rep/QG/CTIG, Bissau, 1966/68:

Assunto  - "Panteras à Solta" e outras coisas

Olá, Luís Graça.

Desejo que as melhoras estejam a ser constantes e sentidas!

Já comecei a ler o livro "Panteras à Solta", de Manuel nrdezo, pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel TRindade, ed. autor, 201o, 399 pp.) que me está a entusiasmar. 

Há coisas que desconhecia e outras de que apenas ouvi falar nelas de forma superficial, mas algumas conheço-as bem. Nomeadamente aquela em que tu mencionas no P23565 (*):

"... quando um dos seus alferes milicianos, feito com um comerciante local, roubou arroz às mulheres do mato. Foi exemplarmente punido com 3 dias de prisão simples, expulso da companhia e transferido para Catió" (...).

Ora, eu acabei pro ser um interveniente directo, nessa hist´roia, como te comprovo com o documento anexo. O facto é que,  devido à ocorrência, fui eu que acabei por ser colocado na CCaç 6, quando a minha CCaç 1621 foi transferida de Cufar para o Cachil.

No fundo, analizando bem a situação, o prevaricador que era o Alf  Mil______________ [omite-se o nome, por razões óbvias, LG] acabou por sair beneficiado, pois deixou de integrar uma unidade altamente operacional, para integrar uma de quadrícula "vulgar de Lineu" que por essa razão viu a sua comissão reduzida em 4 meses. 

Como deves saber, as Companhias formadas na Metrópole tinham uma comissão de 18 a 20 meses e os militares das Companhias da Guarnição Territorial, que ali eram colocados em rendição individual, "abichavam" 24 meses.

Foi isso que me aconteceu a mim, que não tinha sido castigado e acabei por sê-lo. porque a minha CCaç 1621, regressou em Agosto/1968 e eu acabei por embarcar em Novembro.

E a recordação leva-me à altura em que recebi a carta que te envio em anexo. Toda a malta, me veio dar os parabéns, por ter sido escolhido entre tantos alferes pertencentes ao Batalhão de Catió, que eu, sabendo a fama operacional que a CCaç 6 tinha, sempre fui respondendo com um "Xiça".

E lá fui... E não me arrependo, pois fiquei "agarrado" àquela terra e àquela gente precisamente por esse facto. Tal nunca teria sucedido se eu me tivesse mantido na minha Companhia de origem.

Mas quando fui, tomei uma posição que me levou a apresentar-me ao Major Monteny, Chefe da Rep. do Pessoal, do QG, colocando-lhe a questão da injustiça da situação. Felizmente ele compreendeu e aceitou o meu pedido(!) de que, quando a CCaç 1621 fosse para Bissau a aguardar embarque, eu também seria transferido para a capital, deixando Bedanda.

Isso veio a verificar-se. Eles no QG cumpriram o prometido.

Mas (há sempre um mas!) quando me apresentei no Quartel General, foi em má altura. Como o AlferesTesoureiro, da Chefia da Contabilidade, tinha ficado "cacimbado" e evacuado para Lisboa, a vaga estava ali mesmo à minha espera. Agora, imagina um atirador, sem formação contabilística, económica ou financeira, a ocupar o lugar do Tesoureiro do QG, para toda a Guiné.

Aqui tenho que fazer justiça a dois camaradas que muito me apoiaram. Foram o Alf Verde e o Alf Oliveira (filho dos donos das máquinas de costura Oliva, de São João da Madeira). Ao ponto de passarem a última noite, antes do meu embarque, na pesquisa de um erro de contas de 20 centavos, para eu poder passar o serviço e as contas em condições e ser autorizado a regressar. Não os esquecerei!

Mas foram 4 meses interessantes. A minha Mulher, com quem tinha casado 2 meses antes de embarcar para a Guiné, depois de 8 anos de namoro, com quem não tinha podido gozar a Lua de Mel, dado que estava no IAO, quando formei companhia, em Abrantes, no RI2, acabou por ir viver comigo esses 4 meses. E acompanhou-a o meu filho mais velho, que nasceu precisamente em Julho/67, coincidindo com a minha mudança da CCaç 1621, para a CCaç 6. 


Guiné > Região de > Cufar > CCAÇ 1621 (1966/68) > s/d > Coluna de Sangonhá para Cacine> Foto disponibilizada por pessoal da CCAÇ 1621, por ocasião do  convívio de Junho de 2006).

Foto  (e legenda): © Hugo Moura Ferreira (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(...) Tenho outras questões que aqui vou focar, embora de forma sucinta.

1ª - Curiosidade;

Quando os alunos da Academia Militar terminavam os cursos, vulgarmente eram destacados, por 1 ano, para as Companhias, a fim de fazerem o Tirocínio. Foi o que aconteceu ao Cap Gastão Silva, que criou o "Sete do Cantanhez". Esteve comigo, uns anos antes, como Alf do quadro, na Ccaç 6. Tal como ele passou um outro Alf que já está na reserva como Cor., era o Alf Paninho Souto.

2ª - Curiosidade;

No meu tempo, apenas um ou dois meses, após a saída do Cap Aurélio Trindade, que eu não conheci, já não havia destacamento na povoação comercial.

À entrada da povoação existia, sim,  uma casa junto à Ultramarina, do Saldanha, onde dormiam 2 ou 3 Alferes. Já não me lembro. Eu sei que dormia ali!

3ª - Curiosidade:

Quanto à questão das Panteras 'versus' Onças, não sei exatamente o que se passou e levou o Cap Renato Vieira de Sousa (que sucedeu ao Aurélio Manuel Trindade) a proceder a essa alteração, mas irei tentar saber junto dele e depois informarei.

Por hoje aqui me fico, enviando um Abraço amigo! (**)

Hugo Moura Ferreira.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23565: Notas de leitura (1481): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte III: O Tala Djaló, cmdt do Pel Mil 143 e depois fur grad 'comando' da 1ª CCmds Africana, que virá a ser fuziladdo em Conacri, na sequência da Op Mar Verde

Guiné 61/74 - P23586 Os nossos camaradas guineenses (47): Tala Biu Djaló, ex-alf 2ª linha, cmdt Pelotão de Milícias (Bedanda, 1965/69), e ex-fur graduado 'comando, 1ª CCmds Africanos (Fá Mandinga, 1969/70), desaparecido em Conacri, em 22/11/1970, no decurso da Op Mar Verde (Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil, CCAÇ 1621, Cufar, e CCAÇ 6, Bednda, 1966/68)




Tala Biu Djaló, ex-fur graduado 'comando', 1ª Companhia de Comandos Africanos. Pertencia ao Gr Com do alf graduado 'comando' João Benjamim Lopes, que ficou retido em Conacri, em 22 de novembro de 1970, no decurso da Op Mar Verde. Terá sido depois fuzilado, juntamente com todo o grupo.

Originalmente, o Tala Dajló era alf de 2ª linha, comandante do Pelotão de Milícias, de Bedanda, ao tempo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro da CCAÇ 6,  cap inf Aurélio  TRindade (Bedanda, 1965/67).

Fotos ( e legendas): © Hugo Moura Ferreira (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Hugo Moura Ferreira
1. Mensagem de 30/8/2022, 0h56, do veterano da Tabanca Grande, Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil inf, CCAÇ 1621, Cufar, e CCAÇ 6, Bedanda, 1966/1968)
 
Verifiquei que, no poste colocado em 29Ag22 (Guiné 61/74 - P23565) (*), dás como em falta uma imagem do meu saudoso amigo Tala Biu Djaló. Sendo assim, aqui te envio uma imagem dele.

Abraço e dispõe para aquilo que aches que eu possa ser útil. Hugo Moura Ferreira (**)
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de:


Guiné 61/74 - P23585: Blogpoesia (784): "Meu amigo Dostoievsky", poema ilustrado por e da autoria de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

© ADÃO CRUZ


Meu amigo Dostoievsky

Meu amigo Dostoievsky, nada temos a ver aparentemente
um com o outro, a não ser o nosso encontro pelos meus
dezoito anos.
Apetece-me chorar, ao recordar as noites em que à luz de um
foco olho de boi, debaixo dos lençóis para que minha mãe
não visse, eu invadia os teus livros numa das maiores e mais
deliciosas aventuras da minha vida.
Ainda hoje me são familiares o rosto de Sonia e a figura
de Raskolnikov, luz mítica e mística dos que têm coisas em
comum, orientando-se na direcção do símbolos e do mundo
sem forma.
Da mesma forma que te marcaram Balzac, Schiller, Victor
Hugo e Goethe, tu imprimiste em mim a sensação que te
fez desmaiar perante a beleza de Seniavina, na casa dos
Wielgorsky, e eu não sou homossexual, meu caro Dostoievsky.
Perante a beleza, eu não sei ao certo onde pára o sexo, se no
esperma de Úrano derramado no mar, se na poesia da Morte
em Veneza.
Não é a realidade física que interessa ao simbólico, mas o
significado do sexo na imaginação.
A dualidade do ser funde-se na tensão interna de quem ama
e a união sexual não é mais do que o apaziguamento da
tensão interior.
Nunca te concebi humano, sobretudo depois dessa manhã de
rosto de pedra e gelo em que viveste o mais trágico minuto
da tua vida.
Um vento glacial varreu-me a fronte ao ouvir o teu nome
na chamada para a morte: Akcharumov, Shaposhnikov,
Dostoievsky.
Hoje, depois de ter amado tanto, aceito a tua epilepsia como
o estigma mais marcante da pureza da condição humana e
passei a considerar-te meu irmão para o resto da vida.
Por isso me senti prisioneiro quando entrei na fortaleza de
S. Pedro e S. Paulo, e por isso chorei na Praça Semenovsky,
onde viveste uma vida inteira em dois minutos de morte.
Era como se fosse eu o condenado.
Também chorei quando reencontraste Suslova, apenas pelo
que sofreste ao ver que o amor não se repete.
A noite e o vazio estão na origem cosmológica do mundo e o
amor é uma criança que cresce...
e deixa de ser criança.
Amor e morte quando descobertos acordam e fogem.
Para escrever bem é preciso sofrer, disseste um dia ao jovem
Merejkovsky, quando a vida confundia as chamas do teu
inferno com relâmpagos de visionário.
Sofrer pode ser apenas sorrir...
frente a toda a utopia palpável não paranóica nem delirante.
Foi a mim que o disseste meu caro amigo, foi a mim que
o disseste na tarde cinzenta da tua morte, na hora da
hemorragia que te vitimou.
Até hoje ainda não te agradeci.
Perdoa não ter acompanhado o teu féretro, mas nessa altura
eu não existia...
ou será que te acompanho ainda hoje neste
pesado caminho do fim?

adão cruz

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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23562: Blogpoesia (783): "Mãos de hoje que foram de sempre", poema ilustrado por e da autoria de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)

Guiné 61/74 - P23584: Parabéns a você (2098): Armor Pires Mota, ex-Alf Mil Cav da CCAV 488/BCAV 490 (Mansoa, Bafatá e Jumbembém, 1963/65) e José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Mata dos Madeiros, Bassarel e Tite (1971/73)



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Nota do editor

Último poste da série de 3 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23581: Parabéns a você (2097): Amigo Grã-Tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz, ex-Fur Mil PE (EPC, 1983/84)

sábado, 3 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23583: O Cancioneiro da Nossa Guerra (14): Os Hinos da 4ª CCAÇ (Bolama e Bedanda, 1961/67) e da CCAÇ 6 (Bedanda, 1967/74)



Hino da  4ª Companhia de Caçadores  

(Bolama e Bedanda, 1959/67)


A terrível companhia 4ª CC
Que luta de noite e dia
Não têm medo
Na luta não tem rival
E gritam sempre
Vamos lá malta para a frente
Aqui manda Portugal

Refrão

No tarrafo são panteras
E na mata são leões
Mais do que com as armas
Eles lutam como feras
Lutam com os corações

Lutam sem medo
Nas bolanhas da Guiné
Caçadores nativos
Aos turras batem o pé
Sabem actuar
Em qualquer situação
Avançando sem parar
Gritando sem cessar
Defendemos nosso chão

Refrão

No tarrafo são panteras
E na mata são leões
Mais do que com as armas
Eles lutam como feras
Lutam co
m os corações

Fonte: In "Panteras à solta: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal", de Manuel Andrezo, edição de autor, s/l, 2010, pág. 5. [ Disponível em formato pdf, na Biblioteca Digital do Exército (Panteras_a_Solta (PDF, 6 MB, link para descarregar o ficheiro em pdf, cortesia do autor e da Biblioteca Digital do Exército. Manuel Andrezo é o pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade, ex-cap inf, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6, Bedanda, jul 1965/jul 67].

Não sabemos a data nem o autor da letra. Mas já devia existir esta letra em 1965/67.  Diz o refrão: " No tarrafo são panteras / E na mata são leões / Mais do que com as armas / Eles lutam como feras / Lutam com os corações"...

Quem escreveu este refrão, não conhecia bem a fauna da Guiné, onde, em 1965, ainda existiam leões (pouquíssimos) mas não não propriamente panteras. "Onça" (termo crioulo para leopardo), sim (nome científico: Panthera pardus) ... O termo "pantera" tende a ser usado para designar três tipos de felinos: 

(i) a pantera africana ou leopardo; 

(ii) a pantera americana ou onça p.d.; 

e (iii) e a pantera negra, que, na verdade, é uma variante melânica do leopardo (Panthera pardus).





Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, adapt de "Guia de Identificação dos Animais da Guiné-Bissau". República da Guiné-Bissau, Direcção Geral dos Serviços Florestais e Caça, Departamento da Fauna e Protecção da Natureza, s/l, s/d, pág. 11 (Disponível em formato pdf, aqui, no sítio do IBAP ,
https://ibapgbissau.org/Documentos/Estudos/Animais%20da%20Guine-Bissau.pdf)


A onça-preta, ou onça-preta, também conhecida por jaguar-preto, é uma variação melânica da onça-pintada (ou jaguar), e só existe no continente americano...A pantera-negra é rara na natureza, sendo muito pouco comum na África e grande parte da Ásia.... A variante é mais comum, nas selvas do sudeste asiático, e até abundante na Malásia. 

È muito pouco provável, pois, que algum guineense alguma vez tivesse visto em Bedanda, u noutra parte da Guiné, uma pantera-negra...e muito menos ainda uma onça-negra...

Também não sabemos como seria cantada este hino (em geral, adaptava-se a letra a uma música conhecida).

A 4ª CCAÇ foi extinta, passando a designar-se, em 1abr67, por CCaç 6 (por sua vez extinta em 20ago74) (*).


Hino da 6ª CCAÇ 
(Bedanda, 1967/74)






O Hino dos Onças Negras da CCAÇ 6 (Bedanda, 196774)


Fonte: "O Seis do Cantanhês", nº 1, 1973 (?)... Jornal mensal (mas só saíram dois números),  "jornal de caserna",  foi criado e dirigido pelo Cap Gastão e Silva, da CCAÇ 6, tinha como redator-coordenador o alf mil Joaquim Pinto Carvalho e, entre outros membros da redação, o alf mil António Teixeira, o nosso saudos Tony (1948-2013)... Foi ele que nos facultou esta página. Não sabemos quem é o autor da letra do hino. nem o ano,  mas, pela  referência à "Guiné Melhor", deve ser do tempo do Spínola (1968/73).(**). 


Enfim, são mais duas peças para o Cancioneiro da Nossa Guerra (***). Esperemos que outras letras  (e músicas) não se percam.

Imagem: © António Teixeira (2011). Todos os direitos reservados.
[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23553: Notas de leitura (1478): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): as aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte I: "Os alferes não gostaram do novo capitão. Acharam-no com cara de poucos amigos."

(**) Vd. poste de 30 de Setembro de 2011 > Guine 63/74 - P8842: Cancioneiro de Bedanda (1): O hino da CCAÇ 6, Onças Negras (António Teixeira / Hugo Moura Ferreira)

(***) Útimo poste da série > 28 de abril de 2022 > Guiné 61/74 - P23209: O Cancioneiro da Nossa Guerra (13): a "Spinolândia", com letra (parodiada) e música de "Os Bravos", de Zeca Afonso: uma preciosidade encontrada no sítio de "Os Leões de Madina Mandinga", a 1ª CART/BART 6523/73 (1973/74)

Guiné 61/74 - P23582: Os nossos seres, saberes e lazeres (523): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (66): Voltar à minha querida Bruxelas, depois da pandemia - 4 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Julho de 2022:

Queridos amigos,
Hoje tirei dia livre, quero andar a saracotear-me sozinho por espaços e lugares de que só guardo as melhores recordações. Saio do metro na Gare du Midi e sou surpreendido com a avenida de Estalinegrado transformada em estaleiro, só se circula por passeios apertados, mas não se perde a oportunidade de reavivar a memória, como aqui se mostra. Atravessa-se uma avenida e é-se acolhido num alfarrabista que aproveitou a pandemia para fazer transformações de vulto, é uma autêntica catedral onde cabem obras a satisfazer os múltiplos domínios do conhecimento. E chegou o grande momento de visitar a Igreja de Nossa Senhora do Bom Socorro, aqui se fazem preces há décadas, no que me toca sinto-me recompensado com os frutos recebidos. E parto para um acontecimento que vai inflamar ruas e praças, a Zinneke Parade, estes jovens revelam um entusiasmo inultrapassável, estiveram 2 anos sem poder festejar na rua, vêm agora revelar a sua imaginação, a sua capacidade de recuperar e reciclar, mostrar as suas escolas de música, é um mergulho na alegria de viver. E despeço-me, por ora, dessa sala de audiências que é a Grand Place, amanhã é dia de recordar uma grande amizade, vou de novo passear sozinho mas a conversar com a lembrança de quem foi tão importante na vida associativa que pude levar em Bruxelas, designadamente quando fui representante da Confederação Europeia dos Sindicatos.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (66):
Voltar à minha querida Bruxelas, depois da pandemia – 4


Mário Beja Santos

Estou na avenida de Estalinegrado, saí no metro da Gare du Midi, tenho uma festa retumbante pela frente, mas venho com tempo para as minhas bisbilhotices. A avenida é neste momento um estaleiro, tem taludes de cima a baixo, paro cheio de curiosidade junto da fachada da Casa Jamaer, nome de um arquiteto reputadíssimo do século XIX que aqui fez a sua mansão em 1874 com detalhes muito curiosos do renascimento flamengo. Merece uma contemplação pela harmonia das suas linhas, prometo em próxima viagem obter uma fotografia com maior visibilidade, agora os tapumes não ajudam.
Quando, aí pelos primeiros anos da década de 1980, descobri os ofícios da Catedral Ortodoxa Grega dos Santos Arcanjos, Bruxelas, levantava-me cedinho para aqui estar no princípio da manhã de domingo e apanhar o ofício do princípio ao fim, aqueles cânticos enchem-me as medidas, sempre visitei países de religião ortodoxa, não quis perder estes ofícios, assim aconteceu em Belgrado, Sófia e Kiev. Situa-se na avenida Estalinegrado, muito perto da Casa Jamaer. E agora vou às livrarias, as minhas cavernas de Ali Babá.
É visita obrigatória, estou no boulevard Maurice Lemonnier, nº55, a casa chama-se Pêle-Mêle, compra e venda de livros, discos, CDs, DVDs e jogos, espaço enorme muito bom para perder a cabeça, venho felizmente contido pela mala de bagagem de um voo low cost, será puro suicídio embeiçar-me por este catálogo que deve pesar para aí uns 4 quilos, do tempo da Europália russa sobre os tesouros dos Czares. Folheia-se melancolicamente e chega. É o único alfarrabista de Bruxelas onde encontro em grande quantidade obras portuguesas. Por aqui andei regalado e com vontade de voltar, levo um CD com música de câmara de György Ligeti, um dos meus mais queridos compositores contemporâneos.
Agora uma visita obrigatória à Igreja de Nossa Senhora do Bom Socorro, é sempre a mesma história que se repete em todos os países, aqui houve uma modesta capela no século XII, foi depois albergue de peregrinos que caminhavam para Santiago de Compostela, no século XVII o que havia foi demolido e criou-se este templo dedicado à Virgem. É uma visita que faço há décadas, gosto muito do altar, dos medalhões suspensos, da formosa escultura da Virgem do Bom Socorro (que data do século XIV), deambulo, faço preces, dou conta da alegria do meu regresso e agora parto para uma festa de rua deslumbrante, mostro as imagens.
Este acontecimento que anima Bruxelas em maio, um dos mais significativos acontecimentos do trabalho associativo chama-se Zinneke Parade, uma alegria de muitos povos, de muito imaginário e transversalidade cultural. A pandemia suspendeu o evento, trabalhou-se agora a todo o vapor e mostra-se o saber-fazer de diferentes associações e organizações, instituições e centros culturais, intervêm diferentes disciplinas artísticas, há para aqui muito espírito de aventureiro, ninguém esconde nestes agrupamentos o entusiasmo com que se procura regressar à normalidade, vão por aqui desfilar bandas, projetos de precursão, ateliês afro-flamengos, gente ligada aos serviços se inserção, escolas secundárias, institutos pedagógicos, centros de reabilitação, plataformas de ajuda a jovens em dificuldade, e muitíssimo mais. Por ali ando a bater palmas, a delirar com esta parada que é um hino à vida, onde se recicla, para ela convergem sobretudo jovens que trazem entusiasmo, uma alegria esfuziante, a deitar abaixo a doença, o isolamento, os preconceitos raciais, aqui celebra-se o trabalho coletivo que se oferece à comunidade de Bruxelas. Despedem-se dizendo até 2024, oxalá eu possa estar cá neste dia.
É uma tarde em cheio, não quero regressar a Watermael-Boitsfort sem espreitar a Grand-Place, a maior sala de audiências de Bruxelas, é uma tarde de sonho, chegam os sinais de um entardecer suave, ponho-me a um canto só para rever estas fachadas onde há sempre um pormenor que vai saltar à vista, um claro aviso que posso aqui vir vezes sem conta, há sempre uma revelação em todo este rendilhado de pedra. Amanhã de manhã quero prestar homenagem ao meu querido amigo, recentemente desaparecido, André Cornerotte, já aqui o mostrei em 2018, amanhã vou inventar um passeio pela Cité du Logis como se fosse a conversar com ele, ele a ensinar-me o espírito de presidia àquele projeto habitacional dos anos 1920, espero não vos dececionar.

(continua)

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Notas do editor

Poste anterior de 27 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23561: Os nossos seres, saberes e lazeres (520): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (65): Voltar à minha querida Bruxelas, depois da pandemia - 3 (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 2 DE SETEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23579: Os nossos seres, saberes e lazeres (522): Trabalhos de pintura da autoria de Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2046 (2)

Guiné 61/74 - P23581: Parabéns a você (2097): Amigo Grã-Tabanqueiro Luís Gonçalves Vaz, ex-Fur Mil PE (EPC, 1983/84)

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Nota do editor

sexta-feira, 2 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23580: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (126): Leitor brasileiro, Edson de Lima Lucas, identifica o navio inglês Narkunda, da P&O Lines, em foto de 29/9/1942 (presumivelmente "Foto Melo") , tirada ao largo do Porto Grande, Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde... Dois meses depois seria atacado e afundado pela aviação alemã, na campanha dos Aliados no Norte de África.



Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 29 de setembro de 1942 > Navio inglês, não é indicado o nome no verso... "Esteve em S. Vicente no dia 29 de setembro com diplomatas. [Eu] estava no hospital quando ele cá esteve". 

Foto do álbum de Luís Henriques (1920-2012), natural de Lourinhã, distrito de Lisboa,  ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, no Lazareto, entre junho de 1941 e setembro de 1943, em missão de soberania (. Este e outros batalhões foram entretanto integrados RI 23.).

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Mensagem do nosso leitor Edson de Lima Lucas:

Data - segunda, 29/08/2022, 22:24  
Assunto - Identificação de navio

Olá,

Sou um entusiasta por navios e ao longo da vida adquiri uma boa experiência para identificá-los. Por isso estou dando uma ajuda no seu excelente site ...

Na publicação de quinta-feira, 20 de agosto de 2020, o navio de 3 chaminés em foto de 29/09/1942 (*),  trata-se do inglês Narkunda, da P&O Lines, construído em 1920. 

 Originalmente era de passageiros mas em 1940 foi adaptado como transporte de tropas e em 14/11/1942 foi torpedeado em Bougie, Norte da África.

Foto raríssima como transporte de tropas.

Espero que tenha gostado das explicações.

Edson de Lima Lucas
Rio de Janeiro/Brasil

2. Comentário do editor LG (**):

Edson, estou-lhe muito grato pelas suas explicações que vêm enriquecer a legenda da foto do navio de transporte de tropas inglês, Narkunda,  da P&O Lines, tirada ao largo do Porto Grande, Mindelo, ilha de São Vicente, Cabo Verde (então ainda colónia portuguesa). A data deve estar certa, 29/9/1942.  Presumimos que a fotografia seja da Foto Melo, a célebre casa de fotografia do Mindelo, de que os expedicionários eram grandes clientes.

Na realidade, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

O Nkarkunda será atacado e afundado dois meses depois, ao largo da cidade  portuária argelina de Bugia, no Mediterrâneo, motrrendo 31 tripulanets. Leio aqui no sítio The Old Peninsular & Oriental Steam Navigation Company > c. 1835-1972 > SS Narkunda > From the evacuation of Singapore to the North African landings

(...) "Narkunda, under the command of Captain L. Parfitt, D.S.C., was serving as an auxiliary transport during the Allied landings in French North Africa in November 1942. She disembarked her troops at Bougie and had turned about for home when, towards evening on the 14th, she was bombed and sunk some distance off Bougie. Thirty-one persons were killed. Captain Parfitt was among the survivors.

"Bombed and sunk by German aircraft off Bougie, Algeria, passing Cape Carbon (36°52’N-05°01’E). She had just landed troops for the North African campaign and was about to return to the UK when the attack came out of cloud cover and she was hit heavily on the port side and astern. 31 crew were killed. The survivors were picked up by the minesweeper HMS Cadmus and returned to Britain by P&O’s Stratheden and Orient Line’s Ormonde." Source: The P&O Heritage Archive. (...) 

Tradução Google Translate / LG:

(...) O Narkunda, sob o comando do capitão L. Parfitt, D.S.C., servia  como transporte auxiliar de tropas durante os desembarques aliados na costa do Norte da África Francesa,  em novembro de 1942. Desembarcou tropas em Bugia, Argélia, e estava de volta a casa quando, à noite do dia 14 ,  foi bombardeado e afundado a alguma distância de Bugia. Trinta e uma pessoas foram mortas. O Capitão Parfitt estava entre os sobreviventes.

"Bombardeado e afundado por aviões alemães ao largo de Bugia, Argélia, ao passar o  Cabo Carbon (36°52'N-05°01'E). Tinha acabado de desembarcar tropas no âmbito da campanha do Norte de África e estava prestes a regressar ao Reino Unido quando o ataque surgiu, sob o céu enevoada,   sendo fortemente atingido a bombordo e à ré. 31 tripulantes foram mortos. Os sobreviventes foram recuperados pelo caça-minas HMS Cadmus e trazidos para a  Grã-Bretanha pelo Stratheden da P&O e Ormonde da Orient Line ". Fonte: P&O Heritage Archive. (...)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de maio de  2017 > Guiné 61/74 - P17390: Meu pai, meu velho, meu camarada (54): Navios, do álbum fotográfico de Luís Henriques (1920-2012), natural da Lourinhã, ex-1º cabo at inf, nº 188/41 da 3ª Companhia do 1º Batalhão Expedicionário do Regimento de Infantaria nº 5 [, Caldas da Rainha], que esteve em Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, no Lazareto, entre julho de 1941 e setembro de 1943, em missão de soberania, juntamente com, entre outros militares, o fur mil e futuro cap SGE e escritor Manuel Ferreira (1917-1992), o autor de "Hora di Bai", de quem Leiria está a celebrar os 100 anos de nascimento

(**) Último poste da série > 17 de setembro de  2021 > Guiné 61/74 - P22549: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (125): O nosso Blogue foi contactado por uma sobrinha-bisneta de Cunha Gomes, Régulo da Tabanca de Binhante (Teixeira Pinto) nos anos 70 (Jorge Picado)

Guiné 61/74 - P23579: Os nossos seres, saberes e lazeres (522): Trabalhos de pintura da autoria de Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2046 (2)



1. Depois da prova de vida, o nosso camarada Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70), que no passado dia 27 de Agosto festejou o seu aniversário, enviou-nos alguns dos seus trabalhos de pintura que estamos a mostrar na série "Os nossos seres, saberes e lazeres".
Pavão - Acrílico sobre papel - 30X42
Flamingos - Acrílico sobre tela - 70X100
Garça - Lápis de aguarela sobre papel - 30X42
Pássaro - Aguarela sobre papel - 30X42
Maassais em Zanzibar - Pastel de óleo sobre papel - 30X42
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23570: Os nossos seres, saberes e lazeres (521): Trabalhos de pintura da autoria de Jaime Machado, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2046 (1)