© ADÃO CRUZ
Mãos de hoje
que foram de sempre
Na noite que já não é noite de madrugadas, perpassa em doce
silêncio por entre os dedos dormentes uma brisa dolente,
esquecendo as mãos na paz adormecida.
Por entre os frágeis dedos da quietude e do silêncio vagueia
agora em suave melancolia o magro regato da secura da vida,
arrastando em seu leito rugoso a triste canção de um tempo
sem cor nem movimento.
O lento gesto do abrir destas mãos de tantos anos vividas cai
agora em pesado silêncio por entre as malhas da sombra, no
impiedoso vazio das mãos cheias de nada.
Foi-se embora a madrugada das manhãs perdidas no tempo
em que o sol sorria entre os sonhos e as mãos cantavam a
força da vida com ondas do mar por entre os dedos frementes.
No penoso abrir e fechar de mãos deste plangente gesto
do fim do dia, feito canção de tão gélido silêncio, apenas a
saudade se aninha em negro fundo para morrer sozinha.
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Nota do editor
Último poste da série de 21 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23542: Blogpoesia (782): "O ar fresco da tristeza" e "A grávida mais linda que já vi", poemas ilustrados por e da autoria de Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)
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