quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Guiné 61/74 - P23573: Notas de leitura (1485): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte V: Bedanda, em meados de 1965


Croquis de Bedanda, em meados de 1965, ao tempo do cap inf Aurélio Manuel Trindade, último cmdt da 4ª CCAÇ e primeiro cmdt da CCAÇ 6 (In "Panteras à Solta",  de Manuel Andrezo, ed. autor, c. 2020, pág. 3)


1. Continuação da leitura do livro "Panteras à solta: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal", de Manuel Andrezo, edição de autor, s/l, s/d [c. 2020] , 445 pp. , il. [ Manuel Andrezo é o pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade, ex-cap inf, 4ª CCAÇ / CCAÇ 6, Bedanda, jul 1965/jul 67, exemplar gentilmente facultado, a título de empréstimo, pelo cor inf ref Mário Arada Pinheiro, com dedicatória autografada do Aurélio Trindade, datada de 13/12/2020] (*).

Há, porém uma edição, de autor, aparentemente  mais antiga. Ou então é a mesma, sendo que o autor mandou imprimir, com capa dura,  o seu livro na Alemanha, presumivelmente em 2020.  O livro não se encontra no mercado livreiro. Tem 445 pp.  

Ficha bibliográfica da edição autor de 2010:

Autor(es): Trindade, Aurélio Manuel, 1933-
Publicação: Lisboa : Edição de autor, 2010
Desc. Físicia: 399 p. : il. ; 26 cm
Contém: No sul da Guiné uma companhia de tropas nativas defende a soberania de Portugal
Notas: Manuel Andrezo é pseudónimo do Tenente-General Aurélio Manuel Trindade
Assuntos: Campanhas de África, 1961-1974 / Guerra colonial, 1961-1974 / Guiné, Portugal, até 1974

Cont. Digital: Panteras_a_Solta (PDF, 6 MB) (link para descarregar o ficheiro em pdf, 407 pp) (Cortesia do autor e da Biblioteca Digital do Exército)

Muitos "bedandenses" (e temos cerca de um vintena de camaradas, membros da Tabanca Grande, que estiveram em ou passaram por Bedanda, entre 1961 e 1974, mormente na 4ª CCAÇ e na CCAÇ 6) vão ler, de um fôlego, com saudade e sobretudo com muito prazer, este livro de memórias do capitão Cristo ("alter ego" do cap inf Aurélio Manuel Trindade, hoje ten gen ref, nascido em 1933).


Temos estado a selecionar uma ou outra história ou episódio dos cerca de 70 capítulos, não numerados, que o livro apresenta, uns sobre a atividade operacional da 4ª CCAÇ / CCAÇ 6,  outros sobre o quotidano da tropa e da população (incluindo a população do mato). 

 Há ligeiras diferenças entre a edição de 2010 e a de 202o. É natural que no espaço de 10 anos o autor tenha revisto, acrescentado ou melhorado algumas páginas.  Mas, pelas páginas que cotejámos, não há diferenças de conteúdo. O índice é o mesmo, com pequenas diferenças de paginação.  A diferença de 4 dezenas de páginas terá a ver com a impressão em livro, com um um tipo de letra talvez maior e mais espaçamentos. 

Mas deixemos, por agora, aos nossos leitores, a título de "nota de leitura" (**),  mais um peqeuno excerto do livro, neste caso sobre a Bedanda de meados de 1965, quando o capitão Cristo a conheceu:


PARA QUE O LEITOR NÃO SE PERCA EM BEDANDA (pp.  1-2)

Bedanda, sul da Guiné e região do Tombali, quartel da 4ª companhia de caçadores nativos, 4ª CCAÇ  no texto, ano de 1965. Distribuída por uma área com cerca de 8 kms de perímetro, dispondo de abrigos e redes de arame farpado, a 4ª CCAÇ  compreende diversos aquartelamentos ou sectores. 

Um desses sectores, a sede da companhia também será referido no texto como Companhia ou quartel [vd. croquis acima]. Conta com 2 pelotões de caçadores de um total de 4. O capitão tem aí o seu quarto, que funciona também como gabinete de trabalho, sala de reuniões e casa de banho. 

Não confundir com companhia, com inicial minúscula no texto, que é a componente operacional da Companhia. O depósito de géneros será a cantina no texto  [vd. croquis acima].. Tem 1 pelotão de caçadores e 1 pelotão de artilharia com 2 obuses 8.8. 

A povoação comercial, ou simplesmente povoação, é o sector onde se concentra a actividade comercial de Bedanda. Este sector dispõe de 1 pelotão de caçadores com uma secção destacada na Casa Gouveia, uma das casas comerciais [vd. croquis acima].

O sector da população indígena será a tabanca, onde está instalado  1 pelotão de milícias. O posto administrativo, por vezes designado apenas por posto, inclui a residência do administrador [vd. croquis acima].

Para suporte da sua actividade comercial e reabastecimentos militares, Bedanda é servida por 2 portos fluviais, situando-se um deles no rio Ungarinol, chamado porto interior, situado a cerca de 200 metros do quartel, e um outro mais distante, a cerca de 4 kms, no rio Cumbijã. É o porto exterior [vd. croquis acima].

À volta de Bedanda encontram-se muitos outros rios, matas cerradas como o célebre Cantanhêz, o corredor de Guileje e acampamentos de guerrilheiros armados de kalashnikov. À data da chegada do capitão Cristo a Bedanda, os soldados da 4ª CCAÇ dispunham da velha Mauser, do tempo da segunda Grande Guerra Mundial.

Local perdido nos confins da Guiné, como uma ilha cercada por todos os perigos, votada ao abandono pelo Comando Militar em Bissau, vejam como o capitão Cristo, ao ser ali colocado em rendição individual, assumiu a desdita que o destino lhe tinha reservado e a transformou numa caminhada de vitórias, num exemplo único de coragem, empenho, lucidez e de afirmação das nobilíssimas virtudes militares dos “capitães do  mato”, que fizeram do capitão de Bedanda uma lenda viva, que permaneceu e se espalhou, mesmo depois do capitão Cristo ter terminado a sua comissão, não só pelas unidades militares portuguesas como também por toda a guerrilha do PAIGC. 

[Seleção, revisão e fixação de texto, negritos e itálicos: L.G.] (Com a devida vénia...)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de agosto de  2022 > Guiné 61/74 - P23568: Notas de leitura (1482): "Panteras à solta", de Manuel Andrezo (pseudónimo literário do ten gen ref Aurélio Manuel Trindade): o diário de bordo do último comandante da 4ª CCAÇ e primeiro comandante da CCAÇ 6 (Bedanda, 1965/67): aventuras e desventuras do cap Cristo (Luís Graça) - Parte IV: as circunstâncias da morte do 2º sargento mecânico auto Rodolfo Valentim Oliveira, em 11/8/1965...

(**) Último poste da série > 31 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23572: Notas de leitura (1483): "Aprendiz de Mágico", de António Mário Leitão: "Um romance autobiográfico surpreendente (...) Ao longo da narrativa aparecem as diferentes facetas profissionais vividas por um farmacêutico que também foi professor, analista clínico, director de um serviço hospitalar, animador cultural, aviador, patrão de alto-mar, instrutor de mergulho e chefe de expedições de aventura, até se converter em escritor compulsivo" (António Trovela)

3 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Segundo me informa o ex-alf mil Joaquim Pinto de Carvalho, no seu tempo (CCAÇ 6, Bedanda, 1972/74) já não se usava o porto exterior, os barcos com os reabastecimentos vinham até ao porto interior, no rio U(nga)rinol, afluente do Cumbijã (com esta mnemónica - U...rinol - é mais fácil fixar o raio do nome do rio, que ainda aparece no blogue como rio...Ungauriuol, temos que corrigir).

Mas essa proeza (a de frazer chegar os reabastecimentos até ao porto interior) já tinha sido conseguida, com muito "sangue, suor e lágrimas", pelo cap inf Aurélio Trindade e os seus bravos, sem esquecer o apoio da Marinha (que escoltavam os barcos civis ao longo do rio Cumbijã)... Vd. capítulo "A Marinha reabastece Bedanda" (c. pág. 93).

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mandei o pfd do livro para os nossos bendadenses, e outros "africanos" (CART 11, CCAÇ 12, CCAÇ 14...) de que me lembrei, ale+em dos nossos coeditores e colaboradores prmanentes...

Espero que o leiam com o mesmo proveito e prazer com que o li (embora em livro). E não se esqueçam de nos mandar umas "notinhas de leitura"... O Blogue não vive do ar nem dos rendimentos... LG

PS. Obrigado ao cor inf ref Mário Arada Pinheiro, amigo do ten gen ref Aurélio Trindade, que me emprestou o livro, cuja existência eu desconhecia. Com o posto de major, também andou pela Guiné, em 1971/73, e bebeu a água de muitos rios, com destaque para os do sul... Já o convidei para integrar a Tabanca Grande, convite que ele aceitou de bom grado, sentindo-se honrado por se sentar à sombra do nosso poilão, ao lado dos já 864 amigos e camaradas (vivos e mortos) da Guiné. Aguardo pelas fotos da praxe e a breve nota curricular...

Anónimo disse...

Pois gostei de ler algo sobre o local que ao fim de quase 60 anos ainda memorizo, monte por monte, ribeiros, bolanhas, campos de culturas abandonados que os nativos mesmo com o nosso apoio, tinham medo do IN, matas tabancas periféricas onde o IN mantinha operacionais, INCALA, ROSSUM HOLÉ, SALANCAUR, SAMENINSE. BOBEDÉ do lado oposto ao UNGAURIUOL(nome descrito no mapa do sudoeste da Guiné)mais longe o CHUGUÈ, na margem direita do CUMBIJÃ, lá mais longe NHAI onde o NINO VIEIRA tinha o quartel general... e tanto para dizer e tanto para os meus camaradas de armas vindouros se aborrecerem com tento escrito, recordo as "patrulhas" de um (EU) pela mata do Cantanhêz adentro, pelas diárias idas a COBUMBA, e mesmo atravessar o rio CUMBIJÃ apenas com o Sargento Centeio, Muitas recordações que já tenho descrito diversas vezes, com respeito a fornecimentos no pequeno cais interior a 700 metros da zona comercial, houve um que não me sai da memória (GOUVEIA 16 SEM APOIO DOS FUZILEIROS, FOI ATACADO NA CURVATURA PERTO DE INCALA, O COMANDANTE DO DESTACAMENTO DENTRO DO G-16, É MEU AMIGO E TEMOS CONTACTO QUASE DIÁRIO, POIS ENFRENTÁMOS O PROBLEMA ELE MAIS EM PERIGO, O MEU PEQUENO DESTACAMENTO QUE OCORREMOS, NÃO NOS CONSEGUIMOS APROXIMAR DA MARGEM, POI O TARRFE ERA MUITO DENSO, APENAS COM MORTEIRO E BASUCA, MORRERAM O RÁDIO TELEGRAFISTA E UM DOS MEMBROS DA TRIPULAÇÃO FICANDO MAIS TRÊS SOLDADOS GRAVEMENTE FERIDOS, NO BATELÃ ÍAM MUITOS NATIVOS "VIAJANTES" FICARAM 17 FERIDOS ALGUNS COM GRAVIDADE