segunda-feira, 28 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2798: Em busca de ... (24): Sargento Diniz, amigo de meu pai, chefe dos correios, Catió, 1967/68 (Leopoldo Amado)

Guiné > Região de Tombali > Cat~ió > 1967/68 > O Leoopoldo Amado (1), em criança (6/7anos), mais o irmão José Pedro (o mais novo) e o sargento Diniz... Alguém, da nossa Tabanca Grande, se lembra do sargento Diniz ? Talvez o Vitor Condeço (2), que foi furriel miliciano de armamento na CCS do BART 1913, e que esteve justamente em Catió nessa época (1967/68).

Foto: © Leopoldo Amado (2008). Direitos reservados.


1. Mensagem do Leopoldo Amado, o nosso historiador, doutorado pela Universidade de Lisboa que agora foi viver para o Porto. Ouviu-o há dias na RDP - África, falando da sua vinda para Portugal, em 1980, para estudar. Foi colocado no Porto, de que não gostou, pedindo de imediato ao reitor da Univerdide a sua transferência para Lisboa. Hoje, voltou ao Porto, por razões profissionais e está a adorar viver lá. Há sempe um Porto desconhecido à nossa espera, meu caro Leopoldo. (Soube, além disso, pela tua entrevista, que querias ser psicólogo, o raio da matemática é que te tramou... Mas, deixa estar, em troca ganhámos um historiador que, infelizmente, ainda não pode trabalhar na sua terra, onde falta tudo ou quase tudo a um historiador, a começar pelos arquivos...).

Espero que a malta da tertúlia de Matosinhos te convide um dia destes para o almoço das 4ªas feiras, na casa Teresa. Com eles, irás perceber melhor quanto a malta a malta do norte e os amigos e camaradas da Guiné são gente fixe. Espero que continues a dar-te bem por aí. Agora vamos à tua mensagem, que enviaste em 10 de Abril último. Espero que alguém te possa ajudar.

Caro Luís, Briote e Vinhal,


Assunto - Diniz ainda é vivo ?


Como é do vosso conhecimento (se não é, passa a ser), o meu pai foi durante muitos anos Chefe dos Correios em várias localidades da Guiné. Foi assim que percorremos Bambadinca (1960-1963), Bafatá (1963-1964), Fulacunda (1964-1966), Catió (1966-1969) e Bolama (1969-1973). Na realidade, de dois em dois anos (máximo três) éramos transferidos de um local para o outro até que, em 69, regressamos novamente à Bolama, nossa terra e nosso ponto de partida inicial, antes de rumarmos definitivamente para Bissau, em 1973, já nas vésperas da independência.

Em todas as localidades, o meu pai fazia e possuía imensos amigos, designadamente, entre a soldadesca portuguesa. Dentre esses, lembro-me com saudades do sargento Diniz que, sendo um grande amigo do meu pai, encarregava-se de passear connosco (eu e meu irmão) pelas ruelas de Catió, aí pelos anos idos de 1967-1968.

A foto que vos envio (em anexo) foi feita nessa altura em Catió, no quintal da minha casa, ou seja, defronte aos Correios e o então quartel, que ficavam lado a lado. Da esquerda para a direita, o Diniz (de camuflado) e, no seu colo, o José Pedro (meu irmão mais novo, que vive há muitos anos em Paris) e eu próprio (de pé), com a idade provável de 6/7 anos.

A foto é da autoria de um soldado-fotógrafo profissional (o meu pai não se lembra do nome) a quem cedeu uma divisão na parte traseira da nossa casa, onde ele estabeleceu um improvisado e funcional estúdio-laboratório que servia a tropa toda e ainda os civis.

Eu e o meu pai gostaríamos de rever o Diniz e talvez o TABANCA GRANDE nos possa ser útil nisso.

Diniz, ainda é vivo?

Oxalá!


Leopoldo Amado

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Notas de L.G.:

(1) Sobre o Leopoldo Amado:

7 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXIX: Leopoldo Amado, guinense, historiador, novo membro da nossa tertúlia

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1782: O nosso doutorando Leopoldo Amado vai ter o seu 'baptismo de fogo' no próximo dia 28, na Universidade de Lisboa (Luís Graça)

24 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1783: Tese de doutoramento de Leopoldo Amado: Guerra colonial 'versus' guerra de libertação (João Tunes)


29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1794: Blogoterapia (21): Falar da guerra, com pudor... e com alegria do novo Doutor, Leopoldo Amado (Luís Graça)


(2) Sobre o Vitor Condeço:

1. Mensagem enviada a 21 de Agosto de 2005:

21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)

3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)

19 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2453: O que fazia um militar da ferrugem como eu ? (Victor Condeço, ex- Fur Mil Mec Armamento, CCS/BART 1913, Catió, 1967/69)

domingo, 27 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2797: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (29): Lá estarei em Bissalanca à tua espera!


Missa Luba, por Os Trovadores do Rei Balduíno. Nos anos 50 e 60,as missões em África procuraram conciliar a mensagem religiosa comos usos e costumes tradicionais.A Missa Luba é um desses resultados, em que os ritmos dos Luba entrelaçaram maravilhosamente na estrutura convencional de um missa em latim.Foi um êxito à escala mundial, os jovens congolenses emocionaram inúmeras plateias.Tiveram um grande acolhimento na ponte de Udunduma... (BS)


Fotos (e legendas): © Beja Santos (2008). Direitos reservados.
Texto do Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) (1), enviado em 4 de Fevereiro de 2008:



Luís, já seguiu a capa da 9ª Sinfonia de Mahler, juntarei a carta do Ruy Cinatti, uma imagem que tenho aqui da Missa Luba (lembro-te que tens aí o disco para digitalizar) juntarei também os livros do Vergílio Ferreira e da Elsa Triolet. Almocei com o Virgínio Briote, inevitavelmente falámos do 6 de Março [de 2008]. O programa cultural, das 14h30 às 15h30, será uma surpresa para muitos: A conservadora irá mostrar aos visitantes tesouros da arte nalu, balanta e bijagó, isto para além dos grandes clássicos, já que a entidade científica detém um património em livros e mapas que faz da Sociedade de Geografia o mais valioso arquivo do período imperial. Para a semana terás aí o episódio n.º 30, e começo a acreditar que este livro qualquer dia chegará ao fim. Um abraço do Mário.

Operação Macaréu à Vista – II Parte > Episódio n.º XXIX: VEM, VEM, VEM! (1)


por Beja Santos

(i) Uma proposta de Jovelino Corte Real

A região do Xime está agora no centro das atenções do comando de Bambadinca. O relato que lhes fiz do potencial humano do PAIGC existente em Ponta Varela, Poindom e Foz do Corubal não os deixou surpreendidos mas não puderam esconder a preocupação, logo prevendo novas operações para esta região, ainda em Março e depois Abril. Em parte nenhuma do sector L1 o inimigo estava tão perto das nossas tropas. Tão perto e tão forte.

Conhecedor do meu desejo de ir casar a Bissau, Pamplona Corte Real convidou-me a conversar no seu gabinete para sondar as minhas pretensões . Regressara do Xime derreado, considerava, no entanto, que tínhamos escrito no Pel Caç Nat 52 uma bela página de audácia, afinal o morteiro 81 é uma arma eloquente e indiscutível, mesmo com todas as suas dificuldades de transporte. Eu não cabia em mim de contente e escrevo à Cristina:

“Vou enviar-te o relatório da operação mas peço-te que não deixes sair um só instante o documento de casa. Seria para mim altamente comprometedor vir a saber-se que mandava material tão delicado, de carácter confidencial, à mulher. Não te telefonei no teu aniversário, estou cheio de vergonha, amanhã vou à D. Leontina ver se é possível telefonar-te”.

A 16 [de Março de 1970], estou eufórico e volto a escrever à Cristina:

“Estou muito contente de queres vir em Abril, falei com o comandante, ele aceita a sugestão do David Payne em eu sair daqui para ir à consulta externa, escrever-se-á no relatório que eu estou doente e a necessitar de uma baixa ao hospital. Não conformo de ter que ir para a psiquiatria, mas foi-me dito que não tenho outra doença possível que justifique uma baixa...”

Depois, como se estivesse a programar a acção, começo a orientar as actividades: já estás casada, vais utilizar o nosso dinheiro, quem paga a passagem de avião sou eu, és livre de escolher ou não a cerimónia religiosa, diz o que pensas sem preconceitos, vem, vem, vem!, como diz o tenente Pinkerton à sua jovem esposa Madame Butterfly.

Estava mesmo eufórico, incapaz de perceber que ia interromper os estudos da Cristina num período crucial, só falo em lua-de-mel nos Bijagós e Bolama, como se eu estivesse endinheirado e com liberdade para viajar.

“Lá estarei em Bissalanca à tua espera, agora paro de escrever porque amanhã, ao raiar da aurora, vou levar petróleo, bolachas, açúcar, arroz e conservas às gentes do Xitole. Toma atenção que a seguir vou passar alguns dias a Sansacuta, na construção de abrigos. Olha, imagina que descobri o 'Hamlet' nas arrecadações de material, aqui em Bambadinca. O livro estava cheio de pó e sujidade, ninguém se lembrava dele. Já estou a lê-lo, voltei ao reino da Dinamarca”.

Voltemos a Pamplona Corte Real. Depois de me felicitar pelo o que acontecera no Poindom, abre a conversa desta maneira:
-Coitadita da sua mulher, que vem por aí fora, você na guerra, casa e regressa a esta fonte de trabalhos.

Depois, com a voz modulada, enceta a proposta:
-Enquanto casa e não regressa, o pelotão fica entregue aos sargentos, nessa altura lanço-o na ponte de Udunduma, nas visitas às tabancas, colunas e emboscadas, compreenda que até partir sinto que posso contar incondicionalmente com o seu esforço, o seu total empenho, o major Sampaio está a preparar um conjunto de operações com várias companhias, você vai alinhar, se lhe dou a possibilidade de partir para Bissau ao menos volte a fazer coisas como as que aconteceram na bolanha do Poindom.

Garanti-lhe que estava pronto a seguir com os meus soldados para onde me mandassem, nunca me recusara a combater, até partir para Bissau contariam indeclinavelmente comigo.

Confesso que não gostei desta proposta contratual, mas não exteriorizei a indignação. Ficara claro na proposta de Jovelino Corte Real que me daria a vanguarda em várias operações mas que não voltaria a comandá-las. E recomeçaram as fainas triviais, logo a seguir ao Xitole coube-nos montar a segurança à volta do Bambadincazinho, onde o Ministro do Ultramar, Spínola e Felgas visitaram o reordenamento, em 14. Por esta altura, sentia-se uma certa acalmia, havia, é certo, as minas, já se picava regularmente entre a ponte de Udunduma e Amedalai, um contigente da CCaç 12 passou a estacionar em Missirá e em Fá, surgiram rumores que o PAIGC se preparava para pregar uma amarga surpresa à 1ª Companhia de Comandos Africana, em preparação, em Fá, chegaram a ser levantadas algumas minas à volta de Missirá. Mas sentíamos que era uma bonança a preceder uma tempestade.

Cópia da carta do Rui Cinatti, de 7 de Março de 1970.
Guardo a recordação de uma bonita carta que o Ruy Cinatti me enviou neste tempo. Dizia que se sentia dolorosamente atingido quer pela morte do Carlos Sampaio quer pelas guerras em Ponta Varela. Como eu não tinha chegado a 19 de Fevereiro, a Lisboa, como era suposto, levara os feridos do Hospital Militar Principal a uma bifalhada no Cais do Sodré: “Creia, Mário, que não posso ser mais amigo do que sou. Espero agora que você se conforme com a perda do seu amigo e transforme o sacrifício em solução positiva”. Por essa altura, o Almeida Faria ajudava-o a corrigir alguns textos e o Cinatti mostrara-lhe os meus. Fiquei orgulhoso e contente.

Trouxe imenso conforto esta carta. Consegui telefonar-lhe de Bambadinca, leu-me ao telefone um admirável poema. Falámos em D.H.Lawrence, a seguir escrevi-lhe acerca de O Amante de Lady Chatterley.Eu gostava da Lady, ele detestava-a.


(ii) Começam os preparativos para Bissau

A cerca de um mês do meu casamento, disparo mensagens para Bissau e arredores: o Emílio Rosa está formalmente convidado para ser meu padrinho, oferece os seus préstimos para levar as certidões à igreja, preparar os banhos, cede a casa para a lua-de-mel; a Isabel e o David [Payne] serão os padrinhos da Cristina, receberão a Elzira e o Emílio lá em casa durante a lua-de-mel; são expedidos convites para a Inês e o Alexandre Carvalho Neto, que prontamente aceitaram; também aceitou o Rui Gamito, como o capitão Laranjeira Henriques e a mulher; o comando autorizara a deslocação de quatro praças, assentou-se no Benjamim Lopes da Costa, Domingos da Silva, Cherno e Teixeira (irão igualmente aparecer o Barbosa e o capitão Maltez, do Xime, o primeiro gozava férias, o segundo fazia tratamentos).

O Vidal Saraiva avisou que havia uma surpresa por parte dos oficiais, como veio a acontecer. Escrevi longamente aos meus sogros, falando de despesas e da minha tristeza de eles não estarem presentes. Escrevi à minha mãe, aos meus irmãos, às minhas tias, até o Pimbas e a mulher receberam a participação, a todos comuniquei a festa de felicidade que me aguardava na capital das bolanhas. Sinto-me tão desafogado de sentimentos que começo desabridamente a explicar à Cristina que me aguardam três operações até chegar a Bissau: Jaqueta Lisa, Tigre Vadio e Pavão Real, perdi a consciência que há coisas indizíveis, há sustos que se devem evitar, ainda por cima a caminho do casamento.

Capa da 9ª Sinfonia, de Gustave Mahler
No entretanto, Cherno vem anunciar que gostava de, no final da minha comissão, vir trabalhar para Portugal. É nessa altura que escrevo ao Cinatti a pedir-lhe que esclarecesse a situação na Junta de Colonização Interna. Apareceu o substituto de Uam Sambu, apareceu o furriel Pina com o seu dedo entortado e partiu para o Pel Caç Nat 63. Houve discussão acesa com Pamplona Corte Real acerca de uma proposta de promoção por distinção para o António Queirós, dados os seus inequívocos dotes para a chefia. O comandante estava reticente, achava que lhe faltava um ferimento em combate ou uma proeza muito acima daquele fogo de morteiro 81 na bolanha de Poidom.
Escrevo febrilmente a todos: peço à Cristina que visite a D. Maria José de Sampaio e lhe peça uma fotografia do Carlos, uma fotografia que ele tenha tirado nas últimas férias; escrevo à Amélia Lança, ao Paulo Costa, até o Mário Braga foi importunado com o meu casamento. Eu parecia o noivo mais feliz do mundo. Nas próximas semanas vou prolongar este delírio dos preparativos, haja as guerras que houver.


(iii) Conversas “históricas” com D. Violete

Um dia, quando regresso de Sansacuta no Unimog com restos de cimento, rachas de cibe, pregos de vários tamanhos e motosserra, Bala, o ordenança do comando, faz-me um sinal, aproximo-me e ele diz-me mostrando todos os seus dentes de ouro:
-D. Violete tem perguntado por si. Parece que já tem respostas para lhe satisfazer a sua curiosidade.

O sargento Cascalheira que procurava intimidades fáceis, não resistiu a observar, com o olho amarotado:
-Então o meu alferes tem uma professora que lhe satisfaz a curiosidade, hem?
Lancei-lhe um olhar gelado e pedi ao Bala que transmitisse que teria muito gosto em passar lá em casa depois do jantar. Como aconteceu.

D. Violete parecia exuberante com os resultados das suas investigações. Enquanto beberricávamos chá verde, e na companhia de D. Ema, foi desfiando o produto das suas descobertas. Num anuário da Guiné dos anos 40 tinha encontrado referência à Sociedade Agrícola do Gambiel, com capitais exclusivamente portugueses, sucessora da antiga Companhia de Fomento Nacional, fundada em 1921. E mostrou-me uma fotografia com várias construções, apeteceu-me logo atravessar o rio Gambiel e saber se era ali que tinha trabalhado o Prof. Armando Cortesão. Deste, recordava ter encontrado um artigo num boletim da Agência Geral das Colónias, com data de Julho de 1928, e impressionara-me o que ele escrevera naquele tempo:

“Ainda há dez anos Bissau era um pequeno povoado, cercado por uma muralha, e ai do europeu que dele atrevesse a afastar-se umas centenas de metros - o menos que lhe sucedia era o gentio cortar-lhe a cabeça... Hoje, as muralhas de Bissau de há dez anos desapareceram”.

D. Violete não se recordava quando fora extinta a Sociedade Agrícola do Gambiel, mais uma curiosidade que iria transferir para o comandante Teixeira da Mota. Depois, a professora de Bambadinca sorriu e informou-me:
- Sr. alferes, confirmo o que lhe disse acerca da Guiné quando se separou de Cabo Verde, o território era uma desgraça, não tinha praticamente brancos, era constituído mais por presídios e casas comerciais que por agentes do Estado. Havia presídios em Zeguinchor, em Farim e em Geba, praças em Cacheu e Rio Grande, bem como Bissau, Bolama e ilhéu do Rei, a tropa era mínima e só se via a bandeira portuguesa na capital e nos presídios, o resto era a ordem definida pelos régulos. Outro dia falávamos de Sambel Nhanta e estou um pouco confusa, para mim Sambel Nhanta era Caraquecunda mas já ouvi também dizer que era um nome de um régulo antes da chegada dos Soncó, vou procurar confirmar. Quanto a São Belchior, antigamente escrevia-se Sambel-Chiór, era uma povoação biafada onde não havia bandeira nem autoridade portuguesa, tornou-se uma importante localidade de comércio no fim do século XIX, daqui partia muita comida do Oio, do Enxalé e do Cuor, aqui chegavam as mercadorias e mantimentos de Bissau e Bolama, aqui se fazia comércio com Aldeia Formosa. Vamos agora falar dos mandingas. Penso que também tem o livro sobre os mandingas do António Carreira, um livro do Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, de 1947. Tirei aqui umas notas que não resisto a ler-lhe: “Os mandingas têm boa vistas, bom ouvido, razoável olfacto, paladar pouco apurado e mau sentido do tacto”. Ou: “Os mandingas são sentimentais, pouco expansivos e pouco aduladores”. Tirei aqui umas notas para si sobre o vestuário e os costumes. Creio tratar-se de um longo retrato desta etnia, se amanhã escrever sobre eles, e como eu os conheço, tenho todos os elementos para dizer a verdade.

Começava a admirar esta gentil senhora que ocupava os seus tempos livres a catar-me alguma informação histórica, abençoava a praxe maquinada por Jovelino Corte Real que me fizera estribeiro-mor de D. Violete. Sabedora do meu interesse por Infali Soncó, a sua traição e a sua redenção, a filha do administrador Aires referiu-me que fora a Bafatá falar com o tio que trabalhava para o Governo da Província, e que conseguira apurar que a guerra do Cuor começara entre os biafadas e os balantas, ao que parece devido às incursões destes últimos no território dos Soncó, a fim de roubar mulheres e gado, depois, quando os representantes de Bolama foram a Sambel Nhanta, tabanca de Infali, começaram as desconsiderações e a guerra.

É nesse preciso instante em que D. Violete narrava as intrigas de Infali envolvendo os régulos de Badora, Xime, Corubal e Cossé que bateram à porta, era o Ocante a pedir-me para vir cá fora, tratava-se de assunto urgente:
- O Cascalheira embebedou-se em Nova Lamego, parece que agrediu um major, veja o que é que se deve fazer.

Pedi desculpa a D. Ema e a D. Violete, saí furioso naquela narrativa cheia de clímax. O Cascalheira entrara definitivamente numa era de turbulência, tinha um sargento combativo e ferrabrás, urgia procurar um compromisso antes de partir para Bissau, o Pires em breve iria colaborar na CCS, não podia deixar o Ocante sozinho a tomar conta do barco.

(iv) As leituras surpreendentes do mês de Fevereiro

Enquanto estou na ponte de Udunduma procuro, dentro das disponibilidades, ouvir a música que não é grata no quartel. A 9ª Sinfonia de Mahler é bem agradável, se bem que o gira-discos a pilhas distorça a grandiosidade interpretativa de Sir John Barbirolli. Quem veio obter aplauso unânime foi a Missa Luba, na interpretação de Os Trovadores do Rei Balduino. O Kyrie, o Sanctus e o Agnus Dei são de uma enorme beleza, alturas houve em que os soldados pediam para bisar.


Nº 8 da Colecção Contemporânea, da Portugália Editora, capa de Sebastião Rodrigues, 2ª edição. Aparição foi uma obra de quase ruptura na literatura portuguesa, o estilo realista e neo-realista ficam decidamente para trás com esta aventura pelo romance existencialista. Recebeu o Prémio Camilo Castelo Branco, a mais alta distinção literária do tempo. (BS)



Mas quero dar ênfase a dois livros que li logo a seguir a vir do Poindom. Primeiro, Aparição, de Vergílio Ferreira. Alberto Soares, colocado como professor de Português e Latim em Évora, vai ser confrontado com os seus problemas de consciência e o relacionamento com as filhas do Dr. Moura. João Gaspar Simões considera este livro notável. Gosto muito da estrutura estilística e do tumulto interior, deve ser da guerra, passa-me à margem o problema existencial deste professor zangado com Deus, cheio de angústias e com dificuldade para controlar os ímpetos de uma adolescente. Gosto do discurso directo e da relembrança, a banalidade do quotidiano e o posterior juízo:

“Boa noite, reitor. Falo-te daqui, da montanha, ouvindo os cepos a estalar na chaminé, ouvindo as vagas do vento. Nada soube de ti, amigo. Nunca. Mas dos teus pecados ou virtudes, o que me relembra agora é essa amável perfeição de uma face cansada de quem esgotou a vida e essa boa tolerância para quem a estava anunciando”.
É como se depois da estética neo-realista se estivesse a progredir para um existencialismo através da aventura da revelação interior, a brutal iluminação do ser e do mundo, a fatalidade da paixão de Sofia e o seu assassinato às mãos de um jovem ciumento. Gosto da língua, das imagens, da mistura dos tempos, da condição do apego às lembranças, mas não percebo o temor da condição humana, um quase sentido de condenação, como se a aparição fosse a descoberta da solidão definitiva do homem. Mas é literatura do nosso tempo, Vergílio Ferreira é incontestavelmente um grande prosador.


1º livro de Elsa Triolet traduzido em português, 1º livro do ciclo A Idade do Nylon. Tradução de Maria Helena da Costa Dias, capa de Maria Keil,s/data.Assinala o triunfo do consumo de massas, alerta para a escravidão de viver permanentemente, e em todas as situações,a crédito. Até ao suicídio... (BS).


Rosa a prestações, de Elsa Triolet, é um olhar diferente. A protagonista chama-se Martin, veio da barracas, vai subir a pulso no mundo, será uma cabeleireira de prestígio, sentir-se-á seduzida pelos bens, a tal ponto que começará a comprar a prestações, de roupas a propriedades. Será nesse inferno de viver a crédito que toda a sua vida se irá desmoronar, perdendo o amor, a dignidade, os bens avidamente acumulados. Os credores batem à porta levam-lhe a máquina de lavar, o faqueiro a mobília, tudo. Depois, incapaz de se adaptar às realidades, Martin suicida-se, exactamente na cabana onde tinha começado. É a primeira vez que leio Elsa Triolet, nunca me tinha apercebido aonde nos pode levar a servidão das coisas, a paranóia das prestações. Portugal não é uma sociedade de consumo, mas temos aqui uma poderosa e comovente reflexão sobre os seus danos, quando não se controla o corpo das necessidades.

Amanhã, haverá uma reunião com o major Sampaio. Já ouvi falar na Jaqueta Lisa e Colete Encarnado. Parece-me um disparate pôr cerca de trezentos homens a remexer de Ponta Varela ao Poidom, novamente, de Gundaguê Beafada até à Ponta do Inglês, é fatal como o destino que um dos destacamentos vai ser referenciado e anular a actividade do outro. Como, desastrosamente, veio a acontecer

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Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 18 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2771: Operação Macaréu à Vista - II Parte (Beja Santos) (28): A euforia de comandar cem homens na Op Rinoceronte Temível

Guiné 63/74 - P2796: Ninguém Fica Para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (6): Controvérsia (Virgínio Briote)

Ontem na SIC Notícias, a questão das trasladações das ossadas dos militares portugueses sepultados em Guidage

Presentes, o Presidente de uma Associação de Combatentes com sede em Braga (não fixei o nome), a antropóloga forense Eugénia Cunha e o Coronel Matos Gomes.

Depois do filme produzido pela SIC, aquando da deslocação à Guiné-Bissau dos especialistas em antropologia forense e geofísica, teve lugar a discussão sobre o controverso tema das trasladações dos restos mortais dos Camaradas pára-quedistas mortos naquele interminável mês de Maio de 1973.

Em 8 de Maio, Guidage (Bigene e Binta) foi atacada pelo PAIGC. Todos os acessos a essa povoação na fronteira Norte com o Senegal, foram sujeitos a uma das mais violentas acções de toda a Guerra da Guiné. Minas, emboscadas, abates de Fiats G-91, Dorniers, helis, houve de tudo naquele interminável mês (a acção prolongou-se até 8 de Junho).

As forças do PAIGC empenhadas nesta acção foram comandadas por Francisco Mendes (Chico Té) e pelo Comissário Político Manuel dos Santos (Manecas).

Na zona de Guidage estiveram envolvidos cerca de mil homens das Forças Armadas Portuguesas, segundo os Cors. Matos Gomes e Aniceto Afonso.

Em 20 dias de cerco, Guidage sofreu 43 ataques com foguetões de 122 mm, artilharia e morteiros.
39 mortos, 122 feridos, 3 desaparecidos, seis viaturas destruídas, três aviões abatidos (um T6 e dois DO 27) foi o saldo negativo para as forças portuguesas.
No decorrer do assalto do PAIGC a Guidage, a base do PAIGC estacionada em Kumbamory, Senegal, foi assaltada e destruída pelo BCmds do Exército Português em 17 de Maio. Nesta acção, segundo Almeida Bruno, o Cmdt da op Ametista Real, as tropas portuguesas reclamaram a destruição de mais de quatro centenas de armas automáticas, de mais de 100 morteiros, 14 canhões s/r e quase centena e meia de lança-granadas, para além de milhares de munições, minas anti-carro e anti-pessoal, granadas de mão, granadas de morteiro e de RPG, rampas de foguetes, etc.
No decorrer da operação o BCmds sofreu treze mortos e vinte e três feridos graves.
Notas retiradas do livro Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes e inserto em Guiné, Ir e Voltar (A Guerra da Guiné em datas). Editorial Notícias. Com a devida vénia.


A antropóloga forense Eugénia Cunha falou das questões técnicas relacionadas com a identificação das ossadas. Que foi essa a tarefa de que se incumbiram. O Presidente da referida Associação de Combatentes defendeu que a transladação dos restos mortais dos nossos Camaradas era um desígnio nacional e que o Governo Português deveria assumir as suas responsabilidades.

A surpresa surgiu quando foi dada a palavra a Matos Gomes, Coronel dos Cmds. Matos Gomes que combateu nos três palcos da Guerra Colonial, Angola, Moçambique e Guiné, apesar do notável documentário a que tinha assistido, manifestou as maiores reservas em relação ao empreendimento. Que era um assunto privado e que, como tal, se devia manter ao nível das famílias dos Camaradas mortos. Que estávamos a assistir à profanação pública, transmitida por órgãos de comunicação, de uma questão que devia ser da exclusiva responsabilidade das famílias. E que não nos podíamos esquecer que Portugal tem corpos de combatentes espalhados por tudo quanto é mundo, desde o Paraguai à China.

Cachil, Ilha do Como. A Cruz assinala as mortes dos Furriéis Mils. Condeça e Boneca.

Foto: © Hugo Moura Ferreira (2008). Direitos reservados.

Que só na Guiné, ossadas de militares portugueses estão dispersas por mais de cem locais. E que não podemos estar a cavar em todo o lado, onde haja restos de portugueses. Para além de questões de natureza diplomática, perguntou-se se não estaríamos a abrir um questão de consequências imprevisíveis. Lembrou que em Moçambique, um Unimog tinha rebentado uma mina e que dos militares e da viatura, o que se conseguiu identificar, sem margem para dúvidas, tinha sido a caixa de velocidades da viatura. E que no entanto, pelo que depreendi, as famílias receberam em Portugal os restos mortais...

O talhão militar do cemitério de Bissau, em 1966.

Foto: © Virgínio Briote (2008). Direitos reservados.

O Cor Matos Gomes concorda que as ossadas devem ficar reunidas em locais onde seja possível manter a mínima dignidade para quem deu à Pátria o melhor que tinha. Que, insistiu Matos Gomes, estava contra o espectáculo público da devassa do que restava dos que galhardamente se bateram até ao limite no campo da batalha e que este era um local digno, como digno tinha sido o enterro possível que, na altura os Camaradas lhes fizeram.

Uma controvérsia que vai certamente continuar.
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Nota de vb: artigo relacionado em

22 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2785: Ninguém Fica Para Trás: Grande Reportagem SIC/Visão (3): Sabemos ao menos quem foram e onde estão ? (Luís Graça)

sexta-feira, 25 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2795: Tabanca Grande (65): Amilcar Ramos, ex-Fur Mil, BAA 7040, Nova Lamego (1972/74)



Amilcar Ramos
Ex-Fur Mil
BAA 7040
Nova Lamego (Gabu)
1972/74



1. Em 24 de Abril de 1974, recebi esta mensagem do nosso novo camarada Amilcar Ramos

Amigo Vinhal

Depois daquele almoço/II Encontro ex-combatentes na Guiné do concelho de Matosinhos no qual estive presente e onde se relembraram tempos de Guiné, quero saudar-te e solicitar minha inscrição na TERTÚLIA/TABANCA GRANDE.

Amilcar Ramos, ex-furriel mil, BAA 7040, Nova Lamego (Gabu), 1972/74,
Residência - Retaxo/Castelo Branco,
contactos: amilcar-ramos@sapo.pt, amilcar_ramos@hotmail.com
Telemóvel - 965311768.

Anexos: foto 1972 - foto 2008 - Foto 09Fev74 (Obtida quartel em NLamego: ambulância capturada IN pelo grupo Marcelino da Mata).

Um abraço
Amilcar Ramos


Foto 1> Nova Lamego> Amilcar Ramos sentado na ambulância que o Grupo de Marcelino da Mata capturou ao PAIGC (1)



Foto 2> Matosinhos 12 de Abril de 2008> Amilcar Ramos e o seu amigo João Moreira, no II Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos


2. Neste mesmo dia foi enviada resposta ao Amilcar

Caro Amilcar Ramos
Foi com a maior alegria que recebi a tua mensagem com o desejo de aderir à nossa Tabanca Grande ou Caserna Virtual, também assim chamada.

Conhecemo-nos no passado dia 12, em Matosinhos, graças ao nosso comum amigo João Moreira.

Em diálogo contigo, apercebi-me de que és uma pessoa solidária e preocupada com os problemas que afligem alguns dos nossos camaradas menos afortunados com o destino que a guerra lhes proporcionou. Ficaste extremamente apreensivo com o problema do nosso camarada Batista, que todos esperamos venha a ter um desfecho favorável que é reconhecer o seu estatuto de ex-prisioneiro de guerra.

Quero em nome de todos os tertulianos dar-te as boas vindas.

Como digo a todos os quantos entram de novo, e vão sendo muitos felizmente, queremos que sejas participativo começando por contar um pouco da história da tua Unidade. Posteriormente conta-nos algumas estórias de situações que de algum modo te marcaram, em acções de guerra ou não. Aceitamos fotografias devidamente legendadas para ilustrar essas estórias.

Os teus trabalhos devem ser endereçados preferencialmente para luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com e se quiseres, em complemento, para os endereços dos editores.

Tudo serve para aumentar este manancial de informação que queremos deixar para memória futura.

Parafraseando o nosso Editor Luís Graça, Não deixes que sejam os outros a contar a tua história por ti.

Em nome da malta vai para ti um abraço de boas vindas.
Carlos Vinhal

3. Comentário de C.V.

Caro Amilcar, no mail que te mandei esqueci-me de falar no próximo encontro da Tertúlia do nosso Blogue. Se quiseres aparecer só tens que te inscrever. Todos os editores e alguns camaradas, com as respectivas famílias, vão confraternizar no dia 17 de Maio em Monte Real.

No Poste 2770 poderás ver as últimas novidades quanto a inscrições, programa e preços.
____________________

Nota dos editores:

(1) Vd. poste de 23 de Maio de 2007> Guiné 63/74 - P1781: Ambulância do PAIGC, de fabrico soviético, capturada pelo Marcelino da Mata, em Copá (A. Santos)

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2794: Poemário do José Manuel (10): Ao Albuquerque, morto numa mina antipessoal em Abril de 1973

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > Vista aérea da tabanca e do aquartelamento de Mampatá.

Foto e poema: © José Manuel (2008). Direitos reservados (1).

Ao Albuquerque (*)

O teu sangue não manchou
só a terra onde caiste
apagou o futuro e
os filhos que não terás
causou dor
nos que te perderam
despertou loucuras
em noites perdidas
a recordar-te
o teu sangue vertido
marcará para sempre
bem fundo, dentro de nós
prometo não mais chorar
quero rir por ti
quero viver por ti
quero gritar ao mundo
como foi inutil o teu sacrificio
assim nunca serás esquecido.

Mampatá 1973
josema
__________

Nota do autor:

(*) Albuquerque era um soldado do 3º grupo de combate. A segunda baixa da nossa companhia em Abril de 1973. Vítima de uma mina antipessoal quando o seu grupo procedia à picagem na frente de trabalhos da estrada [Quebo-Salancaur] que a Engenharia estava a abrir. Todos os dias se fazia a picagem até à frente de trabalhos, foram detectadas dezenas de minas antipessoal e anticarro. Era um trabalho que aqueles homens faziam com muito rigor e segurança, e que correu bem até aquele dia. Albuquerque era um jovem alegre, quase sem barba, ainda hoje o vejo na vespera de Natal de 1972 a tourear uma cabra entre os arames farpados de Mampatá. O Furriel Vieira um dos Furriéis do 3º. grupo assistiu também à cena pois já o ouvi num dos nossos encontros referir-se a ela.

Luís: Se vieres neste fim de semana [, cá acima], na Sexta às 8 horas estou a iniciar uma caminhada da Régua ao Marão, com mais 130 caminheiros que acaba num almoço lá na serra, hoje mesmo vou fazer o reconhecimento do percurso, que é duma beleza e paz impressionantes. O resto do fim de semana estou em casa, o meu contacto é 916651640. Um abraço, jose manuel.
__________

Nota de L.G.:

(1) Vd. poste de 19 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2776: Poemário do José Manuel (9): Nós e os outros, as duas faces da guerra

Guiné 63/74 - P2793: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (15): Salvemos o Cantanhez (I)

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Era domingo, para nós, participantes do Simpósio Internacional de Guiledje, de visita ao sul do país... mas não para o pescador, que precisa de remendar as redes e ir à pesca... A região de Tombali, com pouco mais de 3700 km2 (o que representa cerca de 10,3% do território da Guiné) e pouco mais de 90 mil habitantes (7,1% do total) tem grandes potencialidades, devido ao seu património ambiental e cultural, ainda insuficientemente conhecido e valorizado pelos próprios guineenses. A jóia da coroa é o massiço florestal do Cantanhez e os dois rios principais que o atravessam, o Cumbijã e o Cacine.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Aqui não há praias de areia fina... Cananima é uma praia fluvial e um aldeia piscatória. Gente de vários pontos, desde os Bijagós até à Guiné-Conacri, vêm para aqui trabalhar na actividade piscatória. No entanto, é preciso saber gerir os recursos do rio e do mar com sabedoria... A sobre-exploração de certas espécies pode ser um desastre... Por outro aldo, as infra-estrututuras de apoio à pesca são precárias ou inexistentes.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > No estaleiro naval artesanal, de Cananima, também se constroem barcos, segundo os modelos tradicionais. A matéria-prima, a madeira, é abundante. Abate-se uma árvore centenária para fazer uma piroga. Felizmente, as pirogas não são feitas em série. E hoje há, também felizmente, restrições ao abate de árvores no Cantanhez. O problema são, muitas vezes, os projectos megalómanos e inconsistentes, que acabam por morrer na praia, como estas embarcações.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Uma típica paisagem de tarrafe, na margem dierita do Rio Cacine, onde almoçámos, numa tarde domingueira, antes do início dos trabalhos do Simpósio Internacional de Guileje, cuja inauguração oficial seria no dia seguinte à tarde, em Bissau, no Hotel Palace, um hotel moderníssimo, de cinco estrelas... Mas eu preferi as cinco estrelas de Iemberém e de Cananima...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Do outro aldo do rio, fica Cacine, que tem muito que contar, aos nossos camaradas do exército e da marinha... Alguns deles ficaram por aqui, enterrados e abandonados... A guerra e as suas memórias estão por todo o lado, não nos largam.


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Antes de nós, no tempo da guerra, poucos tugas se poderão ter gabado de ter feito um piquenique tão agradável, tão calmo, tão saboroso, tão fraterno como o nosso... Aqui, nesta praia fluvial, frente a Cacine...


Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A areia não é fina, as águas não são azuis, nem a paisagem é a mais bela do mundo, mas tudo depende dos olhos com que se olha, dos ouvidos com que se ouvem, das emoções com que se capta o instante, o eféremo, o diferente...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > É preciso salvar o Cantanhez, dando uma chance às crianças de Tombali. Projectos como o ecoturismo, ou o turismo de natureza, podem vir a ser um factor dinamizador de mudanças, a nível local e regional.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > Esta criança, felizmente, já não conheceu a guerra, e sobreviveu com sucesso ao 365º dia... Uma em cada crianças na Guiné morre antes de antingir um ano. O sorriso tímido (e ao mesmo desafiador) desta criança desarma-nos, perturba-nos, interpela-nos: o que é que fizeste hoje por mim ?
Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > A diversidade étnico-linguístico e cultural da Guiné-Bissau, em geral, e do Tombai, em particular, não deve ser vista como uma obstáculo, mas sim como um factor potenciador da cidadania e do desenvolvimento... Os demónios étnicos não podem é dormir descansados na Caixinha de Pandora... Combatem-se com as armas da saúde, da educação, da democracia, da integração, do desenvolvimento económico, social e cultural... Esta criança tem de ter sentir orgulho na terra onde nasceu, e onde vive...

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Cananima > 2 de Março de 2008 > O inconfundível barrete vermelho, tradicional, dos balantas. Com Kumba Ialá, tornou-se um ícone. Os balanta foram a principal base de apoio do PAIGC. Têm também hoje um peso considerável (excessivo, para alguns analistas e observadores da situação político-militar) na estrutura das Forças Armadas. Amílcar Cabral falava, com particular simpatia, da sociedade balanta, horizontal, sem classes... Alguns mitos ou estereótipos foram-se construíndo, à volta do grupo étnico e social dos balantas, uns pela etnografia colonial, outros pela análise marxista. Como se o balanta fosse aqui o representante do bom selvagem do Rousseau...



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cananime > 2 de Março de 2008 > Dança de boas vindas aos participantes do Simpósio Internacional de Guileje. Se os meus rudimentares conhecimentos etnográficos da Guiné não me atraiçoam, trata-se de um grupo de dançarinos balantas, misto, composto por rapazes e raparigas. Há uma energia telúrica e uma alegria vital nos seus cantares e nas suas danças, que eu nunca encontrei, no tempo da guerra, por exemplo, em Nhabijões, , que era um um importante aglomerado populacional balanta (e com alguns mandingas), junto ao Rio Geba, entre Bambadinca e Xime. Os balantas de Nhabijões nunca poderiam sentir-se felizes e livres, sob a dupla tutela dos fulas e dos tugas...

Fostos e vídeo (1' 21''): © Luís Graça (2008). Direitos reservados. Vídeo alojado em: You Tube >Nhabijoes



Guiné-Bissau > Mapa do sector de Bedanda que, juntamente com o sector de Cacine, alberga as matas do Cantanhez, um espaço que é urgente preservar, salvaguardar, proteger e potenciar, numa perspectiva de desenvolvimento integrado e sustentado... A verde assinala-se o trajecto que os participantes do Simpósio Internacional de Guileje fizeram no fim de semana de 1 e 2 de Março de 2008, na sua visita ao Cantanhez... A vermelho assinalam-se algumas das localidades por onde passámos e onde parámos: Balana, Guileje, Mejo, Imberem (passámos aqui duas noites)...

Vindos do Acampamento de Osvaldo Vieira (1), onde passámos uam parte da manhã de domingo, fomos almoçar a uma praia piscatória, deslumbrante... Do almoço (de peixe galo - gato ? - pescado nas águas do Rio Cacine (que em rigor é um braço de mar, como todos os outros, com a excepção do Rio Corubal - falarei em próxima crónica. Agora, deixem-me saborear este pedaço de paraíso que ainda existe na terra e na Guiné: O Cantanhez...Tenho pudor em falar de paraíso, num terra que as estatísticas dizem ser um dos mais pobres do mundo... O paraíso não existe, é uma utopia que os homens criaram. Falemos então de um sítio, na crosta terrestre, que ainda é capaz de nos encantar, em que nos sentimos em harmomia com os homens, com os bichos, com a floresta, com a água, com o ar...


Fonte: Brito (2007) (com a devida vénia...)




22 de Abril, Dia Mundial da Terra

(...) Em Abril, tomem por favor boa nota do sete,
na vossa agenda-planning de executivos,
porque é Dia Mundial da Saúde.
E um semana depois
o Dia da Conservação do Solo (15),
bem como do pobre Índio (19)
e do paupérrimo ou depauperado Planeta Terra (22),
finalizando a maratona das comemorações
no Dia da Educação (28),
tão pouco ou nada ambiental…

Não sei explicar se o Índio
é o que está em vias de extinção
ou o Índio, escalpelizado, morto e enterrado,
depois da chegada ao Novo Mundo
do idiota que acreditava ter chegado à Índia
e que hoje tem nome de praças
e estatuária pomposa
por tudo o que são cidades hispânicas.(...)

Luís Graça > Blogue Fora Nada... e Vão Dois

5 de Novembro de 2007 > Blogantologia(s) II - (59): Hoje é dia mundial de qualquer coisa...


O nosso camarada Juvenal Amado veio, gentilmente, (re)lembrar-nos que ontem foi o Dia Mundial da Terra, criado em 1970 a partir da ideia do norte-americano John McConnell, que a apresentou, na conferência da UNESCO sobre o Ambiente. «Só temos esta Terra para vivermos e sermos felizes»...

E mais: só há uma terra, só um mar, só há uma floresta, só há uma espécie humana, só há uma raça, o Homo Sapiens Sapiens. Talvez por isso valha a pena evocar aqui a nossa (sem paternalismos, saudosismos...) Guiné-Bissau, um pequeno país da África Ocidental, com o qual temos particulares afinidades, pela história, pela língua ... Mesmo se apenas 70 e poucos mil falam e escrevem o português que nos une e às vezes nos separa...

Falemos, pois, dessa terra (vermelha, verde, negra...) que se chama Guiné-Bissau. E duma parcela dessa terra que se chama Tombali, Região de Tombali, onde outrora travámos feros e feios combates... Voltámos lá, em missão de paz e de amizade, nos princípios de Março de 2008. E vimos coisas bonitas, até promessas de futuro.

Pessoalmente, descobri (ou entrevi) o Cantanhez, que era no meu tempo de soldado um topónimo que se pronunciava com um misto de respeito e de temor. Tomei conhecimento de projectos de desenvolvimento para a rehgião do Tombali, e que passariam também por essa coisa nova que se chama ecoturismo, e que se calhar para os guineenses é mais um palavrão que entra por um ouvido e sai por outro. Conversa de e para as elites. Enfim, li - se bem que ainda por alto - uma brochura de Brígida Rocha Brito (40 anos de idade, especialista em estudos africanos, socióloga, doutorada pelo ISCTE) e em que ela apresenta o seu estudo das potencialidades e dos constrangimentos do ecoturismo na Região de Tomnbali.

É um trabalho que me despertou a atenção e o interesse, elaborada no âmbito do projecto U' Anan (Construir o Desenvolvimento Comunitário Sustentável na Região de Tombali: Ecoturismmo e Cidadania, ONG - PVD/2004/095-097). E edição, em Abril de 2007, é da responsabilidade da ONG portuguesa, Instituto Valle Flor, um dos parceiros privilegiados da AD - Acção para o Desenvolvimento.

Independentemente de uma leitura mais aprofundada e mais crítica deste relatório, e das suas principais conclusões e recomendações (2), apetece-me hoje transcrever apenas - com a devida vénia à editora e à autora, que é uma apaixonada de África (veja-se o seu blogue África de Todos os Sonhos) - alguns excertos. Por razões de economia e de legibilidade bloguísticas, cortei as referências bibliográficas e adaptei as notas de pé de página. Nalguns casos cortei um ou outro páragrafo. Eliminei também quadros e figuras. Espero que a autora me perdoe a ousadia. Em nome do comum paixão pelo Cantanhez. Não tenho o prazer de conhecer, pessoalmente, a minha colega de academia (é professora e investigadora no ISCTE, onde também eume licenciei em sociologia). Mas aproveito para a cumprimentar, dar-lhe os parabéns e oferecer este espaço para... blogar connosco. L.G.


II. O Turismo na região de Tombali
por Brígida Rocha Brito


A região de Tombali dista de Bissau em cerca de 250 Km, localizando-se a sul da Guiné-Bissau, concretamente a sul e sudoeste, fazendo fronteira com o norte da Guiné Conacri e sendo parcialmente rodeada pelo oceano atlântico (...). A região é constituída por 3.736,5 Km2, correspondendo a 10,3% do total do território nacional, destacando-se por ser uma zona fronteiriça dominada, do ponto de vista ambiental, por uma área florestal de grande densidade (…), rica em biodiversidade de fauna e de flora, definida como uma das últimas florestas primárias a nível mundial e considerada o ícone da luta pela independência.

Administrativamente, a região subdivide-se em sectores, sendo privilegiados no Estudo os de Bedanda e Cacine, já que são os que estão mais directamente relacionados com o Projecto Ecoturístico (…). Os dois sectores destacam-se devido ao enquadramento pelo conjunto dos Matos que constituem as Floresta de Cantanhez, sendo limitados por dois grandes rios, Cacine e Cumbidjan, fazendo fronteira com o Oceano Atlântico, e sendo dotados de diversidade étnica e cultural.

As características ambientais da região evidenciam especificidades únicas resultantes da densidade florestal e do estado de preservação dos espaços naturais, que em parte têm beneficiado da distância e do isolamento em relação aos principais centros urbanos, nomeadamente da capital.

Do ponto de vista turístico, a região apresenta um conjunto alargado de potencialidades que, no decorrer da missão, foram identificadas, estando contudo em “estado bruto”, requerendo uma acção planeada e concertada no sentido da valorização dos aspectos chave para o ecoturismo, nomeadamente relativos à preservação ambiental, à protecção de espécies ameaçadas e à dinamização das práticas e dos traços culturais característicos das comunidades residentes.

Contudo, em Tombali, evidenciam-se alguns constrangimentos que, se não forem controlados e minimizados, podem ser condicionantes, limitando a implementação do Projecto. Neste contexto, destacam-se factores estruturais, que são comuns a todo o País e que requerem uma intervenção global de âmbito nacional por ultrapassarem a acção do Projecto U'Anan, e factores conjunturais, que podem ser minimizados através da adopção de medidas estratégicas sectoriais direccionadas e enquadradas por um planeamento adequado.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > Sector de Bedanda > Em pleno coração do Cantanhez > 2 de Março de 2008 > Um dos jovens guias ecoturísticos, recentemente formados, no âmbito do projecto U'Anan.

Guiné-Bisssau > Região de Tombali > No coração do Cantanhez > 2 de Março de 2008 > Logótipo do projecto U'Anan, estampado na T-shirt de um dos jovens guias ecoturísticos. O dari (chimpanzé), espécie em vias de extinção em África, é o ex-libris do Cantanhez.


Fotos: ©
Luís Graça (2008). Direitos reservados.


1. Identificação das principais potencialidades

Apesar da relativa instabilidade político-governativa que pode naturalmente influenciar a dinamização do sector do turismo, as relações entre as Organizações promotoras do Projecto e as Instituições, nacionais e internacionais, vocacionadas para o planeamento ambiental, preservação de áreas protegidas e conservação de espécies, são de grande entendimento, havendo lugar para o estabelecimento de parcerias. Estes são os casos do Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas (IBAP) e da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN).

No contexto das potencialidades regionais e locais, ou factores perspectivados como positivos, foram identificados três tipos principais: as especificidades ambientais; os elementos culturais; os factores históricos e de pendor nacionalista.

Por um lado, os factores tipológicos, entendidos isoladamente ou de forma conjugada, são considerados como determinantes na construção e no reforço das identidades comunitárias; por outro, para a prática do turismo, são elementos apelativos e dinamizadores de diferentes segmentos: Turismo de Natureza ou Ecoturismo; Turismo Étnico; Turismo Cultural e Turismo Científico.

1.1. As particularidades ambientais

Tal como acontece na maioria do território guineense, na região de Tombali o clima é caracteristicamente tropical húmido, evidenciando-se duas estações principais, a seca (entre Novembro e Maio) e a estação das chuvas (entre Junho e Outubro). O principal factor diferenciador no que respeita ao clima é que no sul a intensidade das chuvas é maior do que em qualquer outra região, podendo atingir níveis de precipitação na ordem dos 2.000 a 2.500 mm anuais, com temperaturas médias entre os 28º e os 31º (…).

Se a acção humana de exploração e utilização de recursos for planeada e controlada, verifica-se uma tendência para a renovação do manto florestal com carácter espontâneo, em resultado das condições climatéricas, traduzidas na intensidade e nos elevados níveis pluviométricos anuais associados ao calor.

A região de Tombali é caracterizada por uma mancha florestal de grandes dimensões, com cerca de 650 Km2 (…) denominada de Floresta de Cantanhez (a), que consiste num agrupamento de catorze áreas florestais densas e húmidas, habitualmente referenciadas como Matos.

Actualmente existe a proposta de alteração do estatuto para área protegida, com a criação de um Parque Natural, envolvendo três sectores da região, Bedanda, Cacine e Quebo, perfazendo um total de 1.067 Km2 (…).

Os matos são caracterizados pela densidade típica da floresta tropical, sendo considerada como uma das últimas florestas primárias pelo estado de preservação e de manutenção do ecossistema, resultado da fraca penetração humana, tornando-a num habitat privilegiado para a vida de numerosas espécies de flora e de fauna.

No que respeita à flora, destacam-se as árvores de grande porte, centenárias, muitas vezes identificadas como sagradas e locais de culto, de inspiração e de aconselhamento junto do “irã”, a entidade sobrenatural, tanto venerada como temida. Entre a multiplicidade de espécies arbóreas (b) existentes, referenciam-se como observáveis a Tagara, o Manpataz e o Poilão. O interesse turístico da Floresta de Cantanhez consiste na possibilidade de, no decurso das actividades e das visitas, observar a diversidade biológica que coexiste de forma equilibrada: árvores de grandes dimensões; árvores de médio porte; arbustos .

Também no que respeita à fauna, a região é rica em diversidade, encontrando-se diferentes espécies de grandes mamíferos (c), cefalofos, ungulados, primatas (d), aves (e), répteis (f), peixes e insectos (g), de entre os quais algumas estão ameaçadas ou em risco, pelo que têm estatuto reconhecido de espécie protegida. A maioria destes animais reveste interesse turístico, existindo, a nível internacional, mercado potencial por segmentos. Contudo, a observação nem sempre é facilitada visto que os animais a viverem em habitat natural são fugidios, o que também evidencia o estado ainda virgem do parque florestal.

Paralelamente, a acção conjugada do IBAP, da IUCN e da AD tem viabilizado a demarcação das áreas através da colocação de placas indicativas em algumas áreas, com classificação de “corredores de animais” (…), de forma a facilitar a identificação tanto das zonas como das espécies mais importantes. Nos Matos de Cantanhez, existem sete corredores, dos quais dois são transfronteiriços, cruzando o sul da Guiné-Bissau com o norte da Guiné Conacri, e delimitam áreas prioritárias de passagem de grandes mamíferos, como o elefante africano, o búfalo da floresta e a gazela pintada. Estas são acções que, do ponto de vista ecoturístico, representam uma mais-valia importante por evidenciarem preocupação com a preservação espacial e com a conservação de espécies ameaçadas.

Por outro lado, todos os Matos estão também identificados com placas indicativas do início e do fim de cada área, o que permite ao turista um acompanhamento dos percursos, a distinção dos Matos a partir da identificação das características florestais e a valorização do conhecimento sobre os locais de passagem e de visita. Além de ser fundamental para a prossecução das actividades do ecoturismo, esta sinalética representa um esforço na sensibilização das comunidades no sentido da identificação de locais “intocáveis” porque protegidos, ou seja onde é proibido desflorestar, provocar o abate de árvores, proceder a queimadas ou capturar os animais referenciados como protegidos.

As Floresta de Cantanhez são caracteristicamente fechadas e de difícil penetração, mas não representam o único tipo de paisagem ambiental que caracteriza a região, já que se encontram, de forma intercalada, áreas de savana arbórea e herbácea, e com maior importância mangal ou tarrafes, rios, estuários e paisagem fluvial, costa marítima e, com menor destaque, praias.

Toda a região é caracterizada pela existência de cursos de água, sob a forma de grandes e pequenos rios, afluentes e braços fluviais que penetram para o interior das áreas florestadas (…). Os principais rios são o Cacine e o Cumbidjan, qualquer um navegável em pequenas embarcações, desde que pouco fundas, devido à existência de grandes flutuações na quantidade de água em resultado da variação das marés e à existência de bancos de areia que conferem pouca profundidade aos cursos fluviais. Proliferam ainda os pequenos rios afluentes dos principais, como o Balana e o Balanazinho, o Gadamael, o Bendungo, o Cachadeba e o Gaduar, revestindo contudo menor importância.

O meio fluvial é particular do ponto de vista paisagístico já que apresenta uma estrutura diferenciada da que caracteriza a floresta, mas também por ser rico em flora e fauna. Do ponto de vista turístico, este é um meio de grande valor porque, além de propiciar a realização de actividades diferenciadas e complementares às florestais, de observação de animais e de contemplação, representa uma possibilidade alternativa e acrescida de acesso e de transporte, estabelecendo a ponte com outras localidades.

Contudo, não é aconselhada a utilização das águas dos rios para banhos ou natação, devido à existência de crocodilos, que mesmo que não visíveis se tornam perigosos pondo em risco a segurança. As águas dos rios sendo turvas e barrentas, e as areias lodosas, não favorecem a prática balnear em meio fluvial, mas proporcionam o desenvolvimento de práticas ecoturísticas.

Os rios são assim uma forte potencialidade para o turismo de contemplação de paisagens e de observação de animais como aves, nomeadamente grupos de pelicanos, e espécies migratórias, dada a proximidade e a facilidade de acesso para a Ilha de Melo e Ilha dos Pássaros, situados na foz do rio Cacine.

Por fim, a região de Tombali, em particular na zona oeste dos sectores de Bedanda e de Cacine, pelo contacto com o Oceano Atlântico, é marcada pela proximidade em relação ao sul do arquipélago dos Bijagós, nomeadamente no que respeita ao Parque Natural Marinho de João Vieira e Poilão.

Esta coincidência geográfica de elementos naturais de reconhecida importância, e que revestem interesse turístico, evidencia a possibilidade de estabelecer ligações entre o meio florestal, propiciada pelos Matos de Cantanhez, o meio fluvial, favorecida pelos rios e inúmeros cursos de água, e o meio marinho, em que se destacam espécies diferenciadas, tais como os cetáceos e as tartarugas marinhas. Por outro lado, está favorecida a complementaridade entre meio continental e insular, viabilizando o desenvolvimento de actividades diferenciadas tendentes à preservação ambiental e à conservação de espécies. (...)

pp. 31-35

(Continua)

__________

Notas da autora, BRB:

(a) É comum entender estas áreas como florestas sagradas, dotadas de pontos específicos e identificáveis por guias locais, como fontes sagradas, árvores sagradas ou simplesmente zonas referenciadas e que os animistas acreditam que têm poderes, realizando práticas de veneração.

(b) Podem ainda referir-se outras espécies como pau veludo, pau miséria, malagueta preta, lianas lenhosas, figueira estranguladora, líquenes.

(c) Os grandes mamíferos que podem ser observados são os elefantes, os búfalos da floresta, as gazelas, e mais raros os felinos como a onça pintada, vulgarmente conhecida como leopardo.

(d) Os primatas são comuns e apresentam diversidade: chimpanzé, babuíno ou macaco cão e colobus ou macaco fidalgo e preto.

(e) As aves apresentam grande diversidade: garças, picanço, abelharuco, pica-peixe, calao grande, pica-pau, cotovia, andorinha, melro, pardal, entre outras.

(f) Os principais répteis terrestres são a cobra preta, cuspideira ou bida, a cobra tutu, a cobra verde, da palmeira ou kakuba, a cobra vermelha e a jibóia ou irã seco. Nos rios pode encontrar-se crocodilo ou lagarto preto e no mar tartarugas marinhas.

(g) Os insectos com maior interesse turístico e que podem ser enquadrados nas potencialidades ambientais são a borboleta, que existe na região em quantidade, destacando-se pelas cores, e as térmites ou baga baga, devido às construções de terra. Por outro lado, existem abelhas associadas à actividade da apicultura.


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Notas de L.G.

(1) Vd. poste de 12 de Abril de 2008 >
Guiné 63/74 - P2752: Uma semana inolvidável na pátria de Cabral (29/2 a 7/3/2008) (Luís Graça) (14): Acampamento Osvaldo Vieira (II)

(2) Esta publicação está disponível, em formato.pdf, no sítio do Instituto Marquês de Valle Flôr :
ESTUDO DAS POTENCIALIDADES E DOS CONSTRANGIMENTOS DO ECOTURISMO NA REGIÃO DE TOMBALI

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Guiné 63/74 - P2792: Dando a mão à palmatória (9): O Cap Jorge Picado foi CMDT da CART 2732 (Carlos Vinhal)




Jorge Picado,
ex-Cap Mil,
CCAÇ 2589 e CART 2732,
Guiné 1970/72



1. No dia 20 de Abril de 2008, o nosso novo camarada Jorge Picado cumpria a formalidade do envio das fotos da praxe para a fotogaleria do nosso Blogue.

De acordo com as normas, anexo envio 1 foto da Guiné, para que o Carlos Vinhal identifique alguns dos camaradas da CART2732.

Enviarei mais 2, uma de cada vez.

Estou procurando alguns esclarecimentos para responder ao solicitado sobre a Emboscada do Infandre.





Foto 1> Bissau> O ex-Cap Mil Jorge Picado em frente ao HM 241


2. No próprio dia 20 era enviada resposta

Caro camarada Jorge Picado

Bem-vindo ao nosso Blogue.

Li com atenção o que escreveu sobre o seu percurso na Guiné. Teve cá uma actividade e peras.

Com respeito à sua passagem por Mansabá, com muito pesar meu, não tenho ideia da sua presença na minha CART 2732.

Estive ausente de férias na Metrópole entre 15 de Fevereiro e mais ou menos 23 de Março de 1971.

Após a minha chegada tive uma actividade operacional muito intensa com uma série de Operações para os lados de Farim. Não sei se participou em alguma. Por outro lado, por motivos que mais tarde poderei aflorar, eu não aparecia na Secretaria da Companhia.

O CMDT da CART 2732 era na altura, e desde o dia 7 de Outubro de 1971, o Cap Alberto Pinto Catalão que deu baixa ao HM241 de Bissau sucessivamente em Fevereiro, Março e Junho de 1971.

Em Agosto de 1971 foi evacuado definitivamente para o HMP de Lisboa, em boa hora, porque aquela alminha não gostava de mim nem um bocadinho e acabaria por me dar uma porrada.

Já agora, para ter uma ideia de quantos comandantes tivemos, vou enumerá-los.

1.º - Cap Prego Gamado que deu baixa ao HMP antes do embarcarmos no Funchal com destino à Guiné.

2.º - Já em Mansabá (17ABR70), herdámos o Cap Carreto Maia que transitou da Companhia que ali substituímos, por lhe faltarem uns meses para acabar a Comissão.

3.º - Em JUL70 chegou o Cap José Maria Belo (de boa memória) que acabou por ser evacuado para o HMP com graves problemas de pele.

4.º - Em OUT70 chegou o famoso Cap Alberto Pinto Catalão (meu inimigo de estimação) que andou sempre a correr para o HM241 até conseguir ser definitivamente evacuado para Lisboa. Terá sido num destes intervalos que o senhor comandou a CART 2732?

5.º - Finalmente em OUT71 chegou o Cap Mil Santos Caeiro que aguentou até ao nosso regresso em MAR72.

Se bem se deve lembrar, quando esteve em Mansabá havia muita confusão pois estávamos a construir a estrada do Bironque até ao K3. Tinha sido activado em Novembro de 1970 o COP 6 que teve entre vários comandantes o então Major Correia de Campos, já o senhor andaria por sítios bem mais complicados.

Não estaria o Jorge afecto ao COP 6 e comandado esporadicamente a CART 2732?

A História da Unidade CART 2732 não faz menção ao seu comando.

Foto 2> Mansabá, 13 de Abril de 1971> Festa de batizado da filha do senhor José Leal e da dona Olinda (?).
OBS:-Fotografia enviada por Jorge Picado, onde entre outros se encontra este vosso co-editor


Com respeito à foto que mandou, tirada no dia 13 de Abril de 1971 num almoço oferecido pelo senhor José Leal, no dia do batizado da sua filhota, vou dizer quem está nela.

As pessoas estão numeradas.

1 - Eu mesmo, o Fur Mil Vinhal (à civil) (CART 2732)
2 - O Alf Mil Bento, meu comandante de pelotão (CART 2732)
3 - O Alf Mil Médico, Rolando (se não me engano no nome)
4 - Fur Mil Enf Marques (CART 2732)
5 - Chefe de Posto (Autoridade Civil de Mansabá)
6 - Senhor José Leal (nosso anfitrião)
7 - Alf Mil Op Esp Rodrigues (CART 2732)
8 - Alf Mil Casal (Que comandava a Companhia nos intervalos em que não tínhamos Capitão)
Finalmente o Jorge está entre o senhor José Leal e o Alferes Casal.

Outro assunto.

Uma vez que foi Cap Mil, há-de explicar-nos como foi apanhado a laço para fazer a comissão na Guiné. Temos um caso semelhante ao seu, o ex-Cap Mil Ferreira Neto da CART 2340, que já com família constituída foi lá parar, depois de ter feito o serviço normal obrigatório uns anos antes por cá.
(...)
Um abraço com votos de muita saúde do,
Carlos Vinhal


3. Na mesma data Jorge Picado respondia

Finalmente encontrámo-nos. Os Alferes Bento e Casal eram aqueles de quem sabia os nomes e recordava-os. Também fomos mandados a pé a Fátima (1) à procura dum célebre Morteiro 82 no dia 29 de Março de 1971, precisamente com os 2 Pelotões do Casal e do Bento reforçados com 2 secções de Mil.ª, juntamente com 1 Pelotão (?) de Páras que a certa altura se separou de nós, para contornara bolanha a partir de Berecodim, pelo Sul, seguindo nós pelo Norte.

Possivelmente o Carlos também foi.

Tenho cópia do relatório de acção "Urtiga Negra" do Agr. A, que seria aquele que eu comandava.

Nem calcula os tratatos de imaginação que fiz, sem conseguir chegar a uma decisão para decifrar a leitura das coordenadas de modo a localizá-las numa fotocópia da carta que consegui. Binta 8H8-74 e Binta 8I0-79!

Eu não fui colocado no COP 6. Fui colocado na CART, graças às artimanhas desse tal Catalão, de cujo nome não mais me esqueci. Posso acrescentar como se deu tal conhecimento.

Encontrando-me em Bissau desde a manhã do dia 15 de Fevereiro de 1971, depois de ter deixado a coluna do BCAÇ 2885 no desvio para o Cumuré, onde não entrei, fiquei aboletado, não sei se era este o termo usado, nas instalações do Clube de Oficiais, junto ao QG em Santa Luzia, a aguardar futura colocação.

No quarto onde pernoitava apareceu igualmente para pernoitar o Cap Catalão, que já conhecia, visto que, desde 27 de Novembro de 1970 fui colocado em Cutia, para efectuar a protecção das colunas para Mansabá, que se destinavam aos trabalhos de asfaltamento da estrada para Farim (ou melhor até ao rio Cacheu).

Efectuei 23 escoltas e tenho algumas recordações, como o Carlos se deve lembrar, pelo menos do dia 28 de Dezembro de 1970 (2), segunda-feira depois do Natal... mas voltemos ao Catalão que era do QP.

Tinha vindo para consultas ao HM, no intuito, como me confessou, de se livrar de Mansabá. Todos os dias por volta da hora do almoço, encontrávamo-nos no quarto, para uma banhoca antes do dito e depois dele regressar do HM e eu da minha visita ao QG para saber o meu futuro, perguntando-me ele:
- Então já tem colocação? - e a minha resposta era - Não.

Animava-me dizendo saber que havia vagas em Bissau, enquanto as suas diligências iam dando frutos... não sei se uma licença para tratamento...

O pior foi no dia 5 de Março, uma má sexta-feira, quando no QG me informaram que tinha sido colocado no DA, além do QO, indo em Diligência para a CART 2732 substituir, durante o seu impedimento o respectivo Comandante.

Iam-me caíndo os ditos cujos aos pés ao receber logo a respectiva ordem de marcha que me meteram nas mãos, para que não houvesse dúvidas. E eu que já tinha em perspectiva uma ida para o CAOP 1, que era bem melhor... nem calcula o que mentalmente lhe chamei...

Ao chegar ao quarto e perante a cena do costume, quase sem o encarar respondi-lhe: - Fui colocado na CART 2732. Sigo amanhã para Mansoa.
Desapareceu, nunca mais o vi, porque nessa noite não foi dormir ao quarto...
Como vê, também esse nome não me deixa saudades.

Quanto ao meu funcionalismo público, posso dizer-lhe que já era dos antigos Serviços Agrícolas, quando fui caçado para fazer de Capitão e já tinha os meus 4 filhos!

Um abraço e igualmente muita saúde.
Jorge Picado


4. Em 21 de Abril nova mensagem para o Jorge Picado

Caro Jorge
Afinal temos mais em comum do que eu sonhava. Na verdade também participei na operação em 29 de Março de 1971, chegado há poucos dias de férias da Metrópole.

Curioso que o Jorge e o Catalão se tenham cruzado antes da sua nomeação para a CART 2732.

Segundo o que consta na História da CART 2732, no dia 29MAR71 - 2 GCOMB reforçados com 2 SEC MIL/PEL MIL 253, em BINTA 8H8-74, contactaram com GR IN com cerca de 10 elementos. NT reagiram com fogo de armas automáticas, dilagramas e morteiro 60, pondo os elementos IN em fuga para SW, sofrendo 2 mortos confirmados. Capturada 1 Mauser, 3 granadas de Canhão S/R B-10 e destruído 1 celeiro com cerca de 300Kg de milho.
As NT foram flageladas com morteiro 82 sem consequências. (Acção Urtiga Negra).

Acontece que as granadas de canhão S/R capturadas, foram inspeccionadas por mim antes que alguém lhe mexesse, não fosse, estarem armadilhadas.

Já agora, lembre-me se foi sob o seu comando e se foi nesta operação que se passou este caso.

Era já tarde alta, estávamos completamente estourados, quem comandava incluído, até porque era um pouco mais velho que nós, e o Comandante da Operação que de avioneta dirigia a Acção, queria que nós fossemos ainda a determinado objectivo. Lembro-me que o nosso capitão, que eu não conhecia muito bem, ter desobedecido terminantemente às ordens de quem lá de cima não compreendia que naquela altura estávamos completamente esgotados, e ter-se dirigido para o K3 onde nos mataram a sede que nos atormentava há longas horas.

Lá recuperámos as forças, até voltarmos para Mansabá em meios auto.
Ficámos todos contentes e admiramos a coragem do nosso comandante por nos poupar a mais um esforço inútil.

Mais tarde, em 12 de Abril, integrado na Acção Urtiga XXVII, numa emboscada na Bolanha de Iribato, tivemos um contacto de que resultou a morte do milícia Sul Bissau. Quem comandava as forças era o Alf Bento.

Dias difíceis que já lá vão.

Mande a estória da sua convocatória para o curso de capitães e posterior mobilização para a Guiné.
São experiências de vida notáveis, tanto mais que já tinha família constituída.

Um abraço
Carlos

Notas de C.V.

(1) Fátima era uma tabanca ocupada pelo IN, onde cada operação era certeza de contacto e muito fogo de parte a parte. Não havia Fé que valesse nesta peregrinação.

(2) Julgo que o Jorge Picado se refere a um acontecimento insólito que foi o IN ter feito, na estrada alcatroada que ligava Mansabá a Mansoa, na zona de Mamboncó, 5 enormes buracos com cerca de 2 a 2,5 metros de diâmetro e 60 a 80 centímetros de profundidade, ao longo de 200 a 250 metros.
Estes buracos obrigavam as colunas auto a pararem naquela zona, a picar a berma por onde as viaturas tinham forçosamente de passar e a um reforço de segurança enquanto se transpunha estes obstáculos.
Verdade se diga que em pouco tempo a Engenharia Militar repôs a normalidade, procedendo à reparação da estrada.
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Notas dos editores:

Vd. postes de 9 de Abril de 2008> Guiné 63/74 - P2736: Tabanca Grande (60): Apresenta-se o Jorge Picado, ilhavense, ex- Cap Mil, CCAÇ 2589, CART 2732 e CAOP 1 (1970/72)

de 10 de Abril de 2008> Guiné 63/74 - P2748: Para o estimado Jorge Picado (Afonso Sousa)

Guiné 63/74 - P2791: Álbum das Glórias (46): O distintivo da CCAÇ 2382, 1968/70 (Manuel Baptista Traquina).

A Guiné /Os Tempos de Guerra

1968/70

Companhia de Caçadores 2382

O Distintivo da Companhia




Este era o distintivo da Companhia. Continha na parte central, a figura de um militar com aspecto de veterano de guerra, já com o camuflado e botas um pouco danificados, e a sua inseparável G3.

Na mão direita segura aquilo a que chamávamos a “pica”, que não era mais que uma vareta de aço afiada e que servia como o nome indica para picar o terreno susceptível de ocultar uma mina. Na extremidade da referida "pica" encontra-se uma pequena caixa que representa uma mina anti-carro.
Sendo a CCaç 2382 uma Companhia Independente, nos quatro ângulos do distintivo encontram-se as iniciais dos comandos a que pertenceu: o primeiro é o Regimento de Infantaria 2 de Abrantes onde a companhia se formou e foi mobilizada; o segundo é o COSAF Comando Operacional de Aldeia Formosa; o terceiro, Batalhão de Caçadores 2834 ao qual a companhia esteva adida e o quarto, o COP4 (Comando Operacional nº4, sedeado em Buba).
As duas inscrições laterais poderão levantar algumas interrogações: “Por Estradas Nunca Picadas”. Esta pequena frase diz-nos que a companhia andou por locais até ali ainda não pesquisados; “Por Picadas Nunca Estradas” aqui pretende-se dizer o que foi uma realidade, que os militares andaram pelo mato por caminhos que nunca foram estradas.
Mas voltando à figura central, àquele a que chamámos “o Zé do olho vivo”, por ser uma figura mais ou menos engraçada, valeu-nos na Guiné o título da Companhia dos Palhaços.
Manuel Batista Traquina
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Adaptação do texto da responsabilidade de vb.