1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Novembro de 2015:
Queridos amigos,
Convida a leitura do documento correspondente ao
abaixo-assinado de negociantes portugueses a viver em Ziguinchor.
Todo este
período correspondente à primeira metade do século XIX é de puro declínio,
os franceses não se foram infiltrando na região do Casamansa guerreando,
simplesmente não encontraram resistência, estamos no fim do comércio
negreiro, as hostilidades dos autóctones é enorme, basta ler os livros de
René Pélissier e de Pierre Mendy. E a carta diz tudo, era uma aventura
atravessar de Ziguinchor até Cacheu, pelo menos três portagens.
Curiosamente, enquanto tudo isto se passa, Honório Pereira Barreto, com
dinheiro do seu bolso e hábil diplomacia dilata o território da Coroa. E
quando chega a Convenção Luso-Francesa de 1886 os franceses impuseram as
suas condições: ficaram com o Casamansa e deram-nos a península de Cacine.
A
História dita as suas regras: o Casamansa que ainda hoje ver respeitada a
sua identidade Mandinga e a região de Cacine aderiu facilmente à propagando
do PAIGC.
Para que conste.
Um abraço do
Mário
Na agonia da presença portuguesa em Ziguinchor
Beja Santos
Folheava os diferentes números do boletim “Ecos da Guiné”, que teve alguma importância informativa oficial no início da década de 1950, quando, no número 29 de 1 de Dezembro de 1952 encontrei um documento trazido por Alexandre Almeida, um abaixo-assinado enviado por um conjunto de negociantes de Ziguinchor ao Governador-Geral de Cabo Verde, em 13 de Abril de 1944, é este o seu teor:
“Os abaixo-assinados, negociantes e comerciantes do presídio de Ziguinchor, vão hoje levar à presença de V. Ex.ª a mais justa das queixas e esperam que V. Ex.ª os atenda como julgar merecer.
Desde há muitos anos que este Presídio vive absolutamente abandonado por Cacheu, sem providência e sem socorro, apenas é lembrado por este quando tem a enviar alguns soldados insubordinados e de péssima conduta.
Há pouco, os estrangeiros intentaram roubar o único negócio que ainda os portugueses fazem com vantagem que é o do sal, em terras de Felupes Jugubel; foi um particular e não o governo quem obstou a tal, fazendo com dispêndio contratos com o gentio de mora naquelas paragens.
Não obstante este culpável desamparo, os abaixo-assinados têm audácia de asseverar a V. Ex.ª que é o presídio mais respeitado do gentio; porque os abaixo-assinados e o povo não duvidam expor a vida para vingar o mais leve insulto feito à Bandeira Nacional.
Os abaixo-assinados não recebem nem exigem louvores por factos que são em cumprimento do dever. Mas se os abaixo-assinados não podem encómios e distinções também não querem ser ofendidos nos seus interesses já tão minguados em todo este Rio Casamansa.
Acaba de ser ordenado que os abaixo-assinados não possam comprar fazendas aos navios que aportam este presídio, devendo eles ir comprá-las a Cacheu, cuja viagem é, além de dispendiosa, perigosa. A incúria de tal ordem é fácil de ser demonstrada. Os habitantes de Ziguinchor têm já que lutar contra a ruinosa concorrência estrangeira que se apossou deste riquíssimo rio, pois em 1837 os franceses fundaram uma feitoria em Sejo; sendo de notar que são estes mesmos estrangeiros quem nos vende géneros por um preço tal que por pouco mais ou menos custam ao gentio, onde os abaixo-assinados vão negociar.
Ora, se além dos direitos já pesados que os abaixo-assinados hão de pagar acrescer as despesas de viagem até Cacheu, em canoas que pouco ou nada carregam, decerto os abaixo-assinados não poderão vender os seus géneros ao gentio, e ver-se-ão reduzidos à miséria que será a paga pelos seus sacrifícios!
A viagem de Cacheu é bastante perigosa como já se disse: porque tem de se passar um estreito, onde se pagam três impostos a três régulos gentios, demasiadamente insolentes. Conquanto esta proibição de negócio ainda não se tenha posto em vigor, contudo existe, de direito e é contra ele que os abaixo-assinados reclamam providências de V. Ex.ª.
À vista do exposto, os abaixo-assinados rogam a V. Ex.ª se digne de terminar que fique de nenhum valor a ordem que proíbe tão injustamente aos habitantes de Ziguinchor comprar fazenda aos navios que vêm a este porto.
Não pense V. Ex.ª que os abaixo-assinados se negam a pagar os direitos: eles os têm pago e continuarão a pagar”.
Segue-se uma lista de assinaturas encabeçada por Francisco Carvalho Alvarenga.
Não se desconhece que a presença portuguesa na região é débil, os conflitos com as etnias não abrandaram a despeito dos efémeros tratados de concórdia. Basta recordar o que se passa em Bissau, em que os militares e negociantes vivem dentro da fortaleza e quando saem para Bandim ou Intim são imediatamente hostilizados. Fora formalmente abolida a escravatura e não se vê a solução à vista para manter em condições a fixação de população. Fomos abandonando a região de Casamansa e os franceses infiltraram-se insidiosamente. Mesmo quando invocamos a nossa presença histórica na região do Casamansa, as autoridades de Paris não nos atenderam. Fomos libertando os escravos, a decadência atingiu tal proporção que a Coroa tomou medidas drásticas, separando a Guiné de Cabo Verde, dando um governador à região.
Atenda-se ao teor da carta: Cacheu, debilitada, praticamente ignora o presídio de Ziguinchor, só se lembra desta posição quando é necessário recambiar corrécios, os motins de tropa indisciplinada, maltrapilha, eram prática habitual; e atravessar o Norte da Guiné era uma aventura dispendiosa. Este documento é contemporâneo de dois fenómenos importantes: o aceso da resistência das etnias à presença portuguesa e o esforço admirável de Honório Pereira Barreto que cedeu propriedades e fez contratos com régulos para aumentar o território efetivo da Coroa. O investigador António Duarte Silva já se referiu a esta situação: ao começar a segunda metade do século XIX a presença portuguesa na Guiné, embora antiga, mantinha-se muito limitada. Reduzia-se a uma praça (a de Bissau), quatro presídios (Cacheu, Geba, Farim e Ziguinchor), um posto (Bolor) e a Ilha de Bolama. Todos estes estabelecimentos se encontravam sujeitos ao governo das ilhas de Cabo Verde e como refere Honório Pereira Barreto estavam permanentemente “cercados por gentios mais ou menos insolentes, mas que geralmente dominam os Portugueses (…) Dos gentios vizinhos aos nossos estabelecimentos vêm os sustentos (…) Os habitantes, à exceção dos poucos notáveis, seguem os costumes dos gentios, de que descendem (…) São preguiçosos, indolentes, inertes, e a nada se querem aplicar; podendo, se quisessem, levar a grande escala a agricultura, pois o terreno é fecundo”. É neste contexto de letargia que outro fenómeno importante irá ocorrer, importância que extravasa a Guiné: os Fulas submetem os Mandingas e entram ostensivamente no território que é hoje o Gabu. Irão ter um papel determinante na pacificação, tornar-se-ão o mais poderoso aliado da potência colonial.
Ziguinchor tem muitas parecenças com o Bissau Velho. Quem me fez esta observação foi alguém que me ajudou a preparar o contexto do meu livro “Mulher Grande”, alguém que viveu no Norte da Guiné entre 1952 e 1961 e que ia regularmente a Ziguinchor. Aqui viveu Luís Cabral no tempo da luta de libertação, era um ponto fulcral devido à presença de bastantes comerciantes cabo-verdianos e de muitos guineenses que escaparam à guerra.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 16 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15495: Historiografia da presença portuguesa em África (66): James Pinto Bull, deputado guineense (1913-1970), da União Nacional, comenta na Assembleia Nacional,em 10/2/1968, a visita oficial do presidente da República à Guiné (que teve início em 2/2/1968, e cujo roteiro incluiu Bissau, Bafatá, Gabu, Bolama, Bubaque e Safim)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 16 de dezembro de 2015
Guiné 63/74 - P15496: Os nossos seres, saberes e lazeres (132): o casal João e Vilma Crisóstomo recebem em sua casa, em Nova Iorque, o ex-comandante do Navio Escola Sagres, Malhão Pereira, o embaixador Mendonça e Moura, e mais três dezenas de membros de comunidades portuguesas da área metropolitana nova-iorquina
______________
Nota do editor:
Último poste da série > 12 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15480: Os nossos seres, saberes e lazeres (131): A banda Xaral's Dixie, de Minde (Ninhou), na Lourinhã comFredericos de cópio terraiozinho judaico e de um planeta ancho que há-de vir com muita maqueda (Votos de Bom Natal e Feliz Ano Novo, em minderico)
Último poste da série > 12 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15480: Os nossos seres, saberes e lazeres (131): A banda Xaral's Dixie, de Minde (Ninhou), na Lourinhã comFredericos de cópio terraiozinho judaico e de um planeta ancho que há-de vir com muita maqueda (Votos de Bom Natal e Feliz Ano Novo, em minderico)
Guiné 63/74 - P15495: Historiografia da presença portuguesa em África (66): James Pinto Bull, deputado guineense (1913-1970), da União Nacional, comenta na Assembleia Nacional,em 10/2/1968, a visita oficial do presidente da República à Guiné (que teve início em 2/2/1968, e cujo roteiro incluiu Bissau, Bafatá, Gabu, Bolama, Bubaque e Safim)
Guiné > Bissau > Cemitério local > Fevereiro de 1968 > Visita presidencial à província > O presidente alm Américo Tomás (1894-1987) e comitiva em visita às campas do talhão dos combatentes portugueses.
Foto da autoria de Firmino Marques da Costa, fotógrafo da comitiva presidencial, e que faz parte do fundo da Agência Geral do Ultramar. Pode ser visualizada aqui, no Arquivo Histórico Ultramarino (AHU). Reproduzida com a devida vénia.
O ACTD - Arquivo Científico Tropical Digital "pretende ser um sistema de informação inovador, que actua como uma plataforma de partilha e divulgação do saber tropical, potenciando e optimizando simultaneamente a realização de investigação e a aproximação da comunidade científica e da sociedade civil às temáticas tropicais e ao seu património científico, aumentando assim o conhecimento da cultura e da história dos países de língua oficial portuguesa (CPLP)."
O acervo do AHU - Arquivo Histórico Ultramarino "integra actualmente cerca de 16 km de documentos provenientes na quase totalidade de arquivos de organismos da administração ultramarina portuguesa que funcionaram entre meados do séc. XVII e 1974-1975".
Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição, na fortaleza da Amura, de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, alm Américo Tomás > Metralhadoras pesadas Degtyarev, de origem soviética (*). Foto do álbum do nosso saudoso camarada Vitor Condeço (1943-2010).
Foto: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Todos os direitos reservados
1. Intervenção, antes da ordem do dia, do deputado, pelo círculo da Guiné, James Pinto Bull (Bolama, 1913- Rio Mansoa, 1970), em 10 de fevereiro de 1968, na Assembleia Nacional (**):
Intervenção do deputado, pelo círculo da Guiné, James Pinto Bull (Bolama, 1913 - Rio Mansoa, 1970), Debates Parlamentares > Diário das Sessões, nº 134, 10 de fevereiro de 1968, pp. 2417-2148 (Reproduzido com a devida vénia...)
Intervenções nas duas últimas legislaturas (a IX e X, que não completou por falecimento)
Fonte: Portugal | Estado Novo | Assembleia Nacional | James Pinto Bull (1913-1970) | VIII, IX e X legislaturas |
Nascido em Bolama, licenciadso pelo ISCUP em ciências sociais e políticas ultramarinas, James Pinto Bull fez a sua carreira profissional no funcionalismo ultramarino, tendo sido deputado pelo círculo da Guiné de 1961 a 1970, ano em que morreu, a 26 (ou 25 ?) de julho (***), num acidente de helicóptero em que perderam a vida mais 3 deputados (J. P. Pinto Leite, o chefe da "ala liberal" de que James Pinto Bulll também fazia parte, Leonardo Coimbra, e José Vicente Abreu), além de 2 militares (o alf pilav Francisco Lopes Manso e o cap cav Carvalho de Andrade).
O seu irmão mais novo, Benjamim Pinto Bull (1916-2005), liderou a coligação União dos Naturais da Guiné-Portuguesa (UNGP), um movimento que, com o apoio do Senegal de Leopoldo Senghor, era contra a luta armada e a favor de uma independência da Guiné-Bissau, progressiva, através do diálogo.
Fonte: Parlamento Português > Publicações On Line > Deputados da Assembleia Nacional 1935-1974 (Com a devida vénia...)
______________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 13 de maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)
(**) Último poste da série > 31 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15309: Historiografia da presença portuguesa em África (59): Cem pesos era "manga de patacão" para o camponês guineense, produtor de mancarra... Era por quanto venderia um saco de 100kg ao comerciante intermediário... Em finais de 1965 o governo de Lisboa garante a compra pela metrópole da totalidade da produção exportável da mancarra guineense e fixa o preço por quilo em 3$60 FOB (Free On Board)
(***) Vd. poste de 26 de outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5162: Controvérsias (39): Nunca se fez um inquérito ao acidente que vitimou o meu avô James e seus companheiros (Sofia Pinto Bull)
Guiné 63/74 - P15494: Parabéns a você (1002): António Paiva, ex-Soldado Condutor Auto do HM 241 (Guiné, 1968/70)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 15 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15491: Parabéns a você (1001): Francisco Santos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 557 (Guiné, 1963/65) e Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 (Guiné, 1971/74)
Nota do editor
Último poste da série de 15 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15491: Parabéns a você (1001): Francisco Santos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 557 (Guiné, 1963/65) e Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 (Guiné, 1971/74)
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
Guiné 63/74 - P15493: Tabanca Grande (477): José Manuel Sarrico Cunté - "mininu" Zé Manel do nosso camarada Manuel Joaquim - 706.º Grã-Tabanqueiro
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, Bissau, Bissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 18 de Novembro de 2015, que a nosso pedido fez este trabalho para podermos apresentar formalmente o nosso novo amigo tertuliano, José Manuel Sarrico Cunté:
Meus caros camaradas
O meu "menino da Guiné" Zé Manel mostrou interesse em fazer parte do mundo desta nossa Tabanca Grande. Mas também me diz que não domina o uso de computadores e que tem dificuldades na sua utilização. E tem ainda mais problemas quanto ao uso de computador. O apoio dos filhos está agora difícil porque o computador que tem em casa não está funcional e outro, de que pode servir-se pontualmente, é o da filha mais velha que já não vive com os pais. De qualquer modo agrada-lhe a ideia de se tornar membro do blogue.
Combinámos ser eu a fazer a sua apresentação, pode ser? É o que estou a fazer enviando um trabalho meu que penso poder servir para esse efeito, trabalho este que é do seu conhecimento.
Bem, o que interessa é que ele se inscreva. Os problemas informáticos resolvem-se, com maior ou menor dificuldade.
Aguardo a vossa opinião sobre este assunto se acharem por bem dar-ma.
Saudações fraternas
Manuel Joaquim
Em 10/11/2010 foi publicado neste blogue o P7261 – História de vida: Adilan, nha mininu ou como se fica com um menino nos braços, onde são narradas as circunstâncias que me levaram à decisão de trazer um menino da Guiné, de nome José Manuel Sarrico Cunté, como decorreu essa vinda e como se integrou a criança na minha vida familiar e na vivência local. Na altura apresentei-o com o seu nome original, Adilan, nome que só ficámos a conhecer, eu e ele, muitos anos mais tarde quando voltou a viver na Guiné e conseguiu encontrar os seus pais. A propósito, ver o P7267, onde se relata o acontecido.
Acompanham essa história diversas fotos mas só duas se referem aos primeiros dias vividos no seio da sua nova família. Tinha mais algumas em “slides” mas perdi-lhes o rasto quando casei e saí da casa paterna. Na altura bem procurei, mas sem resultado. Recentemente, ao tentar recuperar um móvel vindo dessa casa tive a alegre surpresa de encontrar a caixinha com esses “slides”, perdida no fundo de uma gaveta há mais de 40 anos. São essas fotos do menino Zé Manel que, para além de umas outras, agora publico.
Para ajudar a enquadrar o tema transcrevo do já referido P7261 a descrição dos momentos vividos no final de Outubro de 1966 em que me responsabilizei por um pretinho, recolhido pelo 2.º Sargento Casimiro Sarrico durante uma operação militar realizada em Janeiro daquele ano. Este militar ficou a cuidar da criança durante cerca de dois meses, até ficar gravemente queimado por uma granada de sinalização que rebentou num bolso do seu camuflado. Evacuado para Lisboa, morreu no HMP alguns anos depois. E o menino foi levado para a caserna por soldados da CCaç 1419 e com eles ficou a conviver, ficando a ser conhecido por Sarrico como é fácil de entender.
(…)
“Nas vésperas da mudança, a sociedade civil local organiza um convívio para agradecer o trabalho da Companhia durante os 12 meses que permaneceu em Bissorã. Foram convidados os oficiais, os sargentos e algumas praças. Bom ambiente, muitas bebidas, bons petiscos e, com coisas destas, pouco tempo é preciso para se esquecer a razão das despedidas. Às tantas, alguém me convoca:
– Meu furriel, há para ali pessoal que quer falar consigo. Pedem p´ra ir lá.
Estranhando o despropósito do momento e da hora, bem noturna, lá vou até à porta.
– Oh nosso furriel, um favor, veja se convence o nosso capitão a deixar levar o Sarrico c´a gente p´ra Mansabá! É que ele não autoriza, já fizemos tudo e... nada! Veja lá se o convence!
Tento dizer-lhes que o capitão lá terá as suas razões... assunto complicado... não deve ser possível levar o miúdo... Mas perante tanta insistência, não resisti:
– Está bem, estejam descansados que eu vou tentar! Esperem aí!
Pego num uísque e por ali fico bebericando, conversando e aguardando a oportunidade de cumprir o prometido. Falo com alguns camaradas sobre o assunto mas ninguém está ali para pensar nisso. O ambiente está animado, barulhento e para mim… há uma resposta a dar ao pessoal que espera lá fora. Vamos lá!
Qual mensageiro da plebe castrense, já envolto em vapores etílicos, um bocado “leve” no andar e de fala um pouco entaramelada, lá vou eu ao encontro do capitão. De chofre, sem rodeios, em voz bem alta:
– Meu capitão, por que não deixa ir o Sarrico c´os soldados p´ra Mansabá? Estão pr´ali quase a...
Nem me deixa acabar. Com a voz ainda mais alta que a minha, atira logo:
– Meu caro Manuel Joaquim, responsabiliza-se por ele?
Pimba!!! ... que grande “martelada” na tola! Inesperadamente, em décimas de segundo, os meus neurónios excitados (anestesiados?) pelo álcool devem ter decidido eu dizer de imediato:
– Responsabilizo, pois!
O capitão, talvez surpreendido com tal resposta, engasga, pigarreia e ...
– Então está bem! Se assim é, o rapaz fica ao seu encargo a partir de agora!
– Com certeza, meu capitão! Vou já avisar o pessoal!
E não houve mais conversa! Meia volta e lá vou eu para a porta da rua ter com a malta, um pouco zonzo com o que me está a acontecer:
– Podem levar o Sarrico! A partir de agora está por vossa conta. E minha!!!
– Eh!.. bestial !!! Obrigado!!!
Caem-me em cima festejando e voltam para a caserna, rua fora festejando... eu volto à sala para festejar, digo a alguém “ já me f... ! ” e agarro mais um uísque para me ajudar a digerir o assunto.”
(…)
(Extrato do post P7261)
Logo ao alvorecer do dia seguinte ao facto acima narrado, lá segue o Sarriquito para Mansabá, integrado na CCaç 1419. Não tomei qualquer atitude para com o menino, era como se nada tivesse acontecido. Não falei com ele, nem sequer me aproximei durante os dois a três meses seguintes. Só quando decidi trazê-lo comigo é que começámos a conversar de vez em quando, mas sempre acompanhados por algum ou alguns dos soldados que se tinham comprometido a cuidar do menino.
Aproximando-se a data do fim de comissão, comecei a enfrentar um problema: Que fazer? Deixá-lo entregue “aos bichos” ou levá-lo para Portugal? A resposta está aqui neste post.
Saímos de Mansabá seis meses depois da saída de Bissorã e no dia 9 de Maio de 1967, à noite, o Zé Manel está em Portugal, perto de Pombal, e entra na minha casa paterna perante o espanto da minha mãe.
Lembro que trouxe o menino sem conhecimento da minha família nem sequer da mulher com quem eu casaria três meses depois. E só por uma razão, o ter receio de não ser capaz de enfrentar algum “NÃO” vindo das pessoas que me eram mais queridas.
A propósito de quando cheguei da Guiné ninguém saber nada sobre o assunto, transcrevo mais um bocadinho do P7261, na parte referente às primeiras horas vividas pelo Zé Manel no seu novo mundo, na sua nova casa de família, família de que ficou a fazer parte desde 1967. Esta transcrição começa logo a seguir a uma pergunta da minha mãe (- Então não levam o menino?), pergunta dirigida a quem me acompanhava quando cheguei a casa com o Zé Manel.
Não há entre nós, desde há muito, qualquer relação institucional de índole legal. O único documento oficial que existe é o “Termo de compromisso e de responsabilidade” acima referido, com efeitos só até à maioridade do menino.
(…)
Como que ficam assarapantados com a pergunta mas, de imediato, lhes digo: “Não lhe disse nada!” E logo para ela: “O menino fica comigo!”. A mãe fica de boca aberta, não quer acreditar. E há mais uns minutos de conversa motivada pelas circunstâncias.
Ao reentrar em casa, verifico que ele está sentado no mesmo sítio. Olha-me calmamente, agora sinto que me olha mesmo! Espantam-me a calma e a confiança que aparenta. Belo trabalho dos soldados, só pode ser.
Tentamos conversar. O seu português é tosco mas lá nos entendemos.
Vamos comer mais alguma coisa enquanto minha mãe vai recuperando da surpresa e do espanto. Depois, o sono vem depressa ao seu encontro e ele já não acordou antes de ser levado para a cama. Minha mãe quer perceber o que aconteceu para ter assim um menino em casa. E que menino! A conversa prolonga-se.
Acordo, bem tarde, no dia seguinte. Estavam os dois, no quintal, a tratar das galinhas e doutra bicharada.
“Maravilha!, sucedeu química entre eles!” – penso.
E minha mãe, ao dar pela minha presença:
– Queres saber? Logo de manhãzinha fui chamar as vizinhas: “querem ver a prenda que o meu Manel me trouxe da Guiné?”
Olha, vieram a correr e abri-lhes a porta do quarto, só se via uma bola preta, assim a cara, com duas coisas mais claras, assim os olhos, e elas não sabiam o que era! Abri um pouco as cortinas da janela para verem melhor e nem imaginas como ficaram! Ele estava acordado, muito quietinho de olhos arregalados, só com a cabeça fora dos lençóis!
Bela cena! Respiro fundo e começo a sentir-me bem, verdadeiramente.” (…)
(Extracto do post P7261)
Algumas das fotos aqui publicadas foram tiradas no domingo 14 de Maio de 1967, o quinto dia após a chegada do menino Zé Manel. Os três tínhamos acabado de chegar a casa, vindos da missa na igreja paroquial. A realização da missa facilitou a apresentação do Zé Manel à “sociedade” local. Foi um sucesso.
Cinco dias depois de serem apresentados um ao outro, o tempo de convivência do Zé Manel com minha mãe já era superior ao que ele tinha tido comigo, incluindo o tempo passada na Guiné. Na Guiné e por minha opção, nunca convivi verdadeiramente nem sequer estive alguma vez com o menino a sós. Mas ele sabia que vinha comigo para Portugal. E veio, sem medo nenhum e já a gostar de mim. Tive a certeza disso em Abrantes, quando mo entregaram e ele se me entregou sem o mínimo problema. Os soldados com quem antes tinha convivido fizeram um trabalho extraordinário, preparando-o para este acontecimento.
Felizmente que tudo correu pelo melhor. Na aldeia e outras aldeias vizinhas, o menino era acarinhado por toda a gente mas o afecto de minha mãe sobressaía. Qual avó extremamente responsável e protectora, a senhora derramava sobre ele muita dedicação e carinho que só acabaram com a sua morte, 37 anos depois.
Foto 2 - 20 de Agosto de 1967 > Um casamento e um batizado. Logo a seguir ao meu casamento, houve o batizado do menino José Manuel Sarrico Cunté sendo meu pai o padrinho e minha esposa (a noiva) a madrinha.
Integrou-se rápida e perfeitamente na vida social local e viveu com minha mãe durante os anos seguintes, cerca de quatro. Sozinhos os dois em casa, excepto nas férias de meu pai que estava emigrado em França. Só acabou este convívio diário quando minha mãe também emigrou, juntando-se ao marido. E por isso fez-se a sua transferência de escola para Agualva, Sintra, onde veio completar os dois últimos períodos da sua 4.ª classe.
Foto 4 - 14/5/1967 > Explorando a harmónica com “madrinha” preocupada (?): “Este filho faz-me cada uma! Que vou fazer com este pretinho?”
Foto 5 - 14 de Maio de 1967 > Com minha mãe, acabados de chegar da missa. Cada um, à sua maneira, parece estar a digerir a situação de convivência a que se viram forçados desde há quatro dias.
Foto 6 - 14/5/1967 > Com a “madrinha” Piedade à volta das flores após chegada da missa dominical. O menino veste roupas compradas em Bissau pouco tempo antes do embarque.
Foto 8 - Maio de 1967 > Junto do poço da horta, agarrado à vara da picota para tirar água e à sua já inseparável companheira, a harmónica.
Foto 10 - Maio de 1967 > Serra da Sicó, vista do lado sul e da janela do quarto do menino Zé Manel. A primeira grande paisagem de Portugal que ele fixou e que o marcou, como também a mim quando pequeno. O meu “mundo” físico para além da Sicó era o mundo do mistério e da fantasia.
Quando em Janeiro de 1971 teve de vir morar comigo e com a madrinha, já havia cá em casa uma “mana” com dois anos e meio, a Alexandra, e pouco tempo depois nasce outra, a Catarina. Como memória desses tempos, aqui vão duas fotos:
Foto 11 - Carnaval > Agualva > Com a madrinha Deonilde, passeando as maninhas Xana “Pipi das Meias Altas” e Tita.
Foto 12 - Perto de Tomar com as suas “manas” Xana e Tita, numa pausa na viagem a caminho de Pombal e da “sua” aldeia, em visita aos padrinhos Zé Bispo e Piedade.
Para terminar, acrescento duas fotos recentes deste “menino” nascido em Janeiro de 1961.
Numa delas, tirada por ocasião do seu último aniversário, está na companhia da sua “mana” Alexandra, minha filha mais velha.
Na outra, ele e eu estamos acompanhados por três ilustres membros desta Tabanca Grande, posando todos para a objectiva de um outro prestigiado membro da Tabanca, o Jorge Portojo.
O Zé Manel acompanha-me quase sempre no convívio anual da CCaç 1419. Em 2014 foi escolhido o restaurante Choupal dos Melros em Fânzeres, Gondomar, para essa confraternização. A data de 10 de Maio coincidiu com a da Tabanca dos Melros no seu regular e sempre animado convívio no referido local. Esta coincidência de datas permitiu termos tido (CCaç 1419) a agradável surpresa da visita dos meus queridos camaradas deste blogue: Jorge Portojo, Carlos Vinhal, Jorge Teixeira e Fernando Súcio.
Foto 14 - Fânzeres, Gondomar > 10/5/2014 > Da esquerda para a dirteita: Fernando Súcio, Jorge Teixeira, Manuel Joaquim, Carlos Vinhal e José Manuel Sarrico Cunté.
2. Comentário do editor
Era imperdoável o "nosso menino" Zé Manel não fazer parte da tertúlia. Podemos dizer que a partir de hoje o nosso Xico de Fajonquito (Cherno Baldé) não está tão só.
O primeiro radicado em Portugal desde muito novinho e o segundo a viver no seu país, são dois bons exemplos daqueles meninos que de alguma forma gravitavam à volta dos militares. Foram tantos que não haverá nenhum combatente que não se lembre de os ver a fazer pela vida nos quartéis, procurando comida ou fazendo pequenos serviços. Comiam connosco e ajudávamos-lhes nos estudos. Dou o meu testemunho, recordando os jovens Adulai e Braima, rondando os 10 anos, que nos faziam companhia na Messe. Praticamente só dormiam na Tabanca. Tivemos ainda connosco, durante algum tempo, o Salifo Seidi, um menino muito pequeno, talvez com 5 anos, que a família quis retirar do quartel e enviar para a família, ao que sabíamos, simpatizante do PAIGC.
Não é necessário acrescentar mais nada a esta apresentação porque o Padrinho Manuel Joaquim a fez muito completa, além de que no nosso Blogue foram publicados alguns postes onde está documentada a vinda do Zé Manel para Portugal, basta clicar no marcador José Manel Sarrico Cunté, e porque ele já participou em Encontros Nacionais da Tabanca Grande.
Porque o nosso novo tertuliano não se dá muito bem com estas modernices da internete, pedimos ao Manuel Joaquim que seja portador do abraço de boas-vindas que a tertúlia e os editores lhe enviam.
O nosso obrigado ao Manuel Joaquim por este belo trabalho de texto e fotos de família.
Carlos Vinhal
co-editor
____________
Nota do editor
Último poste da série de 11 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15351: Tabanca Grande (476): Carlos Valente, ex-1.º Cabo do Pel Mort 2005 (Guiné, 1968/69), 705.º Grã-Tabanqueiro
Meus caros camaradas
O meu "menino da Guiné" Zé Manel mostrou interesse em fazer parte do mundo desta nossa Tabanca Grande. Mas também me diz que não domina o uso de computadores e que tem dificuldades na sua utilização. E tem ainda mais problemas quanto ao uso de computador. O apoio dos filhos está agora difícil porque o computador que tem em casa não está funcional e outro, de que pode servir-se pontualmente, é o da filha mais velha que já não vive com os pais. De qualquer modo agrada-lhe a ideia de se tornar membro do blogue.
Combinámos ser eu a fazer a sua apresentação, pode ser? É o que estou a fazer enviando um trabalho meu que penso poder servir para esse efeito, trabalho este que é do seu conhecimento.
Bem, o que interessa é que ele se inscreva. Os problemas informáticos resolvem-se, com maior ou menor dificuldade.
Aguardo a vossa opinião sobre este assunto se acharem por bem dar-ma.
Saudações fraternas
Manuel Joaquim
************
“Nha mininu” Zé Manel
“Nha mininu”, na festa dos seus 50 anos, com os padrinhos Manuel Joaquim e Deonilde Silva
Em 10/11/2010 foi publicado neste blogue o P7261 – História de vida: Adilan, nha mininu ou como se fica com um menino nos braços, onde são narradas as circunstâncias que me levaram à decisão de trazer um menino da Guiné, de nome José Manuel Sarrico Cunté, como decorreu essa vinda e como se integrou a criança na minha vida familiar e na vivência local. Na altura apresentei-o com o seu nome original, Adilan, nome que só ficámos a conhecer, eu e ele, muitos anos mais tarde quando voltou a viver na Guiné e conseguiu encontrar os seus pais. A propósito, ver o P7267, onde se relata o acontecido.
Acompanham essa história diversas fotos mas só duas se referem aos primeiros dias vividos no seio da sua nova família. Tinha mais algumas em “slides” mas perdi-lhes o rasto quando casei e saí da casa paterna. Na altura bem procurei, mas sem resultado. Recentemente, ao tentar recuperar um móvel vindo dessa casa tive a alegre surpresa de encontrar a caixinha com esses “slides”, perdida no fundo de uma gaveta há mais de 40 anos. São essas fotos do menino Zé Manel que, para além de umas outras, agora publico.
Para ajudar a enquadrar o tema transcrevo do já referido P7261 a descrição dos momentos vividos no final de Outubro de 1966 em que me responsabilizei por um pretinho, recolhido pelo 2.º Sargento Casimiro Sarrico durante uma operação militar realizada em Janeiro daquele ano. Este militar ficou a cuidar da criança durante cerca de dois meses, até ficar gravemente queimado por uma granada de sinalização que rebentou num bolso do seu camuflado. Evacuado para Lisboa, morreu no HMP alguns anos depois. E o menino foi levado para a caserna por soldados da CCaç 1419 e com eles ficou a conviver, ficando a ser conhecido por Sarrico como é fácil de entender.
(…)
“Nas vésperas da mudança, a sociedade civil local organiza um convívio para agradecer o trabalho da Companhia durante os 12 meses que permaneceu em Bissorã. Foram convidados os oficiais, os sargentos e algumas praças. Bom ambiente, muitas bebidas, bons petiscos e, com coisas destas, pouco tempo é preciso para se esquecer a razão das despedidas. Às tantas, alguém me convoca:
– Meu furriel, há para ali pessoal que quer falar consigo. Pedem p´ra ir lá.
Estranhando o despropósito do momento e da hora, bem noturna, lá vou até à porta.
– Oh nosso furriel, um favor, veja se convence o nosso capitão a deixar levar o Sarrico c´a gente p´ra Mansabá! É que ele não autoriza, já fizemos tudo e... nada! Veja lá se o convence!
Tento dizer-lhes que o capitão lá terá as suas razões... assunto complicado... não deve ser possível levar o miúdo... Mas perante tanta insistência, não resisti:
– Está bem, estejam descansados que eu vou tentar! Esperem aí!
Pego num uísque e por ali fico bebericando, conversando e aguardando a oportunidade de cumprir o prometido. Falo com alguns camaradas sobre o assunto mas ninguém está ali para pensar nisso. O ambiente está animado, barulhento e para mim… há uma resposta a dar ao pessoal que espera lá fora. Vamos lá!
Qual mensageiro da plebe castrense, já envolto em vapores etílicos, um bocado “leve” no andar e de fala um pouco entaramelada, lá vou eu ao encontro do capitão. De chofre, sem rodeios, em voz bem alta:
– Meu capitão, por que não deixa ir o Sarrico c´os soldados p´ra Mansabá? Estão pr´ali quase a...
Nem me deixa acabar. Com a voz ainda mais alta que a minha, atira logo:
– Meu caro Manuel Joaquim, responsabiliza-se por ele?
Pimba!!! ... que grande “martelada” na tola! Inesperadamente, em décimas de segundo, os meus neurónios excitados (anestesiados?) pelo álcool devem ter decidido eu dizer de imediato:
– Responsabilizo, pois!
O capitão, talvez surpreendido com tal resposta, engasga, pigarreia e ...
– Então está bem! Se assim é, o rapaz fica ao seu encargo a partir de agora!
– Com certeza, meu capitão! Vou já avisar o pessoal!
E não houve mais conversa! Meia volta e lá vou eu para a porta da rua ter com a malta, um pouco zonzo com o que me está a acontecer:
– Podem levar o Sarrico! A partir de agora está por vossa conta. E minha!!!
– Eh!.. bestial !!! Obrigado!!!
Caem-me em cima festejando e voltam para a caserna, rua fora festejando... eu volto à sala para festejar, digo a alguém “ já me f... ! ” e agarro mais um uísque para me ajudar a digerir o assunto.”
(…)
(Extrato do post P7261)
Logo ao alvorecer do dia seguinte ao facto acima narrado, lá segue o Sarriquito para Mansabá, integrado na CCaç 1419. Não tomei qualquer atitude para com o menino, era como se nada tivesse acontecido. Não falei com ele, nem sequer me aproximei durante os dois a três meses seguintes. Só quando decidi trazê-lo comigo é que começámos a conversar de vez em quando, mas sempre acompanhados por algum ou alguns dos soldados que se tinham comprometido a cuidar do menino.
Aproximando-se a data do fim de comissão, comecei a enfrentar um problema: Que fazer? Deixá-lo entregue “aos bichos” ou levá-lo para Portugal? A resposta está aqui neste post.
Saímos de Mansabá seis meses depois da saída de Bissorã e no dia 9 de Maio de 1967, à noite, o Zé Manel está em Portugal, perto de Pombal, e entra na minha casa paterna perante o espanto da minha mãe.
Lembro que trouxe o menino sem conhecimento da minha família nem sequer da mulher com quem eu casaria três meses depois. E só por uma razão, o ter receio de não ser capaz de enfrentar algum “NÃO” vindo das pessoas que me eram mais queridas.
Termo de compromisso e responsabilidade e autorização de viagem para Portugal.
A propósito de quando cheguei da Guiné ninguém saber nada sobre o assunto, transcrevo mais um bocadinho do P7261, na parte referente às primeiras horas vividas pelo Zé Manel no seu novo mundo, na sua nova casa de família, família de que ficou a fazer parte desde 1967. Esta transcrição começa logo a seguir a uma pergunta da minha mãe (- Então não levam o menino?), pergunta dirigida a quem me acompanhava quando cheguei a casa com o Zé Manel.
Não há entre nós, desde há muito, qualquer relação institucional de índole legal. O único documento oficial que existe é o “Termo de compromisso e de responsabilidade” acima referido, com efeitos só até à maioridade do menino.
(…)
Como que ficam assarapantados com a pergunta mas, de imediato, lhes digo: “Não lhe disse nada!” E logo para ela: “O menino fica comigo!”. A mãe fica de boca aberta, não quer acreditar. E há mais uns minutos de conversa motivada pelas circunstâncias.
Ao reentrar em casa, verifico que ele está sentado no mesmo sítio. Olha-me calmamente, agora sinto que me olha mesmo! Espantam-me a calma e a confiança que aparenta. Belo trabalho dos soldados, só pode ser.
Tentamos conversar. O seu português é tosco mas lá nos entendemos.
Vamos comer mais alguma coisa enquanto minha mãe vai recuperando da surpresa e do espanto. Depois, o sono vem depressa ao seu encontro e ele já não acordou antes de ser levado para a cama. Minha mãe quer perceber o que aconteceu para ter assim um menino em casa. E que menino! A conversa prolonga-se.
Acordo, bem tarde, no dia seguinte. Estavam os dois, no quintal, a tratar das galinhas e doutra bicharada.
“Maravilha!, sucedeu química entre eles!” – penso.
E minha mãe, ao dar pela minha presença:
– Queres saber? Logo de manhãzinha fui chamar as vizinhas: “querem ver a prenda que o meu Manel me trouxe da Guiné?”
Olha, vieram a correr e abri-lhes a porta do quarto, só se via uma bola preta, assim a cara, com duas coisas mais claras, assim os olhos, e elas não sabiam o que era! Abri um pouco as cortinas da janela para verem melhor e nem imaginas como ficaram! Ele estava acordado, muito quietinho de olhos arregalados, só com a cabeça fora dos lençóis!
Bela cena! Respiro fundo e começo a sentir-me bem, verdadeiramente.” (…)
(Extracto do post P7261)
Algumas das fotos aqui publicadas foram tiradas no domingo 14 de Maio de 1967, o quinto dia após a chegada do menino Zé Manel. Os três tínhamos acabado de chegar a casa, vindos da missa na igreja paroquial. A realização da missa facilitou a apresentação do Zé Manel à “sociedade” local. Foi um sucesso.
Foto 1 - Maio de 1967 > No jardim da sua nova casa, poucos dias depois de chegar da Guiné.
©Manuel Joaquim
Cinco dias depois de serem apresentados um ao outro, o tempo de convivência do Zé Manel com minha mãe já era superior ao que ele tinha tido comigo, incluindo o tempo passada na Guiné. Na Guiné e por minha opção, nunca convivi verdadeiramente nem sequer estive alguma vez com o menino a sós. Mas ele sabia que vinha comigo para Portugal. E veio, sem medo nenhum e já a gostar de mim. Tive a certeza disso em Abrantes, quando mo entregaram e ele se me entregou sem o mínimo problema. Os soldados com quem antes tinha convivido fizeram um trabalho extraordinário, preparando-o para este acontecimento.
Felizmente que tudo correu pelo melhor. Na aldeia e outras aldeias vizinhas, o menino era acarinhado por toda a gente mas o afecto de minha mãe sobressaía. Qual avó extremamente responsável e protectora, a senhora derramava sobre ele muita dedicação e carinho que só acabaram com a sua morte, 37 anos depois.
Foto 2 - 20 de Agosto de 1967 > Um casamento e um batizado. Logo a seguir ao meu casamento, houve o batizado do menino José Manuel Sarrico Cunté sendo meu pai o padrinho e minha esposa (a noiva) a madrinha.
©Manuel Joaquim
Integrou-se rápida e perfeitamente na vida social local e viveu com minha mãe durante os anos seguintes, cerca de quatro. Sozinhos os dois em casa, excepto nas férias de meu pai que estava emigrado em França. Só acabou este convívio diário quando minha mãe também emigrou, juntando-se ao marido. E por isso fez-se a sua transferência de escola para Agualva, Sintra, onde veio completar os dois últimos períodos da sua 4.ª classe.
Foto 3 - Maio de 1967 > Puxando sons da harmónica, da qual tomou posse logo que nela me ouviu e viu tocar.
©Manuel Joaquim
Foto 4 - 14/5/1967 > Explorando a harmónica com “madrinha” preocupada (?): “Este filho faz-me cada uma! Que vou fazer com este pretinho?”
©Manuel Joaquim
Foto 5 - 14 de Maio de 1967 > Com minha mãe, acabados de chegar da missa. Cada um, à sua maneira, parece estar a digerir a situação de convivência a que se viram forçados desde há quatro dias.
©Manuel Joaquim
Foto 6 - 14/5/1967 > Com a “madrinha” Piedade à volta das flores após chegada da missa dominical. O menino veste roupas compradas em Bissau pouco tempo antes do embarque.
©Manuel Joaquim
Foto 7 - Maio de 1967 > Explorando espaços à volta da sua nova residência.
©Manuel Joaquim
Foto 8 - Maio de 1967 > Junto do poço da horta, agarrado à vara da picota para tirar água e à sua já inseparável companheira, a harmónica.
©Manuel Joaquim
Foto 9 - Maio de 1967 > Com os primeiros amigos da brincadeira, o Tino e a cadela “Tina” (de Valentina Tereshkova).
© Manuel Joaquim
Foto 10 - Maio de 1967 > Serra da Sicó, vista do lado sul e da janela do quarto do menino Zé Manel. A primeira grande paisagem de Portugal que ele fixou e que o marcou, como também a mim quando pequeno. O meu “mundo” físico para além da Sicó era o mundo do mistério e da fantasia.
©Manuel Joaquim
Quando em Janeiro de 1971 teve de vir morar comigo e com a madrinha, já havia cá em casa uma “mana” com dois anos e meio, a Alexandra, e pouco tempo depois nasce outra, a Catarina. Como memória desses tempos, aqui vão duas fotos:
Foto 11 - Carnaval > Agualva > Com a madrinha Deonilde, passeando as maninhas Xana “Pipi das Meias Altas” e Tita.
©Manuel Joaquim
Foto 12 - Perto de Tomar com as suas “manas” Xana e Tita, numa pausa na viagem a caminho de Pombal e da “sua” aldeia, em visita aos padrinhos Zé Bispo e Piedade.
©Manuel Joaquim
Para terminar, acrescento duas fotos recentes deste “menino” nascido em Janeiro de 1961.
Numa delas, tirada por ocasião do seu último aniversário, está na companhia da sua “mana” Alexandra, minha filha mais velha.
Na outra, ele e eu estamos acompanhados por três ilustres membros desta Tabanca Grande, posando todos para a objectiva de um outro prestigiado membro da Tabanca, o Jorge Portojo.
O Zé Manel acompanha-me quase sempre no convívio anual da CCaç 1419. Em 2014 foi escolhido o restaurante Choupal dos Melros em Fânzeres, Gondomar, para essa confraternização. A data de 10 de Maio coincidiu com a da Tabanca dos Melros no seu regular e sempre animado convívio no referido local. Esta coincidência de datas permitiu termos tido (CCaç 1419) a agradável surpresa da visita dos meus queridos camaradas deste blogue: Jorge Portojo, Carlos Vinhal, Jorge Teixeira e Fernando Súcio.
Foto 13 - Janeiro 2014 > Zé Manel com a sua “mana” Alexandra.
© Manuel Joaquim
Foto 14 - Fânzeres, Gondomar > 10/5/2014 > Da esquerda para a dirteita: Fernando Súcio, Jorge Teixeira, Manuel Joaquim, Carlos Vinhal e José Manuel Sarrico Cunté.
©Jorge Portojo
************
2. Comentário do editor
Era imperdoável o "nosso menino" Zé Manel não fazer parte da tertúlia. Podemos dizer que a partir de hoje o nosso Xico de Fajonquito (Cherno Baldé) não está tão só.
O primeiro radicado em Portugal desde muito novinho e o segundo a viver no seu país, são dois bons exemplos daqueles meninos que de alguma forma gravitavam à volta dos militares. Foram tantos que não haverá nenhum combatente que não se lembre de os ver a fazer pela vida nos quartéis, procurando comida ou fazendo pequenos serviços. Comiam connosco e ajudávamos-lhes nos estudos. Dou o meu testemunho, recordando os jovens Adulai e Braima, rondando os 10 anos, que nos faziam companhia na Messe. Praticamente só dormiam na Tabanca. Tivemos ainda connosco, durante algum tempo, o Salifo Seidi, um menino muito pequeno, talvez com 5 anos, que a família quis retirar do quartel e enviar para a família, ao que sabíamos, simpatizante do PAIGC.
Não é necessário acrescentar mais nada a esta apresentação porque o Padrinho Manuel Joaquim a fez muito completa, além de que no nosso Blogue foram publicados alguns postes onde está documentada a vinda do Zé Manel para Portugal, basta clicar no marcador José Manel Sarrico Cunté, e porque ele já participou em Encontros Nacionais da Tabanca Grande.
Porque o nosso novo tertuliano não se dá muito bem com estas modernices da internete, pedimos ao Manuel Joaquim que seja portador do abraço de boas-vindas que a tertúlia e os editores lhe enviam.
O nosso obrigado ao Manuel Joaquim por este belo trabalho de texto e fotos de família.
Carlos Vinhal
co-editor
____________
Nota do editor
Último poste da série de 11 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15351: Tabanca Grande (476): Carlos Valente, ex-1.º Cabo do Pel Mort 2005 (Guiné, 1968/69), 705.º Grã-Tabanqueiro
Guiné 63/74 - P15492: Inquérito 'on line' (23): cerca de 57% dos respondentes, num total de 81, admitem que já caíram (ou foram tentados a cair) no 'conto do vigário', uma ou mais vezes, e sobretudo na vida civil...
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O fur mil op esp José Casimiro Carvalho, contando o patacão... Não, não se pense que foi ganho ao jogo (vermelhinha, lerpa) ou através do "conto do vigário"... É dinheiro honesto (*), daquele que custava... "sangue, suor e lágrimas"... Mesmo assim, quem não conhecer o Zé Casimiro até pode (ou podia) ser levado a pensar que ele estava a contar o "conto do vigário" à sua querida mãezinha para justificar a guita gasta... em Bissau & arredores:
"[Carta] Cumeré, 12/7/73: Querida mãezinha: São 400$00, porque não autorizam a mandar mais, e só ficamos aqui com 1000$. Ontem fui a Bissau, e almocei lá, comprei umas coisitas, ‘roncos’ assim como fios com uma figurinha para pôr ao pescoço, uma carteira de pele de jibóia (50$00, candonga); e tirei fotografias num fotógrafo, 3 x 100$00… Sem saber como foram co’ caraças 300$00, não se pode ir a Bissau, no mato ao menos o dinheiro chega." (...)
Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: LG]
I. INQUÉRITO DE OPINIÃO: "SIM, JÁ CAÍ (OU FUI TENTADO A CAIR) NO CONTO DO VIGÁRIO" (RESPOSTA MÚLTIPLA)
1/2. Sim, pelo menos uma vez, na vida civil (n=25) e/ou na vida militar (n=6) (Total: 34)
42,0%
3/4. Sim, mais do que uma vez, na vida civil (n=9) e/ou na vida militar (n=3)(Total: 12)
(14,8%)
5. Não, nunca caí (ou fui tentado a cair) (n=28)
(34,6%)
6. Não sei / não me lembro (n=7)
(8,6%)
Votos apurados: 81
(100,0%)
Inquérito 'on line' fechado em 14/12/2015 | 6h39 (**)II. Comentário do editor:
A peluda é mais propícia ao 'conto do vigário' do que a tropa: é o que se pode concluir desta breve inquirição junto dos nossos leitores... O que até se compreende: o controlo sobre os vigários é mais apertado, há o Regulamento de Disciplina Militar (RDM), etc., o que não quer dizer que dentro das quatro paredes de um caserna não possa haver otários e vigários ou vigários e otários (a ordem é perfeitamente arbitrária): um não existe sem o outro...Obrigado a todos/as que responderam.
_________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 28 de outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3370: Guileje, SPM 2728: Cartas do corredor da morte (J. Casimiro Carvalho) (6): O nosso querido patacão
(**) Último poste da série > 11 de dezembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15475: Inquérito 'on line' (22): Dois terços dos respondentes admitem que já caíram (ou foram tentados a cair) no 'conto do vigário", alguma vez na vida (civil e/ou militar)... Mais respostas dos nossos leitores precisam-se até 2ª feira, dia 14, de manhãzinha...
Guiné 63/74 - P15491: Parabéns a você (1001): Francisco Santos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 557 (Guiné, 1963/65) e Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista da CART 3494 (Guiné, 1971/74)
************
____________
Nota do editor
Último poste da série de 14 de Dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15484: Parabéns a você (1000): José Vargues, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 733 (Guiné, 1964/66)
segunda-feira, 14 de dezembro de 2015
Guiné 63/74 - P15490: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (6): A Bandeira
1. Mensagem do nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel,
1969/71) com data de 1 de Dezembro de 2015:
Caro Amigo Carlos Vinhal
Fui encontrar uma pequena história que escrevi há vários anos e que julgava perdida.
Vou digitalizar esta folha e enviá-la tal como está, porque gostava que ela entrasse para a Tabanca Grande.
Entretanto recebe um grande abraço.
José Nascimento
____________
Nota do editor
Último poste da série de 27 de julho de 2015 Guiné 63/74 - P14936: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (5): Idas a Bafatá para comprar vacas
Caro Amigo Carlos Vinhal
Fui encontrar uma pequena história que escrevi há vários anos e que julgava perdida.
Vou digitalizar esta folha e enviá-la tal como está, porque gostava que ela entrasse para a Tabanca Grande.
Entretanto recebe um grande abraço.
José Nascimento
____________
Nota do editor
Último poste da série de 27 de julho de 2015 Guiné 63/74 - P14936: Recordações da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) (José Nascimento) (5): Idas a Bafatá para comprar vacas
Guiné 63/74 - P15489: Agenda cultural (447): Lançamento do 22.º livro, "As Guerras do Capitão Agostinho", de Carlos Gueifão e da reedição do 5.º livro, "Arcanjos e Bons Demónios", de Daniel Gouveia, no dia 15 de Dezembro de 2015, pelas 15 horas, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, Oeiras (Manuel Barão da Cunha)
1.
Mensagem do nosso camarada Manuel Barão da Cunha, Coronel de Cav Ref,
que foi CMDT da CCAV 704/BCAV 705, Guiné, 1964/66, com data de 7 de Dezembro de 2015:
Integrado no 14.º Ciclo das Tertúlias Fim do Império, lançamento do 22.º livro, "As Guerras do Capitão Agostinho", de Carlos Gueifão e da reedição do 5.º livro, "Arcanjos e Bons Demónios", de Daniel Gouveia, no dia 15 de Dezembro de 2015, pelas 15 horas, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, Oeiras.
Fiquem bem e votos de Natal com Paz e Novo Ano com Saúde,
Manuel Barão da Cunha
____________
Nota do editor
Último poste da série de 13 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15481: Agenda cultural (446): Lançamento do livro "Marinha de Guerra Portuguesa – do Fim da II Guerra Mundial ao 25 de Abril de 1974”, de Pedro Lauret, 4ª feira, dia 16, no Museu da Marinha, às 18h. Apresentação a cargo do alm Fernando Melo Gomes e dr. Artur Santos Silva
Integrado no 14.º Ciclo das Tertúlias Fim do Império, lançamento do 22.º livro, "As Guerras do Capitão Agostinho", de Carlos Gueifão e da reedição do 5.º livro, "Arcanjos e Bons Demónios", de Daniel Gouveia, no dia 15 de Dezembro de 2015, pelas 15 horas, na Livraria-Galeria Municipal Verney/Colecção Neves e Sousa, Oeiras.
Fiquem bem e votos de Natal com Paz e Novo Ano com Saúde,
Manuel Barão da Cunha
____________
Nota do editor
Último poste da série de 13 de dezembro de 2015 Guiné 63/74 - P15481: Agenda cultural (446): Lançamento do livro "Marinha de Guerra Portuguesa – do Fim da II Guerra Mundial ao 25 de Abril de 1974”, de Pedro Lauret, 4ª feira, dia 16, no Museu da Marinha, às 18h. Apresentação a cargo do alm Fernando Melo Gomes e dr. Artur Santos Silva
Guiné 63/74 - P15488: Álbum fotográfico do Manuel Coelho (ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68): estava em Bissau quando chegou, em visita oficial, o então presidente da república, alm Amércio Tomás, em fevereiro de 1968
Fotop nº 8 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Palácio do Governador > O presidente Américo Tomás, tendo à sua direita o ministro do ultramar, Silva Cunha, cumprimenta, um representante da comunidade local [, possivelmente o deputado Pinto Bull]
Foto nº 1 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Praça do Império e Palácio do Governador > A população da cidade, com cartazes com dizereres como "Viva Portugal", aguarda a chegada do "homem grande" de Lisboa, que acabava de desembarcar do N/M Funchal, vindo de Cabo Verde.
Foto nº 6 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Praça do Império e Palácio do Governador > Mais um aspeto da multidaão que se concentrou para dar as boas vindas ao presidente Américo Tomás
Foto nº 2 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Praça do Império > As "forças vivas" da província, com os régulos à frente (1)
Foto nº 3Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Praça do Império > As "forças vivas" da província, com os régulos à frente (2)
Foto nº 5 Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Visita do presidente da república > A criançada correndo atrás do cortejo automóvel
Foto nº 7 > Guiné > Bissau > Feevereiro de 1968 > Praça do Império > Visita do presidente da República > Dançarinos balantas
Foto nº 4 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Praça do Império > Visita do presidente da República > Coro feminino fula
Foto nº 10 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Frente ao palácio do Governador...
Foto nº 9 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Frente ao palácio do Governador... Quando o cigarro, em cerimónias oficiais, não social e politicamente incorreto...
Foto nº 10 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Frente ao palácio do Governador...
Foto nº 9 > Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Frente ao palácio do Governador... Quando o cigarro, em cerimónias oficiais, não social e politicamente incorreto...
Fotos: © Manuel Coelho (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem; LG]
1. Fotos do álbum do Manuel [Caldeira] Coelho (ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)].
O então presidente da república, alm Américo Tomás iniciou, em 2 de fevereiro de 1968, uma visita oficial às "províncias ultramarinas" de Cabo Verde e da Guiné.
Chegou a Bissau, no N/M Funchal e foi recebido, no palácio do governador e na praça do Império, a "sala de visitas" da capital, com as honras que lhe eram devidas. O Manuel Coelho, misturado na multidão e no grupo dos fotojornalistas que fizeram a cobertura do evento, registou, para a posteriudade, alguns aspetos da manifestação popular de boas vindas e de apoio. Não faltaram os régulos, fardados a rigor, bem como grupos de músicos e dançarinos que mostravam a diversidade étnica da Guiné (mulheres fulas, homens balantas)... Naturalmente, que o regime da época quis tirar os dividendos políticos (e até dipomáticos) do sucesso desta visita, reafirnando o "patriotismo dos guinéus" e o repúdio pelo terrorismo do PAIGC. A conjuntura político-militar era então delicada: Salazar ainda estaria no poder, até ao fatídico dia 3 de agosto de 1968, quando cairá da famigerada cadeira, no forte de Santo António, no Estoril, em período de férias. Portugal estava cada vez mais isolado no seio das Nações Unidas. E a herança (militar) de Schulz não era famosa. Seria substituída por Spínola, dentro de poucos meses.
Há, no sítio do Arquivo Histórico Ultramarino, mais de 1400 fotos desta visita [a Cabo Verde e à Guiné], da autoria do fotógrafo Firmino Marques da Costa, da Agência Geral do Ultramar. Podem ser visualizadas aqui.
Nas fotos relativas à Guiné podemos ver os cartazes de saudação do pessoal do porto de Bissau. A multidão encheu a praça do Império, empunhando cartazes de apoio à política ultramarina do Governo. No palácio recebeu os cumprimentos, entre outros, de uma comitiva com a comunidade muçulmana. Noutra foto vemos Américo Tomás e Arnaldo Schulz recebendo as saudações dos clubes desportivos. Sabemos que houve também missa e procissão, que partiu da catedral de Bissau, e onde se integrou o chefe de Estado. Enmfim, o cerimonial do costume, nestas visitas... Há também imagens de alguns locais no interior (por exemplo, Bafatá), se bem que as legendas sejam muito lacónicas e imprecisas.
2. O Manuel Coelho mandou-nos estas fotos há já alguns dias, e só as podemos publicar hoje por falta de tempo para as editar... Entretanto, no passado dia 9 recebemos a seguinte mensagem:
Caros Editores do Blogue, enviei algumas fotos de quando Américo Tomás visitou a Guiné, mas
pensando melhor, e dado que ainda não foram publicadas no blogue, é melhor ficar sem efeito essa publicação, pois dá uma certa aparência de louvor à mesma visita, o que não é minha intenção.
No entanto ficam essas fotos em vosso poder para utilizarem como melhor entenderem.
Com amizade,
abraço, Manuel Coelho
pensando melhor, e dado que ainda não foram publicadas no blogue, é melhor ficar sem efeito essa publicação, pois dá uma certa aparência de louvor à mesma visita, o que não é minha intenção.
No entanto ficam essas fotos em vosso poder para utilizarem como melhor entenderem.
Com amizade,
abraço, Manuel Coelho
A nossa resposta, de imediato, foi a seguinte:
Mais recentemente ele mandou-nos este recorte, digitalizado, de uma carta que deve ter mandado para a metrópole para os pais ou amigos, com o seguinte teor:
Transcrição:
"Cá [, em Bissau,] assisti à visita do sr. Presidente da República e tirei alguams fotos (poucas) em que aparaecde ele e os "Granjolas" e outras onde aparece o povo aglomerado em frente do Palácio do Governador. Tive de me misturar com aqueles profissionais dos jornais e rádios, lá consegui furar até eles, bastante perto das entidades todas. Depois verão a reportagem".
Subscrever:
Mensagens (Atom)