sábado, 2 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2500: Venturas e Desventuras do Zé do Olho Vivo (Manuel Traquina) (1): CCAÇ 2382 - A hora da partida



Manuel Traquina ex-Fur Mil, CCAÇ 2382, Buba, 1968/70 (1)

1. Em mensagem do dia 1 de Janeiro de 2008, o nosso camarada, conta-nos como foi o embarque da sua Companhia no Navio Niassa

Memórias da Guerra da Guiné
1968/70

Companhia de Caçadores 2382
A Hora da Partida

Nas vésperas da partida procedeu-se ao habitual desfile nas ruas da cidade de Abrantes.

Eram três as Companhias que iam partir para a Guiné, (CCAÇ 2381, CCAÇ 2382 e CCAÇ 2383) aproximadamente num total de quatrocentos homens.

A hora da partida aproximava-se, no RI2 naquela noite de 30 de Abril do ano de 1968 valia tudo, a caserna estava um pandemónio, muitos para esquecer tinham bebido de mais.

O transporte entre o RI2 e a estação da CP de Abrantes, foi feito nas camionetas de mercadorias do quartel, depois foi o combóio especial que levou a noite quase toda para chegar ao cais de Alcântara.

Foto 1> Navio Niassa

Foto retirada do site Navios Mercantes Portugueses, com a devida vénia

De manhã quando o combóio finalmente ali chegou, acostado ao cais já se encontrava o velho Niassa e de todo o lado surgiam militares.

Combóios, camionetas, autocarros, todos ali descarregavam militares, tudo previa que aquele navio ia ficar a abarrotar.

Entretanto chegava também uma multidão de familiares e amigos que ali vinham dar um abraço de despedida aos militares que partiam, nunca se sabendo se aquele não seria o último.

A despedida foi um quadro que quem o viveu, o recorda como triste e arrepiante, com gritos, choros e desmaios.


Foto 2> Como formigas, carregando as suas bagagens, os militares foram subindo a pequena ponte até ao convés.

Foto: © Manuel Traquina (2008). Direitos reservados.

A meio da manhã o navio com alguns milhares de homens a bordo, estava pronto a levantar ferro.

Ali ao lado o Joana D’Arc permanecia ancorado indiferente a todo este espectáculo, enquanto a multidão no cais acenava e chorava.

Depois foi a vez de um Corpo de Marinheiros permanecer na posição de apresentar armas enquanto uma banda militar tocava o Hino Nacional, fazendo assim as honras militares a mais um contingente de tropas que partia para o Ultramar Português.

Era assim que a imprensa da tarde informava o acontecimento.

A pequena ponte foi retirada, e soltas foram as amarras, a sirene do Niassa anunciou a partida atroando os ares com três silvos. Foi aqui que mesmo os mais corajosos não conseguiram conter as lágrimas, procurando apoio num ou outro abraço caloroso trocado com um amigo.

Tejo abaixo, passando por baixo da então nova ponte Salazar, foi num instante que aquele navio atingiu o estuário do rio e se fez ao largo, enquanto alguns permaneciam no convés até ao longe verem desaparecer a terra portuguesa, outros preferiram descer aos camarotes deitar-se e tentar esquecer aqueles momentos de tristeza.

Manuel Batista Traquina

___________________

Nota dos editores:

(1) - Vd. post de 2 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2399: Tabanca Grande (47): Manuel Traquina, ex-Fur Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)

2 comentários:

Carlos Pinheiro disse...

Também eu passei por essas cenas no ano de 1968. Só com algumas diferenças. Fiz a recruta do CSM na EPC em Santarém e, como mais 200, chumbei naquele fatico 4º turno de 1967. Em 360 chumbámos 201 instruendos. Passámos ao Contingente Geral e cada um foi ao seu destino. A mim e a mais outros dois camaradas de armas coube-me o Reg. de Transmissões no Porto. Eu e outro fomos para Operadores de Mensagens. O 3º foi para Guarda-Fios. Eu fui até á Guiné. Um dos outros terá ido para Angola e o outro, o tal Guarda Fios, nunca cheguei a saber se foi mobilizado. Mas daquela malta toda que chumbou, a maior parte, integrou uma Companhia Independente que foi para Moçambique. Era assim a tropa.
Quanto à minha viagem também foi um pouco diferente. Fui no UIGE, durante 5 dias. Embarquei a 23 de Outubro e cheguei a Bissau a 28 com o BCAÇ 2856. Fui em rendição individual para o BCAÇ 1911 que veio no mesmo barco em que eu tinha ido. Era assim mesmo assim a tropa. Só que o barco esteve cerca de 15 dias ao largo de Bissau porque o Batalhão estava empenhado numa ultima missão no sul. A viagem foi um "espectáculo". Os porões onde a malta dormia eram uma "maravilha". As camaratas eram de madeira e os colchões nem sei do que eram. Casas de banho não havia. Os cheiros eram de tudo e do pior. A falta de ar respirável obrigava a malta a permancer no convés, pelo menos durante o dia.Jogava-se à lerpa e havia sempre uns espertos a limpar os bolsos dos outros que se atreviam a jogar. Bebia-se muita cerveja a bordo, porque era barata e ajudava a esquecer. Os golfinhos em parte da viagem foram os únicos companheiros do barco. Para nos sossegrem diziam-nso que estavamos a ser acompanhados pela nossa Mrinha de Guerra e pela nossa Força Aéra. E muitos acreditavam mesmo sem verem nada. Ali dentro do UIGE, a única coisa que se safava era a sala de jantar. A comida nem por isso.A chegada a Bissau foi impressionante. O barco ficou ao largo. Chegaram os batelões e passados poucos minutos já havia indigenas em tudo o que era barco. E pediam, pediam: "Pessoal, parte peso". E nós sem sabermos bem o que queriam dizer. Mas depois entendemos que nos estavam a pedir moedas. Não eram exigentes. Depois, depois foi embarcar nas camionetas da Companhia de Transportes para os nossos destinos. Eu como ia em rendição individual, como muitos outros, fui despejado em Brá nos Adidos. Um quartel "exemplar" onde não havia nada para além da falta de condições, falta de higiene e até falta de organização. Era tudo á molhada e fé em Deus. Andei para ali à deriva durante uns dias. A cama eram duas caixas da tropa, onde "dormia" enquanto não arranjei uma cama, por empréstimo, na Companhia de Transportes no QG. Ninguém dava pela minha falta. Os mosquitos eram aos milhões a aproveitarem bem o sangue novo do "piriquitos" acabados de chegar. Apresentei-me ao Cmdt do Dest. do STM, na altura Capitão Bento Soares, pedindo-lhe que me chamasse para o Centro de Mensagens do QG uma vez que já tinha desempenhado a missão para que tinha sido preparado no QG de Tomar durante vários meses. Rapidamente acedeu ao meu pedido e ali fui colocado durante 25 meses e 10 dias.
(Continua)

Anónimo disse...

http://prixviagrageneriquefrance.net/ viagra
http://commanderviagragenerique.net/ viagra acheter
http://viagracomprargenericoespana.net/ viagra
http://acquistareviagragenericoitalia.net/ viagra generico