1. Mensagem do nosso camarada Torcato Mendonça:
Assunto - Ex-Combatentes batalham para sair da rua
É o título de um artigo saído hoje no JN Jornal de Notícias, Sociedade, página 28.
Leio e sinto a revolta, uma revolta a ser contida e um agradecimento ao JN, á jornalista (da Lusa) e à Comunidade Vida e Paz. Cito, talvez, abusivamente. Mas são três casos a juntar a tantos que desconhecemos. Talvez não desconheçamos assim tanto, talvez encolhamos mais os ombros, talvez… e nada mais digo e, menos ainda, adjectivo como queria. Leiam o artigo. Menos, vós, meus caros Editores, mais outros que por lá passaram ou outros que, não tendo lá ido, e responsabilidade tendo ou hipótese de influenciar, sintam ser assunto menor.
Leiam e olhem as duas fotos…um banco e um homem sentado pensa e fuma…ou na outra alguém de costas, muleta amparando coto da perna esquerda, olhos no chão ou no vazio, como o outro ao lado em cadeira de plástico, sentado, cigarro esquecido, olhar para onde? E penso… eu penso e vem-me à memória um escrito que fiz e enviei, nos poucos envios que há meses faço.
Em conversa telefónica, meu caro Luis Graça, falando de outro assunto, disse-te: Enviei um escrito, deve ser “pesado”. Agora leio e lembro os nossos camaradas, são os nossos camaradas que País fora a sofrer continuam. Pesado ou leve…a realidade ede ontem e de hoje…Até quando?
Anexo o escrito e a mensagem enviados. Tentem ler o artigo do JN.
Noutra altura podemos tratar do sexo do S. Gabriel e do S. Rafael…assexuados…? Podemos tratar disso!
Ainda bem que há espaço na Net, este e outros blogues e pessoas a preocuparem-se com os nossos camaradas, na Comunidade Social e Comunidades como esta citada no artigo.
Abraços do,
Torcato Mendonça
Apartado 43,
6230-909 Fundão
2. Ex-combatentes viraram sem-abrigo
HELENA NEVES, JORNALISTA DA AGÊNCIA LUSA
in JN - Jornal de Notícias, de 21 de Julhp de 2008 (com a devida vénia...).
Henrique, Eduardo e Francisco sobreviveram à guerra colonial. 30 anos depois travam uma nova batalha: reconstruir a vida perdida nas ruas do álcool e das memórias de combates que os fizeram sem-abrigo.
Na quinta-feira fez um ano que Henrique Castro entrou para o centro de reinserção social da Comunidade Vida e Paz, em Sobral de Monte Agraço, pondo fim a seis anos nas ruas de Faro em que a sua companhia diária foram "pacotes de vinho".
Com uma voz pousada e olhar cabisbaixo, Henrique, 59 anos, recordou com amargura esses tempos que o separaram da família, falou do sonho de reatar a relação com a mulher.
Os dias de Henrique na comunidade são ocupados a fazer pinturas em tecido - "antes pintava automóveis e electrodomésticos" - e a pensar na carta de amor que vai escrever à mulher para a pedir de novo em casamento, depois de já ter reconquistado a amizade dos dois filhos. "Sobrevivi a uma guerra e agora tenha outra pela frente: conquistar a minha mulher e retomar a minha vida perdida há 14 anos", sublinhou com um sorriso rasgado.
O percurso de Henrique assemelha-se ao de Eduardo, 57 anos. Também combateu em Angola e o vício do álcool arruinou-lhe a vida. "Já bebia antes de ir para a guerra", contou este homem magro e com o rosto marcado pelo sofrimento.
Durante anos, a rua foi a sua casa. Um dia teve um acidente, partiu a clavícula e foi parar à cama de um hospital. "Não sei como vim parar à comunidade e já cá estou há quatro anos. Se não fosse isto já estava morto", disse Eduardo, enquanto dava os últimos retoques numa jarra de barro na olaria, onde trabalha diariamente.
Da vez em quando visita os amigos em Alfama, o bairro onde nasceu. A irmã é a família mais chegada que tem, mas já não a vê há 10 anos.
O combate na Guiné-Bissau deixou também marcas profundas em António Pereira, 57 anos. "É o sistema nervoso", comentou, contando que teve de abandonar um tratamento de desintoxicação de álcool no Júlio de Matos porque não conseguia aguentar o barulho dos aviões a passar por cima do hospital.
"Aqui é mais sossegado", frisou. Os dias de António são passados a tratar da roupa da comunidade, mas já tem em vista um emprego em Lisboa. "Já fui a uma entrevista de emprego em Lisboa para motorista através do centro", disse, com um sorriso de orgulho.
O director da Comunidade Vida e Paz, em Sobral Monte Agraço, Alfredo Martins, adiantou à agência Lusa que é "muito importante que as pessoas que vivem na comunidade se sintam activos, produtivos e estimulados".
A maioria destas pessoas foram recolhidas da rua pelas equipas do centro e outras foram indicadas por várias instituições. As pessoas chegam com vários problemas psicológicos, de alcoolismo, droga e têm 30 técnicos para os acolher e tratar, disse Alfredo Martins, acrescentado que cada caso merece uma "atenção diferenciada".
O tempo máximo que um utente deve estar no centro é 13 meses, mas há muitos que ultrapassam esse tempo. "Nós não somos um lar, mas as pessoas precisam de paz", comentou o responsável, admitindo que é difícil "romper os laços" com estas pessoas. "Fazemos uma caminhada de relacionamento e depois é difícil a separação. Temos de garantir que as pessoas não saem daqui para o desamor", concluiu.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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4 comentários:
Torcato,
Se houver algo em que eu possa ser util em termos de camaradas, está à vontade e comunica-me, porque felizmente tenho gente de grandevalor e amiga na Comunidade Vida e Paz. Tenho pleno conhecimento destas tristes situações, pois a minha filha mais nova é terapeuta de pessoas em risco. Aí vai um pensamento de (Jean Guitton)que me é muito caro:
"Mãe, disseste-me frequentemente que uma mãe se assemelha a Moisés. Ela morre semter visto a terra que lhe tinha sido prometida. E um filho, dizeis ainda, deve continuar, acabar a obra de sua mãe, tão repentinamente interrompida. Um filho deve procurar fazer o que sua mãe não fez, porque ele podepisar o solo da Terra Prometida".
Também nós temos o dever de abrirmos as portas, aos camaradas que não conseguiram reagir à pressão dessa calamidade que é a guerra.
Obrigado por estes Postes!
Fraterno abraço, não só para ti mas também para os que sofrem,
Mário Fitas
Sabes que aprecio muito os teus escritos... Acabas, muitas vezes, por seres vítima do "oportunismo editorial"... Vão-se metendo coisas pelo meio... O teu olhar especial é fundamental no blogue... A sua sensibilidade, o teu olhar atento,o teu sentido de compaixão...
Peço-te desculpa pelos atrasos, nem sempre conseguimos acompanhar a tua pedalada...
Luís Graça, editor
Caro Torcato Mendonça e camarigos
Também esta noticia me chamou a atenção obviamente!
Também esta noticia me revoltou!
Também esta noticia me fez pensar!
Que raio de geração a nossa?
Uns mandaram-nos para a guerra, os outros que se lhes seguiram mandam-nos à merda!
Que país é este que não honra os filhos que por ele combateram, independentemente de haver ou não justiça na guerra?
E há justiça nalguma guerra?
Recentemente veio ter comigo um soldado da Guiné. Ainda não dorme, ainda não tem sossego, ainda não tem paz!
Mas tem isso sim, um longo, longuissimo processo pela frente e tem de arranjar testemunhas para dizerem que sim, que é verdade, que houve guerra, que houve gente que morreu, que hove gente estropiada fisica e mentalmente, que houve vidas destruidas, que houve familias desfeitas e que ainda se vão desfazendo aos poucos, que houve todos os horrores que acompanham uma guerra.
Ah, mas é preciso provar, porque o dinheirinho do Estado não pode ser "esbanjado" num qualquer que esteve na guerra e apenas por causa disso vem dizer que não dorme bem!!!
Olha Torcato, olhem camarigos, já não interessa se perdemos ou ganhámos a guerra, interessa pegarmos novamente em armas, não as G3 e aquelas que disparam balas que matam, mas pegarmos na muita ou pouca força de vontade, na coragem e destemor que mostrámos nas décadas de 60 e 70 e vamos para a rua, vamos para os jornais, vamos fazer o que esta "malta" que "manda" faz tão bem, ou seja, vamos usar influências, forças de pressão, tudo o que for preciso, mas vamos lutar pela dignidade daqueles que deram pela pátria a vida que a pátria agora não lhes quer dar.
Como fazer? Não sei para já! Mas somos tantos e tão bons pensadores que com certeza descobriremos maneiras de o fazer.
Esqueçamos diferenças de interpretação, esqueçamos tendências e diferenças politicas, esqueçamos o "politicamente correcto", e unamo-nos para lutarmos por uma causa comum: A dignidade daqueles que lutaram por uma nação e que se foram obrigados por uns, são agora abandonados por outros.
Abraço camarigo do
Joaquim Mexia Alves
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