terça-feira, 22 de julho de 2008

Guiné 63/74 - P3084: Poemário do José Manuel (21): O recordar dos sentidos: como é bom ver, sentir, ouvir, cheirar, saborear, falar...

Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > "Vista aérea de Quebo (Aldeia Formosa)" (JML)...

De acordo com o Antero Santos, Aldeia Formosa tinha uma pista de aviação asfaltada. E dali seguiam duas estradas, também asfaltadas: (i) uma que passava por Áfia, Mampatá, Uane, Nhala e terminava em Buba, numa extensão de cerca de 40 Kms; construída em 72/73, estava totalmente alcatroada; e (ii) outra que partia de Mampatá em direcção a Nhacobá, passando por Ieroiel, Colibuia, e Cumbijã, que em Junho de 1973 já estava totalmente construída numa extensão de 14,2 kms (até Cumbijã); possivelmente em Janeiro de 1974 já estaria em Nhacobá...

O Antero Santos foi Fur Mil Atirador/Minas e Armadilhas, CCAÇ 3566 (Março a Dezembro de 1972 – Empada; CCAÇ 18 – Janeiro 73 a Junho 1974 – Aldeia Formosa ou Quebo).

Foto e poema © José Manuel (2008). Direitos reservados.

O recordar dos sentidos (1)
Como é bom ver
as flores das amendoeiras
as cerdeiras (2) a florir
as flores das laranjeiras
as vinhas a rebentar
as flores dos pessegueiros
e as rosas do quintal
como é bom ver

como é bom sentir
o tacto duma pele macia
debaixo da nossa mão
o aconchego duns seios
para matar a solidão
como é bom sentir

como é bom ouvir
quem nos faça sorrir
o som da água a correr
o vento a soprar nas canas
como é bom ouvir

como é bom cheirar
o doce aroma do mosto
que se solta do lagar
ou o cheiro do fumeiro
naquela lareira a secar
como é bom cheirar

como é bom saborear
uma sopa quente do pote
uma sardinha na brasa
ou carne fresca a grelhar
como é bom saborear

como é bom falar
numa roda de amigos
ou num serão ao luar
cantar canções e poemas
até a noite acabar
como é bom falar

Mampatá 1973
josema (3)
________

Notas de L.G.

(1) Vd. poste anterior desta série > 9 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3039: Poemário do José Manuel (20): Mãe, se eu não regressar, lembra-te do meu sorriso...

(2) Na região de Entre Douro e Minho, cerdeira é sinónimo de cerejeira...Este regionalismo não vem no grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa...

(3) Vd. poste de 27 de Fevereiro de 2008 >Guiné 63/74 - P2585: Blogpoesia (8): Viagem sem regresso (José Manuel, Fur Mil Op Esp, CART 6250, Mampatá, 1972/74)

1 comentário:

Anónimo disse...

Zé Manel,
Desculpa a introdução em puro alentejano, mas cerdeiros, amendoeiras em flor!
Zé Manel, vão fazer quarenta anos que estou prisioneiro de uma Transmontana. É obra!
Para lá do Marão mandam os que lá estão! Mas tu não mandas, (amandas)!
Desculpa mas já é tempo. Tens de publicar isso!
Sabes porquê? É que eu que desci o Douro do Pinhão até à Régua em botes de borracha, eu que limpei os olhos das faulhas na linha do Tua, já não tenho paciência para andar no nosso Blogue pesquisando o poemário. É urgentemente necessário um livro, para podermos ler à sombra do cerdeiro ou de uma azinheira daquelas que já não conhecem a idade.
Nasceste poeta! Espero por ti!

Um abraço do tamanho do Douro,

Mário Fitas