Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 22 de julho de 2009
Guiné 63/74 - P4725: Blogoterapia (120): Como falam as fotografias (António G. Matos)
1. Mensagem de António G. Matos, (*), ex-Alf Mil MA da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, com data de 20 de Julho de 2009:
Caríssimos editores,
Assim o considerem e aqui fica mais um dos meus flashbacks a pretenderem ser post.
Um abraço amigo,
António Matos
2.
Como falam as fotografias!...
Que clarividência!...
Quanta angústia!...
Quantas ilusões e desilusões naqueles corações de meninos que se apertam de encontro à carcaça do "Carvalho Araújo" na incerteza do dia seguinte....
E quanta afeição nos agarrou àquele barco para o resto da vida....
Lá dentro, um sentimento indefinido e confuso dum certo dever patriótico que não se ajustava ao desprezo aviltante criado pelas condições em que, principalmente os soldados, eram transportados para uma acção de defesa duma pátria que tudo lhes ficava a dever!...
Até a vida !...
Como falam as fotografias!...
Desde o cais de S. Miguel até ao de Pijiguiti foram 10 dias sofridos, de uma lassidão confrangedora que a calmaria proporcionava, com uma derivação à Ilha do Sal para abastecimento de água (até nisto a ironia do destino...) e regresso ao Atlântico para a recta final...
Para além do mais, tivemos que aguentar uma viagem com o barco inclinado (vejam as fotos!) que criava umas dores de costas dos diabos!
O "Carvalho Araújo", também ele já entregou a alma ao Criador...
Sinal dos tempos...
Ficam-nos as recordações fotográficas para memória futura...
António Matos
Navio Carvalho Araújo > À partida de S. Miguel
Navio Carvalho Araújo > À chegada a Bissau
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 12 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4674: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (16): O alvoroço dos (re)encontros: obrigado, malta da CCAÇ 2790 (António Matos)
Vd. último poste da série de 20 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4710: Blogoterapia (119): As Fantas, as Marias, as Natachas, ou o amor em tempo de guerra e de diáspora (Cherno Baldé)
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9 comentários:
A CCaç. 2402 fez a viagem de Bissau para Lisboa, salvo erro no dia 25 ou 26 de Abril de 1970 e já navegava inclinado. Em que dia partiste para Bissau? Isto para tentar saber quantas viagens ainda efectou nessas condições no mínimo originais. Será que essa inclinação do navio era aceitável e não oferecia qualquer perigo de navegação ou a vida dos militares estava protegida por algum seguro milionário? Carne para canhão, diria eu ...
Raul Albino
Tanto quanto sei em relação ao Navio Carvalho Araújo é que em 19 de Dezembro de 1970, não queria fazer a viagem para a Guiné e passou a noite sob a Ponte 25 de Abril.
Filomena
Olá António
Já num Post tinha referenciado "o Paquete inclinado para a direita ...".
Cá está a prova fotográfica.
Lembras-te do pavimento dos corredores do deque dos camarotes serem aos quadrados (30x30 ?)pretos e brancos,que aos menos felizes,para alem de os fazer trocar os olhos, provocavam uma nausea horrorosa ??!!
Lembras-te do cheiro nauseabundo a nafta que provocou o "gregório" de um Furriel das Comp.Açorianas
á mesa ,durante uma refeição.Que nojo... nunca mais consegui comer lá !!
E de um gajo andar a tentar comer a sopa com a colher atràs do prato,que era fujão em mar mais encapelado ??!!
E ,de quando em vez, termos de andar ao pé coxinho sobre a perna direita para nos equilibrarmos,quando o "paquete" adornava um pouco para esse mesmo lado(lado da inclinaçao normal)?!
O "cabeça torta / dez para o meio-dia" é que não deve ter notado nada,já que a inclinaçao da "mona" dele era exactamente ao inverso !!!!
Já agora,tanto quanto me parece saber,o dito C.A. na viagem de regresso à Metrópole,rebentou-lhe uma Caldeira.Tanto quanto julgo,ainda fez viagens até final do ano.
Mas verdade seja dita e segundo penso saber,era um dos barcos que tinha estabilizadores,o que atenuou muito os balanços, numa tempestade em que as ondas ultrapassaram em muito as escotilhas dos camarotes de 1ª!!
Outros tempos (!!)com recordações tambem... boas!
Um abraço
Luis Faria
Já o velho navio “Lima” construido em 1907, que fazia a carreira das ilhas com o “Carvalho Araújo” andava sempre inclinado, dizia-se então que era um problema de lastro. Henrique Matos
Em 24-04-1970 o navio Carvalho de Araújo, adornado a estibordo, partiu do cais da Gare Marítima de Âlcantara, com o BCAÇ2912 a bordo, com destino à Guiné, onde chegou a 01-05-1970.
Tenho a informação de que a última viagem que fez à Guiné, com tropas a bordo, foi em 08-08-1970, aliás uma viagem bastante atribulada!
Sr.António Tavares,
A informação que tem em relação à última viagem do Carvalho Araújo para a Guiné, com tropas a bordo, não foi em Agosto de 1970, pois em 19 de Dezembro de 1970, o meu marido partiu para a Guiné a bordo do Carvalho Araújo.
Filomena
Caros Camaradas
O texto não vem acrecentar nada aos comentários que têm sido feitos. Apenas é mais um contributo para se analizar a forma como os militares (praças) eram transportados, bastando ver a capacidade (oficial) de passageiros e fazer as contas para os que nele embarcavam.
Bom fim de semana
José Martins
CARVALHO ARAÚJO
*Tipo-Navio misto de 2 hélices
*Construtor-Cantiere Navale / Trestino
*Local construção-Monfalcone/Itália
*Ano de construção-1929
*Ano de abate-1973
*Registo Capitania do Porto de Lisboa, em 21 de Abril de 1930, com o número 420 F
*Sinal de código-C S B U
*Comprimento fora a fora- 112,82 m
*Boca máxima-15,30 m
*Calado à proa-6,69 m
*Calado à popa-6,99 m
*Arqueação bruta-4.559,55 Toneladas
*Arqueação Líquida-2.694,45 Ton
*Capacidade-4.292 m3
*Porte bruto-4.724 Toneladas
*Aparelho propulsor-Duas máquinas de triplice expansão, de 3 cilindros cada, construídas em 1929 por John G. Kincaid & Ca Lda. em Greenock - Escócia. Quatro caldeiras, com 3 fornalhas cada, para a pressão de 14,7 K/cm2.
*Potência*4.430 cavalos
*Velocidade máxima-14,0 nós
*Velocidade normal-12,0 nós
*Passageiros-Alojamentos para 10 em classe de luxo, 68 em primeira classe, 78 em segunda, 98 em terceira e 100 em cobertas, no total de 354 passageiros.
*Tripulantes-98
*Armador-Empresa Insulana de Navegação - Lisboa
18 Novembro 2000
Elementos extraidos da página NAVIOS MERCANTES PORTUGUESES
Raul Albino, finalmente consegui as minhas recordações escritas onde menciono as datas a que te referes.
Embarquei de S.Miguel na tarde de 24 de Setembro de 1970.
Cheguei a Bissau a 02 de Outubro de 1970.
Desembarquei a 03 de Outubro de 1970.
Com isto se esclarece algumas opiniões que davam como última viagem daquele barco uma data anterior a estas.
Recordo também que no regresso a Lisboa, houve um incêndio a bordo.
Posteriormente, mas ainda no trimestre Outº / Novº / Dezº, foi a Bissau ( levou um soldado meu de rendição individual - o Belmiro Barros Guimarães ).
Tanto quanto ouvimos na altura, o regresso que se lhe seguiu, foi a machadada final.
Avariou e encostou.
Vi-o na Gare Marítima de Alcântara a agonizar uns anos mais tarde.
Consta que foi abatido em 1973.
Práticmente já foi tudo dito sobre este barco.
No ar continua a pergunta: quando efectuou a última viagem à Guiné e com que contingente?
Para a história fica que este Carvalho Araújo foi desarmado a 8 de Janeiro de 1971 e assim permaneceu até 1972 quando lhe mudaram o nome para Marcéu, porque o armador adquiriu outro cargueiro dando-lhe o mesmo nome em homenagem ao oficial Carvalho Araújo.
A 20 de Outubro de 1973, o "nosso" navio, agora com o nome de Marcéu, foi rebocado de Lisboa para Aviles em Espanha.
Foi ali que morreu desmantelado por um sucateiro de espanhol.
Um abraço para todos,
José Câmara
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