sexta-feira, 24 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4736: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (14): Na minha opinião pessoal, o Major Coutinho Lima foi um Herói! (Amílcar Ventura)


1. Mensagem de Amílcar Ventura, ex-Fur Mil Mec da 1ª CCAV/BCAV 8323, Bajocunda, 1973/74, com data de 26 de Julho de 2009:



Camaradas,


Começo esta minha mensagem por dizer, que nunca quis saber muito das novas tecnologias, mesmo tendo em casa um filho formado em informática, mas bastou ele ensinar-me como se liga e desliga o PC, como se procede para ter acesso há internet e foi o suficiente, para eu me iniciar nestas lides.


Tenho um irmão mais velho que também esteve na Guiné (Gampará) e se não tivesse acontecido um acidente, ter-nos-íamos lá juntado os dois. Foi este meu irmão que me falou no “blogueforanadaevaotres.blogspot.com”, e foi este blogue o “culpado” de eu, a partir de um certo dia, passar horas a fio num velhinho computador portátil, que o meu filho já tinha arrumado numa prateleira e que “preparou” para mim, a “devorar” poste atrás de poste.


Depois desta pequena introdução, vamos ao que me leva a escrever, hoje dia 18 de Julho de 2009, para o nosso Blogue que, mais não é que a descrição do modo como eu senti e analisei os acontecimentos em Guileje.


Enquanto estive na Guiné, fui algumas vezes a Bissau, e na Messe de Sargentos, como é fácil deduzir, falava-se de tudo o que ocorria nos mais turbulentos recantos da Guiné.


Os assuntos mais falados eram, jamais esquecerei, a retirada de Guileje e as graves situações vividas em Gadamael e Guidaje.


Eu só podia falar de Copá, porque estava nessa zona e tinha lá um pelotão da minha Companhia.

Sobre a retirada de Guileje as conversas versavam todas o mesmo tema - a acção do Major Coutinho e Lima -, e eram quase unânimes as opiniões que ele fez o melhor que podia ter feito na sua problemática situação.


Elogiava-se a sua retirada, que permitiu salvar não só as vidas dos seus militares, como as da população local a seu cargo.


Na minha análise pessoal e creio que na opinião geral, Herói de guerra tanto é aquele que dá a vida pela Pátria, como é aquele que salva vidas ao seu Serviço.


Para mim e para a maioria dos militares que estavam na Guiné, na altura, o então Major Coutinho e Lima (hoje Tenente Coronel), foi um Herói e não um cobarde, como as nossas chefias militares de então apelidaram e algumas opiniões teimam em querer confirmar.


Somos todos Camaradas de um Blogue de antigos Combatentes da Guiné, onde deve permanecer a amizade que nos uniu na Guiné e uma confraternização constante.


Já ultrapassamos os 300 Tertulianos, além de muitos Amigos.


Num espaço de três meses tivemos mais de 100 mil Visitas.


Considero que unidos na mesma finalidade seremos indestrutíveis.


Para acabar quero felicitar aos nossos camaradas editores, pelo trabalho que têm feito dando voz a todos os que, connosco, estiveram no teatro de guerra, na Guiné, defenderam a nossa Pátria, por vezes com vários e pesados custos pessoais.


Um abraço amigo para todos os Tertulianos e Amigos do nosso blogue,
Amílcar Ventura
__________
Notas de M.R.:

(*) Vd. último poste da série em:


7 comentários:

Manuel Reis disse...

Manuel Reis disse:

Camarada e Amigo Ventura:
Não posso deixar passar em claro o desassombro das tuas declarações sobre a decisão do Coronel Coutinho e Lima, num momento particularmente difícil para o blogue, em que só falar em Guileje pode ser considerado uma heresia e mostrar o seu acordo pela decisão do Coutinho e Lima é analisado como uma atitude anti-patriótica.
Fico-me por aqui....
Deixo-te um abraço de amizade.

Manuel Reis

JOSÉ BORREGO disse...

Camarada Ventura, um pessoa que fala assim, só poderia prestar serviço na saudosa BAJOCUNDA.
Parabéns pela lucidez da tua análise!
O major Coutinho e Lima é hoje Coronel reformado e não T.Coronel.
Um abraço do
JOSÉ BORREGO

António Matos disse...

Definitivamente o tema esgota-se e torna-se uma presença algo atípica, fastidiosa, perturbantemente massacrante, ora agora pelas intenções regeneradoras de heroísmos mal atribuídos , ora agora pelas condenações por crimes de lesa-pátria não consensuais, enfim, Guileje aí está no seu melhor, uma vez mais, a suscitar comentários onde se assumem momentos particularmente difíceis para o blogue ( ?? ) e se espevitam capacidades literárias para o melhor e para o pior ….
Julgo que não haverá quem não tenha já um juízo formado sobre os acontecimentos e os protagonistas pelo que se dispensam mais aulas de duvidosa pedagogia .
Sou uma pessoa de bem e, como tal, respeito quem viveu os acontecimentos e por eles ficou marcado para o resto da vida tal como o Raul Albino ficou quando transportou nos braços uma bomba caída no quartel mas que não rebentou, tal como desesperou quem ficou encurralado, debaixo de fogo, entre o IN e um campo de minas, quem foi atingido por um míssel e se ejectou dum avião destruído, etc., etc., etc..
Não assumir isto é pensar que se foi o verdadeiro especial daquela guerra a quem todos devem vénias e que qualquer outro deverá ser menorizado face a tão empolgante feito …
Párem, meus caros !
Já chega, malta !

Os posts e comentários que aparecem sobre Guileje, Coutinho Lima, retirada, etc. já não conseguem trazer nada de novo à estória !
Falem dos outros dias que lá passaram, bolas !
Saquem fotografias de belas bajudas à venda nos quiosques e contem-nos peripécias idealizadas no auge da solidão a que nos lançaram durante 2 anos !
Abram o vosso coração e deliciem-nos com as vossas prosas prenhes de humildade e modéstia e verão que, afinal, o blog está bem vivo e continua a ser um pólo aglutinador dos ex-combatentes da Guiné onde podemos trazer à ribalta os nossos pôdres e as nossas glórias e com eles contribuirmos definitivamente para a História daquela década sem protagonismos desmedidos.
Cada um foi o que as circunstâncias deliberaram e aí não houve quem desmerecesse o seu louvor.
Ressalvo, evidentemente, todos aqueles que, por aviltante cobardia e falta de camaradagem, puseram em risco a vida dos seus camaradas ou contribuíram mesmo para fatais desastres.

António Matos

Anónimo disse...

camarada António Matos, que é que o move contra Guileje ?

Gostaria de entender...um dia.

Jose Carvalho
Ex fur mil Op Esp
Ccav 8350 Guileje-Gadamael
(ferido em combate)e voluntário para regressar ao local onde fui ferido (Gadamael).
Um abraço.

Amilcar Ventura, Furri. Mecân. 1ª Comp. 8323 disse...

Camarada de Guiné António de Matos,RECORDAR É BOM, ALEVIA-NOS A ALMA, E DÁ CABO DO STRESS.

UM ABRAÇO

António Matos disse...

Camarada José Carvalho, não te vou deixar mais tempo sem entenderes o meu protesto.
Nada, rigorosamente nada, me move contra Guileje !
Estou farto de dizer que tenho pelos sobreviventes desse e de outros locais da Guiné o maior respeito e admiração e uma solidariedade desmesurada !
Sabes uma coisa ? Eu também passei as horas do diabo ( quem não passou ? ) por onde andei e nem por isso passo a vida a relatar até à exaustão os mesmos episódios do mesmo filme ! Basta uma vez ! A partir daí, e no caso concreto dessa célebre retirada ( valorosa e fenomenal para uns e cobarde para outros ) já não há mais para contar !
Pelos vistos ninguém é suficientemente convincente para que a sua versão dos acontecimentos seja validada pela maioria !

Camarada Ventura, recordar é viver e faz bem ao stress, concordo, mas todos os dias ? Com os mesmos pressupostos e as mesmas conclusões ( de acordo com a versão que cada um aceita ) ?
Dá a ideia que a guerra da Guiné se resumiu a Guileje e à celebre retirada !
MAS É MENTIRA !
A guerra foi feita com mortes como a do Realimo ( soldado que gozava duma simpatia e carinho especial por todo o batalhão até porque era a figura carismática da distribuição do correio ) e morreu a escassos dias do fim da comissão em Bula, no café, porque se deu uma acção tipicamente terrorista com a instalação de granadas armadilhadas que apanhou absolutamente desprevenidos homens que nem sequer pegavam em armas mas que tiveram o azar de ir tomar a bica à hora errada onde iam todos os dias durante 2 anos.
E nunca ninguém falou deles ! Não são mediáticos ...
É por isso que chega a ser obsceno vangloriar uns e esquecer os outros !
Respeitemo-nos mutuamente e deixemos à História o papel de nos classificar como heróis ou como cobardes.
Não sejamos nós os autores dos nossos epítetos !

António Matos

Carlos Vinhal disse...

Caros camaradas
Que não fique no ar a ideia de que daqui para a frente é proibido falar da retirada do Guileje neste Blogue. Nenhum assunto é tabu nem está definitivamente encerrado.
Uma coisa é certa. Temos que discutir os assuntos sejam eles quais forem com fair play.
Para que conste.
Vinhal
Co-editor