Meu caro António Rosinha
Antes de mais, a minha sincera afirmação sobre a completa ausência de animosidade entre nós que nem nos conhecemos, mas que tendo nascido na mesma forja histórica, muitas coisas comuns teremos e tais coisas teremos de colocar como fonte de convergência e não as outras que parecem nos separar.
Fartos de divergências deveríamos estar todos nesta longa e inclinada plataforma onde nascemos e onde esperamos morrer, ainda que com certezas seguras quanto ao fim, mas sem qualquer sobre o modo e o lugar e o tempo exactos.
E que não tivéssemos nascido aqui, os dois ou um apenas e outro noutro lugar qualquer do planeta, calhando, aqui mesmo ao lado, em Castela, com quem, pensam alguns de lá e de cá, nunca acertámos verdadeiramente as contas da separação.
Na verdade, tenho para mim que o desejo de ser feliz como foste em Angola, é comum a toda a humanidade, ainda que, em cada lugar, cada povo escolha caminhos lógicos e emparelhados na realidade que lhes deixaram avós.
Entre nós, portanto, não há grandes motivos para divergências tão importantes que possam obstar ao abraço virtual aqui, mas possível em qualquer lugar em que possamos encontrar-nos.
Não acredito que... acredites tu a sério, que em algumas coisas que disseste (e disseste poucas), eu não concorde contigo.
Sobre a barbárie, por exemplo, que foi aquela bagunça que sugeres e que não se exerceu e prejudicou só a brancos e ao seu País de origem mas sobretudo a negros e ao futuro da sua terra.
Sobre o espantoso drama de mais de setecentos mil cidadãos radicados e organizados em famílias, em cidades, em estruturas económicas e culturais crescentes e que de um momento para o outro se viram sem nada. Sem nada mesmo, além da capacidade de respirar, muitos mais desejando que mesmo isso terminasse face ao caos e à falta de futuro e de esperança em que se viram num instante.
Sobre a facilidade com que aquela gente ficou de se matar e destruir; sobre os massacres que cada facção, cada partido, cada grupo étnico (todos eles) perpetuou contra outros grupos, sem piedade e, muitas vezes mais parecendo que apenas por raiva.
E esta minha opinião não é de agora, embora hoje possa estar mais organizada e fundamentada. De facto, foi assim que a discuti em locais onde ela se discutia (mesmo em Luanda) e por isso, também me causei os meus próprios prejuízos, vistos de aqui, hoje, seguramente bem menos lamentáveis que os teus.
Não volto de novo à questão da falta absoluta que fez àquela terra, quem dela sabia muito, na agricultura e nas pescas, na indústria que finalmente começava a tomar alento, nos serviços, na cultura nova que não suprimindo a tradicional, se impunha como necessidade de desenvolvimento, na organização administrativa.
Assisti eu a muitas promessas, a muitas experiências de outra gente que se instalou sob a asa da solidariedade mas que de solidariedade muito poucos tinham como motivo, e mesmo os que tinham, de nada sabiam sobre a terra e nisso esbanjaram meios e esperanças.
E isto são factos que são indiscutíveis como factos, podendo apenas discutir-se as causas que os impôs, a história que os justificou e as perspectivas de modelos alternativos que pudesse dar-lhe outras feições e consequências.
Não julgas tu, nessa afirmação que fazes de que "passaste apenas por Angola, para trazer retornados e pouco mais".
De facto também vi morrer gente branca e gente preta, sendo que os matadores eram todos pretos e, nessa altura, mataram um ou outro branco e muitos milhares de pretos. De facto conheci gente que morreu, gente que matou, gente que morreu por ter matado, sempre ou quase sempre, numa sanha feroz e inqualificável.
Retornados eram para mim gente, seres humanos que construíam Angola como podiam, e se não construíam melhor era porque os seus dirigentes continuavam a ter uma perspectiva colonial e velha, não permitissem o verdadeiro desenvolvimento que a terra poderia ter.
E ajudei a tirar alguns das mãos dos movimentos, algumas vezes em condições dramáticas e de grande risco.
Há uma coisa, portanto, em que discordamos. Dizes que pontos de vista não discutes e... eu penso que é isso mesmo que se pode discutir, mais que os próprios factos em si próprios. Como dizes e eu concordo, cada um de nós tem o direito à sua opinião. Mas ter direito a opinião não quer dizer, ter direito a que discorde alguém e que, discordando, dê replica, sobretudo se o fizer de modo civilizado, melhor ainda, também fundamentando razões.
Os factos, são factos em si próprios, os cadáveres nos passeios de Luanda, a vida boa que portugueses levavam naquela cidade estupenda, o tal feijão com seu cozinhado e panelas, a vida nocturna repleta de casinos improvisados na Ilha e em sítios que já nem sei explicar onde eram mas vi, onde se ganhavam e perdiam somas avultadas numa noite, obrigando noivas viagens que eu sei e tu também, os cabarés, provavelmente ilegais onde a prostituição atingia níveis nunca imaginados aqui.
Ninguém poderá dizer-me que nas noites quentes de Luanda, bebendo a minha cerveja nos terraços dos hotéis, charlando com colegas noite dentro, não ouvíamos os tiros nos bairros da cidade ou que tais tiros eram apenas brincadeirinhas de gente com os copos disparando para o ar.
Pode dizer-se que essa não era a Luanda que vivia e desejava a grande maioria dos seus habitantes, gente de trabalho e de progresso, com famílias e amigos, com convívio são, e na maioria dos casos, provavelmente até capazes de aceitar alguma outra forma de organização social que melhorasse a vida de todos e desse mais igualdade.
Em relação à tua dificuldade de distinguir entre Salazar, Amilcar Cabral, Lúcio Lara, Manuel de Argel, Savimbi, Agostinha Neto, nada posso dizer porque esses são os óculos que conseguiste no penoso processo que te obrigaram a seguir.
Contudo posso dizer-te pelo menos uma ou duas coisas que os distinguem. Por exemplo, Salazar foi o homem que nunca quis universidades em Angola e quando as teve de aceitar eram "Estudos Gerais" e os outros foram gente que teve de vir para Lisboa para estudar na universidade. Por exemplo, Salazar foi o homem que nunca admitiu negociação e os outros foram os que sempre a propuseram antes da luta armada.
Um outro exemplo que nunca vi aqui tratado como a mim me parece que deve ser, que é o da falta de dirigentes brancos locais, capazes de organizar-se para reivindicar de Salazar mais autonomia e outra organização política e administrativa que lhes atribuísse um papel mais activo no processo de desenvolvimento.
Com uma ou outra excepção que não faz a Primavera, sempre se limitaram a ir vivendo no estatuto que era determinado em Lisboa e, com isso, não formaram os seus técnicos, os seus dirigentes, os líderes que poderiam mais tarde defender a sua visão das coisas, alternativas e, quem sabe, melhor futuro para todos.
Sofreram as terríveis consequências da selvajaria desatada no Norte em 61, aceitaram entrada de capitais estrangeiros que iam dividindo o bolo entre si, e acabaram em fuga dramática de 75, perdendo tudo e recusando perder também a vida.
De resto, também acho que apesar das dificuldades que as condições que o 25 de Abril criou para o desfecho da chamada descolonização, muita gente podia com outra atitude, garantir menos drama e mais dignidade na saída e mesmo evitar algumas das consequências que acabaram por desabar.
Não acredito (e isso é a minha opinião que pode ser rebatida) que tivesse sido possível comandar o principal do processo porque esse era já um prato forte só acessível aos patrões de CIA's e de KGB's.
E hoje?
Sabemos que no decurso do regresso, e nos anos que se lhe seguiram, os Governos portugueses cometeram erros graves face às conveniências nacionais dos dois Países. Erros de tal modo graves que obstaram até há muito pouco tempo relações mais concretas e convenientes para as partes. Em nosso lugar (se é justo dizer assim) tem-se instalado uma "cambada" de falsos cooperantes de todos os lugares do mundo, a maior parte apenas no objectivo do domínio estratégico politico e comercial muito do agrado da globalização do mercado.
Como na canção do Xico Buarque "Ai esta terra ainda há-de tornar-se um império colonial", é Angola ou angolanos que compram em Portugal, investem e comandam aqui importantes sectores da economia portuguesa. Esta facto, pelo menos para os que vêm no capitalismo e no mercado o deus do mundo, não deveria causar calafrios, já que, pensando como pensam, sabem muito bem que a internacionalização da economia terá sempre de levar a outras invasões, ainda que com armas aparentemente menos castigadoras. Naturalmente que, aceitando isso, e se nos reclamamos não racistas, não iremos opor-nos agora a que o tal capital estrangeiro venha de mãos negras.
Por mim, verdadeiro bota de elástico, tenho que dizer que sim, que é assustador tudo isso, porque, erradamente, talvez, acho que quem domina a economia... domina o resto e o resto é que me parece o mais importante, sejam brancas ou negras as carteira que investem.
E pronto, aqui me declaro farto do tema que em postes vários já trouxe, apenas com diferenças nas formas e nas vias de abordagem mas dando sempre no mesmo.
Mudarei de tema, se for capaz.
Por mim, não mais, senão o abraço.
José Brás
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 23 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5696: Controvérsias (61): Ser ou não ser (português), eis a questão (José Brás)
Vd. último poste da série de 17 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5665: (Ex) citações (50): Comentário ao texto de José Belo no Poste 5660 (José Brás)
Um outro exemplo que nunca vi aqui tratado como a mim me parece que deve ser, que é o da falta de dirigentes brancos locais, capazes de organizar-se para reivindicar de Salazar mais autonomia e outra organização política e administrativa que lhes atribuísse um papel mais activo no processo de desenvolvimento.
Com uma ou outra excepção que não faz a Primavera, sempre se limitaram a ir vivendo no estatuto que era determinado em Lisboa e, com isso, não formaram os seus técnicos, os seus dirigentes, os líderes que poderiam mais tarde defender a sua visão das coisas, alternativas e, quem sabe, melhor futuro para todos.
Sofreram as terríveis consequências da selvajaria desatada no Norte em 61, aceitaram entrada de capitais estrangeiros que iam dividindo o bolo entre si, e acabaram em fuga dramática de 75, perdendo tudo e recusando perder também a vida.
De resto, também acho que apesar das dificuldades que as condições que o 25 de Abril criou para o desfecho da chamada descolonização, muita gente podia com outra atitude, garantir menos drama e mais dignidade na saída e mesmo evitar algumas das consequências que acabaram por desabar.
Não acredito (e isso é a minha opinião que pode ser rebatida) que tivesse sido possível comandar o principal do processo porque esse era já um prato forte só acessível aos patrões de CIA's e de KGB's.
E hoje?
Sabemos que no decurso do regresso, e nos anos que se lhe seguiram, os Governos portugueses cometeram erros graves face às conveniências nacionais dos dois Países. Erros de tal modo graves que obstaram até há muito pouco tempo relações mais concretas e convenientes para as partes. Em nosso lugar (se é justo dizer assim) tem-se instalado uma "cambada" de falsos cooperantes de todos os lugares do mundo, a maior parte apenas no objectivo do domínio estratégico politico e comercial muito do agrado da globalização do mercado.
Como na canção do Xico Buarque "Ai esta terra ainda há-de tornar-se um império colonial", é Angola ou angolanos que compram em Portugal, investem e comandam aqui importantes sectores da economia portuguesa. Esta facto, pelo menos para os que vêm no capitalismo e no mercado o deus do mundo, não deveria causar calafrios, já que, pensando como pensam, sabem muito bem que a internacionalização da economia terá sempre de levar a outras invasões, ainda que com armas aparentemente menos castigadoras. Naturalmente que, aceitando isso, e se nos reclamamos não racistas, não iremos opor-nos agora a que o tal capital estrangeiro venha de mãos negras.
Por mim, verdadeiro bota de elástico, tenho que dizer que sim, que é assustador tudo isso, porque, erradamente, talvez, acho que quem domina a economia... domina o resto e o resto é que me parece o mais importante, sejam brancas ou negras as carteira que investem.
E pronto, aqui me declaro farto do tema que em postes vários já trouxe, apenas com diferenças nas formas e nas vias de abordagem mas dando sempre no mesmo.
Mudarei de tema, se for capaz.
Por mim, não mais, senão o abraço.
José Brás
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 23 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5696: Controvérsias (61): Ser ou não ser (português), eis a questão (José Brás)
Vd. último poste da série de 17 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5665: (Ex) citações (50): Comentário ao texto de José Belo no Poste 5660 (José Brás)
14 comentários:
José Brás, como já conheces bastante do meu curriculo, profissional e colonial e da minha "apolitização", mesmo sem ir contra nada daquilo em que acreditas, quero relatar-te mais dois ou três parágrafos da minha passagem pela colónia para demonstrar que é dificil o meu ponto de vista de retornado ser igual ao teu, ou de imensos militares que apenas passaram apenas vinte e tal meses de tropa no ultramar:
Primeiro, não confundo, no caso português, colonialismo com salazarismo, porque em Angola quem ganhou as eleiçoes sabotadas em 1958 foi o H. Delgado, pois eu sem votar (19 anos), festejei com um garrafão de vinho com os colegas angolanos e portugueses como eu, em Moçâmedes, que julgavam eles e eu, que "era verdade". Toda a gente em Angola, como cá, queria mudança lá por cima.
Como retornado, (já te contei, como nas calmas eu e a família nos desfizemos de Angola, antes dos tiros) eu já tinha visto retornados em avalanche do Congo Belga,1960, era eu cabo milº na fronteira em Noqui, e vi a ONU e seus cooperantes, ONG´s, e a chamada "comunidade Internacional", deixar aquela terra fabulosa, Zaire, Ruanda e Burundi, na maior m****, até hoje, 50 anos. Esta situação, pensava quem vivia em Angola e milhões de Angolanos tambem pensavm, que se podia evitar.
E, para não prolongar mais, outro ponto de vista só possível de um retornado: conheci pessoalmente pessoas simpatizantes e quiçá militantes, da UPA, MPLA e UNITA.
Principalmente, do MPLA, sendo que tive superiores hierárquicos e colegas, e até na recruta me foi dada em Nova Lisboa por anagolanos que mais tarde tudo ficou do lado do MPLA.
Só que com as matanças de 1961, viraram o bico ao prego e muitos ficaram do nosso lado, porque viram a loucura que ia ser pior que no Congo Belga.
Como conheci muitos angolanos do MPLA, mas sei que a maioria desistiu e fugiu para cá e para o Brasil, e que faziam muita falta em Angola, porque eram os mais capazes, penso que esses retornados foram as maiores vítimas.
De qualquer maneira, na minha ideia, tivemos a coragem de não apoiar os "classicos ditadores" africanos, Idia Amin, Bokassa, Mobutu, etc.
E ainda, se apoiasse-mos Machel, Agostinho Neto, ou Luis Cabral, para não falar nos outros, provavelmente eram assassinados mais cedo do que foram.
Um abraço
Antº Rosinha
Caro Zé,
Seria melhor ficar calado.
Mas é coisa que me afecta e julgo a muitos mais.
São questões pessoais, mas doem muito.
O pai do meu neto estudou em Angola, desapareceu-lhe o pai, e ainda não sabe como.
Está desempregado e necessita de documento de habilitações literárias.
O Ministério da Educação afirma que terá de ser resposta de Angola.
O Ministério Angolano enviou o aviso de recepção da solicitação.
Mas até hoje não veio nada.
Que irá o homem responder ao filho, quando lhe perguntar: Tu não trabalhas é só a mãe?
Que explicações darei eu a um miudo de oito anos, sobre todas as questões que ele põe?
Que espere! E quando tiver entendimento total, leia "Ficheiros Secretos da Descolonização de Angola" escrito pela tia, irmã do pai?
Será muito tarde! Porque hoje já quer saber como o outro avô morreu, e ninguém lhe sabe dizer por pura ignorância.
É muito complicado! Parece-me tudo invertido, a realidade è tão dura que por vezes faz-nos irracionais!
O livro acima referido, é em parte a procura de entendimento do desaparecimento do outro avô do meu neto.
Vamos caminhando na esperança de um amanhã dificil, mas melhor.
O abraço do tamanho da Planície,
Mário Fitas
Sobre o tema que “dá pano para mangas” e em que não me quero meter, aconselho a leitura deste estudo apresentado por Fernando Pimenta no VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais, (Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra) “Ideologia Nacional dos Brancos Angolanos (1900-1975)”.
www.ces.uc.pt/lab2004/inscricao/pdfs/painel35/FernandoPimenta.pdf
Abraço ao tabancal
Henrique Matos
Vamos a ver se o endereço fica bem:
www.ces.uc.pt/lab2004/inscricao/pdfs/painel35/FernandoPimenta.pdf
Henrique Matos
www.ces.uc.pt/lab2004/inscricao/pdfs
/painel35/Fernando
Pimenta.pdf
Será agora?
Que maravilha amigos e camaradas!
É aqui mesmo que me parece teria sido necessário chegar há muito tempo, ainda que também julgue que cada coisa tem o seu tempo próprio para amadurecer.
Estamos todos a falar de factos, de ideias, de razões e de verdades que nenhum de nós consegue abarcar no todo e só os contributos de cada um podem aproximar.
Estamos a falar de história, do mais fundo do social, das formas e modos em que creceu este País desde a sua fundação e mesmo antes,
estamos a falar da gesta das descobertas, do sofrimento que foi necessário para que o mundo se alargasse e saísse dos restos de feudalismo que teimavam agarrados à crosta da Europa, estamos a falar de tanta dor, de tanta incompreensão, de tantas injustiças que ainda marcam por aí nas almas e no quotidiano, ainda por cima sem ferramentas adequadas à análise, antes nos prendendo às pequenas verdades e dramas de cada um, pequenos, digo, não porque não sejam grandes em si, mas quase perdidos na história grande e nas exigências do mundo.
E o bom é que façamos isso, como aqui, sem ofensas e com o sentido puro do querer entender.
Abraços
José Brás
Este tema da colonização/descolonização irá dar “pano para mangas”, durante muitos anos, e provavelmente nunca se saberá totalmente o que se passou, as manobras debaixo da mesa, etc., mas apenas aquilo que foi e é visível e que de um modo geral é uma imagem muito má.
Temos por vezes a tendência para quando falamos deste tema apenas pensarmos nos “retornados”, ou nas populações africanas daqueles países que sofreram na pele, (e ainda sofrem), todo aquele processo cheio de maldades humanas, de interesses políticos, de interesses económicos, que de uma maneira geral se estiveram “borrifando” para os povos que pretendiam libertar.
Mas a verdade é que a colonização, e mais ainda a descolonização tocaram, e ainda tocam todo o povo Português!
Quantas famílias existiram/existirão em Portugal e por esse mundo fora onde estejam portugueses que não tenham tido um “retornado”?
Quantas gerações serão precisas para “aliviar” a carga emocional, os sentimentos recalcados, os ódios e rancores acumulados tanto cá como lá?
Claro que já sabemos que se tudo tivesse sido feito em seu devido tempo, poderia ter sido feito de outro modo!
Mas não tínhamos nós o controlo ainda do poder e da segurança, sobretudo em Angola onde vivi este acontecimento?
Que responsabilidades são pedidas a quem facciosamente favoreceu um dos lados em detrimento dos outros e consentiu na barbárie, acicatando-a até com discursos e práticas inflamadas de politica encomendada?
Não me refiro obviamente a responsabilidades de justiça civil, de tribunais, mas sim à justiça da verdade, à justiça de pelo menos se calarem e não querem convencer os que ainda sofrem que fizeram tudo muito bem feito, (a descolonização exemplar), e que em tudo foram sempre muito democráticos e transparentes!
Sabemos e todos os dias mostramos a culpa dos colonizadores, apontamos-lhe os erros, a teimosia, a falta de oportunidade, o desprezo pelas populações e pelas vidas dos africanos e dos militares portugueses, mas somos incapazes de mandar calar aqueles que teimosamente nos querem fazer acreditar que fizeram tudo bem feito e que afinal não morreu ninguém, nem houve vidas destruídas e que continuam destruídas.
Não sei o que é mais difícil para quem sofre: se é sofrer, se é ver aqueles que o fizeram e fazem sofrer “pavonearem-se” impávidos afirmando a sua superioridade.
Se calhar não devia ter escrito isto, mas já está escrito e assim fica.
É que hoje o dia nasceu muito cinzento!
Abraço camarigo para todos
Caro Zé,
Chegámos a um beco sem saída.
Os factos são factos, tal como dizes e agora apenas podemos discutir o que se passou, cada um com o seu ponto de vista, mas seria bom que o fizéssemos baseado apenas nos factos e parece-me teres conseguido transmitir isso.
Procuro compreender, mais não posso, as razões daqueles que se viram confrontados ou apanhados num retorno, não gosto do termo, muitos nunca tinham estado no dito Portugal Continental.
Tenho, no local onde moro e tu conheces, dois casais e os melhores amigos, da minha idade, brancos, soldados na sua terra de nascença, um em Angola, a sua mulher natural do mesmo sítio que regressaram com um filho acabado de nascer quando aconteceu o 25 de Abrl. Os pais de todos estes que aqui falo já eram naturais de Angola... Um pouco mais acima o outro casal, aquele que é culpado de eu morar onde moro, retornado de Moçambique... Não são revoltados e aceitaram bem os acontecimentos, mas a dor não podem esquecê-la. C
Compreendo-os e lamento que tudo se tenha passado como passou.
Questões políticas, sem dúvida.
Penalizados, todos aqueles que não se ligaram às máquinas partidárias...
Gostei e não queria entrar neste tema, mas não consegui evitá-lo, aceito e entendo sobre esta matéria quase todas as leituras feitas, sendo certo que não vivi nenhuma das situações sendo mais fácil opinar com distanciamento.
Um abraço,
Belarmino Sardinha
Belarmino e...caros camaradas e camarigo.
Estamos quase a falar a mesma língua, emendo, a mesma coisa, faltando apenas aquele célebre discurso "faço minhas as palavras do orador anterior".
Temos que ter algum cuidado com unanimismos porque a vida nos ensinou que isso mé coisa estranha num mundo em que, sendo todos iguais, somos também todos diferentes. Bom é que nos respeitemos porque isso é sinal profundo do nosso do remanescente humanista que guardamos e, ao mesmo tempo a demonstração que aprendemos que ninguém tem razão sozinho.
Eu aconselharia vivamente a seguirmos todos o conselho que aqui neste rol de comentários me deu o camarada Henrique Matos.
Não fôra coisa tão grande, de boa vontade aqui deixaria a resposta que dei à amiga Filomena directamente para o seu endereço. no entanto, se alguém o reclamar, de mom grado o enviarei com os abraços que sendo habituais são sempre novoa
José Brás
Na nossa interessante,e na maioria dos casos(inesperadamente?) construtiva procura de analisar assunto tao complexo constituído por...espelhos por de traz de outros espelhos...nao se deve esquecer que os portugueses que nao eram adultos na altura destes acontecimentos já sao em número maior que os adultos que neles participaram.Maiores e mais urgentes responsabilidades? Para os que,como nós,pertenceram a uma época em que nao havia um Presidente da República mas sim um..."Venerando Chefe do Estado".Nao existia um Presidente do Conselho mas sim...uma mítica/santificada figura centralizante de todas as virtudes tanto da Igreja como da Pátria, em que um tipo de "Excelentíssimos Senhores" quase eram uma espécie animal auto-reprodutiva......torna-se tarefa menos fácil recrear para estes NOVOS portugueses os contextos (internos e externos) que enquadravam o nosso drama colonial. Um abraco amigo. PS/sobre Excelentíssimos Senhores auto-reprodutivos ver/Tabanca da Lapónia.
A conselho de um camarada fui á Lapónia. Curioso o modo como lá se escreve. Curioso. Li tão facilmente como se fosse em português escrito. Depois apareceram belas paisagens, uma estrela de seis pontas, lindos animaizinhos - gosto do lince - há uns que talvez goste mais mas...vou no lince.
Vale a pena ir á Lapónia. E esta heim?Aconselho vivamente.
Bolas o comentário era sobre tema que promete; colonização/descolonização.Promete.
Pena que os comentários, que dele falem, não se agrupem. Género bicha de pirilau. Com o devido respeito.
Fica para depois. Mas,por favor continuem, o tema promete.
A todos abraço,
Torcato
Caros Camaradas
Será que problema é que "nós, os homens, não pertencemos a uma só espécie, mas a muitas, e que de espécie para espécie há, dentro do género humano, distâncias infranqueáveis, mundos irredutíveis a um termo comum capazes de produzir, se a partir de um deles se olha para o fundo do que se lhe opõe, a vertigem do outro". (Martin Luís Guzmán)
Bebamos então um trago às nossas diferenças, elas fazem parte do quotidiano das nossas vidas, porque o pior, meus amigos, são as esquinas das ruas que dividem os nossos caminhos.
Um abraço para todos.
Luís Dias
Boa, Luis Dias
Talvez que tenha sido por isso que os "sistemas" constroem prédios em ruas com esquinas.
Os espaços que deveriam ser para juntar -teatros, salas de concerto, galerias de artes plásticas, parques e jardins,tudo, tudo, e até igrejas parecem mais próprios para separar.
É necessário resistir e teimar para nos darmos as mãos.
Parabéns pela ideia magnifica e um abraço
José Brás
Concordo com todos, principalmente com o Joaquim Mexia quando diz "quantas famílias existiram/existirão..." eu, tenho vários familiares nas duas situações, o Torcato quando diz "..o tema promete". Em relação ao José Brás,que dizer? Apenas obrigada pelos esclarecimentos que me proporcionou.
Cumprimentos a todos.
Filomena
Enviar um comentário