1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Junho de 2011:
Queridos amigos,
É uma oportunidade ler esta obra, há muito esgotada. Estamos agora no segundo volume, recentemente dado à estampa. Vale a pena ler Diogo Neto e Silva Cunha na íntegra, bem como apreender a essência do pensamento e acção de Spínola nos primeiros anos na Guiné, está ali tudo publicado. Temos depois Carlos Fabião, Alpoim Calvão, várias operações, depois Luís Cabral e, por último, Marcelino da Mata, um dos guerreiros do Império.
Um abraço do
Mário
A guerra de África, segundo volume, por José Freire Antunes
Beja Santos
No âmbito do cinquentenário do início da guerra em Angola, volta-se a publicar o mais completo levantamento de testemunhos de personalidades que por qualquer razão tiveram uma acção relevante à volta dos acontecimentos, entre 1961 e 1974 (“A Guerra de África”, por José Freire Antunes, segundo volume, Círculo de Leitores, 2011).
Muitos dos protagonistas ouvidos neste segundo volume têm directamente a ver com o teatro de operações da Guiné: é o caso de Franco Nogueira, de Diogo Neto, de Silva Cunha, de Carlos Fabião, Alpoim Calvão, Luís Cabral e Marcelino da Mata. Como se compreenderá, dada a riqueza destes depoimentos, haverá um desdobramento dentro da recensão.
No caso de Franco Nogueira, não é sobre o seu posicionamento enquanto defensor da política externa que aqui cabe falar, mas de uma carta que dirige a Marcelo Caetano, em Novembro de 1970, em que o assunto se prende com a libertação depois de longo cativeiro do então sargento aviador António Sousa Lobato. Referindo detalhadamente o seu comportamento íntegro enquanto prisioneiro de guerra, recusando sistematicamente a assinar qualquer documento em que se declarasse desertor ou condenasse as “atrocidades” do Exército português.
E expõe o seguinte: “Depois pretenderam obrigá-lo a assinar outro papel em que se comprometesse, quando liberto, a não se alistar mais nas Forças Armadas portuguesas. O Lobato respondeu que, quando fosse liberto, a primeira coisa que faria seria a de se apresentar às suas autoridades militares. Passado tempo, novamente voltaram a insistir: se assinasse um papel comprometendo-se a não combater mais na Guiné, seria solto. Lobato respondeu que, logo que estivesse livre, pediria às suas autoridades militares para combater precisamente na Província da Guiné. Foi sempre da maior firmeza, decisão e patriotismo; e isso em condições morais e de saúde não podiam ser mais precárias e difíceis, raros terão tido um tão alto sentido do dever e uma tão constante e sólida coragem. Penso que o sargento Lobato merece uma alta distinção militar, e que o seu exemplo deveria ser publicamente conhecido e reconhecido”.
O testemunho de Diogo Neto é do maior interesse para o conhecimento dos meios aéreos existentes na Guiné e a evolução da guerra. Oiçamo-lo: “Na Guiné, o PAIGC desenvolveu intensa actividade antiaérea com armas 12.7, quadruplas ZPU 4 de 14.5 e canhões de 37mm sistematicamente atacadas e destruídas pelos Fiat. As armas disparavam de posições preparadas, protegidas por parapeitos, a descoberto, o que facilitava a sua localização. A maior parte dos atiradores era constituída por cubanos, cuja coragem temos de reconhecer, pois aguentavam-se firmes, agarrados às armas (…) Quando o PAIGC começou a ter mísseis Strella, a reacção da Força Aérea foi péssima. O seu aparecimento representou um agravamento neste tipo de luta, exigindo a adopção de equipamentos nas aeronaves para detecção das saídas dos mísseis, o que nunca se verificou (…) Evidentemente que foram afectadas as unidades do Exército que estavam isoladas e que dependiam do apoio logístico dos aviões pequenos e até dos próprios helicópteros. Os pilotos passaram a fazer os bombardeamentos de Fiat acima dos 8 mil pés, o que fazia com que não tivessem tanta precisão. Os aviões de transporte também já não podia voar porque eram um alvo muito fácil. A parte final da Guiné correu mal. O PAIGC tece um incremento muito grande ao nível das acções”.
O ex-ministro Silva Cunha descreve minuciosamente o seu relacionamento com Spínola. Mas surpreende o leitor desvendando um segredo bem guardado acerca das negociações decididas por Caetano, em 1974, o que no ano da primeira edição desta obra (1994) provocou algum alarido pois ratificava o que José Pedro Castanheira tinha publicado no jornal Expresso: “Aquando dos encontros entre diplomatas portugueses e dirigentes do PAIGC, em Londres, eu já não era ministro do Ultramar, era ministro da Defesa. Eu tive conhecimento dos contactos que houve, quando era ministro do Ultramar, entre o general Spínola e gente do PAIGC. Foi o caso daqueles três majores que eu conheci pessoalmente, poucos dias antes de terem sido assassinados. Esses contactos eram do conhecimento de Amílcar Cabral. Estou convencido de que eles foram assassinados por aqueles que depois preparam o assassínio de Amílcar Cabral”.
Depois de falar do seu relacionamento com Spínola e deste ter levantado o problema do colapso militar, diz ter mandado à Guiné o general Costa Gomes que quando regressou lhe afirmou que a Guiné era perfeitamente defensável desde que se mudasse o dispositivo”. Não explicou qual era a mudança do dispositivo, há uma referência no livro com a entrevista concedida pelo marechal Costa Gomes à historiadora Manuela Cruzeiro, é referido que estava previsto o abandono de todas as posições ao alcance dos foguetões e dos morteiros 120, a verdade é que não se conhece nenhuma historiografia que diga explicitamente em que consistia esta mudança do dispositivo e quais as suas consequências sociopolíticas no abandono das povoações.
Por fim, refere Silva Cunha: “Conseguimos artilharia em Israel, porque uma das coisas que se queixavam na Guiné era que a artilharia deles tinha alcance superior ao da nossa. Conseguimos os Red Eye, mísseis terra-ar individuais, na Alemanha. Não sei quem os vendia, só sei que eles nos forneciam 500 Red Eye americanos. Aí, também houve influência do Ministério dos Negócios Estrangeiros, mas indirecta. Esteve no meu gabinete o general Étoile, que era quem superintendia na venda dos aviões Mirage, e que nos fez uma oferta de Mirage, pondo como única condição ficarem com base em Cabo Verde. Eu disse-lhe: “Não preciso dos Mirage em Cabo Verde, mas na Guiné”. Ele respondeu: “O senhor sabe muito bem como é que isso se faz depois”. Oficialmente, os Mirage não podiam ter base na Guiné. Eu não sei se, depois do 25 de Abril, o material veio ou não”. Trata-se de um longo depoimento, abundam críticas em várias direcções, Kaúlza e Spínola são directamente visados.
Com o título “Spínola em Bissau, as armas e a razão”, José Freire Antunes publica um conjunto de directivas secretas, foram fundamentais no início do seu mandato e incluem: a retirada de Madina do Boé, a remodelação do dispositivo à volta da Aldeia Formosa, bem como em Sangonhá e Canatanhez, retirada da companhia instalada na ilha do Como, etc. e procede a críticas, do tipo: “Dos vários relatórios da acção que tenho lido, de relatos verbais feitos por comandantes de subunidades e por praças feridos em combate, conclui que na generalidade as NT cometem erros graves frente ao IN, de que resulta: não se cumprirem integralmente as missões; um gasto exagerado de munições, um aumento desnecessário de baixas; e, em consequência, um muito sensível abaixamento moral das NT que, na generalidade, se encontram complexadas perante um IN melhor armado e manobrador”. Trata-se de um extenso conjunto de documentos que comportam diferentes orientações, chegando mesmo ao procedimento a ter para com os informadores secretos da PIDE.
A próxima recensão começará com o depoimento de Carlos Fabião, seguramente um dos oficiais que melhor conheceu a Guiné em todo o período da guerra.
(Continua)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 17 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8434: Notas de leitura (248): Eis a Guiné! Breve notícia da sua terra e da sua gente, de Fernando Rogado Quintino (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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14 comentários:
“Dos vários relatórios da acção que tenho lido, de relatos verbais feitos por comandantes de subunidades e por praças feridos em combate, conclui que na generalidade as NT cometem erros graves frente ao IN, de que resulta: não se cumprirem integralmente as missões; um gasto exagerado de munições, um aumento desnecessário de baixas; e, em consequência, um muito sensível abaixamento moral das NT que, na generalidade, se encontram complexadas perante um IN melhor armado e manobrador”. (Spínola, no início do seu consulado, criticando a situação herdada do antecessor, Schultz...).
Mário, não creio (e tu sabes) que a situação tenha melhorado, ao longo do consulado de Spínola, pelo menos na Zona Leste, com a "africanização da guerra" ... apesar de terem aumentado os efectivos no Sector L1... Essas críticas do Spínola vai ele repeti-las, em 1970, 1971, 1972... Os nossos soldados (metropolitanos e guineenses) bateram-se galhardamente, mas não podiam "ser pau para toda a obra"... No Sector L1, não podias defender Bambadinca, Xime, Mansambo, Xitole, Enxalé, Missirá, Fá, Finete, Amedalai, Taibatá, Dembataco, Moricanhe, Madina Xaquili, Ponte Udunduma, Bambadincazinho, Nhabijões, Ponta dos Fulas, Mato Cão, e uma porrada de tabancas fulas em autodefesa, e depois no dia seguinte integrares-te numa operação a nível de batalhão (seis/outros grupos de combate)... para ir atacar o PAIGC na sua sua "toca do lobo"...
Quem foi a Madina/Belel, em Março de 1970, perguntei-te eu há dias ? Os "pretos" e os "açorianos",como tu bem sabes... Quem levou porrada, em Madina Xaquili, logo em Julho de 1969 ? Os "pretos" e os "madeirenses"... Madeirenses e açorianos, em geral, eram companhias "independentes"... Para além das "africanas"... As unidades de quadrícula nunca poderiam ser "unidades de elite"...
Alguma vez viste, no teu/nosso tempo, a Marinha a patrulhar pelo menos a foz do Corubal ou o curso do Geba estreito, no Mato Cão ? ... Já alguma vez viste, pelo menos no teu/nosso tempo, os helis levarem os nossos mortos ?
CaroLuís,
o alcance deste comentário é 'episódico'
mas
interroga as perguntas sobre episódios:
nos onze ou doze dias que estive em Madina Xaquili ninguem levou porrada a não ser o PAIGC que só lá foi cheirar uma vez, ao anoitecer e percebeu logo, ali mesmo, que a aventura era perigosa
mas!
andámos todos os dias fora do arame farpado, à caça...
não tivemos baixas (nem 'os madeirenses' nem 'os indígenas' que lá moravam)
mas o PAIGC teve.
(Outra linha)
até qu'enfim que o dr Beja Santos resolve apresentar partes da 'nossa história'...
SNogueira
... A verdade é que a posição de Madina Xaquili tornou-se insustentável, com a "desguarnição" do flanco sul/sudeste do Sector L5 (Bambadinca), na sequência da retirada de Beli, Madina do Boé e Cheche...
A população fula começou a cavar e, depois dos civis, foi a vez da milícia... As NT abandonaram Madina Xaquili em Setembro ou Outubro de 1969, se não erro... É óbvio que os nossos valorosos páras não poderiam lá ficar toda a vida. Além disso, um heli custava doze contos por hora...
No meu tempo, a actuação do BCP 12 foi sempre valorosa, no Sector L1... Isso não está em causa...
De qualquer modo, o que importa, numa guerra deste tipo (revolucionária, para uns; subversiva, para outros), é a conquista, pela força ou pela persuasão, da população...
A verdade é que nós e os nossos aliados fulas não conseguimos aguentar Madina Xaquili, nem Padada, nem outras tabancas do Cossé e do Corubal...
A verdade é que, em Bambadinca, não tínhamos carreira de tiro; não tínhamos condições para fazer treino físico e militar com os nossos soldados do recrutamento local; demos-lhe a instrução de especialidade, mas não a recruta; tivemos que aceitar os 100 homens que nos calharam na rifa, dos putos de 16 aos homens grandes de 30 e 40 anos; como fulas, vindos da Badora e Cossé, não falavam português, na sua grande maioria; como eram islamizados, eram desarranchados; no mato, em operações, andavam subalimentados; com a intensa actividade operacional, explorados pelos comandos dos batalhões (BCAÇ 2852, e depois BART 2917), os grupos de combate da CCAÇ 12 começaram rapidamente a ficar desfalcados... Com quase seis anos de guerra, a maior parte desses soldados (80%) já morreram...
A verdade é que todos nós, tropa-macaca, vínhamos mal preparados para fazer aquele tipo de guerra... Eu, por exemplo, fui treinado para operar armas pesadas de infantaria da II Guerra Mundial...
Por outro, no meu tempo, nunca fizemos uma operação com a Marinha, os fuzileiros, no Sector L1 (triângulo Xime-Bambadinca-Xitole, com o Corubal a oeste e o Geba a norte)... Com os páras, fizemos uma (já aqui citada, estive lá, em Agosto de 1969... como esteve também o meu amigo Torcato, da CART 2339, a companhias de quadrícula mais sacrificada, em 1968/69, explorada até ao tutano pelo comando de Bambadinca: não eram "pretos" nem "ilhéus"; mas também não pertenciam ao BCAÇ 2852)...
Lá voltamos à vaca fria.
Se foi Spínola a criticar a herança do Schultz, por favor mostrem onde isso está escrito, para todos aqueles que antes de Spínola, percorreram picadas e matas à procura onde estava o PAIGC.Que lhe destruiam acampamentos, intercetavam colunas de fornecimento, capturavam toneladas de armamento, controlavam todos os abastecimentos para as zonas ditas como libertadas, mas que eram visitadas pelas forças de anti guerrilha. Forças essas em quadricula que de dia construiam os aquartelamentos não existentes, e à noite saíam para fazer o assalto aum acampamento ou controlar tabancas a dez e quinze quilómetros de distância.
Forças que iam ao terreno do NINO destruir-lhe as infraestruturas.
Serem assim tratadas como estando de férias dentro dos seus aquartelamentos?
Não isto tem de ser bem explicado. Digam-me onde está isso escrito por Spínola que eu quero ver. Quero ver e então sem fazer fracturas, perguntar também ao braço direito de Spínola, Almeida Bruno onde estavam os "bandos" dentro do arame farpado.
Mais uma vez tenho de referir:
Porquê Aristides Pereira afirma que a pior situação e fragilidade do PAIGC não foi no tempo de Spínola.
Conheço perfeitamente as situações e tenho pena de não estar vivo o Cor. Costa Campos que foi dos raros que não sendo da Arma de Cavalaria, foi o homem de Spínola na Amura na Psíco e comandante do COP3 quando do falecimento do Major Mariz.
O cor. Costa Campos tenho a certeza escreveria o que falou comigo.
Não queria entrar mais nesta guerra, de desprimor para o valoroso soldado português, que se bateu honrosamente, independentemente do seu ponto de vista sobre a guerra.
Mas há quem tenha sempre a tentação de estar a atirar sempre mais uma acha para a fogueira.
Os monumentos que se estão erguendo por todo o país, são a cabal resposta aos instigadores do desprestígio.
Obrigado pelo teu comentário Luís, porque para quem quizer perceber, esclarecestes muitas coisas.
Mais uma vez, vou tentar dormir,
com a dor no peito, pela falta de memória daqueles cujo nome está inscrito em Belem.
Será que para me proteger a mim próprio, terei de dizer ADEUS CAMARADAS E AMIGOS?
Mário Fitas
Já li o livro.Concluí que aí em muitos dos depoímentos há muita ignorância, incongruências várias, e até mentiras de gente que tinha obrigação, até pelos cargos que ocupava, de proceder de outra forma.
Vamos aos factos de natureza meramente militar.
Alguém é capaz de me explicar o facto de em 74 não existir entre aldeia formosa e gadamael nenhum aquartelamento,assim como antes da retirada de guilege existir apenas uma companhia e um pelart neste aquartelamento assim como a tentativa de implementação do quartel de gandembel apenas com uma companhia que só serviu para os camaradas aí colocados servirem de carne para canhão.
Porque é que só após a retirada de guilege se dotou o quartel de gadamael de meios suficientes.Quero referir que em gadamael não tinhamos restrições de material de guerra para quem não sabe digo apenas que as granadas de artilharia eram todas made in u.s.a.Os obuses eram substituídos sempre que necessário e o apoio mecânico(reparações)era efectivo e diligente.
A partir de fev.74 foram mobilizados para a Guiné todos os oficiais e sargentos de artilharia de costa e colocados em diferentes aquartelamentos para serem reciclados em artilharia de campanha tendo eu recebido alguns em gadamael.
Apesar de não ter frequentado altos estudos militares e outras coisas de ciência militar, julgo poder afirmar que houve muita negligência das altas individualidades militares para não dizer pura incompetência.
Sim..sim.. incluo o General Spinola.
Em gadamael o pior que tinhamos era a alimentação (claro excluindo a guerra).
Em 74 estava em permanência uma companhia no mato e iam bem armados -resultado-- desde fev. não me lembro de ter havido uma única emboscada.
A porra era a norte de guilege .. entravam à vontade tendo inclusivé atacado Bedanda com viaturas blindadas.
Nunca irei perceber o que é que ía na cabeça dos senhores "inteligentes" de Bissau com muitos galões nos ombros.
AH..já agora quero dizer que politicamente a independência dos territórios ultramarinos ou o que quiserem chamar-lhe era irreversivel, independentemente da evolução da guerra.. da exaustão dos quadros militares e para alguns dos direitos corporativos(legitimos..aliás)..etc...etc..
um alfa bravo
C.Martins
Leio no testemunho do general da FA Diogo Neto:
" Os aviões de transporte também já não podiam voar porque eram um alvo muito fácil. A parte final da Guiné correu mal. O PAIGC tece um incremento muito grande ao nível das acções”.
Assim se faz a nossa História, com patranhas e inverdades monumentais.
Em Cufar, Julho de 1973/Abril 1974
tínhamos quase todos os dias (às vezes mais do que um voo por dia) os Nordatlas a aterrar, a transportar tudo o possível e o imaginável. E as DOs e os hélis, até Dakotas e T 6.
E vem o general Diogo Neto dizer que "os aviões de transporte já não podiam voar".
Assim se falsifica a História e temos um general sem vergonha, da Força Aérea, a faltar ao respeito
aos seus homens, pilotos e pessoal das FAP, gente sacrificada e corajosa.
Será também curioso contar os números de mortos NT, em 1973 e 1974 e comparar com o número de mortos em combate na Guiné nos anos anteriores. Morreram menos homens.
Ai, o fantasma de Guileje!
Medo, estupor, consequências.
Abraço a todos.
António Graça de Abreu
Caro Luís,
agardeço a 'lição'mas não entendo
a que propósito referes o valor/hora dos hélis?
A minha Companhia (-) foi para Madina por terra, operou em toda a região, todos os dias como disse, apeada e regressou a uma base qualquer por terra - não foi empenhado qualquer meio aéreo na operação; estávamos em Julho ou Agosto de 1969...
SNogueira
... que, quanto à referência feita ao «ano da primeira edição desta obra (1994)»: a 1ª edição do 1ºvol da "Guerra de África" (556 págs), foi dada a público apenas em 18Jul95; o mesmo tendo sucedido com o 2ºvol (509 págs), que foi distribuído pelas livrarias em Dez95.
... No que respeita a Manuel Diogo Neto (16Jan1924-15Dez1995), em meados de 1968 com o posto de coronel seguiu para Bissau, onde passou a exercer o comando da ZACVG (subordinado ao CCFAG brigadeiro Spínola); e em fins de Jul70 regressou à Metrópole; no final de Mai72, com o posto de brigadeiro seguiu para Moçambique como comandante da 3ªRA; e em fins de Jul73, já promovido a general, foi convidado pelo PM para governador e comandante-chefe da Guiné, mas... declinou o convite; no dia 25Abr74 estava em Nampula no comando da 3ªRA, tendo naquela noite - pelo CC/MFA instalado no RE1-Pontinha -, sido indigitado para fazer parte da Junta de Salvação Nacional; regressado à Metrópole, em 29Abr74 foi promovido a general de quatro estrelas e nomeado CEMFA; naquela qualidade em 04Mai74 acompanhou a Luanda, e seguidamente a Lourenço Marques e Beira, o CEMGFA general Costa Gomes (aka "o rolha", cujo depoimento de 33 horas gravado em video – por Maria Manuela Cruzeiro, coordenadora-mor do CD25A e "Grã-Mestra da loja feminina da GLRP" –, foi publicado em Set98, ou seja, cerca de 3 anos após o falecimento do Gen. Diogo Neto).
Temos assim que, aquele oficial superior da FAP – cuja brilhante actuação no TO-Angola (a partir de Nov60), lhe mereceu ter sido em 10Jun62 condecorado em Luanda, pelo secretário da Aeronáutica coronel Kaulza de Arriaga, com uma Medalha de Prata de Serviços Distintos com palma e uma Cruz de Guerra de 1ª classe, promovido por distinção a coronel e no final de Set62 elevado a CEM-2ªRA –, sobre a tal "crítica situação aérea" em Mar73-Fev74 no TO-Guiné, não estava ali, mas sim em Moçambique. O seu depoimento de 19Jul94, publicado no volume em referência, na parte respeitante à transcrição vertida neste postal, parece reflectir tão só uma opinião politicamente correcta e que interessava (e interessa) difundir como "verdade incontornável": a bem do regime que temos; e da intranquila consciência de alguns acríticos e incondicionais apoiantes.
Ao estimado veterano Mário Vicente Fitas Ralheta, aqui o congratulo pela sua feliz síntese, que subscrevo:
– «Os monumentos que se estão erguendo por todo o País, são a cabal resposta aos instigadores do desprestígio.»
... correspondo ao subtil repto lançado por Graça de Abreu, aqui deixando à apreciação, de participantes e visitantes deste weblog, uns quantos "números", na intenção de ajudar a desconstruir uma diminuta parcela de alguns recorrentes mitos, sobre uma tal "guerra perdida porque... ".
Quanto à factualidade. Entre 29Mai1962 e 20Mai1974, morreram 1852 militares das FA's Portuguesas, em consequência directa/indirecta de ferimentos adquiridos em circunstâncias «de combate», no teatro-de-operações da (então Província da) Guiné, como abaixo segue:
1962 - 002
1963 - 046
1964 - 098
1965 - 103
1966 - 193
1967 - 234
1968 - 221 (114 até 03Jun68, 1ª reunião do CCFAG c/respectivo 'staff' do EM)
1969 - 176
1970 - 164
1971 - 163
1972 - 122
1973 - 222 (026 1stQtr, 113 2ndQtr, 044 3rdQtr)
1974 - 108 (012 post-25A)
Cada um daqueles "números", tem Nome: não se trata de "estatística", nem castrense nem oriunda da "sociedade civil"; a responsabilidade é exclusiva deste v/habitual leitor.
Mário Fitas alegro-me de ver que o meu amigo está com a razão e confirmo a quem quizer, que tudo o que foi dito é a verdade, assim o afirma também o nosso amigo Abreu dos Santos, por isso abstenho-me de comentar o comentado.
Rui G dos Santos
Meu caro Luís, convém situar a citação dos documentos do então brigadeiro António Spínola sob o título "Spínola em Bissau". José Freire Antunes publica neste volume (entre as páginas 343/362) as directivas secretas que envolviam: remodelação do dispositivo da região do Boé e outros dispositivos; rotação das unidades; remodelação do dispositivo, princípios doutrinários a respeitar; espírito de missão (foi daqui, página 353, que extrai a citação do documento "Exercíio do comando na conduta de acções de combate"). Seguem-se ainda outras directivas relacionadas com a acção psicológica. Como é evidente, chegado em Maio de 1968, o novo comandante-chefe pretendia imprimir uma imagem de agressividade e em simultâneo, destacar que conhecia a conduta dos combatentes. Faço o reparo que a africanização começara com Schultz, os pelotões de caçadores e a constituição de milicias veio do tempo de Arnaldo Schultz. O que denominas a africanização tem a ver com a intensificação das forças especiais e o desenvolvimento de um número elevado de companhias de caçadores. Não acredito que estas directivas estivessem orientadas para a nossa tropa africana. Spínola, seja qual for a crítica que lhe possam imputar, envolveu os pára-quedistas e os fuzileiros em acções de patrulhamento, exigiu-lhes mesmo muito na reocupação do Cantanhez, por exemplo. Sanches de Baêna, em livro que aqui já se recensionou sobre a história dos fuzileiros na Guiné, refere claramente conflitos entre Spínola e a armada. O contexto da directiva, em suma, é que me parece relevante: o novo comandante-chefe queria dar a imagem de que estava atento às debilidades que vinham do antecedente. Um abraço do Mário
Pede-se ao camarada que fez o comentário anterior o favor de o repetir, identificando-se devidamente.
Carlos Vinhal
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