(...) Certo dia, com sinais emergência, chega ao Hospital [Militar 241] um jipe da PM. Não era para menos, no banco do pendura vinha um Senhor Oficial devidamente fardado e de boina bem posta, fazendo honras à sua farda e à Unidade que representava, mesmo que o sangue lhe escorresse pela face.
Saiu do jipe e entrou pelo Hospital adentro sem tirar a boina. Logo à entrada do corredor foi chamado à atenção, por um médico, que naquela Unidade não se entrava com boina na cabeça.
Resposta pronta, mais ou menos nestes termos:
- Sou militar, sou oficial (Alferes) e estou devidamente fardado.
No corredor ouve-se uma voz, vinda da boca do Alf Mil Med Diamantino Lopes (**):
- Eu trato dele.
Podem crer que o tratou bem, não descompondo o rigor militar de S. Exª. Nem entrou no Posto de Socorros, foi directo para Pequena Cirurgia.
O Alferes, depois de sentado, ia para tirar a boina, o que foi impedido pelo médico.
- Deixe-a estar, aqui quem manda sou eu.
Recurso necessário: Uma tesoura, para cortar a boina e pôr metade para cada lado.
Depois do espaço aberto, foi executado na perfeição o tratamento adequado. Só não sei se foi a quente ou a frio, se levou agrafes ou ponto cruz, a verdade é que saiu de lá tratado e a boina unida com fita adesiva.Já me esquecia, O Sr. Alferes tinha partido a cabeça ao bater com ela na porta de um armário que se encontrava aberta.
António Paiva (ex-Soldado Condutor Auto no HM 241 de Bissau, 1968/70) [, foto à direita]
Obrigado, camarigo: esta história é mais que verdadeira. O médico era o Dr. Diamantino Lopes, com a alcunha coimbrã de "O Tocha", grande praxista. Pequenino, bem penteado, gozão sem ares disso, com 33 de pé, foi mobilizado com 15ª Companhia de Comandos, se bem me lembro e, ao olharem para ele, todos aqueles matulões começaram a mandar piropos:
- Isto é que é o médico?.
Sem pestanejar, lá foi a resposta pronta:
- Eu sou a amostra clínica, o médico vem aí atrás!.
Foi ele, igualmente, quem recebeu o Capitão Peralta no HM241, pois tinha-se atrasado nas consultas e era o único elemento da Cirurgia que estava presente. Era de Penela e ao regressar foi para o Hospital de Leiria. (***).
Alfa Bravo.
José Pardete Ferreira
_____________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 21 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6445: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (12): Um PM devidamente fardado apesar das circunstâncias (António Paiva)
(**) Lista dos médicos em serviço no HM241, de cujo nome se recorda o António Paiva (1968/70)
(i) Cirurgiões:
Dr. Diaz Gonçalves, Cirurgia Geral [Substitui o Dr. Fernando Garcia, que terminou a comissão em 1967]
Dr. Cavadinha Gomes, Neurocirurgia
Dr. Saavedra Machado, Cirurgia cardiotorácica
Dr. Herculano Biscaia da Silva, Ortopedista e Inspector Chefe do Serviço de Saúde.
Dr. Ventura, Ortopedista
Dr. Trigo de Sousa, Ortopedista
Dr. Martins Fernandes, Otorrino
Dr. Diamantino Lopes (Não me lembro a especialidade)
(ii) Médicos de estomatologia:
Dr. António Lebre Moreira de Figueiredo, Inspector Chefe do Serviço de Saúde
Dr. Ernesto Mendes Ferrão
Dr. Vieira Alves
Dr. Malícia
(iii) Serviço de Sangue:
Dr. Arlindo Baptista
(iv) Serviço de RX:
Dr. Nascimento [, António Nascimento e Sousa, natural de Alcobaça, recentemenete falecido, acrescenta o nosso JERO]
(v) Outros Médicos:
Dr. Maurício
Dr. Maymone Martins
Dr. Trindade
Dr. Victor de Sousa (regressou comigo no Carvalho Araujo, onde a bordo do mesmo tivemos um trabalho bem difícil por causa do apêndice de um camarada).
(***) Últimos dois postes da série >
23 de Maio de 2011 > Guiné 63/74 - P8313: Os nossos médicos (26): J. Pardete Ferreira, ex-Alf Mil Med (Teixeira Pinto e Bissau, 1969/71), criador literário do Paparratos
28 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8481: Os nossos médicos (27): Com o Dr. Carlos Ferreira Ribeiro,fui um dos que operou o Cap Cubano Peralta; e com o Dr. João Carlos Azevedo Franco, fui um dos últimos a ver o corpo do malogrado Major Pereira da Silva (J. Pardete Ferreira)
15 comentários:
Pela lista apresentada, assim de repente, deparo com 2 erros:
O 1º médico, o nome não é Dias Gonçalves, como escrevi, mas sim DIAZ GONÇALVES.
O Dr. SAVEDRA MACHADO era cirurgião Cardio Toráxico
Pus vascular... devia estar com os copos.
Melhor que eu, pode o nosso camarada J. Pardete Ferreira, ver os mais erros que possam estar presentes.
António Paiva
Diamantino Lopes: Não sei se se trata do mesmo médico, de cirurgia geral, com consultório em Benfica, na Rua Professor Santos Lucas 38,4º-D - 1500-515 LISBOA, telef. 217 144 200.
Okay, António, vou corrigir... Não há problema... Gabo-te a memória, ao fim destes anos todos lembrares-te de todos estes nomes e respectivas especialidades... Tiro-te o chapéu!
Meu caro José Pardete:
A resposta do Alf Mil Médico Diamantino Lopes às provocações da rapaziada, é absolutamente genial, e só podia vir de um tipo calejado na praxe coimbrã:
- Eu sou a amostra clínica, o médico vem aí atrás!...
É bom lembrar que, ontem como hoje, a nossa "cultura de caserna" era intolerante em relação aos baixotes... que eram sempre os primeiros do pelotão, (mal)tratados como "meias f...", "meias lecas", como se os homens se medissem aos palmos...
Havia, no entanto, por parte dos tropas, muito mais deferência em relação ao médico (e à enfermeira pára-quedista) do que ao capelão... Percebe-se porquê, quando se está em teatro de operações... Estou-me a lembrar, por exemplo, do conto "O padre Aurélio", do nosso Alberto Branquinho, no seu livro "Cambança"...
Boa noite Camarigos
Cumprimento o António Paiva pela sua fantástica memória e junto-me aos comentadores para contar uma história de um dos nomes da lista do HM 241.O radiologista Nascimento( António Nascimento e Sousa, que julgo que aingiu o posto de Major ou Ten.Coronel Médico), também ele praxista coimbrão e com grande sentido de humor é recordado na minha terra com muita saudade e estma.A história de que foi protagonista é a seguinte e consta de um livro de contos de um tal JERO, que vai ser lançado em futuro próximo:
«Passou-se em Alcobaça com o médico-radiologista Nascimento e Sousa, a
quem uma empregada anunciou a presença de um Inspector das Finanças,
que pretendia examinar a documentação do consultório. Nascimento e Sousa,
que não conhecia o funcionário, depois de se apresentar, perguntou ao
inspector qual era o seu nome.
Este apressou-se a responder que era o Doutor Fulano de tal…
O nosso conterrâneo Nascimento e Sousa perguntou-lhe de imediato se ele
era Doutor por parte da mãe ou… do pai, o que parece não ter sido particularmente
apreciado pelo Inspector das Finanças, que ficou
com ar…algo enfastiado e menos importante!»
Toda a gente de Alcobaça maior de 60 anos conhece esta ´"boutade" de Nascimento e Sousa que infelizmente faleceu recentemente, vítima das inúmeras radiações que sofreu ao longo da sua vida profissional.Nos últimos meses da sua longa doença, quando se perguntava pela sua saúde, dizia que tinha mais radiações dentro de si de que uma Central Atómica.
Um abraço de terras de Cister,
JERO
Caro Luis
~
O Diamantino Lopes de Benfica, já faleceu e não era ele
Caro Luis
O Médico Diamantino Lopes de Benfica, já faleceu e não era ele.
Um abraço
António Paiva
PS: na mensagem anterior não tinha posto meu nome era anónima.
Caro Paiva:
Ainda não foi desta que reconheci o nome do médico que me quis evacuar. O tal que integrou o Batalhão de Chaves que partiu comigo no Niassa em 1/Maio/1968 e me disse que o meu mal não era o estomago mas sim os pulmões.E que me recomendou que pelo menos, em vez de cigarros fumasse charutos. E que pelo sim pelo não me receitou uns injectáveis vermelho- escurinho que pareciam vidros a entrar pelo redondinho acima.E que ainda por cima eram aplicados por um pegador de toiros. E que pelo sim pelo não, mandou-me guardar no apart. 1º dir. E o que é certo é que me pirei do tal apart. 2 dias antes de ter o direito à tal evacuação. Contra a ordem dele. Se fosse agora, até lhe beijava o capachinho.
Um abraço do teu amigo
Portojo
Naquela madorna, antes de adormecer, por não conseguir lembrar-me de todos os nomes, alguns dos quais eu "via" distintamente, aqui vão mais uns nomes: Sérgio Rosa, Medicina Interna; Calheiros Lobo, Anestesia e Pediatria (O irmão mais velho, o Cirurgião, já falecido,veio substituir o Bruges e Saavedra), o Calheiros, Anestesista;o Oliveira e Sá, Medicina Legal; o Oliveira, Ortopedista (que, mobilizado por engano, foi-lhe dada a Comissão como cumprida ao fim de... cinco dias!);o Oliveira que foi ferido por um furriel miliciano e que veio para o HM241 com uma ferida arterial grave, bem com outra, igualmente grave, nas partes mais íntimas;o Ruy de Brito, Cardiologista, falecido este ano; o Oftalmologista que também era 2º Director, (Desculpe ó Colega)o Psiquiatra "barrigudo", como eu agora, (Desculpa lá pá!)que defendia a necessidade de se usar a camisola Do FC Porto para se entrar na équipa Cirúrgica; o Neves e Castro da équipa cirúrgica, o pai dios dois meninos e veio do Porto para a Meduicina interna.
Para terminar só vos vou chatear com os que foram depois do meu regresso ao Puto, alguns dos quais, conheci, e bem, noutras lides: O Dr. Caixeiro, Director; o Prof Fernando Paredes, outro dos meus Patrões em Santa Maria, Cirurgião Plástico, Director do Hospital e Chefe dos Serviços de Saúde.
Se quiserem, continuo na lengalenga com os Oficiais não médicos, com a classe de sargentos, com a de praças e outros.
Mas guardo-me para ir contando as histórias tal como eu as vivi e estou-me perfeitamente nas tintas para aqueles que viveram as mesmas histórias de outra maneira. O que eu não admito é que me chamem, directa ou indirectamente, mentiroso!
Metam isto nas monas uma vez para sempre!
Todas as operações que ajudei quer no HM241 quer no Hospital Civil de Bissau, tenho-as registadas em livros próprios, assinadas pelos respectivos directores e com o selo branco em todas as folhas - são documentos oficiais, igualmente registados nos respectivos Hospitais (bem no 241, provavelmente só resta a minha cópia.
Perguntem ao Benjamin Durães quem é que o recebeu no Posto de Socorros da urgência do HM241 após o seu desastre em Bambadinca, creio.
Adeus e até ao meu regresso.
Caro Portojo
Em tempos passados dei-te por ideia que médico poderia ter sido, mas hoje já eu tenho duvidas.
Quanto ás injectáveis de cor vermelho-escudo, não deve ter sido um forcado,como referes,talvez tenha sido um bandarilheiro. Isso sim,um enfermeiro Dr. Kilder.
Pucha um pouco pela cabeça e vê lá se não era o mais alto de todos do Hospital.
Agora sou eu que ando a ficar com a cabeça embaralhada, mas que havemos de fazer, os anos não perdoam.
Espero que estejas de boa saúde.
A propósito... estás pronto para outra?
Estou brincando.
Um abraço
António Paiva
Caro amigo Jorge Portojo
Quem te queria evacuar, quem te receitou a pica (sem cedilha)e te mandou fumar charutos em vez de cigarros não sei. Agora os dois medicos do 2845 de Chaves que partiram em 1 de Maio conosco no Niassa foram o Dr. Maximino José Vaz da Cunha e o Dr. Maymone Martins. Mas quem pode confirmar isto e o nosso camarada Albino Silva que era da C C S do bat..
Muita saude para ti e para todos.
Manuel Carvalho
C Caç 2366 Jolmete e Milho Rei
Por ordem alfabética, sai a resposta ao Paiva, que é António. Daquela safei-me. Bem pior foi uma há precisamente 18 anos, 6 meses e uns dias. E tal como da primeira vez, foram mais de 30 dias no Hotel de S. João. E quantas vezes me lembrei do Dr. do Hotel de Bissau. Não fui, porque não tinha que ir. Estava escrito. Sobre os charutos, tentei seguir o conselho do Dr. E lá no Catió onde se ouvia o Não sou digno di bó, no Bar do Libanês, nao consegui charutos. O melhor que se arranjou foram as célebres Timparillo. Agora cá se vai andando, com 1 + 2/3 em funcionamento, mas vai chegando para as encomendas.
E como quem tem amigos não morre na Cadeia nem no Hospital, o nosso Camarada Manuel Carvalho juntou o nome de mais dois médicos. Assim, tu e o Dr. Pardete - ontem falei nele com um outro camarada do H.M. Bissau - o furriel Quintino Monteiro - podem adicionar à lista.
Sobre o Pegador ou Bandarilheiro, mandei para o Vidal, uma das minhas fotos em que ele aparece meio escondido, a ver se ele a faz chegar às tuas mãos.Sei que era enorme, na realidade, e brutinho que nem uma porta, graças a Deus. Oxalá ele não me leia se não ainda vem cá acima acertar contas.
Relativamente ao médico que embarcou no dia 1 de Maio de 1968 e era de Chaves, não tenho dúvida, era o Dr. Maximiano. Eu tambem lá ia.
Essa trave grande era de facto o Dr. Kilder (Jorge augusto Duarte Miguel) hoje radicado no Porto em tempo dedicava-se ao fado agora não que é feito dele
Um abraço
Manuel Freitas
Também lá prestou serviço o Dr. Neves e Castro, ( também no Hospital Civil), com a especialidade civil de ginecologista.
Há algum tempo atrás vi-o na Televisão em entrevista, na qualidade de presidente de uma Associação ou qualquer outra coisa do género de ginecologistas.
Um abraço a todos do
António Baptista
Carissimos intervenientes, desde ja, as minhas desculpas pela acentuacao no texto. (Estou a usar um teclado Ingles e por quanto sem caracteres ou acentuacao Portuguesa).
Fiquei radiante ao ler alguns dos vossos paragrafos, especialmente os que mencionam o Senhor meu Pai. (Jorge Miguel ou, Dr. Kilder).
Tenho andado numa exaustiva busca das suas memorias e, o periodo da Guine, quanto a mim, revela-se um dos mais interessantes.
Gostaria imenso de entrar em contacto convosco e trocar algumas historias, (as que conheco e as que nao), algumas fotos que lhe "confisquei" em tempos, (onde seguramente, alguns de vos estarao presentes).
Tenho a consciencia de que esses tempos de gloria e de fe Patriotica deixou marcas em todos os protagonistas e o "Dr. Kilder", tambem nao seria dos mais faceis, como participante...
Enfim, coisas que a minha geracao jamais sera capaz de se honrar por...
Como disse, ficava muitissimo feliz, se me contactassem com algumas, (boas ou mas), historias do meu Pai.
Como estou em Inglaterra, por favor contactem-me pelo email: duamig@hotmail.com
Nao ocupo mais o espaco do vosso blog, pois reconheco que e muito vosso e das vossas missivas, (mas, manter-me-ei atento e lerei com satisfacao as vossas historias).
Ate sempre, (e que seja breve),
Duarte Miguel
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