Os dois conferencistas: o ex-1.º Tenente Fuzileiro Especial António Vasconcelos Raposo, de pé, no uso da palavra; o ex-Alf. Mil. CMD Valdemiro Oliveira, sentado.
Mensagem de hoje, 28 de Julho de 2011, do nosso camarada Carlos Cordeiro (ex-Fur Mil At Inf CIC - Angola - 1969-1971), actualmente Professor na Universidade dos Açores, dando-nos notícia do rescaldo de mais uma conferência integrada no ciclo conferências-debates Os Açores e a Guerra do Ultramar – 1961-1974: história e memória(s)*, que ocorreu no passado dia 22 de Julho, sendo conferencistas, António Vasconcelos Raposo, antigo combatente em Angola como oficial Fuzileiro Especial e Valdemiro Correia, antigo combatente também em Angola como alferes miliciano Comando:
Caro Carlos,
Como estamos na “estação calmosa” própria para “vilegiatura” mas, como se vê, o blogue não foi veranear, envio umas fotos e um pequeno texto sobre a conferência da última 6.ª feira aqui na Universidade (pólo de Ponta Delgada, S. Miguel, Açores) para veres se “cabe” no blogue*.
Já agora aproveito para te contar que, no dia da conferência, de manhã, encontrei um amigo e antigo camarada da recruta no CISMI. Disse-me logo: Carlos, logo não posso ir à sessão, pois não estarei em Ponta Delgada. Um camarada de Lisboa, que esteve comigo na Guiné, telefonou-me a alertar para a conferência e disse-lhe então que não podia ir. Como é evidente, o camarada do meu amigo só pode ter lido a notícia publicada no Luís Graça & Camaradas da Guiné, ou então no Ultramar-terraweb.
No mesmo dia, o Tomás disse-me que tinha recebido um e-mail de um amigo do Canadá a pedir-lhe informações sobre a conferência, etc. Interessante isto. Ou será que “o Mundo é pequeno…”?
Um abraço amigo do
Carlos
Apontamento e fotos do dia 22 de Julho de 2011
Na última sexta-feira, lindíssimo dia de Verão, convidando a uma ida à praia ao fim da tarde, mais de quatro dezenas de pessoas quiseram marcar presença na terceira sessão do ciclo de conferências “Os Açores e a Guerra do Ultramar (1961-1974): história e memória(s)”, como que a incentivar os organizadores a prosseguir com o projecto de partilha de memórias e debate de estudos e investigações sobre tão marcante período da nossa História (e das nossas vidas).
A sessão, coordenada pela Prof.ª Doutora Susana Serpa Silva, membro da Comissão Científica, constou da apresentação da conferência “A Guerra Colonial: do emocional à exigência histórica do racional, a visão de dois oficiais da tropa de elite”, a cargo dos antigos combatentes em Angola (1973/75) António Vasconcelos Raposo, ex-1.º Tenente fuzileiro especial e Valdemiro Oliveira, ex-alferes miliciano “Comando”.
Como não tenho ainda na minha posse as comunicações escritas (estamos a pensar reunir todas as conferências em livro, se for possível), prefiro não tentar resumir os discursos de cada um dos oradores, pois podia desvirtuar os seus pontos de vista. Posso, no entanto, dizer que apontaram sobretudo para o segundo termo do subtítulo do ciclo: “memória(s)”. Por isto mesmo, foram comunicações emotivas e contagiantes, que despertaram um debate acalorado, sobretudo a propósito da complexidade das situações vividas no TO de Angola no pós-25 de Abril, tendo sido destacado o facto de, após o 25 de Abril, ainda terem morrido mais de cinco centenas de camaradas nos três TO.
Um dos camaradas da assistência relembrou, emocionado, a raiva que sentiu ao desembarcar no aeroporto de Figo Maduro em data posterior ao 25 de Abril, no termo da comissão. A sua companhia foi insultada com epítetos como fascistas, colonialistas, traidores, etc., tendo sido difícil conter a reacção dos soldados que se sentiam ultrajados depois de terem sofrido, na carne e no espírito, tamanhos sacrifícios no cumprimento do que consideraram ser o seu dever patriótico.
A sessão decorreu entre as 17H30 e as 20H00.
Panorâmica da assistência
Outra panorâmica da assistência. Note-se a significativa presença de senhoras.
____________Nota de CV:
(*) Vd. poste de 20 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8576: Agenda Cultural (144): Ciclo de Conferências-debate Os Açores e a Guerra do Ultramar - 1961-1974: história e memória(s) (4) (Carlos Cordeiro)
Vd. último poste da série de 25 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8602: Agenda cultural (146): Reportagem, na TVI, em data a anunciar, sobre a expedição Latitude Zeroº - Rota Ingoré 2011 (24 de Fevereiro / 4 de Março de 2011)
4 comentários:
Professor Carlos Cordeiro
Acabo de ler a sua mensagem sobre as conferências-debate "Os Açores e a Guerra do Ultramar".
Queria dizer-lhe, que se aí vivesse, estaria com certeza presente, pois vivi convosco aquele tempo, e gostava de ouvir de viva vós, os depoimentos de quem viveu as situações.
A minha presença no blogue, "que tem sido um prazer para mim", deve-se exactamente à minha necessidade de informação precisa, sobre esse tempo e acontecimento.
Muito se tem dito e escrito sobre o assunto. Creio, que jamais se extinguirão,as histórias reais, vividas por todos os participantes, que entretanto,as escrevem e as registam.
Quanto à forma como foi recebida a Companhia do vosso camarada, eu creio , que se deveu a penas à falta de conhecimento político do povo, porque o povo em geral, era analfabeto, ou menos que isso, no que se refere "à política e não só" porque não creio que tenham sido assim tratados, por pessoas com conhecimento de causa, porque isso, seria o cúmulo.
Um abraço da Felismina
Caro camarigo Carlos Cordeiro
Há que persistir nessas acções com vista ao repositório da memória.
Certamente haverão muitas recordações de episódios diversos. Algumas terão um sentido, outras outro sentido e assim se fará, ou não, o registo das emoções.
Abraço
Hélder S.
Camarigo Carlos Cordeiro
Estive quase 2 semanas fora da(minha) casa-mãe, logo fora do contacto directo com o n/blogue, pois não tenho, não uso portátil.
Mas hoje reactivei as conexões, deparei com o Post, que fizeste chegar à n/"redacção" e que esta editou agora, e em boa hora. Refiro-me obviamente ao P.8613-Ciclo de conferèncias-debate"Os Açores e a Guerra do Ultramar-1961/1974.
Bom para já e em primeiro lugar a minha C.Caç 2753-Guiné 1970/1972-Mansabá/Bironque/Madina Fula/K.3. era originária dos Açores(formou-de em Angra do Heroísmo no antigo BII 17) penso que já extinto ou reclassificado com outra denominação, portanto já poderás aquilatar das minhas lgações umbilicais com oa Açores, as suas gentes e a temática do Ciclo agora realizado em Ponta Delgada.
Mas há uma segunda razão que me fez abalançar para este comentário. É que reconheci um amigo, o teu conterrâneo Valdemiro Correia ex-Alf.Milº CMD,com comissão em Angola salvo erro 1973/1975, vive, está radicado na minha terra natal, Moura-Baixo Alentejo, pois casou com uma conterrânea minha, ainda por cima minha vizinha, da casa que era dos meus pais, agora minha, e para onde vou sempre que posso, e o núcleo familiar chega a consensos.
Pois gostei de o ver ali, aliás devo confessar que lhe devo um favor, digamos assim, pois aqui há uns tempos, numas das minhas escapadas até ao Alentejo, falando
destas coisas da guerra, dos Ex-combatentes e desta exclusão que sofremos por parte dos diversos(diria todos)poderes até agora instituídos no n/País,soube da sua
participação na Guerra, enfim trocámos ideias, e como sempre acontece connosco, rápidamente nos entendemos no que toca a esta temática. Falei-lhe do n/Blogue, do n/estatuto-regras de convivência, enfim, do que pretendiamos(pretendemos)alcançar.
Ele mostrou-se interessado, disse-me já ter uma ou outra vez acedido a ele, que inclusive, gostava que os camaradas que estiveram em Angola, caso dele, conseguissem algo semelhante em termos de adesão/visitas/audiência, etc. etc.
E ofertou-me um livro, de sua autoria, publicado há uns tempos, creio, e ele que me desculpe, que com o titulo "O Corisco" se porventura falho no nome do livro, "Oh Valdemiro desculpa lá", pois tenho o livro lá no Alentejo, já o li, mas por esquecimento ficou lá em casa,e acabei por não o fazer chegar, atravéz do Luis, ao Mário Beja Santos, a fim de, caso o entendesse, fazer a recensão do mesmo. Devia-te esta Valdemiro, e quando nos reencontrarmos em Moura, voltaremos ao assunto, prometo.
Já viste C.Cordeiro, como diz e bem o Luiz, "o mundo é pequeno e o n/blogue é grande".
Um abraço camarigo
Francisco Godinho
Ex.Fur. Milº.C. Caç.2753
(Açoreana, pois)
Caro Prof. e Camarigo;
Como compreendo o que foi dito na Conferência pelo Camarada que relatou a recepção que a Cª dele teve em Figo Maduro. Na verdade, passei pelo mesmo, quer à chegada, quer posteriormente aqui em Évora. Desde logo, na primeira linha, fomos bastante mal recebidos pelos militares que estavam de serviço no Cais da Rocha Conde de Óbidos para procederam à nossa desmobilização e que nos apelidavam de “colonialistas”, “matadores de pretos”, enfim, parece que era este o sentimento generalizado que alguns dos ditos militares de Abril, nutriam por nós. Isto aconteceu no dia 1 de Outubro de 1974; o tal dia em que os trabalhadores ofereceram o vencimento do seu trabalho a favor da Nação.
À nossa Amiga Felismina, quero dizer que este tipo de comportamento, pelo menos aqui no seu e meu Alentejo, e junto da população civil foi fomentado por elementos de alguma esquerda, designadamente, por elementos afectos ao PCP e esses, seguramente, que não seriam tão incultos ou iletrados. A análise que fui fazendo quanto à temática que se prende com este tipo de atitude em relação a nós, que regressávamos da guerra nas Colónias/Províncias Ultramarinas, levou-me a opinar e concluir que, afinal de contas, os senhores desse ou desses partidos, de algum modo nos temiam por sabermos pegar em armas e, de alguma forma nos podermos, em armas, rebelar contra a intenção que tinham de tomarem conta do poder, conforme ainda lograram fazer durante o período de tempo que antecedeu as primeiras eleições livres. Atente-se no reviralho e na indisciplina que então reinou nas Forças Armadas. Por outro lado, era ver barramentos nas estradas efectuados por indivíduos civis com um lenço vermelho atado ao braço, que sempre pretendiam fiscalizar o que cada um transportava nos veículos, dado que poderiam ser armas, diziam eles. É evidente que nunca a estes indivíduos lhes abri a mala do carro para inspeccionarem o que quer que fosse, até por não terem qualquer legitimidade para esse efeito, o que causou alguns momentos de discussão exacerbada.
Enquanto que, como é do conhecimento comum, - os ditos militares de Abril – que tiveram participação directa e activa no desenrolar das operações, é certo que a grande maioria do pessoal que saiu dos quartéis, fê-lo armado com as respectivas G-3, só que como munições levaram, pasme-se, balas de salva, que eram as munições disponibilizadas enquanto se andava no treino e na instrução militar.
Um abraço a todos, do Camarada
Joaquim Sabido
Évora
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