sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Guiné 63/74 - P8813: Filhos do Vento (1): Nem branquear os casos nem culpabilizar ninguém (José Saúde)

1. Mensagem do nosso camarada José Saúde [ex-Fur Mil Op Esp,

Data: 21 de Setembro de 2011 22:01

Assunto: "Filhos do Vento"

Meu caro Luís!

"Filhos do Vento" é o princípio de um tema por mim lançado à opinião pública (*) quando em causa está justamente os muitos "desvarios" que a guerra de África proporcionou. 

Ninguém, ou quase ninguém, passa impune a uma realidade que nos foi sobejamente conhecida. Não fui e não fomos anjos imaculados. Não vamos é branquear verdades adquiridas. Consumadas. 

O momento não passa pela culpabilização daqueles que,  num acto sexual,  não meditaram as causas subsequentes. Imputar responsabilidades "às cabeças de vento", penso, ser um tema perverso. Importante é trazer à discussão factos conhecidos. Reais. 

Sou de opinião que a temática tem estatuto para uma ampla discussão. Procurar, e saber, presenças humanas onde o fenómeno se consumou. Conhecer mulheres "usadas" sexualmente num clima de guerra; crianças, hoje adultas, frutos desses encontros amorosos; militares que partiram, e jamais voltaram, mas que esvaziaram cromossomas em vaginas completamente desprotegidas. Enfim, um conjuntos de adjectivações por enquanto sem resposta. 

Vamos erguer, isso sim, bem alto,  o tema e aceitar, em parte, a quota parte de responsabilidade que nos cabe. Só assim, e todos em uníssono, chegaremos a viabilidades plausíveis. Não podemos, tão pouco devemos, branquear um assunto deveras melindroso mas... verdadeiro. 

Força, o tempo não é para jogar a toalha ao chão mas sobretudo para trazer à ribalta os muitos "Filhos do Vento" espalhados por este mundo fora.

Um abraço,
José Saúde

2. Mensagem do editor do blogue, Luís Graça, enviado internamente a todos os amigos e camaradas da Guiné que integram a Tabanca Grande, em  20 do corrente:

Apelo que circulou hoje, internamente, pela Tabanca Grande,  também publicado como comentário ao poste P8799 (**):

Camaradas: Quantas crianças mestiças, cuja paternidade era imputada a militares, "tugas", vocês conheceram, nos anos e nos sítios por onde andaram na Guiné, entre 1959 e 1974 ?...

Em Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego, Teixeira Pinto, Mansoa, Bolama, Bissau, Buba, Bedanda, e por aí fora... Precisam-se histórias e testemunhos... Em meio milhar de membros da Tabanca Grande, vamos arranjar material para meia dúzia de postes ?

Eu sei que o tema é delicado, devendo nós ter o cuidado de preservar/proteger a identidade de pais e crianças... Em caso algum o nosso blogue pode ser usado para fazer "investigações de paternidade"...

Um abraço. Luis Graça

 __________________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 19 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8798: Memórias de Gabú (José Saúde) (3): reflexos de uma guerra que deixou marcas no tempo: “Filhos do vento”

(**) Vd. poste de 20 de Setembro de 2011 >  Guiné 63/74 - P8799: (In)citações (36): Filhos do vento, ontem, brancu mpelélé, hoje (Cherno Baldé)

4 comentários:

Anónimo disse...

O Caro Camarada. Com a frase:"Militares que esvaziaram cromossomas em vaginas completamente desprotegidas" quase que obteve um equilíbrio verdadeiro,e não menos,estável,entre o neoclassicismo germânico e o neorealismo Lusitano. Um abraço.

Anónimo disse...

José Saúde,
"Militares que esvaziaram cromossomas em vaginas completamente desprotegidas", uma realidade com muitos anos, e que tanto agora como há muitos anos trás, muitos nem sequer tiveram conhecimento do resultado (penso eu), aconteceu, terminaram o tempo, regressaram a casa e nunca fizeram a mínima ideia dos frutos que deixaram.
Abraço
Filomena

Hélder Valério disse...

Caros camarigos

O assunto não deixa de ter a sua carga de 'cusquice'.
Mesmo que à partida não se tenha a intenção de procurar 'paternidades', de apontar e/ou pesquisar responsabilidades, a verdade é que a tentação é grande e o terreno propício a esse tipo de comportamento.

Já li por aqui que é possível que muitas situações de crianças nascidas de relações (só me refiro às consentidas, porque as 'outras' eram e continuam a ser crime, mesmo que com alguma 'desculpabilização' devido 'à desculpa da guerra') tenham nascido sem conhecimento do progenitor, por ausência, por deslocação, por regresso.
Também já li que houve quem assumisse o resultado desses amores e quem afirmasse que se tais situações se passassem com eles, assumiriam.
Nada disto será estranho.
Tem muito a ver com a formação de cada um e isso, meus amigos... não se compra.

Abraço
Hélder S.

Anónimo disse...

CROMOSSOMAS ???

Cientificamente é um preciosismo porque a verdade é espermatozóides.

Claro que os espermatozóides contêm os cromossomas paternos, que são os que inclusive dão origem ao sexo da criança, consoante são x ou y.

Falando sério, acho que este assunto diz apenas respeito a cada um em particular.

Supondo que houve uma relação monogâmica e que por isso se sabia quem era o pai,este ao assumir a paternidade e as respectivas obrigações, a criança ficava com quem ?
Vinha com o pai ou ficava com a mãe.
Este assumiria apenas o seu sustento ?
Seria que podia ?
Não seria em qualquer dos casos um mal menor para a criança.

Só posso responder por mim.

Se eu estivesse nessa situação, assumiria, e trazia a mãe e a criança, se a mãe quisesse, claro.
Sobre os outros, quem sou eu para julgá-los.
Por último, de "quantos filhos do vento" a própria mãe não sabia quem era o pai?

C.Martins